17 de fevereiro de 2015

Selma: Uma Luta pela Igualdade

Contra o Sistema

Idem, Dir: Ava DuVernay, Reino Unido/EUA, 2014, 128min
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Selma: Uma Luta pela Igualdade corre por fora na disputa do Oscar, tendo sido indicado somente a melhor filme e melhor canção original. É favorito a levar o prêmio de canção, mas é quase nula a chance de conquistar o maior prêmio. No entanto, sua indicação é merecida, bem como merecia mais indicações. E não somente para contemplar a onda do politicamente correto, e incluir negros na premiação, o que foi criticado por muitos ativistas, mas por seus méritos.

A trama envolve um período específico na luta pelos direitos civis nos EUA, durante os anos 60. Martin Luther King Jr. (David Oyelowo) acaba de ganhar o Prêmio Nobel da Paz e se envolve nos preparativos para liderar uma marcha de 80 km pelo Alabama, protestando pelo direito dos negros votarem.

No período, os negros já haviam conquistado o direito ao voto. No entanto, os registradores criavam empecilhos que na prática impossibilitavam o direito da cidadania. Na cidade de Selma, somente 2% dos negros estavam habilitados ao voto.

A trama política é bastante interessante. O Presidente Lyndon Johnson (o sempre competente Tom Wilkinson) busca manter as coisas como estão. Já o governador de Alabama George Wallace (Tim Roth), representa o eleitorado racista de seu estado. Apesar de várias tentativas de King, Johnson mostra-se irredutível, por não querer interferir em uma questão local, já que nos EUA os estados detém grandes poderes legislativos.

Diante do impasse, King e seus companheiros de luta política decidem iniciar a marcha na cidade de Selma, onde o segregacionismo é marcante, rumo à capital do Alabama, Montgomery. Mas a legislação proibia "reuniões não autorizadas", um contrassenso em se tratando do país símbolo da liberdade.

Para a marcha pacífica prosseguir, os manifestantes terão de enfrentar a polícia, que está empenhada em "manter a ordem", espancando a todos (e com prazer). Válido para se fazer uma comparação com as violentas repressões policiais nos protestos recentes no Brasil. A questão que se coloca não é o fato de se concordar ou não com a manifestação, mas que se permita que cada um exerça seu direito de liberdade de expressão.

Muito interessante o papel de Lyndon Johnson. Como dito, ele preferia manter as coisas como estavam, mas não por ter algum preconceito contra os negros, mas era movido pelo cálculo político, e preferia manter as coisas como estavam para não contrariar o eleitorado sulista majoritariamente branco. Mas ao final, percebeu que se seguisse mantendo as coisas em seu lugar perderia o bonde da História, razão pela qual cedeu e determinou o fim de qualquer critério subjetivo para a inscrição eleitoral.

O carisma de Luther King também é bem retratado. Seus discursos com um toque messiânico faz com que as pessoas se sintam parte de algo maior, arriscando sua integridade física em prol do bem maior. Lembra Winston Churchill, outro líder messiânico, que conclamou o povo inglês a não se render aos nazistas.

Também merece destaque a postura do roteiro de fugir de um maniqueísmo infantil do tipo negros bonzinhos x brancos malvados. Claro que há personagens feitas para mostrar o estereótipo, como o rude xerife de Selma, mas o filme mostra que vários brancos se engajaram na luta a favor dos direitos dos negros. E Luther King não é mostrado como um semi-deus, mas como um homem comum, com problemas familiares e falhas de caráter.

A opção do enredo em abordar somente um período específico de um personagem histórico mostra-se acertada. Aliás, quase sempre esta opção é a mais adequada, pois em um filme de duas horas é difícil querer contar toda a vida de uma pessoa, do nascimento à morte. Retratar um momento específico é mais interessante e dinâmico, tal qual feito nos recentes Lincoln e Hannah Arendt.

A fotografia é muito interessante, especialmente nos momentos de conflito entre policiais e manifestantes, assim como nas cenas em que os políticos são mostrados, sempre em cenários com contraluz, com grandes janelas ao fundo, conferindo a eles uma atmosfera mais cinzenta, e, consequentemente, mais ambígua.

A direção é certamente melhor do que a O Jogo da Imitação, o que faria com quem a diretora Ava DuVernay merecesse mais a indicação ao Oscar, indicações que recebeu no Globo de Ouro quanto no Independent Spirit Award. Mas como sempre, há outros interesses que levam às indicações ao Oscar, não somente o mérito.

E o elenco também é bem competente, sendo que o protagonista, David Oyelowo, merecia uma indicação ao prêmio de melhor ator por conta se sua representação de King. Tal qual a diretora, o ator também foi indicado nas outras premiações supramencionadas. E há até pontas de celebridades, como Cuba Gooding Jr. e Oprah Winfrey.

Em síntese, um bom filme, retratando um período relativamente recente cujo eco se manifesta até hoje, tendo em vista as recentes manifestações contra a violência policial sobre negros nos EUA bem como, indiretamente, as violentas repressões policiais à manifestações pelo Brasil (até mesmo no Carnaval!).

Nota: 7

15 de fevereiro de 2015

Sniper Americano

Metralhadora descalibrada

American Sniper, Dir: Clint Eastwood, EUA, 2014, 132min
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Sniper Americano está na lista dos filmes com mais indicações aos prêmios da Academia, concorrendo a 6 estatuetas. Nas mais nobres concorre a filme, diretor, roteiro adaptado e ator (Bradley Cooper, em sua 3ª indicação consecutiva). Dificilmente leva algum desses prêmios, e também não merece.

A trama é baseada na história real de Chris Kyle, o sniper (atirador de elite) que mais matou inimigos na história das forças armadas dos EUA, com um total de 160 abatidos. Não à toa, era conhecido como "Lenda", mesmo antes de chegar ao número 30.

A cronologia é linear, mostrando momentos de sua infância, incluindo sua decisão de se tornar militar aos 30 anos após ver os ataques terroristas às embaixadas americanas em 1998. Há um pouco de história sobre treinamento militar da tropa de Elite da Marinha, os SEALs. Um tanto quanto clichê, tendo em vista que diversos filmes já mostraram a dureza do treinamento militar, como Nascido para Matar, Tropa de Elite e Até o Limite da Honra (péssimo título nacional para G.I. Jane), famoso filme em que a Demi Moore interpreta a primeira mulher a tentar entrar para a mesma tropa de elite.

Posteriormente, há os questionamentos morais de Kyle, como ter de matar mulheres e crianças insurgentes no Iraque. E depois surge um conflito de gato e rato entre Kyle e o melhor atirador de elite dos insurgentes iraquianos, um antigo campeão olímpico de tiro conhecido como Mustafá. Aliás, esse personagem é mostrado de forma muito estereotipada. Enquanto Kyle é retratado em todos os seus conflitos e questionamentos, Mustafá parece um robô frio e calculista programado para matar. Mostrar rapidamente uma cena em que ele deixa sua esposa e seu filho para ir para o combate não ameniza muito a situação. E na parte final mostra a readaptação de Kyle à vida civil, tema recorrente em filmes como Nascido em 4 de Julho e até mesmo Rambo (somente o primeiro).

Enfim, parece que não se soube qual ponto destacar da história e ficou essa trama com muitos pontos abordados e com pouca profundidade. Curiosamente, um filme sobre um atirador de elite, que necessita de muito foco em seu trabalho, não tem um foco claro, parecendo uma metralhadora que atira para todo lado.

