27 de março de 2013

Trainspotting - Sem Limites

Quem quer ser um junkie?


Trainspotting, Dir. Danny Boyle, Reino Unido, 1996, 94min





Revi recentemente este filme que incluo entre aqueles que mais me marcaram, pois foi um dos primeiros contatos que tive, em minha adolescência, com filmes não-hollywoodianos. Escrevo assim porque detesto o rótulo de "alternativo", como se somente os grandes estúdios dos EUA produzissem filmes importantes, além do que existe essa cultura besta de querer se "diferenciar".


Trainspotting traz a história de um grupo de amigos escoceses, a maioria deles usuários de heroína, uma das drogas mais pesadas. São eles o protagonista que tenta deixar o vício, Renton (o pouco conhecido à época Ewan McGregor), o cara que tenta sempre se mostrar bem sucedido, Sick Boy, o bonzinho e fraco Spud, o esportista Tommy e o machão beberrão falso-moralista Begbie.



A estória gira em torno da tentativa de Renton de deixar a vida focada no uso de heroína e viver uma vida normal. Esse é o eixo condutor do filme, pois, desde o início, se questiona o que é a vida normal. Ser bem sucedido no trabalho, ter família, filhos, carro, viagens de férias? Talvez o objetivo de todos nós seja buscar o prazer, e o uso de drogas seria apenas uma outra forma. Aliás, nesse ponto, o filme também lembra o ótimo Clube da Luta, pois mostra a tentativa de fugir da vida certinha por uma via considerada socialmente inadequada.



Algumas cenas surreais são inesquecíveis, como a do bebê engatinhando no teto, ou a do "mergulho" dentro da privada do "banheiro mais sujo da Escócia". Algumas são divertidíssimas, como aquela que dois amigos estão falando sobre sexo em uma balada, enquanto suas namoradas fazem o mesmo no banheiro. Quando se encontram as garotas perguntam sobre o que eles falavam, ao que eles cravam "futebol" e devolvem a pergunta, tendo como resposta "compras". 



Uma personagem muito marcante é Begbie. Ele é o cara que não usa drogas, mas fuma e bebe o tempo inteiro, enquanto dá lições de moral nos amigos mesmo sendo campeão em arrumar confusões em bares. 



Há muitas outras cenas fantásticas no filme, além de uma trilha sonora rockeira muito boa. A edição é um destaque à parte, pois o ritmo do filme se alterna bastante, às vezes (poucas) sendo lento, e por outras vezes se tornando um vídeo clipe. 



A excelente direção é de Danny Boyle, que posteriormente foi merecidamente premiado com o Oscar de melhor diretor por Quem Quer Ser um Milionário?.



Trainspotting é um filme bem pesado, mostrando as pessoas se drogando de maneira muito realista, tendo sido por alguns considerado apologista ao uso de drogas. Não vejo assim, pois ao mesmo tempo em que mostra que a droga dá um imenso prazer imediato (se assim não fosse, ninguém usaria), mostra a destruição que ela pode causar, especialmente na estória sobre Tommy. Talvez seja até moralista, ao mostrar que o caminho pra quem fica nas drogas é, quase sempre, o da ruína. Assim, tem um paralelo também com Réquiem para um Sonho, que trata da dependência de maneira mais genérica.



Como o filme é a adaptação de um livro de mesmo nome, há discussões sobre Danny Boyle dirigir a adaptação da sequência, Porno, contando o destino das personagens alguns anos depois.



Nota: 10

12 de março de 2013

O Som ao Redor

Casa-Grande & Senzala


Idem, Dir. Kleber Mendonça Filho, Brasil, 2012, 131min


Filme que tem recebido excelentes críticas e esteve envolvido em uma polêmica após um comentário maldoso de um diretor da Globo Filmes, O Som ao Redor retrata o cotidiano de pessoas que vivem ou trabalham numa rua em Recife, a poucos metros da praia.

O filme traz diversas tramas paralelas sem interrelação. Estão lá a dona de casa entendiada que não consegue dormir com os latidos do cachorro do vizinho, o velho patriarca de uma família que era dona de terras do passado, os moradores de um edifício de luxo que querem demitir o porteiro que dorme no serviço, os seguranças da rua que chegam para "garantir o sono dos moradores, dentre outros.

O filme tem vários defeitos e poucas qualidades. O primeiro defeito é a duração. O diretor não precisava gastar duas horas para que se entendesse a mensagem que ele quer passar, de que a relação casa-grande e senzala persiste em existir no Brasil contemporâneo, apesar da nova roupagem. Aliás, tal sentido é explicitado logo na primeira cena, em que há a exibição de uma sequência de fotos antigas de grandes propriedades rurais, os senhores e seus dependentes.

Também incomoda a lentidão com que se desenvolve a história. Várias coisas vão acontecendo sem muita conexão. A dona de casa tenta envenenar o cachorro, um menino chuta a bola no prédio de luxo e não consegue pegá-la de volta, um corretor de imóveis vai tomar café da manhã com a empregada após dormir com uma moça que conhecera na noite anterior, etc. Apenas a proximidade física, por tudo acontecer na mesma rua, estabelece um elo entre as cenas.

Além disso, algumas cenas nem se desenvolvem. Ao menos duas cenas mostram um casal de adolescentes em uniformes escolares se beijando em um cantinho. Cenas totalmente perdidas e sem nenhuma ligação com os demais eventos. 

Como qualidade, há cenas interessantes, como a em que os seguranças vão pedir "benção" ao velho patriarca para atuar na área em que ele vive, e este começa a caçoar do mulato caolho, mostrando seu tratamento humilhante para os, no seu ponto de vista, "inferiores". Também há uma interessante cena sobre a reunião de condomínio para discutir a demissão do porteiro que há muitos anos lá trabalha mas só dorme em serviço.

Também se destaca a preocupação do diretor de tratar as personagens como pessoas com defeitos e qualidades, não elegendo heróis e vilões de forma maniqueísta. 

Em síntese, o filme tem bons momentos, mas são muito poucos, sendo na maior parte do tempo, extremamente cansativo. Havia maneiras muito melhores de se mostrar a persistência das formas de tratamento coloniais.

Nota: 4

De volta em um novo canal

Pitacos cinematográficos, que andava morto-vivo no endereço do UOL, voltou, agora em casa nova, no Blogger.

Na primeira vez tinha parado de escrever por falta de público. Agora, com o Facebook e o Twitter, como recomendaram alguns amigos, talvez consiga mais visibilidade, por isso a volta.

Resgatei os posts antigos, colocando a data da postagem original. 

Não revisei nada. Posso até ter mudado de ideia ou notado algum erro de português, mas deixei como originalmente publicado.

Os comentários antigos podem ser acessados clicando no link abaixo da nota.

Basicamente a ideia básica é a mesma do primeiro pitaco:
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Apresentação do Pitacos
Sejam bem vindos ao Pitacos Cinematográficos (que pretensão, será que alguém vai mesmo ler isso aqui)!
Este blog foi criado para análise de filmes. Este blog não é um diário pessoal, no entanto, qualquer crítica reflete as idéias e a visão do autor. Ao final de cada avaliação atribuirei aos filmes uma nota de 0 a 10.
Comentários, sugestões e discussões serão bem vindos!
Aguardo seus pitacos!
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É isso. Aguardo seus novos pitacos!