26 de fevereiro de 2016

Oscar 2016: Apostas

And the Oscar Goes To...



Nos últimos dois meses foram publicados pitacos de quase todos os filmes que disputam os prêmios para longa-metragens de ficção. Na postagem sobre os Indicados do Pitacos foi discutida a justiça das indicações. Faltaram apenas análises de Joy e 45 Anos (atrizes principais), Straight Outta Compton (roteiro original), Cinderella (figurino) e O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu (maquiagem). 

Para quem quer entender melhor as categorias técnicas clique aqui pra ver um vídeo esclarecedor do Tiago Belotti.

Esta edição promete ter um pouco mais de surpresas que as duas anteriores (em que dava pra gabaritar a lista), pois existem algumas categorias com disputas acirradas e algumas que podem surpreender.

Como nas duas últimas edições (2015 e 2014), vou fazer a aposta do vencedor de cada categoria, votar no escolhido do Pitacos e fazer uma breve consideração. Não vou comentar as categorias de curtas e documentários, pois não vi nenhum dos concorrentes. Muitas das apostas são baseadas nas cotações das casas de jogo online, clique aqui para ver.

Criarei um post na conta do Facebook do Pitacos Cinematográficos e farei alguns comentários ao vivo durante a premiação. No dia seguinte à premiação terá pitaco com a análise dos premiados. No final deste post tem meus agradecimentos, algumas considerações e planos para o futuro do blog.

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Vamos então às Apostas do Pitacos (clique nos títulos para ler os pitacos sobre eles):


Melhor Filme

Vencedor: O Regresso
Pitacos escolhe: Idem

2016 chegou a ter uma batalha equilibrada entre 3 filmes: O Regresso, Spotlight e A Grande Aposta, pois os 3 ganharam prêmios importantes. O Regresso parece caminhar para a vitória, mas não será surpresa se algum dos outros dois vencerem. Também não será nenhum espanto se Mad Max: Estrada da Fúria vencer, em uma tentativa da Academia de sinalizar que não tem preconceitos contra blockbusters de ação.
Spotlight e O Regresso são grandes obras, o primeiro pela cinematografia excepcional e o segundo pelo ótimo roteiro e elenco. A Grande Aposta tem recebido um reconhecimento até um pouco exagerado para uma obra que se destaca mais pelo tema e pela edição espertinha. Mad Max é um espetáculo visual, mas sua ação em excesso faz perder alguns pontos. O Quarto de Jack é um grande filme e merecia ter mais chances.
Como esta é a categoria principal, segue a lista de preferências (os três últimos filmes sequer deveriam estar na disputa): 

Diretor

Vencedor: Alejandro G. IñárrituO Regresso
Pitacos escolhe: Idem

Iñárritu está se consagrando. O único que o ameaça é George Miller (Mad Max - Estrada da Fúria), pelo espetáculo visual criado - que seus detratores dizem ser um Circo de Soleil sobre rodas.


Atriz Principal

Pitacos escolhe: Idem

Performance espetacular de Brie Larson, uma das maiores interpretações recentes do cinema. Ganhou os 4 grandes prêmios que antecedem o Oscar (BAFTA, Globo de Ouro, Critics´ Choice e SAG) e diversos outros prêmios menores, e só não ganha o Oscar se um meteoro cair na Terra antes da premiação.


Ator Principal

Pitacos escolhe: Idem

Esse ano o prêmio é do Leo, que como Brie Larson ganhou tudo que podia até o momento. E o povo vai ter que criar novas piadas. 


Atriz Coadjuvante

Pitacos escolhe: Idem

A moça que encantou em Ex Machina mostrou sua competência em A Garota Dinamarquesa. Vai levar seu primeiro prêmio, pois seguindo assim, em breve virão outros.


Ator Coadjuvante

Pitacos escolhe: Mark Ruffalo - Spotlight

Aposta de zebra. O favorito é Stallone, mas como ele sequer foi indicado no SAG Awards (prêmio do sindicato dos atores), acho que nem com todo seu carisma ele ganha. Dos indicados meu favorito foi Ruffalo que criou um personagem afobado e combativo, sem exagerar. Mas quem merecia vencer sequer foi indicado, Idris Elba (Beasts of No Nation).


Roteiro Original

Vencedor: Spotlight
Pitacos escolhe: Ex Machina

Spotlight tem um roteiro excelente, que prende a atenção mesmo com os espectadores já sabendo o desfecho. Divertida Mente tem chances. Pelo texto reflexivo e existencialista, meu voto vai para Ex Machina.


Roteiro Adaptado

Vencedor: A Grande Aposta
Pitacos escolhe: O Quarto de Jack
A Grande Aposta vai levar por conta de sua forte crítica ao sistema financeiro e por sua forma bem humorada de tornar termos financeiros acessíveis ao público leigo. O Quarto de Jack merecia, pois conseguiu criar uma estória profundamente forte e dolorosa sem cair no melodrama.


Edição

Pitacos escolhe: Idem

A boa edição é fundamental em qualquer filme de ação. Neste ela dá um tom especial ao filme. A Grande Aposta tem uma edição engraçadinha e pode surpreender.


