27 de abril de 2015

Vingadores - Era de Ultron

Heróis vs Máquina

Avengers: Age of Ultron, Dir. Joss Whedon, EUA, 2015, 141 min
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Aqueles que me acompanham com frequência talvez já notaram que não escrevo muito sobre filmes de heróis por aqui, gosto mais de tratar de filmes "alternativos", que eu prefiro chamar de autorais. Mas isso não quer dizer que eu não curta ver uns filmes-pipoca de vez em quando, exceto por bobeiras como Velozes e Furiosos 7.

Na trama, Ultron é a primeira inteligência artificial superior ao homem criada por Tony Stark (Homem de Ferro) e Bruce Banner (Hulk). Assim que toma consciência, Ultron percebe que para cumprir seu propósito de salvar o planeta tem que exterminar os Vingadores e subjugar a raça humana. A inclusão da inteligência artificial como vilão é um bom recurso, tendo em vista que muitos cientistas sérios, como Stephen Hawking, apontam essa nova tecnologia como um grave risco de extinção da humanidade.

No entanto, o filme comete uma falha ao querer corporizar Ultron. Mesmo ele estando espalhado por vários corpos, a destruição destes ainda assim não o venceria, pois bastaria que ele espalhasse cópias de seu programa por computadores de todo o mundo que nenhum ser humano (ou super-herói) seria capaz de detê-lo. Mas entendo a decisão do roteiro de querer dar uma cara ao vilão, pois colocar os poderosos Vingadores para enfrentar um software não teria muito sentido, melhor seria colocar um programador nerd atrás de um desktop. Para quem quiser aprender mais sobre inteligência artificial (e tiver disposição para ler um longo texto) clique aqui para ler este excelente artigo do blog Wait But Why. O filme Ela também é bastante realista na forma de abordar nosso relacionamento com a inteligência artificial do futuro.

Eu tenho opiniões variadas sobre os filmes do universo Marvel. Gostei de alguns (especialmente Capitão América 2- O Soldado Invernal), mas não gostei de muitos outros. Achei Os Vingadores um filme bem ruim, que parecia só uma junção de heróis na qual se esqueceram de um roteiro minimamente decente para acompanhar os efeitos especiais exagerados. Fiquei cochilando nas duas vezes que vi, de tão cansativo que são os diálogos e de tão longas que são as cenas de ação. Mas reconheço que Vingadores - A Era de Ultron corrigiu os defeitos do filme anterior.

Primeiro por fazer os efeitos visuais serem acessórios ao roteiro, que é a base de qualquer filme e representa 50% da qualidade de uma produção, como já disse Clint Eastwood. Neste novo filme lembraram-se de contar as histórias de seus personagens. Até mesmo o menos importante, o Gavião-Arqueiro, ganhou um grande destaque. E também dosaram bem a ação com a parte em que a história é contada. E não deixaram de fora as pitadas de bom humor que caracterizam os filmes Marvel.

Um bom roteiro também ajuda a dar destaque as atuações. Claro que neste tipo de filme essas não são o destaque, e nenhum dos atores vai ganhar qualquer prêmio relevante por elas. Mas nesta produção o talento de Scarlett Johansson, Mark Ruffalo e companhia foi mais bem aproveitado. Exceção é Robert Downey Jr, que aparenta ter atuado em piloto automático, talvez cansado por representar o Homem de Ferro pela quinta vez.

A direção abusa menos da ação que no filme anterior. Claro que em um filme desses não pode faltar cenas eletrizantes, mas há diversas formas de fazê-lo. Quando há um excesso de informação o espectador fica perdido em meio a tantas coisas acontecendo simultaneamente. Com poucas exceções, neste filme dá pra acompanhar bem tudo que acontece, seguindo a bem sucedida fórmula de Capitão América 2.

Vingadores - Era de Ultron é um excelente filme-pipoca, e que faz os que gostaram dele, ainda que não sejam fãs de quadrinhos, esperando pela sequência da história daqui um ano com Capitão América 3: A Guerra Civil, quando os super-heróis tomarão lados opostos, um liderado pelo Capitão América e outro pelo Homem de Ferro.

Nota: 8

20 de abril de 2015

Feitiço do Tempo

Déjà Vu


Groundhog Day, Dir. Harold Ramis, EUA, 1993, 101 min
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Comédias românticas tendem a ser o estilo de filme mais detestado por homens em geral e este pitaqueiro concorda com isso. Mas Feitiço do Tempo é uma honrosa exceção em meio ao monte de baboseiras sem graça que a Sandra Bullock e o Ryan Reynolds adoram fazer.

No filme, Phil Connors (Bill Murray) é um prepotente homem do tempo de uma pequena emissora de TV que é escalado pela terceira vez para cobrir o enfadonho Dia da Marmota, um evento em uma cidadezinha interiorana no qual dizem que o bicho pode prever se o inverno será mais curto.

