20 de janeiro de 2014

Blue Jasmine

Meu mundo caiu


Idem, Dir: Woody Allen, EUA, 2013, 98 min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt2334873/



Woody Allen lança um filme por ano há mais de quarenta anos. Em 2013 não foi diferente, e este é seu produto, filme que disputa o Oscar de roteiro original, atriz principal e atriz coadjuvante

>Blue Jasmine, ótimo título, brincando com a ambiguidade entre a flor jasmim azul e a protagonista do filme, a triste Jasmine (Cate Blanchett), traz a história de uma mulher que era milionária e frequentadora da high society de Nova York que perde tudo e vai morar com a irmã pobre, Ginger (Sally Hawkings), em São Francisco.

Jasmine perdeu tudo, o dinheiro, os imóveis, o prestígio social, o marido que se matou após ser preso por golpes financeiros milionários, e o enteado que fugiu de tudo isso, mas não perdeu a pose. Já na abertura do filme está voando em primeira classe, usando roupas de grife e dando alta gorjeta para o taxista carregar suas bolsas Louis Vuitton. E confrontada pela irmã a aceitar um padrão de vida bem inferior ela é resistente, tentando retomar o caminho de pessoa bem sucedida que tinha traçado antes de se casar, de estudar e conseguir destaque profissional, algo que não fez por ter aceitado o papel de bem sucedida esposa dondoca.

O filme passa a ser então uma narrativa construída no contraste entre o presente difícil e o passado glorioso de Jasmine, por meio de diversas cenas de flashback. Jasmine encontra muita dificuldade em descer do salto alto, ter de aceitar que deve trabalhar em um emprego de baixas qualificação e remuneração, pois não teve estudo ou experiência para coisa melhor

É interessante notar que Jasmine, que perdeu tudo em razão do patrimônio de seu marido ter sido construído em cima de trapaças, repete o padrão ao tentar falsear seu passado. Exemplo disso é que ela decidiu mudar seu nome, que era Jeanette, ainda na adolescência. E irá criar todo um passado suavizado sobre sua vida de rica, omitindo toda a sujeira da fortuna do marido ao conhecer um pretendente "adequado", ao contrário dos homens rudes e grosseiros que sua irmã tenta lhe apresentar e que ela considera perdedores, como o ex e como o futuro marido de Ginger.

Cate Blanchett está excelente no papel de Jasmine, personagem que, além de toda a carga pelo trauma que carrega, é descontrolada e começa a reclamar da vida até mesmo andando sozinha na cidade. Das concorrentes ao Oscar só vi a atuação de Sandra Bullock, e diria que é difícil escolher entre as duas, pois esta tem de carregar Gravidade praticamente sozinha.

Blue Jasmine é um filme que trata sobre a dificuldade das pessoas em virem seu mundo cair, e como construímos nossas certezas em cima de coisas precárias, ou, como colocado no filme, a tentativa de não querer ver as coisas como são, olhar para o outro lado, como faz Jasmine em relação a suspeita fortuna de seu marido.

Como mencionei Gravidade, interessante até fazer um paralelo com este, no qual a protagonista também viu seu mundo cair com a morte da filha, e teve de acreditar que não se deveria deixar abater por esse fato e seguir em frente. Esse é o dilema, ou deixar o passado para trás e encarar a vida, ou cair e não se levantar mais.

Nota: 8

16 de janeiro de 2014

Pais e Filhos

A difícil arte de ser pai

Soshite chichi ni naru, Dir: Hirokazu Kore-eda, Japão, 2013, 121 min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt2331143/


Vencedor do último Prêmio do Juri do Festival de Cannes, Pais e Filhos, trata, em tese, do raro e complicado tema da troca de bebês. As famílias de Ryota e Midori Nonomiya e de Yukari e Yudai Saiki descobrem que seus filhos, com 6 anos de idade, Keita e Ryusei, foram trocados na maternidade. 

Disse que esse é o assunto "em tese" porque a história, apesar de tratar bem da questão dos meninos trocados, gira em torno da dificuldade de Ryota em ser um bom pai, pois, acima de tudo, quer que seu filho seja forte e independente, como ele, um arquiteto workaholic bem sucedido. Por isso, acho que mais adequado seria se o título adotasse uma tradução literal do título em inglês, "Tal Pai, Tal Filho".

Desde o começo nota-se toda a pressão que Ryota impõe a Keita, e não compreende como seu filho pode ser tão diferente de si, um fruto que caiu longe da árvore. Tanto que a primeira coisa que diz ao descobrir a troca é a abominável frase "Isso explica muita coisa", demonstrando que, de cara, já preferiria que seu filho fosse diferente e melhor saber que Keita não é seu filho. A família que ficou com Ryusei, o filho biológico de Ryota, corresponde ao oposto de sua maneira de se portar e viver a vida. Pobres (para um padrão japonês, obviamente), ele é dono de uma pequena loja de produtos elétricos e ela garçonete, são afetuosos e desleixados na criação de seus três filhos. 

Nem é preciso muitos diálogos para se estabelecer tal padrão, pois no primeiro encontro entre os casais Kiudari já chega despenteado e com o terno mal ajustado, ao contrário de Ryota, sempre impecavelmente vestido, além da linguagem corporal diversa, pois um é atrapalhado, sendo o outro marcado por gestos milimetricamente planejados. Tal contraste acentua as diferenças entre os núcleos familiares e torna ainda mais marcante a frieza de Ryota. 

O filme é muito bom desde a primeira cena. O talento do diretor e roteirista Kore-Eda é notável, exemplificado pelo fato de não haver cenas ou diálogos desnecessários. A sensibilidade com que trata de um tema tão complicado também é admirável. Fico pensando que se tal tema fosse tratado por uma Glória Perez da vida, que sempre trata de tema complexos de maneira patética. Seria uma novela inteira com a Deborah Secco chorando rios por isso. Kore-Eda coloca somente os choros necessários, e nos faz chorar com a dureza da situação. 

Pais e Filhos lida com o problema contemporâneo dos pais que não tem tempo para os filhos, e que cobram desempenho destes, nos levando a pensar em como devemos agir como pais para ter filhos felizes. 

Nota: 10