23 de fevereiro de 2018

Lady Bird

Sou doidinha mas me dei bem

Dir: Greta Gerwig, EUA, 2017, 1h34min
IMDB                 Trailer 


A adolescência, especialmente em seu fim, é o momento em que nos preparamos para a vida de adulto que se seguirá. Nessa fase temos ainda muitos sonhos e achamos que somos capazes de tudo. Mas o nosso leque de opções, ainda que nos esforcemos a acreditar ser infinito, já se reduziu por conta de escolhas do passado. Aí começam nossas dúvidas sobre nosso potencial. Esse é o ponto de partida de Lady Bird.

Na trama, Christine, autonomeada Lady Bird, uma adolescente no último ano do ensino médio, sonha em deixar a cidade de Sacramento na Califórnia e rumar para uma vida mais intelectualizada em alguma universidade tradicional na Costa Leste dos EUA. Mas seu desempenho escolar mediano faz com que todos desconfiem de sua capacidade de conquistar seu sonho.

O roteiro e a direção são da descolada atriz Greta Gerwig, uma celebridade no mundo do cinema independente americano. Apesar de negar que o filme seja necessariamente uma autobiografia, a personagem-título tem quase que exatamente a mesma trajetória da diretora: é loira, de Sacramento, tem mãe enfermeira, pai da área de TI e sonhava em ter uma vida menos ordinária.

Um dos temas mais fortes no filme é a relação entre Lady Bird e sua mãe. A mãe se sente frustrada por ter que trabalhar muito e ganhar pouco, e sonha que sua filha possa ter uma vida melhor que a dela. Já a filha sonha em ter um bom padrão de vida mas parece não querer acreditar que isso tem seu custo, e portanto vive em busca de pequenas alegrias.

Nisso Lady Bird se parece bastante com Frances Ha, filme estrelado pela agora diretora Greta Gerwig, em que ela vive uma mulher já chegando aos 30 que se comporta como uma adolescente despreocupada. Lady Bird, assim, seria Frances Ha alguns anos mais jovem.

O filme tem uma falta de foco que se casa com a personalidade da protagonista. Cada hora sua preocupação é diferente, cada hora se envolve com uma pessoa diferente e não percebe a importância das metas e relações duradouras. Tudo é muito fugaz para Lady Bird. Mas por mais que essa adequação entre falta de foco do filme e da personagem seja interessante, o roteiro se fragiliza pela falta da escolha de um ponto principal.

Lady Bird tem alguns bons momentos. Mas são poucos e parece que quase todos os seus diálogos espertinhos foram mostrados no trailer. No fim, tem-se a impressão de que a obra foi feita para exaltar a trajetória de sua diretora, uma menina meio perdida que acabou dando certo nas artes, vendendo uma esperança de que basta acreditar nos seus sonhos que tudo dará certo.

Destacam-se as atuações de Saoirse Ronan como a protagonista e de Laurie Metcalf como sua mãe ambas indicadas ao Oscar. Além das atrizes o filme conta ainda com mais 3 indicações: melhor filme, direção e roteiro original. Nesta última tem até uma chance considerável (embora não merecida) e dificilmente leva nas outras.

Lady Bird é um filme apenas ok sobre a adolescência, que parece ter sido feito para massagear o ego da diretora que quer manter a pinta de descolada. 

Nota: 6

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