Fotografia

Vencedor: O Regresso
Pitacos escolhe: Idem

Cinco filmes muito bonitos e merecidamente indicados. Emmanuel Lubezki irá levar seu terceiro prêmio consecutivo com méritos (trinca que não ocorre em qualquer categoria desde 1953). Mad Max: Estrada da Fúria e Sicario são fortes concorrentes e merecedores do prêmio, mas dificilmente levam.


Canção Original

Vencedor: "Til It Happens To You", Lady Gaga - The Hunting Ground
Pitacos escolhe: Idem
Lady Gaga impressionou à Academia e ao público com a interpretação de canções de A Noviça Rebelde há dois anos no Oscar. Desta vez ela vai cantar e ganhar o prêmio por uma música forte criada para um documentário sobre violência sexual nas universidades americanas. Reencontro com o Leo à vista!


Figurino

Pitacos escolhe: Idem
A caracterização do universo distópico e de suas gangues malucas depende de seu excelente figurino. Cinderella tem chances.


Maquiagem e Cabelo

Pitacos escolhe: Idem

A maquiagem dos ferimentos do Leo em O Regresso impressiona, mas Mad Max depende visualmente da maquiagem na criação de seu universo distópico e merecidamente vai levar o prêmio. E só pelo título seria muito engraçado se o vencedor fosse O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu


Mixagem de Som

Pitacos escolhe: Idem

Prêmio garantido, com todos os méritos. A sequência dos tambores e da guitarra que aparecem em cena sincronizando com a trilha surpreende.


Edição de Som

Pitacos escolhe: Idem

Todo filme de ação exige um bom trabalho de captação e criação de efeitos sonoros. Mad Max o faz com perfeição.


Efeitos Visuais

Pitacos escolhe: Idem

Combinação perfeita entre efeitos visuais e práticos. Star Wars: O Despertar da Força também tem essa qualidade e é favorito, mas Mad Max surpreende pelas perseguições de carro e aposto no mais fraco.


Design de Produção

Pitacos escolhe: Idem

Prêmio garantido pelos cenários espetaculares e os veículos estilosos deste road movie. 


Trilha Sonora

Pitacos escolhe: Idem

Disputa de gigantes, os mestres John Williams e Ennio Morricone. O americano compôs uma linda música para a personagem central da nova trilogia de Star Wars (clique para ouvir), mas o italiano, criador das trilhas da ótima "Trilogia do Dólar", compôs uma música forte, sinistra e sombria que combina perfeitamente com o clima do filme onde ninguém é bom (clique para ouvir)


Longa Estrangeiro

Vencedor: Filho de Saul
Pitacos escolhe: sem voto
Não tive tempo de ver os estrangeiros, então não voto. O Filho de Saul venceu vários prêmios e deve levar o Oscar por tratar um tema que sempre chama a atenção da Academia, o Holocausto, e sob uma perspectiva diferente da convencional. 


Animação

Vencedor: Anomalisa
Pitacos escolhe: Idem

Aposta em zebra. Divertida Mente é amplo favorito, mas apesar das boas ideias o roteiro envolve uma jornada meio sem graça e a Pixar está se repetindo em seus enredos. Anomalisa é animação pra gente grande e extremamente bem feita. O representante brasileiro O Menino e o Mundo peca pelo roteiro maniqueísta.

Apostas feitas, agora é só aguardar a premiação.

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Agradeço a todos os que acompanharam a Maratona do Oscar no Pitacos, desde os raros que já liam as análises quando iniciei em 2007 até os queridos desconhecidos da internet que foram descobrindo o blog. Amo cinema e aqui compartilho minha opinião sobre o assunto, no desejo de contribuir com dicas de bons (e maus) filmes e também ajudar a refletir sobre as mensagens que as obras nos passam. 

Adoro quando comentam os pitacos e quando questionam meu ponto de vista, pois apenas expresso minha opinião e não escrevo verdades incontestáveis. A divergência é ótima para a reflexão.

Analisei muito mais filmes desta vez, não só os candidatos a melhor filme. A audiência triplicou. Nas duas últimas edições foram cerca de 500 visualizações em cada e nesta o número passou das 1500. Meus sinceros agradecimentos a todos que incentivam meu trabalho!

Desde o fim do ano passado aumentei a frequência e a regularidade dos pitacos e o rigor com a qualidade do texto e das informações (com links para quase tudo). Agora a ideia é lançar ao menos um pitaco semanal, às terças, e eventualmente outro às quintas, fazendo em média uns 5 ou 6 pitacos por mês. Também pretendo comentar mensalmente um grande lançamento, um filme antigo e um título disponível na Netflix

Aguardo suas futuras visitas à página!

Abraços,
Cristiano Fontes

25 de fevereiro de 2016

A Garota Dinamarquesa

Mudança Não Só de Hábito

The Danish Girl, Dir: Tom Hooper, Reino Unido/EUA/Bélgica, 2015, 1h59min
IMDB                 Trailer           


Quem somos nós em nosso íntimo? Por meio da trajetória de descoberta de uma transexual A Garota Dinamarquesa busca responder a essa questão. Recebeu 4 indicações no Oscar 2016: ator principal, atriz coadjuvante, figurino e design de produção.

O filme se baseia na história real de Lili Elbe, uma das primeiras transsexuais conhecidas do mundo. No início da trama a personagem ainda se apresenta como homem, o renomado pintor dinamarquês Einar Wegener. Sua esposa, a também pintora Gerda, um dia precisa finalizar um retrato e solicita que seu marido pose vestido de mulher. A partir daí inicia-se a lenta e delicada identificação de Einar com seu lado feminino.