Clint Eastwood é um grande diretor, mas esse é um de seus filmes menores, que não chega aos pés de obras primas como Gran Torino Os Imperdoáveis. 

Bradley Cooper está bem no papel, mas não realiza nenhum trabalho excepcional. Ele foi muito melhor em O Lado Bom da Vida. Outros atores mereciam mais a indicação, como Miles Teller, protagonista de Whiplash. Cooper deve ter um ótimo lobista para conseguir essa sequência incrível de indicações ao prêmio, como se ele fosse um Al Pacino ou Daniel Day Lewis, o que, definitivamente, ele não é.

De qualquer forma, não é um filme ruim. Repete muitos lugares comum, mas é bem conduzido. Nisso se parece com O Jogo da Imitação. Mas ao contrário deste, Sniper Americano tem um ritmo um pouco mais dinâmico, portanto, merece nota melhor.

Nota: 6

4 de fevereiro de 2015

O Jogo da Imitação

Imitando os clichês

The Imitation Game, Dir: Morten Tyldum, Reino Unido/EUA, 2014, 114min
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O Jogo da Imitação, concorrendo a 8 categorias na premiação do Oscar 2015, é um dos filmes com maior número de indicações, ficando somente atrás de O Grande Hotel Budapeste e Birdman, com 9. E se destaca nas principais categorias, tendo sido indicado aos prêmios de filme, diretor, roteiro adaptado, ator principal e atriz coadjuvante. Excetuando a de ator principal, não deveria ser indicado a nenhuma outra categoria.

O filme conta a história real do brilhante matemático Alan Turing, pai de um equipamento que já foi chamado de "máquina de Turing", o qual hoje chamamos de computador. Porém, não é diretamente sobre o desenvolvimento da máquina que trata o filme, mas de sua contribuição na quebra do código criptográfico usado pelos alemães na Segunda Guerra Mundial, com as famosas máquinas Enigma.

O enredo é contado através de três narrativas paralelas. Uma que se passa na adolescência de Turing, outra durante a Segunda Guerra e a última alguns anos após a guerra, quando o protagonista é preso suspeito de traição.

Percebe-se assim que a história de Turing é interessante e que merece ser contada. Mas faltaram pessoas competentes para escrevê-la e para dirigi-la.

O roteiro parece ter sido tirado de um exercício de curso de roteiristas. Extremamente previsível, cheio de clichês e com piadinhas manjadas. A frase que diz que às vezes uma pessoa improvável se torna a pessoa a fazer a diferença foi repetida por 3 vezes no filme, inclusive no final, forçando um didatismo irritante. Do mesmo modo a tentativa da construção heróica da figura de Turing, uma pessoa extremamente arrogante e desagradável, que muito lembra a personagem Sheldon da série The Big Bang Theory. Também incomoda um pieguismo exagerado ao mostrar que as decisões tomadas para decifrar os códigos nazistas irão matar pessoas.

Outro destaque negativo é a tentativa de tornar Turing um suposto ativista da luta gay, tendo em vista que ele foi preso sob a acusação de "imoralidade", ou seja, por ter tido relações sexuais com outro homem. Obviamente um processo criminal por conta da orientação sexual de um sujeito é uma aberração, não só hoje, como em qualquer época. Turing foi apenas mais um entre muitos presos por conta dessa legislação vergonhosa. Não se questiona o interesse de tal história, mas a maneira como é inserida no roteiro a faz parecer uma nota de rodapé inserida de última hora por um ativista anti-homofobia que quis destacar o papel do protagonista na luta pela liberdade.

A direção, tal como o roteiro, é bem quadrada, sem nada de criativo em relação à fotografia, efeitos especiais ou direção de atores. Falta ainda alguma tensão que prenda o espectador na poltrona, querendo ver o filme. E a direção conta ainda com mais um amontado de clichês, como as mais que batidas cenas de Londres sendo bombardeada pelos alemães, as ruas destruídas e as pessoas se abrigando nas estações de metrô durante à noite, lugar comum em qualquer produção sobre a cidade durante a Segunda Guerra Mundial.

A atuação do protagonista, Benedict Cumberbatch talvez seja a única coisa digna de registro. Ele está muito bem no papel, tentando mostrar alguma complexidade de sentimentos através de um homem que sempre tinha a mesma expressão de fixação. Keira Knightley é uma grande atriz, mas neste filme entrega um trabalho apenas razoável, inferior a outros anteriores, como Orgulho e Preconceito ou Desejo e Reparação.

De todo modo, não é um filme ruim. Não é bom, mas também não é ruim. O que incomoda é a profunda falta de criatividade. Não que todos os filmes que já concorreram ao Oscar sejam obras primas, mas os indicados deveriam ser produções acima da média, o que, definitivamente, não é o caso de O Jogo da Imitação.

Nota: 5

27 de janeiro de 2015

Whiplash

Ao mestre com carinho

Idem, Dir: Damien Chazelle, EUA, 2014, 107min
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Whiplash inicia a maratona de análises aos indicados ao Oscar do Pitacos Cinematográficos. O longa concorre a 5 categorias: melhor filme, melhor ator coadjuvante (J.K. Simmons) e roteiro adaptado, além de 2 categorias técnicas, edição e mixagem sonora.

No filme, Andrew (Miles Teller), um jovem baterista estudante de música sonha em ser o maior músico de jazz de todos os tempos, e encontra um rígido professor, Fletcher (J.K. Simmons) que pressiona seus alunos a ultrapassarem seus limites em busca da perfeição.

Rígido professor, aliás, é um eufemismo. Fletcher por vezes parece ser a e
ssência do mal, abusando de seus alunos com ofensas, grosserias e humilhações. No entanto, o roteirista/diretor se esforça em não estereotipar sua personagem, mostrando, em alguns momentos, Fletcher sendo simpático e afetuoso, numa clara mensagem de que ele não é o capeta encarnado, mas apenas um ser humano comum, com seus defeitos e qualidades.

Andrew, por seu lado, é um jovem bastante introvertido e antissocial. Não se preocupa em ter amigos ou namorada, seu único objetivo é ser o maior baterista de todos os tempos, e está disposto a tudo para conseguir isso. Até mesmo aguentar toda a dor física necessária nas longas horas de treino com as baquetas e a dor psicológica da constante pressão exercida por Fletcher. Tal obsessão fica muito próxima ao fanatismo.

O clima de tensão percorre todo o filme. O espectador se sente incomodado com a situação por que passa Andrew. Certamente todos ser perguntarão o porquê dele não jogar tudo pro alto. Mas é justamente a sua obstinação que conduz o filme. Seu sonho de ser lembrado o faz enfrentar todos os desafios. Não que isso seja considerado louvável ou execrável. Em uma excelente cena do filme Andrew está em um jantar de família e quem é tido em mais alta estima são seus primos, um que é jogador de futebol americano em um time de 3ª divisão universitária e outro que conseguiu um emprego na ONU, sendo que ele, mesmo se destacando na melhor escola de música do mundo, é desprezado.

Enfim, o tal sonho de grandeza de Andrew, mesmo que bem sucedido, não o fará ser um herói aclamado por multidões, mas somente admirado pelos poucos entendidos em jazz.

Os atores principais entregam atuações muito intensas e conseguem fugir do estereótipo. Fletcher não é somente maldade e Andrew não é somente obstinação. Além disso, é surpreendente saber que Miles Teller realmente tocou a bateria em altíssimo nível em todas as cenas, apesar de ter um dublê. Em algumas das cenas o sangue que ele espirra na bateria é real. Tom Cruise se pendurando nos prédios parece brincadeira perto disso. E em breve eles será o protagonista na nova versão do Quarteto Fantástico. Podemos estar vendo o nascimento de um futuro astro. E o veterano J.K. Simmons merece com louvor sua indicação ao prêmio de melhor ator coadjuvante.

