31 de março de 2014

A Grande Beleza

Fim de festa

La grande bellezza, Dir: Paolo Sorrentino, Itália, 2013, 124min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt2358891/



Ainda sobre o Oscar 2014, A Grande Beleza foi o vencedor do prêmio de melhor filme estrangeiro (ou, como diz o nome atual, filme em língua estrangeira).

A estória centra-se em seu protagonista, Jep Gambardella (Toni Servillo), um jornalista de 65 anos que vive intensamente os agitos da vida noturna e cultural de Roma, e que ganhou fama graças a um livro que escreveu há 40 anos.

A narrativa não é das mais tradicionais, o que pode afastar espectadores que gostam do esquema tradicional de filmes hollywoodianos ou de novelas globais. Vários momentos do cotidiano de Jep são mostrados sem necessariamente haver uma ligação cronológica entre estes.

Apesar dessa falta de narrativa cronológica padrão, o filme não é um apanhado de cenas sem sentido. Algumas cenas permitem uma interpretação direta, especialmente quando o protagonista dá uma lição de moral na sua amiga que se julga a pessoa mais correta da turma, mostrando toda a podridão que ela oculta. 

Já outras intenções do diretor exigem ao espectador que "ligue os pontos". Por exemplo, em momento algum isso é dito, mas Jep mora em um apartamento com uma sacada enorme em frente ao Coliseu, e diz que passou a vida inteira buscando a grande beleza e não a encontrou. Ora, todos os dias ele acorda com vista para esse grande monumento, e isso para ele não é belo o suficiente, o que pode ser interpretado como o fato de que qualquer pessoa enjoa de qualquer coisa, ou de que nada é tão belo assim.

Muitas coisas são questionadas ao longo do filme, como arte, religião, política, família e amizades. Olhando em uma perspectiva geral, o diretor busca tirar seus espectadores da zona de conforto, pois todos sempre buscam portos seguros para tentar colocar sentido às suas vidas. 

Felizmente, o filme não mostra qual seja esse sentido (embora sugira que é meio bobo que velhos fiquem dançando em festas com música bombando madrugada adentro). Fica a mensagem de que "O sentido da vida" talvez nem exista, e cabe a nós escolher qual a melhor maneira de viver, levando conosco toda a responsabilidade pelas escolhas que fazemos. 

Nota: 9

13 de março de 2014

Última Viagem a Vegas

Tiozões na pista

Last Vegas, Dir: John Turteltaub, EUA, 2013, 105 min
IMDB: clique aqui


Um filme que reúne 4 atores oscarizados e carismáticos não tem como não ser bom, certo? Longe disso. Última Viagem a Vegas é uma prova disso.

A estória envolve um grupo de amigos de infância, os quatro astros, que, já na velhice e com cada um tendo uma vida diferente, resolvem se encontrar para a despedida de solteiro de um deles em Las Vegas.

Todas as personagens não são mais do que estereótipos. O viúvo ranzinza (De Niro), o velho dependente que é tratado como criança pelo filho (Freeman), o velho que quer ser garotão (Douglas) e o velho que está entediado em seu casamento de 40 anos (Kline).

Se pelo menos as piadas fossem boas, o filme poderia ser melhor. Mas são todas piadas manjadas, sobre os velhos que voltam a Las Vegas 40 anos depois e estranham tudo, frente a festas modernas. E tudo se encaminha para liçõezinhas de moral infantis no final, do tipo valorize o que você tem, aceite que você envelhece e não é porque você está velho que sua vida é sem graça.

Lembrei-me dos comentários dos finais dos desenhos do He-Man. Faltou o Gorpo aparecer no final dizendo algo do tipo: "na estória de hoje, vimos que às vezes nós nos acomodamos com nossas vidas e não percebemos como ela é bonita. Então lembrem-se, amiguinhos, se você tem pessoas em quem confia, esse é o maior tesouro que você pode ter. Até a próxima."

Nota: 3

10 de março de 2014

Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual

Solidão na multidão

Medianeras, Dir: Gustavo Taretto, Argentina, 2011, 95 min
IMDB: clique aqui

No Brasil, é comum um sentimento aflorado contra a Argentina. Mas mesmo quem tem essa birra com os "hermanos", se gosta de cinema, não pode negar que os filmes argentinos são geralmente muito bons, e dão de goleada na produção cinematográfica do Brasil. Diferentemente do panorama nacional, em que, em boa parte das vezes, os filmes ou tratam de miséria ou são essas comédias bizarras que mais lembram uma Zorra Total de duas horas de duração, os filmes argentinos normalmente tratam de histórias cotidianas de classe média, muito bem contadas.