Como não poderia deixar de ser, o filme ataca as convenções sociais sobre gênero. Einar nunca é mostrado como um degenerado, mas como uma pessoa que quer conhecer a si mesmo e que passa a se sentir profundamente incomodado com o gênero com que nasceu. 

O filme está sendo pouco exibido no Brasil e provavelmente por bons motivos. Em um país em que discussões acaloradas tiveram origem pela má interpretação de um texto dos anos 1960 de Simone de Beauvoir incluído em exame do ENEM - que afirmava, em sentido figurado, que ninguém nasce mulher - aceitar a discussão sobre a transgenia é visto pelos conservadores reacionários, como alguns vereadores de Campinas, como ato de depravados, ateus, comunistas e etc. 

Há relatos de sessões de cinema em que diversas pessoas começaram a gargalhar enquanto Einar ia aos poucos descobrindo sua feminilidade. As pessoas tem todo o direito de ir ao cinema pra rir, mas certamente na sala ao lado tinha uma comédia pastelão passando feita pra gargalhar mesmo acompanhada de muita pipoca e refrigerante. Agora, se entrou em uma sala com um filme cujo propósito não é humorístico, não custa respeitar os que lá estão para apreciar a obra. Talvez os que gargalharam não sabem, mas esse ódio extravasado em forma de risos apenas serve como defesa contra sua própria psiquê do sexo oposto - que não é gay, como gostam de dizer os heteronormativos. Triste notar tamanha imaturidade na população e prova de que a luta pela igualdade LGBTT ainda se faz muito necessária.

O roteiro do filme, apesar de lidar bem com o conflito do gênero, é um pouco linear demais. Sabe-se desde o início como a estória começa, os desafios que os personagens enfrentarão e como terminará (e o trailer, como tem sido comum atualmente, já entrega tudo). E há algumas explicações simplistas, como o mencionado fato de se vestir de mulher que funciona com gatilho para o processo de descoberta do protagonista.

Mas as limitações do roteiro não são obstáculo para o casal de protagonistas. Eddie Redmayne interpreta quase que dois personagens, pois as personalidades de seu eu masculino e de seu eu feminino são muito diversas. Ele consegue um desempenho comparável - se não melhor - à atuação que lhe rendeu o Oscar de 2015 na pele de Stephen Hawking por A Teoria de Tudo. Só não ganha porque este ano o prêmio já está certo na mão de Leonardo DiCaprio em O Regresso

Alicia Vikander encantou no surpreendente Ex Machina e aqui novamente se mostra como a maior revelação de 2015. Sua personagem consegue mostrar sua confusão em relação a um marido que repentinamente deixa de ser seu amante mas segue sendo seu melhor amigo (ou amiga). Fato que não é novo no Oscar mas que ainda assim causa estranhamento é sua indicação como coadjuvante, pois ela é em verdade coprotagonista. Ainda assim, é merecedora do prêmio.

O diretor Tom Hooper depende mais dos bons atores com quem trabalha do que de seu desempenho. Ele não atrapalha a estória mas também não ousa. Um diretor bastante mediano, mas já premiado em 2011 pelo também mediano O Discurso do Rei, em um ano em que todos os concorrentes tinham apresentado trabalhos melhores. O figurino do início do século XX é caprichado, mas a indicação a design de produção soa excessiva, pois os cenários são bem feitos mas não exuberantes como se espera de um indicado.

A Garota Dinamarquesa é um bom filme, especialmente pelas atuações da dupla principal. Não é recomendado para preconceituosos que não querem que suas profundas convicções infundadas sejam abaladas.

Nota: 7

23 de fevereiro de 2016

Brooklin

Bonitinho, mas Ordinário

Brooklyn, Dir: John Crowley, Reino Unido/Irlanda/Canadá, 2015, 1h51min
IMDB                 Trailer


Um filme bonitinho, mas ordinário. Todo certinho e com boas atuações, esse é Brooklin (em mais um dos mistérios dos títulos em "brasileiro", o distribuidor trocou o "y" do título original pelo "i", vai entender). Indicado em 3 categorias no Oscar 2016 (filme, atriz principal e roteiro adaptado), o filme é o representante da já conhecida "cota britânica" na premiação. Sua indicação a melhor filme é exagerada, mas as demais nomeações são merecidas.

A estória mostra Eilis, uma moça sem perspectivas de futuro na Irlanda que consegue se mudar para Nova York, mais especificamente, é claro, pro Brooklyn. Lá ela irá enfrentar os desafios de se adaptar a um novo local e, acima de tudo, a saudade que sente de sua mãe e de sua irmã que deixou em seu país. O início é duro, mas com o tempo ela se adapta ao emprego, tem a chance de cursar uma faculdade e, principalmente, arruma um namorado, que muda completamente sua relação com o local. Na metade do filme ela tem de voltar a seu país e em sua volta as perspectivas de futuro que antes não existiam, como um bom emprego e um bom pretendente, surgem também na Irlanda. E aí ela terá de decidir o que quer para o futuro. Fica claro que a moça dividida entre dois amores (e dois países) será o tema mais forte aqui.