Como previsto, Phil tem um dia horrível, e sequer consegue sair do lugar que tanto abomina em razão de uma nevasca. E no dia seguinte acorda e percebe que o dia anterior retornou, e com o tempo, que ele ficará preso neste dia por muito tempo.

Dessa repetição eterna emerge o humor do filme. Phil passa a reviver as pequenas situações do cotidiano indefinidamente. E sabendo do roteiro, passa a fazer modificações. O protagonista passa por diversas fases. Primeiro vive um luto em saber que jamais deixará de viver aquele dia. Depois tenta de diversas formas se matar, o que é um dos momentos mais hilários do filme. Depois aceita seu destino e começa a viver sem limites, comendo, bebendo, fumando, etc. E na última fase começa a praticar boas ações, e fazer um esforço sem fim para conquistar sua produtora, Rita (Andie MacDowell).

As diversas repetições são as melhores tiradas do filme. Em uma cena Phil zomba de Rita por ela ter estudado literatura francesa na faculdade. Logo na sequência a mesma cena é mostrada com Phil recitando poesia francesa. Outros momentos memoráveis são o encontro de Phil com seu velho colega mala de escola, Ned. Prévias destas cenas estão no trailer, clique aqui para ver).

Bill Murray é um excelente ator de comédia. Seu humor ácido e cínico funciona especialmente bem para a personagem central. E Andie MacDowell complementa bem o elenco, fazendo o casal principal ter a química necessária.

O melhor aspecto técnico do filme é a edição, que mostra as repetições de forma ágil, contribuindo para o humor da trama. A direção é de Harold Ramis, morto recentemente, conhecido por ter dirigido e atuado em Os Caça Fantasmas.

Feitiço do Tempo é um filme divertidíssimo e é a prova de que comédias românticas não precisam ser sempre a mesma estorinha boba e previsível que mal conseguem fazer rir.

Nota: 8

6 de abril de 2015

Operação Sombra - Jack Ryan

Espião por Acidente

Jack Ryan: Shadow Recruit, Dir. Kenneth Branagh, EUA/Rússia, 2014, 105 min
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Jack Ryan, cria do escritor Tom Clancy,  já é uma personagem veterana em filmes de espionagem. Sua carreira começou com o bom A Caçada ao Outubro Vermelho, no qual Alec Baldwin dava vida à personagem. Depois Harrison Ford assumiu o papel por dois filmes, Jogos Patrióticos e Perigo Real e Imediato, e na sua última aventura, A Soma de Todos os Medos, foi a vez de Ben Affleck interpretar o protagonista. Agora a série retorna ao ponto zero com Chris Pine (o Capitão Kirk dos novos filmes de Star Trek).

Nesta nova aventura é mostrada a origem de Ryan, um estudante de economia que decide se alistar nos Fuzileiros Navais dos EUA após o 11 de setembro e é ferido no Afeganistão, sendo posteriormente recrutado como analista da CIA e designado para trabalhar sob cobertura junto ao setor financeiro em Wall Street. Em seu trabalho, Jack descobre estranhas transações financeiras da empresa russa sócia da firma na qual trabalha. Aí vai a Moscou onde irá ver mais de perto o que acontece. E, como sempre, Ryan é o analista que da noite pro dia tem que se transformar em um agente operacional em missões de alto risco.

A trama é até interessante, na qual há um plano de ataque terrorista a Wall Street seguido por um plano financeiro para causar uma derrubada do valor do dólar, levando os EUA a uma nova Grande Depressão. Mas a estória não é bem conduzida.

Primeiro pelo roteiro. As formas mirabolantes para conseguir invadir o prédio do vilão e acessar seus planos são tão exageradas que até a invasão da CIA em Missão Impossível parece mais factível. O destaque dado ao relacionamento afetivo de Ryan com sua namorada também toma tempo demais. E a inclusão dela, uma pessoa completamente leiga, em uma missão de alto risco, também ofende a inteligência do espectador.

O elenco também não ajuda. Chris Pine é inexpressivo e não convence como Ryan. O vilão, Kenneth Branagh (também diretor do filme), não é mais do que um estereótipo de russo ressentido que quer ver restaurada a grandeza de seu país. Kevin Costner não compromete como chefe de Ryan e Keira Knightley até vai bem como a namorada de Ryan, mas, como já dito, sua personagem seria desnecessária.

A fotografia é até interessante, com belas cenas de Moscou. As cenas de ação são bem coreografadas e não são exageradamente longas. Mas não há direção que resolva um roteiro tão falho e um protagonista que não convence.

O renascimento de Jack Ryan nas telas, assim, não mostra a que veio. Aos fãs de filmes de espionagem, certamente é melhor esperar a aguardada estreia de Spectre a nova aventura de 007.

Nota: 4