A direção também é bem conduzida, tirando o máximo da simplicidade dos cenários, em um filme cujo orçamento ficou em modestos 3 milhões de dólares (para comparação, Êxodo custou 140 milhões). E a edição contribui para manter o ritmo na métrica adequada durante todo o tempo, estabelecendo uma ótima ligação com a trilha sonora.

Assim, o filme que tira o espectador de seu lugar de conforto, traz uma boa história em que cada um pode buscar suas lições, é bem dirigido e apresenta grandes atuações. Mais digno de Oscar do que várias produções medianas que levaram o prêmio nos últimos anos, como O Discurso do Rei.

Nota: 9


P.S: Achei esta crítica no YouTube que vai ao encontro da minha opinião em vários pontos: clique aqui

26 de janeiro de 2015

Êxodo: Deuses e Reis

Afundando no Mar Vermelho

Exodus: Gods and Kings, Dir: Ridley Scott, EUA/Reino Unido/Espanha, 2014, 150 min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1528100/



Alerta de spoilers! O filme é ruim, então vou contar partes da estória.

Na atual onda de produções bíblicas, Ridley Scott, diretor aclamado por filmes como Alien, Blade Runner e Gladiador, apresenta Êxodo: Deuses e Reis, contando a mítica (sim, é só um mito de criação, nenhuma evidência científica atesta que os hebreus tenham vivido no Egito) história da fuga dos hebreus do cativeiro do Egito, liderados pelo patriarca Moisés, vivido por Christian Bale (o último Batman).

Nesta nova versão da história nas telas, procurou-se, conforme a atual moda de filmes bíblicos, dar um caráter mais "realista" a estória. Assim, Moisés é mostrado como um respeitado general e príncipe egípcio, guerreiro sanguinário que resolve as coisas na ponta da espada quando necessário. Qualquer semelhança com o Gladiador não parece ser mera coincidência, ao contrário, parece que a ideia foi a de usar o mesmo passado de Maximus, revelando total falta de criatividade na caracterização da personagem central.

Quando se descobre que ele é na verdade um hebreu adotado pela princesa do Egito, Moisés é exilado por seu primo de criação, o Faraó Ramsés (Joel Edgerton). Antes disso, no entanto, a caracterização física de Moisés já é um tanto estranha, pois seus traços físicos e vestimentas destoam na corte egípcia, já ficando um tanto quanto claro que ele não pertencia àquele meio, sendo que os diálogos tentam mostrá-lo como completamente integrado ao meio, gerando uma certa incoerência.Em seu exílio, onde inicia uma nova vida em uma aldeia, formando família, Moisés começa a ter visões sobrenaturais, nas quais um menino que seria deus lhe diz que ele deve voltar ao Egito para libertar seu povo.

Moisés retorna e ameaça o Faraó a libertar seu povo. Não atendido, surgem as famosas pragas do Egito. Aí o tal "realismo" se torna ainda pior, com uma tentativa frustrada de inscrever as pragas em um contexto de dano ambiental causado pela ação humana. Talvez seria melhor deixar a estória da maneira que era contada, em que tudo era simples intervenção divina.

E da mesma maneira é a famosa abertura do Mar Vermelho. Uma simples questão de mudança de maré, na qual no final a água sobe rápida e misteriosamente, Moisés e o Faraó saem praticamente ilesos, apesar de todos os outros que lá estavam serem mortos pelo tsunami. O Moisés de Charlton Heston, abrindo o Mar Vermelho com um cajado era melhor e talvez até mais realista!

Enfim, uma superprodução com um enredo bem fraco e mesmo os efeitos especiais (que deveriam ser primorosos) são um pouco mal feitos, sendo perceptível sua artificialidade. Ridley Scott envelheceu e perdeu a mão. Felizmente a Academia não deu nenhuma indicação a esse desastre.

Nota: 3

7 de abril de 2014

O Segredo dos Seus Olhos

Dizendo muito, sem nada falar

El Secreto de Sus Ojos, Dir: Juan José Campanella, Argentina/Espanha, 2009, 129min
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Vencedor do Oscar de 2010 de melhor filme estrangeiro, O Segredo dos Seus Olhos mistura história policial com romance. Benjamín Esposito (o excepcional Ricardo Darín) é um funcionário da Justiça aposentado, que decide escrever sobre um caso de homicídio que investigou 25 atrás e que causou imensa repercussão em sua vida pessoal.

Alerta de spoilers! Quase toda a estória será contada abaixo. Este pitaco é uma resenha escrita voltada àqueles que leram minha recomendação no Facebook e viram o filme.

A vítima era uma jovem e bela mulher, recém casada, que fora estuprada e assassinada. Durante as investigações Benjamín passa a ser chefiado por Irene (Soledad Villamil), uma assistente de juiz recém-formada de currículo invejável, rica e de família tradicional. Apesar da distância social que os separa e do fato de Irene estar de casamento marcado, surge entre eles uma forte paixão, que é comunicada muitas vezes somente pelos seus olhares, uma das razões do título do filme.

Esposito acredita descobrir o assassino por meio de fotos da vítima nas quais há sempre um sujeito dirigindo seu olhar para ela, outra razão do título do filme. Com a identidade do suspeito, Isidoro Gómez (Javier Godino, sósia do Messi) passa a persegui-lo, mas não o encontra. Sem soluções, o caso é encerrado.

Passa-se um ano e Esposito encontra o viúvo da vítima na estação de trem. Este revela que todos os dias vai até o local para tentar encontrar o assassino da mulher que tanto amava. Sensibilizado com a história, Benjamin consegue a reabertura do caso, e descobre, em cartas do suspeito, que esse utiliza uma linguagem cifrada para se referir ao seu time do coração, o Racing.

Vem aí o grande momento do filme e um dos melhores da História do Cinema: o espetacular plano-sequência que se inicia com uma tomada aérea do estádio do Racing e somente termina com a prisão do suspeito em pleno gramado como o jogo rolando! A câmara parece ser uma mosca que tudo segue, em quase 10 minutos de tirar o fôlego. Na verdade não foi utilizada uma só câmera nisso, pois seria impossível fazer tudo isso sem a hipotética "câmera-mosca" (talvez os drones tornem isso possível em um futuro próximo). Houveram umas "emendas" imperceptíveis, excelentes ilusões de ótica, que podem ser vistas neste making-of: clique aqui.

Pois bem, o suspeito está preso, mas não há nenhuma prova contra ele. Irene, dissimuladamente, consegue sua confissão. Mas não contavam com sua imunidade, pois Gómez é na verdade um agente da ditadura argentina, e o governo pouco se importava com sua conduta pessoal, desde que ele pegasse os inimigos do regime.

Assim, de perseguidor Benjamín passa a ser perseguido, e é obrigado a fugir para longe de Buenos Aires para salvar sua vida, e, consequentemente, abandonar Irene, uma história que só havia ficado nas preliminares.

Por fim, descobrimos qual foi o destino de Gómez. Esposito encontra o viúvo que lhe dissera na estação que era contra a pena de morte, pois queria que o assassino-estuprador passasse a vida vivendo uma sequência de dias vazios, pois este seria o maior castigo. Mas dessa vez diz a Esposito que matou Gómez. Esposito, após deixar o sítio do viúvo, reflete e percebe que não fazia sentido que um homem que achava a pena de morte um castigo fraco contentasse-se em matar o algoz, não o fazendo sofrer. Sorrateiramente invade o local onde encontra Gómez preso e Morales como seu carcereiro, que em castigo, não fala com ele há 25 anos. Fica a dica para os defensores da pena de morte: há castigos muito piores!

