28 de março de 2017

Logan

O peso dos anos 

Dir: James Mangold, EUA, 2017, 2h17min
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Após duas história muito abaixo do que o personagem merece, Wolverine está de volta na história que leva o nome que ele adotou pela vida Logan.

Na trama, passada em 2029, os mutantes foram praticamente exterminados e os poucos remanescentes vivem no anonimato, dentre eles Wolverine e o Professor Xavier, sofrendo de doenças mentais. Logan tenta viver uma vida ordinária como motorista de limusine na fronteira do México com os EUA, quando uma mulher chega até ele pedindo para ele salvar uma criança mutante, Laura (X-23), que tem os mesmos poderes de Wolverine e está sendo perseguida por um exército de mercenários.

No filme vemos um Wolverine envelhecido, cansado e amargurado por seus anos de violência e amores frustrados. Por conta disso está relutante em se envolver em qualquer jornada heroica ou desenvolver qualquer relação afetiva. Mas vários fatos vão mudando suas ideias e vão despertando o herói adormecido.

O roteiro é bom e foge do padrão de filmes de super-heróis de primeiro se pensar em várias cenas de ação e depois se colocar um roteiro para dar coesão. Aqui o roteiro e o desenvolvimento dos personagens são mais importantes. É uma história bastante introspectiva, incomum para o gênero. E a tristeza, a dor e o sofrimento darão o tom em toda a projeção.

Hugh Jackman tem um grande filme para se despedir do personagem que defendeu por 17 anos. O trabalho de ator aqui é de longe o mais exigente já enfrentado por ele como Logan. Wolverine sempre sofreu, mas aqui a intensidade é ainda maior e o peso dos anos fez com que ele estivesse conformado e tentando se manter alheio ao sofrimento. Patrick Stewart também tem um novo relacionamento com o Professor Xavier, pois aqui ele deixou de ser o líder super centrado de sempre, se tornando um velho gagá resmungão. E a menina Dafne Keen encanta com seu olhar expressivo ainda que quase não fale no filme.

A produção é caprichada, imprimindo um tom sujo ao filme. Não é um típico filme de herói colorido, mas um filme meio western meio road movie, áspero e seco, especialmente considerando o cenário do Oeste dos Estados Unidos, de El Paso até a fronteira norte com o Canadá. As cenas de ação são bem conduzidas e finalmente um personagem que tem 6 garras afiadas como espadas tira sangue de seus inimigos. Muito sangue.

Logan é um bom filme de herói e uma merecida despedida de Hugh Jackman do papel. Os fãs agradecem.

Nota: 8

14 de março de 2017

Silêncio

Homens de Fé

Silence, Dir: Martin Scorsese, EUA/Taiwan/Mexico, 2016, 2h41min
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Até onde uma pessoa pode resistir a castigos físicos e psicológicos em nome de um ideal? Este é o tema central do novo filme de Martin Scorsese, Silêncio.

Na trama, dois padres jesuítas portugueses partem para o Japão feudal do século XVII em busca de seu mentor que há anos está desaparecido no país. Lá irão encontrar uma nação completamente fechada à influência estrangeira e em processo de inquisição budista contra o cristianismo, torturando sistematicamente seus seguidores. Os poucos cristãos tem que professar sua crença no mais absoluto sigilo, lembrando o cristianismo dos primeiros dias das catacumbas romanas. Os padres terão de viver nas sombras para não serem pegos pelo poderoso inquisidor local.

A primeira coisa a se saber antes de assistir ao filme é que se precisa estar bem acordado. O filme é extremamente escuro e lento, com um demorado desenvolvimento da trama, um convite ao sono. Scorsese tem filmes muito dinâmicos, como Os Bons Companheiros e O Lobo de Wall Street, mas também tem filmes desse tipo lento. Infelizmente este não segue o exemplo do ótimo Touro Indomável, mas fica mais para o monótono O Aviador.

Além do tema da resiliência (aqui como a resistência ao sofrimento em meio a muitas torturas), há também questionamentos sobre a fé (existe mesmo Deus ou se está rezando para o Silêncio?) e sobre como se deve viver, se aceitando as regras do mundo e traindo seus ideias ou se mantendo-se fiéis a suas crenças e vivendo em conflito com o sistema. Há muito de espiritual aqui mas Scorsese não quis fazer uma ode ao cristianismo, mas sim uma análise da disposição de um homem em defender seus valores frente a gigantes obstáculos.

O elenco é competente, com Andrew Garfield, Liam Neeson e Adam Driver nos papéis principais. Garfield tem um papel cujas linhas mestras lembram muito as de seu outro trabalho recente, Até o Último Homem, o de um sujeito que leva sua defesa da fé até as últimas consequências. E Neeson, após muitos anos fazendo filmes de ação, voltou a ter um papel decente que poderia até ter sido lembrado no Oscar.

A direção de Scorsese é bem cuidada, como sempre. Como dito, o maior problemas técnico é sua edição que abusa de tomadas muito alongadas e monótonas. A fotografia é bem acinzentada, representando tanto a ambiguidade do local como seu lado sombrio. Apesar de sua qualidade, não merecia a indicação ao Oscar recebida, que deveria ter ficado com Animais Noturnos.

Silêncio é um bom filme com seus questionamentos sobre a disposição humana, mas bastante difícil. Violento, espiritual e reflexivo. Não tem valor nenhum como entretenimento pois não agrada nem um pouco a quem quer "se divertir". E seu pior defeito é ser bastante cansativo.

Nota: 7