19 de julho de 2016

The Lost Honour of Christopher Jefferies

O Professor Aloprado Injustiçado

Idem, Dir: Roger Michell, Reino Unido, 2014, 1h54min
IMDB     


ALERTA DE SPOILERS. Um pouco da trama geral é revelado, mas sem detalhes.

Uma ocorrência de desaparecimento de uma moça revela-se ser na verdade um caso de homicídio. O principal suspeito, seu senhorio, o excêntrico professor universitário aposentado, o personagem-título de The Lost Honour of Christopher Jefferies (sem título em português).  

O filme baseia-se em uma história real que abalou o Reino Unido nos últimos dias de 2010 e se tornou uma das maiores investigações policias da história do país (Link do caso na Wikipedia).

Christopher Jefferies foi preso sem nenhuma prova contra si, apenas coincidências circunstanciais e teve de passar 3 dias encarcerado. Quando saiu do cárcere, percebeu a forte cobertura midiática, que devassou sua vida. A mídia britânica não teve pudor algum em condená-lo, não pelo ato que supostamente cometera, mas por sua figura. Basicamente, atribuiram que alguém de aparência e comportamento estranho "naturalmente" seria um homicida.

Apesar de ser apresentado como filme no Netflix, na verdade o produto original foi uma minissérie em 2 capítulos. O roteirista Peter Morgan tem bons filmes em seu currículo, Rush e A Rainha, e faz um bom trabalho aqui de não entregar muito da estória, mas levar os espectadores numa jornada junto ao protagonista.

Jason Watkins apresenta um ótimo trabalho como o protagonista, não deixando de lado sua caracterização excêntrica (muito parecido com o personagem real, como pode ser visto nesta foto), porém mantendo-se firma na tênue linha entre o real e o espalhafatoso. Não seria difícil tornar esse personagem um estereótipo de professor louco desajustado. Mas ele mostra sua humanidade ao ter de de abrir mão de sua privacidade e sua reputação de bom cidadão.

A condenação moral da sociedade aqui faz lembrar o ótimo premiado filme sueco-dinamarquês, A Caça (clique no título para ler o pitaco). Enquanto naquele mostrava-se o impacto na vida de um cidadão em uma pequena comunidade, neste o cidadão é difamado nacionalmente.

O filme mostra como os britânicos ficaram chocados com este caso de abuso governamental e midiático. A pergunta que fica a nós, espectadores brasileiros, é o que os súditos da rainha diriam do sistema processual penal brasileiro, que ignora várias garantias humanas diariamente, e de nossa mídia, com seus programas policias grotescos..

The Lost Honour of Christopher Jefferies é um filme interessante sobre abuso policial e midiático sobre um cidadão comum. Importante em um mundo tão ansioso em prontamente condenar o ato e, especialmente, a vida dos suspeitos.

Nota: 7

12 de julho de 2016

Independence Day: O Ressurgimento

Aliens Atacam Novamente!

Independence Day: Resurgence, Dir: Roland Emmerich, EUA, 2016, 2h00min
IMDB                 Trailer


Independence Day, o original, queiram ou não, foi um marco no cinema. Foi um dos produtos mais bem acabados esteticamente do subgênero do filme catástrofe, em uma época em que os efeitos digitais (CGI) estavam em seu início. Jurassic Park, o divisor de águas do gênero, havia sido lançado só três anos antes. ID4 (seu apelido carinhoso) foi o campeão de bilheteria de 1996 e gerou a infame paródia Marte Ataca! (em que Jack Nicholson causa muitas risadas parodiando o heroico Mr. President do original).

Apesar de campeão de bilheteria, a crítica nunca recebeu bem o filme. Pudera. O roteiro é cheio de clichês patrióticos (em um filme que lida com a aniquilação da humanidade), personagens rasos e situações bomba-relógio. Alguns diálogos são risíveis, como o discurso patriótico do Mr. President, com o famoso "Today, is our INDEPENDENCE DAY!". E as atuações ajudam menos ainda.

Dito isso, não se pode negar que, apesar de todos os defeitos, o filme original é um ótimo produto de entretenimento (clique aqui para ver um vídeo, em inglês, analisando os pontos fortes do roteiro). A tensão é constante e as cenas de destruição global até hoje são marcantes. E feitas sem CGI, à maneira antiga, com maquetes e gasolina. Por esses motivos, sempre digo que Independence Day é meu filme tosco favorito. 

Como não podia deixar de ser na fase atual de pouca criatividade, Hollywood resolveu continuar essa estória 20 anos depois. E não foi muito feliz.

O roteiro do novo filme tem a mesma estrutura do antigo. Os ETs chegam, começa a rolar a destruição global e culmina no grande confronto final. O novo filme erra feio ao não conseguir gerar o mesmo efeito de tensão que era o ponto forte do primeiro. E isso não se deve por conta do público já estar preparado, mas por erros de roteiro. No primeiro, foi sendo criada uma grande tensão que levava o público a imaginar a destruição que se seguiria, com a morte de vários personagens secundários que foram criando empatia com o público. Como sabe qualquer diretor de filme de terror, a tensão que se cria ANTES do ocorrido é bem mais forte do que mostrar a tragédia. E nisso o filme erra bastante. Não há expectativa criada. Londres é completamente destruída sem que o espectador esperasse isso, resultando em uma cena de destruição esvaziada de conteúdo.   

No primeiro filme a chegada dos aliens ocorre logo no início. Em O Ressurgimento, gasta-se muito tempo contextualizando o espectador sobre o que ocorreu nos 20 anos anteriores. Os personagens novos (alguns não tão novos assim, pois eram crianças no filme anterior) não tem muita graça e pouco acrescentam. Por fim, as repetições entre os dois filmes, mais do que gerar um paralelismo interessante, acaba resultando em uma repetição incômoda, com os mesmos enquadramentos, expressões dos atores e cenários. Uma ou outra repetição vai lá, até é positivo para alimentar a nostalgia dos fãs, mas parecer um remake cansa.

Exceção feita a Will Smith, que se tornou astro internacional e ganhou respeito como intérprete após o primeiro filme, os demais atores do primeiro filme e novamente presentes como Bill Pullman e Jeff Goldblum sempre foram canastrões. Os novos não mudam o panorama. Aqui vemos até a inclusão de uma boa atriz, Charlotte Gainsbourg (a Ninfomaníaca), deslocada em um blockbuster. E o veterano Judd Hirch poderia ter sido deixado de lado, pois ele conduz uma trama paralela que nada acrescenta, não servindo nem como o alívio cômico que fora na aventura anterior

E o filme mostra claramente algumas das marcas dos 20 anos entre as duas estórias. Se antes mal se mostrava a gigantesca China, neste o país ganha destaque, com a inclusão de uma heroína chinesa e cenas de destruição no Império do Meio. Também não fica de fora a normalização da homoafetividade, pois dois cientistas presentes no original se revelam um casal gay. Não tem a tão "temida" cena do beijo, mas tem o afeto e a cumplicidade entre dois homens, assim como ocorre com casais hetero.

Independence Day: O Ressurgimento tem os mesmos problemas de seus antecessor. Mas falha em imitar suas virtudes. Recomendado para os fãs da agora série, que, infelizmente, sairão com uma certa decepção do cinema.

Nota: 5