E no final, fica no ar que Irene e Benjamín, finalmente ficarão juntos, após toda uma vida de amor platônico. Atenção à metáfora da porta, que no passado ficara aberta, e se fecha ao final.

O Segredo dos Seus Olhos
é um filme magnífico. Simples, sem ser banal. Sofisticado, sem ser chato. Cada diálogo é muito bem escrito, várias frases são cheias de conteúdo e lições de vida. Mas o filme não depende somente desses excelentes diálogos, pois seus atores principais, liderados por Darín, conseguem dizer muito sem nada falarem. E, regendo o show, a criativa direção de Campanella.

Enfim, uma obra-prima!

Nota: 10

31 de março de 2014

A Grande Beleza

Fim de festa

La grande bellezza, Dir: Paolo Sorrentino, Itália, 2013, 124min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt2358891/



Ainda sobre o Oscar 2014, A Grande Beleza foi o vencedor do prêmio de melhor filme estrangeiro (ou, como diz o nome atual, filme em língua estrangeira).

A estória centra-se em seu protagonista, Jep Gambardella (Toni Servillo), um jornalista de 65 anos que vive intensamente os agitos da vida noturna e cultural de Roma, e que ganhou fama graças a um livro que escreveu há 40 anos.

A narrativa não é das mais tradicionais, o que pode afastar espectadores que gostam do esquema tradicional de filmes hollywoodianos ou de novelas globais. Vários momentos do cotidiano de Jep são mostrados sem necessariamente haver uma ligação cronológica entre estes.

Apesar dessa falta de narrativa cronológica padrão, o filme não é um apanhado de cenas sem sentido. Algumas cenas permitem uma interpretação direta, especialmente quando o protagonista dá uma lição de moral na sua amiga que se julga a pessoa mais correta da turma, mostrando toda a podridão que ela oculta. 

Já outras intenções do diretor exigem ao espectador que "ligue os pontos". Por exemplo, em momento algum isso é dito, mas Jep mora em um apartamento com uma sacada enorme em frente ao Coliseu, e diz que passou a vida inteira buscando a grande beleza e não a encontrou. Ora, todos os dias ele acorda com vista para esse grande monumento, e isso para ele não é belo o suficiente, o que pode ser interpretado como o fato de que qualquer pessoa enjoa de qualquer coisa, ou de que nada é tão belo assim.

Muitas coisas são questionadas ao longo do filme, como arte, religião, política, família e amizades. Olhando em uma perspectiva geral, o diretor busca tirar seus espectadores da zona de conforto, pois todos sempre buscam portos seguros para tentar colocar sentido às suas vidas. 

Felizmente, o filme não mostra qual seja esse sentido (embora sugira que é meio bobo que velhos fiquem dançando em festas com música bombando madrugada adentro). Fica a mensagem de que "O sentido da vida" talvez nem exista, e cabe a nós escolher qual a melhor maneira de viver, levando conosco toda a responsabilidade pelas escolhas que fazemos. 

Nota: 9

13 de março de 2014

Última Viagem a Vegas

Tiozões na pista

Last Vegas, Dir: John Turteltaub, EUA, 2013, 105 min
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Um filme que reúne 4 atores oscarizados e carismáticos não tem como não ser bom, certo? Longe disso. Última Viagem a Vegas é uma prova disso.

A estória envolve um grupo de amigos de infância, os quatro astros, que, já na velhice e com cada um tendo uma vida diferente, resolvem se encontrar para a despedida de solteiro de um deles em Las Vegas.

Todas as personagens não são mais do que estereótipos. O viúvo ranzinza (De Niro), o velho dependente que é tratado como criança pelo filho (Freeman), o velho que quer ser garotão (Douglas) e o velho que está entediado em seu casamento de 40 anos (Kline).

Se pelo menos as piadas fossem boas, o filme poderia ser melhor. Mas são todas piadas manjadas, sobre os velhos que voltam a Las Vegas 40 anos depois e estranham tudo, frente a festas modernas. E tudo se encaminha para liçõezinhas de moral infantis no final, do tipo valorize o que você tem, aceite que você envelhece e não é porque você está velho que sua vida é sem graça.

Lembrei-me dos comentários dos finais dos desenhos do He-Man. Faltou o Gorpo aparecer no final dizendo algo do tipo: "na estória de hoje, vimos que às vezes nós nos acomodamos com nossas vidas e não percebemos como ela é bonita. Então lembrem-se, amiguinhos, se você tem pessoas em quem confia, esse é o maior tesouro que você pode ter. Até a próxima."

Nota: 3

10 de março de 2014

Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual

Solidão na multidão

Medianeras, Dir: Gustavo Taretto, Argentina, 2011, 95 min
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No Brasil, é comum um sentimento aflorado contra a Argentina. Mas mesmo quem tem essa birra com os "hermanos", se gosta de cinema, não pode negar que os filmes argentinos são geralmente muito bons, e dão de goleada na produção cinematográfica do Brasil. Diferentemente do panorama nacional, em que, em boa parte das vezes, os filmes ou tratam de miséria ou são essas comédias bizarras que mais lembram uma Zorra Total de duas horas de duração, os filmes argentinos normalmente tratam de histórias cotidianas de classe média, muito bem contadas.

Medianeras, que originalmente era um curta-metragem e depois ganhou a versão de longa, se enquadra nessa categoria. A abertura do filme já é um primor, mostrando o mar de prédios da capital portenha enquanto o narrador em off analisa que BA´s é uma cidade que dá as costas ao seu rio e que a urbanização é totalmente caótica, com prédios altos do lado de baixos, novos do lado de velhos e outros contrastes que deterioram o ambiente urbano. Parte daí a análise se tal caos no planejamento não se espelha em nossas vidas.

Martin (Javier Drolas), o protagonista, é um programador de sites que praticamente não sai de casa, fazendo tudo online. Mariana que mora na mesma rua de Martin, a poucos prédios de distância, é uma arquiteta que trabalha produzindo vitrines. Ambos cruzam-se várias vezes durante o filme, mas nunca se veem, perdidos na multidão.

Além de inúmeras semelhanças de gostos e de posturas, os dois também tem um passado de rompimento de relação amorosa doloroso e de relações posteriores efêmeras e sem graça. Ao longo do filme as rotinas dos dois são acompanhadas em paralelo.

O fato de estarem perdidos na multidão traz o paralelo dos famosa série de livros Onde Está Wally (por isso o poster do filme acima). Mariana diz que o único cenário em que nunca encontrou Wally é na cidade, uma metáfora por sua busca pela cara metade na metrópole impessoal.

Outro ponto muito bem abordado pelo filme é o fato de estarmos altamente conectados nos dias atuais, e isso não aplacar a solidão. Martin diz uma excelente frase que sintetiza tudo isso: "A internet me aproximou do mundo, mas me afastou da vida".