Medianeras, que originalmente era um curta-metragem e depois ganhou a versão de longa, se enquadra nessa categoria. A abertura do filme já é um primor, mostrando o mar de prédios da capital portenha enquanto o narrador em off analisa que BA´s é uma cidade que dá as costas ao seu rio e que a urbanização é totalmente caótica, com prédios altos do lado de baixos, novos do lado de velhos e outros contrastes que deterioram o ambiente urbano. Parte daí a análise se tal caos no planejamento não se espelha em nossas vidas.

Martin (Javier Drolas), o protagonista, é um programador de sites que praticamente não sai de casa, fazendo tudo online. Mariana que mora na mesma rua de Martin, a poucos prédios de distância, é uma arquiteta que trabalha produzindo vitrines. Ambos cruzam-se várias vezes durante o filme, mas nunca se veem, perdidos na multidão.

Além de inúmeras semelhanças de gostos e de posturas, os dois também tem um passado de rompimento de relação amorosa doloroso e de relações posteriores efêmeras e sem graça. Ao longo do filme as rotinas dos dois são acompanhadas em paralelo.

O fato de estarem perdidos na multidão traz o paralelo dos famosa série de livros Onde Está Wally (por isso o poster do filme acima). Mariana diz que o único cenário em que nunca encontrou Wally é na cidade, uma metáfora por sua busca pela cara metade na metrópole impessoal.

Outro ponto muito bem abordado pelo filme é o fato de estarmos altamente conectados nos dias atuais, e isso não aplacar a solidão. Martin diz uma excelente frase que sintetiza tudo isso: "A internet me aproximou do mundo, mas me afastou da vida".

Nota: 9


P.S: Links para o filme no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=yKwxlP_DW_8
http://www.youtube.com/watch?v=8ja-vEbiY1c

E também o filme na versão anterior, curta metragem:
http://www.youtube.com/watch?v=kDj9yoBJ0k8

7 de março de 2014

RoboCop

Robô de Elite

Idem, Dir: José Padilha, EUA, 2014, 117 min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1234721/



Nova versão do clássico cult de 1987, RoboCop dirigido pelo brasileiro José Padilha (Tropa de Elite) muda o foco do original, trazendo o drama para o lado humano de Alex Murphy (Joel Kinnaman), o policial que estava praticamente morto e é "ressuscitado" em forma de máquina. Se no original Murphy acordava como uma máquina, e aos poucos, contra a vontade de seus criadores, ia relembrando seu passado, neste ocorre o contrário. Murphy acorda do coma e fica chocado ao se ver transformado em uma máquina, com pouquíssima coisa sobrando de seu corpo humano.                                                                                                                                                 
Também há um enfoque maior em sua relação familiar, pois no original ele se mantinha à distância de sua esposa e de seu filho, enquanto neste ele tenta restabelecer a relação como uma homem-máquina. 

A grande questão do filme, em seu enfoque político, é se é ético que robôs, e não mais pessoas, passem a tomar decisões que envolvam julgamento de valores. A ação começa mostrando robôs americanos fazendo o patrulhamento em Teerã, enquanto que um âncora de televisão de extrema direita, Pat Novak (Samuel L. Jackson), defende o uso de robôs, pois estes evitam que soldados percam suas vidas em países estrangeiros. Mas ele se esforça para disfarçar que o outro lado da moeda é que os cidadãos dos países invadidos são humilhados em abordagens e mortos se tentarem reagir. Ou seja, desde o começo Padilha já toma partido, mostrando que não há muita justiça em tal sistema.

O grande embate do filme, dá-se então, entre os defensores do uso de soldados-robô como policiais no território dos EUA, como Novak e a empresa que os fabrica, a OCP, e os contrários a tal medida, representados por um senador que defende a manutenção de uma lei que impede tal uso. RoboCop será, assim, uma tentativa da OCP de encontrar uma brecha legal, colocando um humano dentro de um robô, construído pelo Dr. Frankenstein moderno, Dennett Norton (Gary Oldman).

É Interessante a preservação de alguns dos ícones do filme original, como a forte música tema, a armadura de RoboCop e o robô ED-209.

Padilha deu seu toque ao filme, mas não deixa de ser um filme pipoca com um roteiro arrumadinho, ao contrário de superproduções burras repletas de ação e com roteiros que só servem pra ligar uma cena à outra, como Transformers e Velozes e Furiosos.

Nota: 6