O filme trabalha um bom tema, a imigração, um dos maiores atos de coragem e desapego que uma pessoa pode ter. Um lugar muito marcante sobre isso é Ilha Ellis, em NY, antigo ponto de desembarque de imigrantes e atualmente um museu sobre imigração dos EUA, presente no clássico O Poderoso Chefão: Parte 2, que mostra o pequeno Vito chegando à América. O filme traz ainda um subtema pouco explorado que é a cansativa e dura viagem de navio, em que as pessoas mal podiam se alimentar para não passarem mal. Mas esses temas são secundários. O mote aqui é o romance.

O roteiro do escritor Nick Hornby (autor do livro Alta Fidelidade) às vezes carrega um pouco no melodrama, mas são em momentos pontuais, e em geral o filme é sóbrio. Seu principal mérito foi de ter criado uma personagem sólida, que foge do estereótipo da mocinha romântica típica. A direção de John Crowley é elegante e suave, pegando as minúcias da dor da personagem central, sem necessitar de muitos exageros dramáticos. Um ponto interessante é a fotografia e o design de produção que acompanham o estado emocional de Eilis, e quando ela está apaixonada todo o cenário fica tomado por cores alegres em tons suaves.

Saoirse Ronan (lê-se Sãrcha, a pronúncia é difícil até pros anglófilos) faz um ótimo trabalho na pele da protagonista, uma moça firme, corajosa, mas sentimental. Já foi previamente indicada ao Oscar ainda adolescente pelo bom Desejo e Reparação e a indicação ao prêmio agora adulta confirma que sua carreira está progredindo, ao contrário de diversos atores mirins que deram errado - não é Macaulay Culkin é Haley Joel Osment? No elenco também está o onipresente Domhnall Gleeson, presente em outros três filmes indicados ao Oscar 2016 (O Regresso, Star Wars: O Despertar da Força e Ex Machina).

Brooklin é um bom filme que certamente encantará as moças e não será tão chato de ver para os rapazes que as acompanham como a maioria das comédias românticas. Mas só está na lista dos indicados a melhor filme pra agradar os britânicos. Se era pra preencher a "cota britânica", melhor seria incluir na lista o ótimo Ex Machina.

Nota: 7

22 de fevereiro de 2016

Oscar 2016: Indicados do Pitacos

Venham a Mim os Esnobados



Todo ano ao sair a lista dos indicados do Oscar os analistas começam a apontar os esnobados da premiação. Fiz a mesma coisa no pitacos com os Indicados ao Oscar. Mas como tinha visto poucos dos filmes, ainda não poderia avaliar completamente os títulos na competição. Após ver quase todos os indicados, posso fazer os INDICADOS DO PITACOS CINEMATOGRÁFICOS.

Não foram feitas alterações nas categorias de curtas, animações ou nas técnicas. As principais estão aqui representadas, algumas com muitas alterações.

Em breve sai a lista das Apostas do Oscar 2016 com os favoritos do Pitacos em cada categoria.

Indicados do Pitacos


Melhor Filme

Ponte dos Espiões só está na lista por ter a grife Spielberg, Perdido em Marte é somente um filme-pipoca acima da média e Brooklin é bonitinho, mas ordinário. Os incluídos são muito superiores a esses.

Melhor Diretor

Melhor Atriz


Não vi ainda as atuações de Rampling e J. Lawrence, mas li muitas pessoas dizerem que a última só está na lista por ser a nova queridinha da Academia. Se se confirmar, em seu lugar incluiria Emily Blunt (Sicario). Menções honrosas para a fantástica estreante Daisy Ridley (Star Wars: O Despertar da Força) e para Charlize Theron (Mad Max - Estrada da Fúria).

Melhor Ator

Matt Damon trabalhou bem, mas outros atores como Jackson foram ainda melhores. Menção honrosa para o menino Abraham Attah (Beasts of No Nation).

Melhor Atriz Coadjuvante

Vikander é a revelação do ano. Preferi o trabalho dela como a androide em Ex Machina, mas sua atuação em A Garota Dinamarquesa é também merecedora de indicação (na verdade ela merecia indicações pelos dois trabalhos, mas as regras atuais impedem dupla indicação na mesma categoria). Rachel McAdams vai bem, mas nem tanto para merecer indicação. Como não vi outras performances melhores, fica sem alterações.

Melhor Ator Coadjuvante

Aqui é onde tem mais mudanças. Tom Hardy não me convence. Fãs de Sly, me perdoem, mas apesar de sua boa atuação em Creed, muitos foram melhores. Bale vai bem, mas precisei de arrumar lugar para os três que considero muito mais merecedores. O prêmio deveria ir para Idris Elba. 

Melhor Roteiro Original

A linguagem das ruas de Straigh Outta Compton não o fazem merecedor da indicação. Ponte dos Espiões peca pelo maniqueísmo, patriotismo e pela necessidade da construção de um herói em um história real. Anomalisa é criativo e profundo. Sicario conta uma estória muito dura e cínica, em permanente estado de tensão e dúvida. Menção honrosa para Quentin Tarantino (Os Oito Odiados).

Melhor Roteiro Adaptado

Perdido em Marte não tem nada demais em seu roteiro, que é até exageradamente didático e com muitas "bombas-relógio". Steve Jobs tem bons diálogos, bons personagens e uma excelente narrativa e surpreendeu ao mundo do cinema por não ter sido indicado.