Nota: 9


P.S: Links para o filme no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=yKwxlP_DW_8
http://www.youtube.com/watch?v=8ja-vEbiY1c

E também o filme na versão anterior, curta metragem:
http://www.youtube.com/watch?v=kDj9yoBJ0k8

7 de março de 2014

RoboCop

Robô de Elite

Idem, Dir: José Padilha, EUA, 2014, 117 min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1234721/



Nova versão do clássico cult de 1987, RoboCop dirigido pelo brasileiro José Padilha (Tropa de Elite) muda o foco do original, trazendo o drama para o lado humano de Alex Murphy (Joel Kinnaman), o policial que estava praticamente morto e é "ressuscitado" em forma de máquina. Se no original Murphy acordava como uma máquina, e aos poucos, contra a vontade de seus criadores, ia relembrando seu passado, neste ocorre o contrário. Murphy acorda do coma e fica chocado ao se ver transformado em uma máquina, com pouquíssima coisa sobrando de seu corpo humano.                                                                                                                                                 
Também há um enfoque maior em sua relação familiar, pois no original ele se mantinha à distância de sua esposa e de seu filho, enquanto neste ele tenta restabelecer a relação como uma homem-máquina. 

A grande questão do filme, em seu enfoque político, é se é ético que robôs, e não mais pessoas, passem a tomar decisões que envolvam julgamento de valores. A ação começa mostrando robôs americanos fazendo o patrulhamento em Teerã, enquanto que um âncora de televisão de extrema direita, Pat Novak (Samuel L. Jackson), defende o uso de robôs, pois estes evitam que soldados percam suas vidas em países estrangeiros. Mas ele se esforça para disfarçar que o outro lado da moeda é que os cidadãos dos países invadidos são humilhados em abordagens e mortos se tentarem reagir. Ou seja, desde o começo Padilha já toma partido, mostrando que não há muita justiça em tal sistema.

O grande embate do filme, dá-se então, entre os defensores do uso de soldados-robô como policiais no território dos EUA, como Novak e a empresa que os fabrica, a OCP, e os contrários a tal medida, representados por um senador que defende a manutenção de uma lei que impede tal uso. RoboCop será, assim, uma tentativa da OCP de encontrar uma brecha legal, colocando um humano dentro de um robô, construído pelo Dr. Frankenstein moderno, Dennett Norton (Gary Oldman).

É Interessante a preservação de alguns dos ícones do filme original, como a forte música tema, a armadura de RoboCop e o robô ED-209.

Padilha deu seu toque ao filme, mas não deixa de ser um filme pipoca com um roteiro arrumadinho, ao contrário de superproduções burras repletas de ação e com roteiros que só servem pra ligar uma cena à outra, como Transformers e Velozes e Furiosos.

Nota: 6

28 de fevereiro de 2014

Oscar 2014

And the Oscar goes to...

Todos os indicados no IMDB: http://www.imdb.com/oscars/nominations/


Após a análise de cada um dos filmes indicados (caso queira ver algum, procure na barra ao lado direito), vamos as apostas de com quem ficarão os prêmios. 

Em todas as categorias analisadas irei indicar quem acho que será premiado, para quem eu votaria se fosse membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e uma breve análise.

Faltou a análise de algumas categorias, mas as principais estão abaixo:


Melhor filme

Vencedor: 12 Anos de Escravidão
Meu voto: Ela

Um filme sobre o passado, outro sobre o futuro, que nos dizem muito sobre nosso presente. Acho que Ela nos fala muito sobre nosso cotidiano, além de permitir mais análises sobre seus aspectos, como a contraposição dos relacionamentos reais e virtuais. Gravidade e Trapaça também são fortes e dignos concorrentes.


Melhor diretor

Vencedor: Steve McQueen (12 Anos de Escravidão)
Meu voto: Alfonso Cuarón (Gravidade)

McQueen deve ser contemplado em conjunto com seu filme, e, especialmente, em razão da questão política, por ser negro, e a Academia (composta quase que somente por pessoas brancas) poder buscar sinalizar que é aberta e que não discrimina ninguém por critérios étnicos. Mas votaria em Cuarón por ele ter abalado a forma de se fazer cinema com Gravidade.


Melhor ator

Vencedor: Matthew McConaughey (Clube de Compras Dallas)
Meu voto: Leonardo DiCaprio (O Lobo de Wall Street)


Categoria em que todos desempenharam bem seus papéis e na qual o que considero o menos bom (pois seria maldade dizer pior) é o favorito, McConaughey. Leonardo DiCaprio é um monstro e merece o prêmio por ser o grande destaque de O Lobo. 


Melhor atriz

Vencedor: Cate Blanchett (Blue Jasmine)
Meu voto: Cate Blanchett


Indiscutível. Atuação sublime em Blue Jasmine. Apesar do mérito das demais, não há dúvida que Blanchett levará mais uma estatueta, depois da de coadjuvante em 2005 por O Aviador.


Melhor ator coadjuvante

Vencedor: Jared Leto (Clube de Compras Dallas)
Meu voto: Michael Fassbender (12 Anos de Escravidão)

Como a academia gosta de transformações físicas, Leto vai levar. Mas Michael Fassbender também merece. Barkhad Abdi (Capitão Philips) foi uma excelente revelação. Jonah Hill (O Lobo de Wall Street) e Bradley Cooper (Trapaça) nem deveriam disputar. Muito melhor seria terem incluído Daniel Bruhl, ótimo como Nick Lauda em Rush, ou Will Forte, o filho do velho em Nebraska.


Melhor atriz coadjuvante

Vencedor: Lupita Nyong´o (12 Anos de Escravidão)
Meu voto: 
Lupita Nyong´o

Aqui tudo indica que a disputa será entre Jennifer Lawrence (Trapaça), que está na fase de queridinha de Hollywood e que fez seu papel ser aumentado no filme para caber seu talento e a estreante em longas Lupita Nyong´o, que teve de encarar cenas pesadas. Scarlett Johansson merecia estar nesta lista pela voz do sistema operacional em Ela.  


Melhor roteiro original

Vencedor: Ela
Meu voto: Ela


Ela traz uma estória original e atual e deve levar. Trapaça tem um divertido roteiro de picaretagens e tem chances. Também são boas estórias Blue Jasmine, que trata de ilusão e queda, e Nebraska, com  a esperança vã de achar o pote de ouro ao fim do arco-íris. Clube de Compras Dallas está atrás dos concorrentes.


Melhor roteiro adaptado

Vencedor: 12 Anos de Escravidão
Meu voto: 
12 Anos de Escravidão

12 Anos está muito acima dos demais e dificilmente não ganha. Gosto muito dos ótimos diálogos de toda a trilogia de Antes da Meia Noite, mas é mais do mesmo, e não deve chances. O Lobo de Wall Street é melhor na direção do que no roteiro, além de ser muito longo. Capitão Philips e Philomena nem deveriam ter sido indicados.


Melhor filme estrangeiro

Vencedor: A Caça
Meu voto: só vi esse, então não vale


A Caça é um ótimo filme, tratando de um tema do momento, a pedofilia (ou, mais precisamente, a injustiça de se acusar alguém por este crime) e tem um grande ator conhecido do grande público (Mads Mikkelsen), sendo forte candidato. A Grande Beleza também tem sido muito elogiado. Acho que a disputa ficará entre eles.

Melhor fotografia

Vencedor: Gravidade
Meu voto: Nebraska

Somente vi esses dois, e como estão indicados a melhor filme a disputa deve ficar entre eles. Ambos são ótimos, Gravidade se destaca pela dificuldade em recriar o ambiente espacial, mas gostei mais do preto e branco de Nebraska.


Melhor figurino

Vencedor: Trapaça
Meu voto: Trapaça


As roupas dos anos 70, com seus decotes, golas largas e cores fortes são sensacionais. O Grande Gatsby também se destaca no quesito com o visual anos 20.


