17 de agosto de 2015

Metallica: Some Kind of Monster

Terapia Heavy Metal


Dir: Joe Berlinger/Bruce Sinofsky, EUA, 2004, 141min
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Antes que aqueles que olhem para este filme pense, "ah, mas isso é só para os fãs de metal...", esqueçam. Este filme não é uma ode ao Metallica, mas uma profunda terapia coletiva na qual muitos sentimentos irão aflorar e com os quais é impossível que qualquer ser humano mantenha-se indiferente.

Em 2001, durante a gravação de seu mais recente álbum em estúdio, St. Anger, a banda decidiu registrar em documentário os bastidores do trabalho. Não imaginavam eles o quanto aquilo iria durar, e nem o tanto de feridas que iria expor.

Durante o processo, muitas coisas acontecem. Primeiro, um dos integrantes, o baixista Jason Newsted, decide abandonar a banda por considerar que eles não davam liberdade para que ele tocasse seus projetos pessoais. Pouco depois, o vocalista e guitarrista James Hetfield, após uma série de problemas com os demais integrantes, decide ir para uma clínica de reabilitação, para se recuperar do alcoolismo. Nos vários meses em que ele passa internado, há sérias dúvidas até mesmo sobre a continuidade da banda.

Assim que Hetfield volta, seus problemas com o outro fundador, o baterista Lars Ulrich, tornam-se ainda maiores. A disputa pelo controle entre eles é feroz. E uma amizade forjada na adolescência é seriamente questionada, com um dizendo que nunca gostou do outro. Fazendo o papel de mediadores estão o produtor Bob Rock e o guitarrista Kirk Hammett. E há um terapeuta tentando administrar todo o conflito presente. Por fim, um novo integrante, o baixista Robert Trujillo, é selecionado para integrar a banda.

Alguns fatos curiosos são mostrados, quebrando o estereótipo de metaleiros: Kirk é mostrado andando de cavalo em seu rancho, James é visto acompanhando sua filha na aula de balé e Lars é exibido analisando seu acervo de pinturas.

A direção consegue passar uma aura quase que de Big Brother, com os documentados sentindo-se bem à vontade para interagir livremente. A edição do filme é muito bem feita, especialmente considerando que as gravações duraram mais de um ano, e havia mais de 1200 horas de gravação, que foram muito bem condensadas em pouco mais de 2 horas na tela.

Prova de que o filme é bem mais que um produção voltada aos fãs é o fato de ter vencido o prêmio de melhor documentário no renomado festival de Sundance.

Metallica: Some Kind of Monster, é um excelente documentário, recomendado para qualquer um que queria entender os conflitos que movem os relacionamentos humanos. E. para a felicidade dos fãs, nos quais me incluo, é bom saber que o Metallica venceu toda a turbulência e segue firme arrastando multidões para seus incríveis shows!

Nota: 9 

3 de agosto de 2015

Enquanto Somos Jovens

É, tamo véio


Dir: , EUA, 2014, 97min
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Alguns, só de ver o cartaz deste filme, pensarão: "Filme do Ben Stiller? Putz!". Outros irão dizer: "Filme do Ben Stiller? Legal!". Aviso que ambos os perfis podem ter de rever seus conceitos. Pois é, aquele cara de comédias escatológicas (Quem Vai Ficar com Mary) e filmes infantis (Uma Noite no Museu) é o protagonista, mas o filme é bem diferente do tipo de produção pelo qual ele é conhecido. Depois voltamos a falar do protagonista, vamos ao filme.

Na trama, um casal quarentão, Josh (Stiller) e Cornelia (Naomi Watts), está numa fase bem morna do casamento, sem conflitos mas sem curtição. É quando eles conhecem um casal descolado de vinte e poucos anos, Jamie (Adam Driver) e Darby (Amanda Seyfried), que muda completamente sua enfadonha rotina.

O quarteto principal é todo de documentaristas de cinema. Josh vê em Jamie uma visão de si mesmo quando jovem, um documentarista promissor, enquanto que na atualidade ele está há quase 10 anos tentando finalizar seu último filme (sabemos que o Guilherme Fontes consegue fazer pior!). Para piorar, o sogro de Josh é um documentarista de renome e o pressiona o tempo todo com sua figura bem sucedida.

Das interações entre as personagens principais cria-se o pano de fundo para se analisar as relações sociais de nosso tempo. O casal mais velho está ainda na fase de se dar conta que deixaram de ser jovens mas passam a querer a reviver sua mocidade. Um ponto interessante é o de que os jovens aqui são descolados e desconectados, com um monte de velharias em casa, como máquina de escrever e LPs, enquanto os quarentões são totalmente conectados e modernos.

Outra questão bem abordada, ainda que superficialmente, é o distanciamento que se forma entre os casais de amigos com filhos e os sem filhos. Em uma cena exemplar, é mostrada a mulher sem filhos acompanhando sua amiga que é mãe com seu bebê em uma atividade infantil. Ela não aguenta o comportamento infantil de todos ao redor e decide sair. Já vi coisas parecidas ocorrendo na vida real.

O roteiro e a direção são assinados por Noah Baumbach. Ele tem alguns filmes de renome em seu currículo, como A Lula e a Baleia, mas eu ainda não tinha visto nenhuma de suas obras. O desenvolvimento do enredo, com direito a reviravoltas, os diálogos e a direção são muito bem conduzidos.

Voltemos a falar do Ben Stiller. Sua atuação no filme não é digna de Oscar, mas ele faz um bom trabalho, e não estraga o filme, como poderia fazer se ficasse só com palhaçadas. E ainda usa bem seu humor físico em alguns momentos pontuais, que se encaixam bem no roteiro. Ainda não vi seu filme anterior, A Vida Secreta de Walter Mitty, mas me disseram que surpreendia por ele fugir de seu papel padrão.

Os demais atores são muito bons. As duas atrizes principais são competentes e mostram muita sensibilidade, especialmente Watts cuja personagem tem um histórico triste. Adam Driver conduz bem sua ambígua personagem. Também não o conhecia e gostei bastante de seu trabalho. Tive especial atenção porque ele será Kylo Ren, o vilão principal no novo Star Wars.

Enquanto Somos Jovens é um ótimo filme, e aconselho tanto aos que gostam de filmes autorais, mas acham o Ben Stiller um idiota, quanto aos que gostam do Ben Stiller, mas acham filme autoral coisa de intelectual chato. Todos irão se surpreender.

Nota: 8