Melhor Canção Original

Não estou por dentro das canções originais, mas a de Spectre é horrível! E venceu o Globo de Ouro! Merece é o Framboesa de Ouro!

Melhor Longa Estrangeiro

  • Theeb - Jordânia
  • A War - Dinamarca
  • Cinco Graças - França
  • O Filho de Saul - Hungria
  • O Abraço da Serpente - Colômbia
  • Que Horas Ela Volta - Brasil
Não vi nenhum dos concorrentes ainda, mas o excelente Que Horas Ela Volta merecia estar na premiação. Não foi indicado possivelmente por tratar de um tema extremamente peculiar nas relações sociais brasileiras, que por mais que saibamos ser real, parece fictício a olhos estrangeiros. Mas está no top 5 dos melhores filmes de 2015.

19 de fevereiro de 2016

O Menino e o Mundo

O Mundo da Ilusão

Dir: Alê Abreu, Brasil, 2013, 1h20min
IMDB                 Trailer             


- O Brasil tem filme disputando o Oscar 2016? 
- Tem!
- Em qual categoria?
- Longa de animação! Disputando com filme da Pixar! Acredita?
- E o filme é bom?
- Huuuuum, então...

O Menino e o Mundo é o representante brasileiro no Oscar 2016 na categoria longa de animação, disputando o prêmio, dentre outros, com o peso-pesado da Disney/Pixar Divertida Mente e com o ótimo Anomalisa. Sua indicação ao prêmio pegou a todos de surpresa, inclusive seu diretor, que teve que interromper suas férias para fazer a campanha.

O filme narra a jornada de um menino qualquer, que vivia na zona rural de maneira simples mas feliz, e que parte em busca de seu pai que havia deixado o local. Em seu caminho o menino irá conhecer a opressora vida na cidade.

Pois é, de cara o filme já estabelece essa distinção binária, de idealizar a felicidade da vida de subsistência no interior enquanto a cidade atua somente no sentido de oprimir a todos, sobretudo aos mais pobres. Um eco das ideias de Rousseau, que imaginava que a vida antes da existência da sociedade era feliz. O filme inteiro será construído em torno desse maniqueísmo ideologizado. 

Como disse um amigo em sua ótima análise, o filme é como um manual do pequeno marxista. Para não deixar dúvida, o roteiro explica os conceitos econômicos - como a forma de produção, a apropriação do lucro gerado pelo trabalhador (a célebre mais valia) e a divisão internacional do trabalho - por meio do ciclo de produção do algodão, o produto da Revolução Industrial, época em que Marx escreveu sua obra. 

Nada contra Marx e sua teoria, mas a maneira simplificada e falaciosa como o filme a apresenta são um insulto à inteligência dos que sabem que o mundo é bem mais complexo que o simples binômio da luta de classes entre opressores x oprimidos. Essa postura maniqueísta, preto no branco, é nociva tanto quando proveniente dos antigos soviéticos que queriam impor o conceito do "homem novo" quanto conforme a ideia que os americanos insistem impor de que as guerras que promovem pelo mundo são justas e que seus personagens são heróis - coisa que Spielberg fez no fraco Ponte dos Espiões.

Assim, de início, o filme já se mostra incômodo por essa posição política simplista característica de estudantes de humanas ou de políticos que simplificam os conflitos sociais a um bordão do tipo "contra burguês, vote dezesseis". Tomar uma posição polarizada assim é burrice ou má fé, tanto neste sentido como no sentido oposto, dos que acham que a solução para acabar com a violência é sair matar os bandidos ou que basta que um só partido deixe o poder para que a corrupção, como que por mágica, desapareça. O mundo é um lugar bem mais complexo e com diferentes tons, e não são essas posições polarizadas que melhoram o convívio entre as pessoas.

O filme tem uma maneira peculiar de narrativa. Seus traços lembram os de desenhos infantis feitos com lápis de cor ou giz de cera. Essa linguagem infantil e a bela trilha sonora são muito bonitas e saem da mesmice das animações tridimensionais atuais. Também não há limites claros no filme.  Fora os elementos minimalista que nos permitem notar que o menino está no interior, como galinhas, enxada e riacho, não dá pra dizer em que lugar do mundo está esta zona rural. Também não há qualquer diálogo compreensível, apenas umas poucas frases em linguagem inexistente. A cronologia tampouco é precisa, com vais e vens oníricos, em que o menino por vezes parece voar de um ponto a outro, de forma surrealista. E a estrutura lógica também é entrecortada, pois durante sua jornada o menino subitamente está convivendo com diferentes personagens adultos. Só ao final ficará claro que estes personagens eram o próprio menino em diferentes fases de sua vida. Esse tom metafórico faz com que o filme não seja fácil de entender, tanto para adultos quanto para crianças. 

Há críticas pertinentes a problemas relevantes do mundo contemporâneo, como a alienação promovida pela mídia e pelo consumismo, a repressão a movimentos sociais, a desestruturação familiar, a exploração do trabalho, o desemprego, a degradação do espaço urbano e a questão ambiental. Mas a mão pesada do diretor, em vez de somente identificar o problema, quer rapidamente apontar o dedo na direção dos culpados: os ricos e poderosos. A comparação é até um pouco injusta por envolver um dos maiores gênios do cinema, mas Chaplin sempre lidou com a questão social em seus filmes de forma bem mais sutil, com a mensagem de que mesmo em meio a todos às adversidades do mundo moderno a vida é bela e as pessoas devem lutar pela felicidade.