Melhor maquiagem

Vencedor: Clube de Compras Dallas
Meu voto: 
Clube de Compras Dallas

Sem disputa. A maquiagem ajudou a transformar dois galãs sarados em magricelas doentes. Os outros indicados, Jackass e O Cavaleiro Solitário não devem ter a menor chance. 


Melhores efeitos visuais

Vencedor: Gravidade
Meu voto: Gravidade



Se não ganhar, fechem a Academia! Seria o mesmo que não dar o prêmio para Jurassic Park em 1994.


Melhor direção de arte

Vencedor: Trapaça
Meu voto: O Grande Gatsby


Categoria disputada. Considero os dois mencionados os melhores, preferindo O Grande Gatsby pelo deslumbre dos cenários e das festas. Mas 12 Anos e Gravidade também não serão surpresa se vencerem. Ela, com seu futurismo com cara de presente, fica atrás na disputa.




E aí, concordam?

Deixem seus pitacos e deem seus palpites.

27 de fevereiro de 2014

Nebraska

O pote de ouro no final do arco-íris

Idem, Dir: Alexander Paine, EUA, 2013, 115 min
IMDB: clique aqui



Último dos indicados ao Oscar 2014 a ser analisado neste espaço, Nebraska trata da estória que pode até soar bobinha, a de um velho que recebe uma carta de uma editora de revistas dizendo que ganhou 1 milhão de dólares. Desde o princípio, é nítido que isso é só uma brincadeira de peça publicitária. No entanto, Woody (Bruce Dern), acredita que tal dinheiro está à sua espera no escritório da empresa no Estado de Nebraska, fazendo com que ele tenha como missão sair de sua casa em Montana e ir resgatar seu prêmio a centenas de quilômetros, nem que precise ir a pé.

Como dito, a estória parece bobinha porque é muito claro, no caso, que o prêmio não existe. Mas, pergunto, quantos de nós não gastamos muito tempo indo atrás de seu pote de ouro no final do arco-íris? Sonhamos que se conseguirmos determinado emprego, se ganharmos certa quantia de dinheiro ou se nos relacionarmos com as pessoas que desejamos nossas vidas mudarão para sempre, e todos os nosso problemas irão se acabar.

Woody é mais um dos que acreditam nisso. Desde o começo ele revela que quer ganhar um milhão para comprar uma caminhonete, que sempre sonhou ter, e um compressor de ar, que diz ter sido roubado por seu ex-sócio. Ou seja, já em seus últimos dias, o protagonista quer compensar suas frustrações do passado, algo que ocorre com a maioria de nós. Lembrei-me de Cidadão Kane, no qual o protagonista após ter conquistado quase tudo na vida, morre com saudades de seu brinquedo de infância.

Nesta jornada, um de seus filhos, David (Will Forte) decide acompanhá-lo para tentar fazer com que ele desista de sua obstinação com o prêmio. No caminho, que passa pelos estados menos importantes e mais rurais dos EUA, que incluem Montana, Wyoming, Dakota do Sul e Nebraka, Woody irá passar pela sua cidade natal, onde terá algumas contas a ajustar com seu passado.

O diretor Alexander Paine tem um excelente currículo que inclui As Confissões de Schimidt (em que conseguiu uma das melhores atuações da carreira de Jack Nicholson) e, Sideways: Entre umas e Outras, filme que eu adoro, sendo indicado ao Oscar de diretor por este e também pelo mais recente Os Descendentes, indicação que vem novamente com Nebraska.

Bruce Dern e June Squibb (como Kate, a esposa de Woody) também estão indicados aos prêmios por suas atuações. Ambos conduzem bem seus papéis, ele como o velho quase gagá, alcoólatra, rude e que pouco fala (ou pouco quer falar) e ela como a velha desbocada e moralista que fala mal de todo mundo, incluindo seu marido e seus filhos. Dois personagens comuns na classe média baixa dos EUA.

A fotografia deste filme em preto e branco é belíssima, com o diretor explorando bem os contrastes, criando muitos cenas com claridade e escuridão. Aliás, não me recordo de ver um filme recente que utilizasse a técnica do preto e branco para contar uma estória atual, pois filmes como O Artista, A Lista de Schindler e O Homem que Não Estava Lá contam estórias do passado. Não acho que a escolha pelo monocromático se deva somente para o diretor se gabar de fazer bons filmes de qualquer forma, pois a falta de cores combina com a falta de emoção na vida simplória de Woody na das pessoas ao seu redor. Também serve para nos lembrar que, com o tempo, tudo vai ficando mais opaco.

Nebraska é um belo filme, bem lento e sem grandes emoções, que nos faz refletir sobre nossas buscas inglórias e nossa necessidade de procurar sentido em tudo.

Nota: 8

25 de fevereiro de 2014

Philomena

Uma velhinha do barulho

IMDB: clique aqui
Idem, Dir: Stephen Frears, EUA/Reino Unido/França, 2013, 98 min


Philomena é um destes filmes que receberam uma indicação ao Oscar em razão de terem ampliado a lista para mais de 5 filmes nos últimos anos. Há pouco tempo com certeza teria ficado de fora, razão pela qual quase ninguém acredita que possa faturar a estatueta.

O filme não chega a ser ruim. Mas também não chega a ser bom. É razoável. Seu mérito está no próprio enredo, baseado em fatos reais, e na atuação de Judi Dench (a M dos filmes do 007) como a personagem título, uma velhinha que fala pelos cotovelos de vários assuntos desinteressantes que assiste na TV ou lê em romances de 2ª categoria.

Além dessas futilidades, Philomena manteve em segredo por 50 anos o fato de que, quando jovem, teve um filho que lhe foi tomado pelas freiras do convento em que foi morar por ter sido desonrada, ou seja, por ser mãe solteira na Irlanda dos anos 1950. Um jornalista político em baixa (Steeve Coogan) aceita ajudá-la a buscar seu filho em troca da exclusividade na publicação da reportagem deste drama familiar, o que revela-se bem mais do que isso no decorrer do longa.

A trajetória é bem quadrada, faltando clímax. No fim, fica a revolta pelo grau de crueldade que uma instituição religiosa pode ter com uma pessoa que apresente comportamento "inadequado".

Nota: 6

24 de fevereiro de 2014

12 Anos de Escravidão

Lelê Lelê

12 Years a Slave, Dir: Steve McQueen, EUA/Reino Unido, 2013, 134 min
IMDB: clique aqui



Mais forte concorrente ao Oscar de melhor filme, 12 Anos de Escravidão é baseado na história real contada nos diários de Solomon Nothup, um homem livre do Norte dos EUA que é capturado e vendido como escravo para as plantações do sul daquele país.

Ao contrário do Holocausto judeu, a Escravidão moderna foi poucas vezes abordada no cinema. Provavelmente isto se deve ao fato de suas consequências serem marcantes até hoje em qualquer país que tenha um passado escravocrata e, mais ainda, nos Estados Unidos, onde até pouco mais de 50 anos haviam leis de segregação que criminalizavam até mesmo casamentos interraciais. Seria difícil, neste contexto, alguém querer tocar nesta ferida aberta, especialmente se considerarmos que a indústria cinematográfica sempre foi controlada por brancos, muitos deles judeus, o que explica em parte o mencionado interesse pelo Holocausto.

Como já colocado, a história mostra como Solomon (Chiwetel Ejiofor), um violinista do Estado de Nova York, casado e pai de dois filhos, é sequestrado por dois homens que oferecem emprego temporário em um circo e o dopam em um jantar. Quando acorda, ele já se encontra acorrentado em um porão, aguardando para ser enviado para o Sul dos EUA.

Solomon é uma boa personagem na medida em que permite a nós, que nascemos todos livres, nos identificar com sua dor, pois diferente é a situação de escravidão para quem já nasceu escravo e tende a ser conformado com sua condição. Solomon não, ele sabe o valor de não ter de prestar contas a ninguém, e o quanto lhe incomoda ter de ser submisso e não poder tomar praticamente qualquer decisão.

Ao longo do filme, o diretor Steve McQueen (que pode ser o primeiro negro a vencer o Oscar como diretor) nos apresenta vários aspectos da escravidão, como a submissão, a indiferença, a justificação religiosa, a desumanização, dentre outros.

Uma boa cena que mostra como a crueldade pode ser inocente é o da "boa" sinhá, que ao receber uma escrava recém chegada chorando muito por ter se separado dos dois filhos, diz que basta a ela se concentrar em seus afazeres que logo se esquecerá deles. Em um sistema que a todos desumaniza, escravos e patrões, é de se crer que a sinhá não notasse a maldade de sua frase, e realmente achasse que estava sendo gentil com sua serva.

Diversas serão as cenas de violência física ao longo do filme. Pela repercussão, achei que fossem até mais explícitas, mas o diretor, em algumas delas, nos poupa de muitos detalhes, focando diversas vezes na expressão facial dos castigados, e outras vezes deixando a violência em um segundo plano desfocado, demonstrando a banalidade do castigo, que não causava espanto a ninguém.

Também não é deixado de lado a indiferença dos negros livres frente aos escravos, exemplificado no papel de uma ex-escrava que se casa com seu mestre e passa a se comportar como qualquer outra sinhá, exibindo indiferença frente aos cativos, pois considera este um preço baixo a se pagar para viver bem.

Chiwetel Ejiofor tem todos os méritos para ganhar a estatueta de melhor ator. Ao longo do filme notamos a transformação em sua postura física, pois quando livre, andava com altivez e tranquilidade. Logo que é capturado se mostra indignado e furioso. No começo de suas funções com escravo busca mostrar suas aptidões e sua instrução, rivalizando com os rudes agregados de seu mestre (postura pela qual irá se arrepender amargamente). E já no final já apresenta uma postura resignada, andando com os ombros contraídos e falando de forma submissa com os brancos.

Além do protagonista ainda temos excelentes atuações dos outros indicados aos Oscars de coadjuvantes, o ótimo Michael Fassbender (o Magneto de X-Men: Primeira Classe), como o segundo senhor de Solomon, e de Lupita Nyong´o, no papel da escrava eficiente e alvo da luxúria de seu patrão.  Ainda formam o elenco outros atores de renome, como Paul Dano, Paul Giamatti, Benedict Cumberbatch e Brad Pitt, sendo o heroi da história, como de costume (e, sendo ele um dos produtores do filme, não deve ter sido difícil escolher este papel).

12 Anos é um filme extremamente pesado e que leva o público às lágrimas. E como histórias de superação frente as adversidades sempre são apreciadas pela Academia de Cinema, é quase certo que leve a estatueta principal neste ano.

Nota: 9


21 de fevereiro de 2014

Clube de Compras Dallas

Pagando bem, que mal tem

Dallas Buyers Club, Dir: Jean Marc Vallée, EUA, 2013, 117 min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0790636/


Candidato aos Oscars de melhor filme, melhor ator (Matthew McConaughey) e melhor ator coadjuvante (Jared Leto), Clube de Compras Dallas retorna à década de 80 e aos primórdios da descoberta da Aids. Ron Woodroof (McConaughey), eletricista por profissão e picareta por diversão, descobre ser HIV positivo e que, segundo o médico que o atende, tem somente 30 dias de vida. Como à época, a Aids ainda estava confinada a grupos de risco, como usuários de drogas injetáveis e homossexuais, o rude e homofóbico Ron reage furiosamente à notícia, como se seu diagnóstico fosse uma afirmação de que ele é gay.

Ao longo do filme, veremos que o prognóstico de 30 dias de vida estava completamente equivocado. Aliás, médicos "videntes" são um fenômeno um tanto quanto recorrente na sociedade. De qualquer forma, Ron, após se informar melhor sobre a doença e aceitar que contraiu o vírus após suas inúmeras relações sexuais desprotegidas com prostitutas e outras mulheres promíscuas, passa a buscar tratamento. À época o AZT ainda era uma droga em fase experimental, de modo que não era possível comprá-la, e seu único caminho legal seria aceitar se submeter aos testes, podendo receber a droga placebo. Como não aceita isso, Ron passa da dar seus pulos.

Trambiqueiro de longa data, o protagonista percebe que pode ganhar dinheiro vendendo o tratamento a diversos infectados, tornando-se sócio da travesti Rayon (Leto), que tem contatos na comunidade infectada. Daí o nome do filme, pois eles obtem enorme sucesso vendendo a associação ao clube de compras que oferece os medicamentos necessários para o tratamento por meio do pagamento de mensalidade. Aliás, os remédios que fornecem são outros que não o AZT, o que provoca a ira da indústria farmacêutica, ansiosa por emplacar a droga mais cara da história como a única viável ao tratamento, apesar de, ao menos em sua fase inicial, ser altamente tóxica.

Os dois atores principais, os galãs Leto e McConaughey (o nomezinho difícil de se soletrar) passaram por incrível transformação física. De homens sarados tornaram-se raquíticos para os papéis. Como essas transformações chamam a atenção da Academia, como nos mostram muitos exemplos, o maior de todos sendo o de Charlize Theron que inacreditavelmente ficou feia para Monster: Desejo Assassino (clique aqui para ver), vieram as indicações aos prêmios. Felizmente as indicações não se devem somente à mudança física, pois ambos estão bem no filme, especialmente o protagonista, que só vinha fazendo papéis bobos em comédias românticas.

Clube trata de um tema ao mesmo tempo pesado e interessante. Como mostra a luta de uma pessoa contra o sistema, tem sido comparado a Erin Brockovich. Mas a direção e roteiro são um tanto quanto quadrados, faltando algo que qualifique Clube como um grande filme.

A mensagem que o filme deixa é que mesmo um caipira machista como Ron pode perceber que o preconceito contra o diferente somente existe pela ignorância, fazendo com que possamos acreditar que o entendimento e o carinho entre as pessoas é algo viável.

Nota: 6

20 de fevereiro de 2014

Ela

Amor real?

Her, Dir: Spike Jonze, EUA, 2013, 126 min
IMDB: clique aqui


Mais um concorrente ao Oscar 2014, Ela se passa em um futuro próximo, no qual a no qual o sistema operacional dos smartphones, mais do que simplesmente obedecer comandos por voz, passa a interagir com seus usuários, conversando como se fosse uma pessoa normal, o que inclui contar piadas, ter voz ofegante, querer saber fofocas, dentre outros atributos humanos. 

O protagonista Theodore (Joaquin Phoenix) é um solitário escritor de cartas pessoais que está em processo de divórcio e adquire o novo sistema operacional OS¹ (clara referência ao iOS dos iPhones). Em seu contato inicial com o sistema (na voz de Scarlett Johanson, que merecia estar concorrendo ao Oscar pela vida que injeta na personagem virtual), este pergunta seu nome e ela diz que é Samantha, pois o escolheu entre todos os milhares de nomes possíveis em milésimos de segundo, demonstrando desde logo a assimetria que existirá entre eles quanto ao tempo de aprendizado.