O Menino e o Mundo poderia ser uma bela obra, por sua poética linguagem. Mas a pesada ideologia explícita, infelizmente, contamina todo o filme. Aponta problemas relevantes, mas seu maniqueísmo esconde a complexidade da realidade. Não vai levar o Oscar, e também não merece.

Nota: 5

18 de fevereiro de 2016

Carol

Amor Proibido 

Dir: Todd Haynes, EUA/Reino Unido, 2015, 1h58min
IMDB                 Trailer                 Roteiro


Como explicar a atração que sentimos por outra pessoa? Essa é a questão que Carol mais busca responder. O filme recebeu 6 indicações ao Oscar 2016: atriz principal, roteiro adaptado, trilha sonora, fotografia, figurino e atriz coadjuvante. Tem alguma chance de ganhar nestas duas últimas, mas é mais provável que não receba nenhum prêmio.

Na trama vemos o amor entre duas mulheres no início dos anos 50 nos EUA: a dondoca Carol, rica, segura e experiente, com histórico de romances homoafetivos anteriores e a vendedora Therese, seu extremo oposto. O lento desenvolvimento da relação entre estas duas personagens, com a busca pelos pequenos gestos que faz com que uma pessoa sinta atração - tanto física quanto afetiva - por outra, é o ponto alto da produção.

A segunda parte envolve a batalha judicial de Carol para mostrar que é uma mãe digna e que sua conduta pessoal não irá prejudicar o desenvolvimento de sua filha. Para tanto, ela se vê obrigada a se afastar de Therese. Nessa parte, ao contrário da primeira, verifica-se um ativismo em prol da causa GLBTT que gera anacronismo e reduz o impacto da obra. Em parte isso se explica pelo engajamento do diretor Todd Haynes à causa gay - ele é considerado um dos maiores expoentes do new queer cinema. Prova do anacronismo é um discurso engajado de Carol assumindo sua homossexualidade em um encontro com seu marido e seus advogados e dizendo que isso é problema dela e que não afeta ninguém, e os homens ficam surpresos, mas reflexivos. Bonito mas artificial, já que é anacrônico. Conforme a mentalidade da época, os homens iriam é ter nojo de tal declaração. Há produções com o tema que não sofrem com esse problema como O Segredo de Brokebak Mountain (que deveria ter ganhado o Oscar em 2006) e Azul é a Cor Mais Quente.

Apesar dessa artificialidade, o filme tem grandes méritos. O melhor é a sutileza com que conduz a relação das duas. Carol nunca coloca Therese contra a parede. Apenas vai lentamente se aproximando, sem ser também uma estrategista maquiavélica. Apenas se aproxima pela atração que se estabelece desde o primeiro encontro entre elas. 

Essa sutileza também se revela na fotografia do filme, indicada ao Oscar. Há muitos closes em pequenos detalhes do cenários, algumas cenas através de vidros e foi utilizado o antigo filme de 16mm para dar uma aspecto que a obra teria se tivesse sido rodada na época retratada.

As atrizes são e estão ótimas. Cate Blanchett confirma ser uma das melhores atrizes do cinema atual após sua premiação na cerimônia retrasada por Blue Jasmine. Rooney Mara é uma estrela em ascensão e passa toda a delicadeza de sua personagem. Dificilmente irão levar o prêmio por conta das fortes concorrentes [o pitaco com as apostas ao Oscar será publicado às vésperas da premiação], mas merecem aplausos.

Carol é um filme delicado e sutil. Só erra um pouco por conta do anacronismo de querer levar aos anos 50 a luta pela causa gay. Mas é um fato menor, que não tira a beleza da obra.

Nota: 7

16 de fevereiro de 2016

O Quarto de Jack

O Universo Numa Casca de Noz

Room, Dir: Lenny Abrahamson, Canadá/Irlanda, 2015, 1h58min
IMDB                 Trailer                 Roteiro


[ALERTA DE SPOILERS. Sem muitos detalhes sobre a trama, mas com algumas descrições das situações e aspectos comportamentais dos personagens.]

Você não gosta de filmes que fazem chorar? Então passe longe de O Quarto de Jack, já que esse é um dos filmes mais tristes já feitos na história da sétima arte. Foi indicado a 4 prêmios no Oscar 2016: filme, direção, roteiro adaptado e atriz principal. Certamente vai levar este último, o que será comentado abaixo.

O filme conta a estória de Jack e sua mãe, Joy, que vivem em um pequeno quarto. Como o menino nunca saiu de lá, a mãe o ensinou que o Quarto é o mundo e tudo mais que ele vê pela TV é o espaço e os aliens. Nos primeiros minutos não se explica o porquê eles estão lá, apenas é mostrada a rotina de um dia na vida de ambos. Mas em pouco tempo descobrimos que Joy foi sequestrada e que Jack nasceu no cativeiro.

Há uma clara divisão em duas metades iguais. Na primeira, a trama toda ocorre no quarto e na segunda fora de lá. No quarto, vemos a relação particular que Jack estabeleceu com o local e o desafio da mãe em criar um filho em um ambiente tão singular. Especialmente nesta parte, há ecos de filmes como A Vida É Bela e O Menino do Pijama Listrado, em que um cenário adverso é mostrado sob a perspectiva de uma criança.

Na segunda parte é retratada a dificuldade de Jack em viver o mundo real, tendo em vista que em muitos aspectos ele é um bebê, pois teve experiência limitada com os objetos da realidade e a única relação pessoal que havia desenvolvido até então havia sido com sua mãe. Isso funciona como uma metáfora de toda a adaptação das pessoas ao mundo. Os pais verão desafios que enfrentam no dia a dia ao ensinar seus pequenos a lidar com os problemas cotidianos, como subir uma escada, e a ter de desapegar de suas crias (isso vale principalmente para as mães).

Para Joy, assim como para qualquer um que tenha sido sequestrado, a experiência do sequestro é dolorosa e inesquecível. Mas um adulto consegue ao menos tentar evitar pensar no infortúnio. Já para Jack o Quarto não era somente seu cativeiro, mas seu mundo. Ele não vê problemas em contar aos outros o que viveu lá e até mesmo dizer que sente saudades do local. Lá ele aprendeu tudo o que sabe e desenvolveu laços de afeto com aquele ambiente e aquelas circunstâncias, especialmente o fato de ter sua mãe sempre ao seu lado em todos os segundos de sua existência.

O roteiro de Emma Donoghue, baseado no livro de sua autoria, poderia se perder, e criar um drama exagerado. Mas ela escapa dessas armadilhas pois exageros são desnecessários, as circunstâncias dos personagens é dura o suficiente e dispensa truques baratos. A direção de Lenny Abrahamson respeita o texto e não recorre a elementos do melodrama, como câmeras lentas, músicas emocionantes e discursos grandiosos. Nenhum deles deve ser premiado com o Oscar, mas as indicações foram merecidas (e o roteiro até mereceria o prêmio).

Brie Larson interpreta a Mãe com uma inspiração assustadora, sem deixar sua personagem assumir qualquer estereótipo, como a compreensiva, a amorosa, a corajosa, a inabalável etc. A confusão de sentimentos da personagem em sua relação com o filho é demonstrada de maneira magistral. A Mãe é uma personagem real, pessoa que vive alegrias e tristezas, sem idealizações. Com todos os méritos ela está limpando as premiações e a não ser que um meteoro caia na Terra até o dia 28 irá ganhar o Oscar de melhor atriz por uma das maiores interpretações dos últimos anos.

O pequeno Jacob Tremblay encanta no papel de Jack, com sua ternura e inocência. Poucos atores mirins conseguem ser convincentes. Ele é um deles. Merecia a indicação ao Oscar mais do que muita gente (incluindo o favorito Sylvester Stallone). No elenco também estão Joan Allen e William H. Macy, no papel dos pais de Joy.

O Quarto de Jack é um filme muito doloroso e quem for vê-lo tem de estar disposto a vivenciar a dureza retratada. Mas levanta diversos questionamentos e é feito com muita humanidade, ainda que deixe o espectador com lágrimas nos olhos durante toda sua duração.

Nota: 8

12 de fevereiro de 2016

Anomalisa

Vida Vazia

Dir: Duke Johnson/Charlie Kaufman, EUA, 2015, 1h30min
IMDB                 Trailer


Indicado ao Oscar de Melhor Animação Anomalisa, ao contrário do que muitos imaginam quando pensam em animações, não é uma obra para crianças. Nada remete à infância, nem a forma nem o tema. 

Na trama, um homem em viagem de trabalho, Michael Stone, passa pelos pequenas irritações que todos enfrentamos no dia a dia do mundo urbano contemporâneo: a conversa com o taxista chato que fica tentando convencer o passageiro a fazer passeios que não quer, o mensageiro falsamente simpático que apresenta um quarto comum de hotel como se este fosse especial, a falta de assunto com a esposa, a lembrança de uma amor do passado que acabou etc. O filme é construído sobretudo a partir dessas pequenas coisas que mostram o vazio existencial da vida em meio à interminável repetição do cotidiano. 

A primeira parte do filme se passa de forma mais lenta para criar esse vazio. Na segunda parte entra em cena Lisa, uma mulher absolutamente comum, que nas palavras da própria não é bonita e nem inteligente, mas que mexe profundamente com Michael e faz renascer nele a esperança da vida. Aliás, aqui há uma linda e melancólica interpretação à capela do hit Girls Just Want to Have Fun de Cyndi Lauper que dá uma nova dimensão à letra.

Um dos pontos mais interessantes do filme e o que justifica a escolha da forma da animação em detrimento do uso de pessoas é o fato de todos os personagens, exceção feita à Michael e Lisa, terem a mesma cara e a mesma voz, sejam homens ou mulheres, adultos ou crianças. Uma bela metáfora da mesmice.

Esse roteiro cheio de questões existenciais é bem escrito e dirigido. Há muitos momentos de silêncio e de "atuação" do personagem, com suas reflexões e seu desgosto com o mundo, à espera de algo que o salve dessa rotina vazia e enfadonha. Há situações inusitadas, como o mencionado fato de todos os demais personagens serem iguais, além de outros momentos de encontros insólitos. Mas nada surpreendente em se tratando do roteirista Charlie Kauffman, conhecido por filmes que lidam com o surreal e o absurdo, como Quero Ser John Malkovich e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (premiado com o Oscar de melhor roteiro original). Foi esnobado ao não receber a indicação de melhor roteiro original nesta edição do prêmio da Academia.

A parte técnica foi feita com um trabalho exaustivo de animação stop-motion, na qual os animadores tem que mudar os bonecos quadro a quadro, o que resulta em mais de 100 mil fotografias diferentes feitas para produzir a animação (veja um pequeno trecho do making of). A fotografia é bem pensada e as tomadas são feitas como se estivessem lidando com atores reais. Os bonecos são bem desenhados e realistas que conseguem passar mais emoção que vários atores reais campeões de bilheterias.

O filme é digno do prêmio a que concorre, mas não deve vencer a força do lobby e da tradição da Disney/Pixar com Divertida Mente, que é um filme com boas ideias, mas com o mesmo roteiro de sempre com personagens em uma jornada de aventuras. Aqui, ao contrário, sobra originalidade, o que rejuvenesce as animações que atualmente só são premiadas quando apresentadas em desenhos 3D e que não devem servir somente como um "Oscar para crianças". Mas como não só de Oscar vive o mundo das premiações, o filme ganhou o Grande Prêmio do Júri no badalado Festival de Veneza e concorre no respeitado Independent Spirit Award não como animação, mas como melhor filme, e também por roteiro, direção e atriz coadjuvante (Jennifer Jason Leigh, indicada ao Oscar 2016 na mesma categoria por Os Oito Odiados).

Anomalisa é um ótimo filme, com um roteiro triste, mas belo e tocante, que nos faz refletir sobre o vazio da vida pós-moderna.

Nota: 8

11 de fevereiro de 2016

Steve Jobs

iFilm

Dir: Danny Boyle, EUA, 2015, 2h02min
IMDB                Trailer                Roteiro

Indicado no Oscar 2016 aos prêmios de ator principal e atriz coadjuvante, Steve Jobs conta a estória do personagem título de uma maneira bem peculiar, fugindo daquele maçante padrão de cinebiografias em que o personagem é apresentado do nascimento à morte, mostrando todos seus momentos marcantes e com créditos ao final explicando seu legado. Aqui vemos pequenos recortes da vida de Jobs com poucos personagens, cada um com a função de destacar algum traço de sua personalidade.

O roteiro seleciona somente três momentos da vida de Jobs, que antecederam três lançamentos de produtos notáveis: o Macintosh (1984), o NeXT (1988) e o iMac (1998). Esses momentos são mostrados em tempo real, sem nenhuma quebra cronológica, ou seja, se faltava meia hora para iniciar a apresentação veremos essa meia hora da vida de Jobs. 

Um dos pontos interessantes é colocar os mesmos personagens nestes três momentos distintos: sua braço-direito Joanna, a menina que ele não quer reconhecer como filha, Lisa, seu parceiro de fundação da Apple Steve Wozniak, o CEO da empresa John Sculley e um dos desenvolvedores de seu time, Andy. Cada um destes tem importantes questões pessoais com Jobs e foram cuidadosamente escritos para demonstrar traços de sua peculiar personalidadeJobs é mostrado em sua complexidade com sua personalidade megalomaníaca, arrogante, narcisística, inquieta e perfeccionista. Apesar de parecer tão seguro de si e confiante em sua genialidade, a necessidade de reconhecimento parece ser o grande objetivo de sua vida.

O filme anterior sobre o dono da Apple, Jobs, foi desprezado pela crítica e não muito querido pelo público. Além disso, o ator principal daquele, Ashton Kutcher, ainda que elogiado por sua performance e muito semelhante fisicamente ao personagem real, é muito inferior ao protagonista desta obra.

O filme praticamente não tem momentos de silêncio, com os ágeis diálogos de Aaron Sorkin (um dos esnobados pelo Oscar) ocupando toda a projeção. As atuações são muito boas e as indicações de Michael Fassbender e Kate Winslet ao Oscar foram merecidas. Ele é um ótimo ator, que merecia ter levado o prêmio de coadjuvante por 12 Anos de Escravidão (mas foi preterido por Jared Leto sobretudo por sua transformação física em O Clube de Compras Dallas) e ainda vai levar o Oscar, mas não desta vez, já que o prêmio será do Leonardo di Caprio. Ela sempre é uma atriz muito competente, e após ser premiada no Globo de Ouro tem chances na disputa pelo Oscar. Seth Rogen e Jeff Daniels também estão no elenco.

A direção de Danny Boyle (conhecido por Trainspotting e por Quem Quer Ser um Milionário) é ágil como o roteiro, no melhor estilo câmera na mão para acompanhar o vai e vem de Jobs pelos bastidores das apresentações. Também é interessante a distinção dos três momentos pelo visual apresentado em função da técnica de captação utilizada, 16mm em 1984, 35mm em 1988 e digital em 1998.

Steve Jobs é um bom filme, que se destaca pelo roteiro biográfico enxuto e pelas boas atuações. Recomendado para os que tem disposição para filmes verborrágicos mas com diálogos interessantes.

Nota: 7