O filme passa a abordar então a maneira como Theodore se relaciona com Samantha, numa metáfora sobre como é que nos relacionarmos uns com os outros. 

Quando eu conto a sinopse do filme, ou seja, um cara que se apaixona pelo sistema operacional, as pessoas riem em tom de deboche e estranhamento. Mas, curiosamente, o filme transforma essa estranha relação em algo bastante concreto em poucos minutos. Afinal, o que são os nosso relacionamentos reais? Amamos o que, afinal? O corpo da pessoa ou sua personalidade? Se é uma questão de personalidade, Samantha não fica devendo nada a ninguém, dada sua capacidade de interagir, evoluir e se adaptar.

Com base nesse relacionamento, o filme vai colocar situações sobre como nos portaríamos frente a esta possibilidade de sermos amigos de nossos computadores. Na estória, em pouco tempo, torna-se muito comum e socialmente aceitável que as pessoas namorem seus sistemas operacionais. Mas persiste o problema de que a relação se dá com um ente incorpóreo, que não compartilha de nossa limitação física de somente poder estar em um local em dado momento, assim como não tem nossa única certeza, de que iremos morrer.

O tema não é fácil de ser trabalhado, poderia facilmente cair num estranhamento de apresentar o protagonista como um doido varrido ou, por outro lado, ir pro sentimentalismo de mostrar uma linda estória de amor entre Theodore e Samantha. Mas o diretor e roteirista Spike Jonze (da comédia cult e maluca Quero Ser John Malkovich) conduz sua obra de maneira magistral, mostrando, enfim, a miséria humana em sua busca por afeto.

Aproveito para traçar um paralelo entre este filme e outro sensacional sobre como se dão nossos relacionamentos em meio a revolução digital, que é Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual. Aos que gostarem de Ela, recomendo este, mais adaptado ao nosso presente e a realidade de metrópoles caóticas.

Ela se insere no renascimento do gênero da ficção científica. Digo renascimento porque a revolução digital foi mais surpreendente do que a ficção, fazendo com que poucos se aventurassem, entre 1990 e 2010, a imaginar o futuro.

Agora, que temos mais claro para onde tal revolução caminha, surgem filmes como Ela e o novo Robocop, nos quais o temor anterior de que os computadores tornariam-se inteligentes e iriam nos matar, como em 2001 - Uma Odisséia no Espaço ou O Exterminador do Futuro, cede lugar a um casamento já consolidado entre seres humanos e máquinas e aos limites éticos nessa relação quase simbiótica.

Finalizando, deixo novamente o link de uma coluna de Contardo Calligaris abordando o assunto do relacionamento com uma máquina: Amor de Máquina.

Nota: 9

18 de fevereiro de 2014

Capitão Phillips

Piratas sem glamour

Captain Phillips, Dir: Paul Greengrass, EUA, 2013, 134 min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1535109/



Baseado na história real de um sequestro do cargueiro Maersk Alabama na costa da Somália em 2009, Capitão Phillips reconstrói os momentos de tensão vividos pela tripulação americana e por seu protagonista, interpretado pelo sempre competente Tom Hanks. 

A Somália, terra dos piratas retratados, mal é um país, pois somente 10% de seu território é controlado pelo governo. O restante é controlado por chefes locais. Além disso tudo, o país fica em uma rota estratégica para grande parte da navegação internacional, o chifre da África, sendo portanto, quase que uma consequência lógica que a região seja cenário de ataques de piratas, que em nada lembram um Jack Sparrow.

O filme, como dito, é uma reconstituição da tensão da abordagem pelo grupo de piratas ao cargueiro, aproximando-se bastante de um filme de ação, nesse sentido, com criminosos sempre ameaçando a vida da tripulação.

Mas seu maior mérito, reside, em não colocar os piratas como africanos pobres, sujos e malvados inimigos da América. Sim, eles não deixam de ser africanos pobres e sujos, mas não necessariamente são animais sem coração. Todo o duro contexto em que eles vivem praticamente os impulsiona em direção ao cometimento de crimes. O melhor diálogo do filme se dá entre o Capitão e o chefe dos piratas (ótima atuação do novato somaliano Barkhad Abdi), no qual Phillips argumenta que ele poderia fazer algo além de ser um pescador ou um sequestrador, ao que ele responde "Talvez na América, irlandês, talvez na América", demonstrando a falta de opções causada pela miséria.

No final o filme esbarra numa glorificação do bom serviço das forças especias dos militares americanos, que, obviamente, tiveram seus méritos no sucesso do resgate, mas fica aquela mensagem de "Não mexa com a gente".

Nota: 7

17 de fevereiro de 2014

Trapaça

Te peguei

American Hustle, Dir: David O. Russell, EUA, 2013, 138 min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1800241/



Um dos campeões de indicação ao Oscar 2014, Trapaça tem a direção de David O. Russell, que em seus últimos dois trabalhos, O Vencedor e O Lado Bom da Vida, foi indicado por ambos aos prêmios de melhor diretor e de melhor filme. 

Para ampliar essa vitrine de indicações, ele trouxe a esta nova produção 4 atores que estiveram envolvidos nessas duas produções anteriores: os já "oscarizados" Christian Bale (o Batman, no look "esconde a careca") e Jennifer Lawrence (de Jogos Vorazes) além de Bradley Cooper (da série Se Beber não Case) e Amy Adams (a Lois Lane de O Homem de Aço). Com esse elenco estelar conseguiram a façanha de ter 4 atores indicados a todas as categorias, algo que já havia sido feito por Russel no ano passado, com O Lado Bom, o que não ocorria há mais de 30 anos (para ver a lista dos filmes que já conseguiram isso, clique aqui).

Mas deixando de lado essa análise curricular, vamos ao filme. Trapaça envolve um pequeno e bem sucedido golpista, Irving Rosenfeld, vivido por Bale. Apesar de seu excelente know-how, Rosenfeld é precavido e não se aventura a grandes golpes e vive enganando gente simples endividada em um cenário de crise econômica do final dos anos 70 nos EUA, prometendo empréstimos que nunca saem. Para melhorar sua "credibilidade", a ele se junta sua amante, Sidney, ou "Lady Edith" (Amy Adams), que se finge de aristocrata britânica para tornar a farsa da linha de crédito com ingleses mais factível.

Suas vidas seguiam seu curso normal de pilantragens quando são pegos pelo agente do FBI Richie di Masio (Bradley Cooper) que os convence a conseguir a liberdade se os ajudar a pegar peixes grandes, como políticos corruptos. 

Mas o destemor de di Masio só é menor que sua ingenuidade. Do alto de sua cabeleira encaracolada moldado com mini bobs, ele acredita ser fácil pegar mafiosos e grandes corruptos com uma armadilha simples e rápida, ignorando que não dá pra cometer erros com gente assim.

Essa será a trama principal da estória, e para isso irão manipular um bem intencionado e ambicioso prefeito de Nova Jersey (Jeremy Renner), a conseguir convencer outros políticos corruptos a permitir investimentos ilícitos para reativar os casinos de Atlantic City.

Trapaça consegue ser, ao mesmo tempo, triste e divertido. Divertido pelas situações inusitadas em que os personagens se colocam. E triste por demonstrar a carência humana e a necessidade de tentar ser o que não se é. Todos criam ilusões para tentar amenizar a dureza de suas vidas, o que se vê em seus onipresentes trajes chamativos.

Como já passei pelos currículos dos atores, vale analisar seus trabalhos. Bale está excelente como o pequeno golpista bonachão que engana as pessoas passando uma credibilidade de "amigão que vai estar lá quando você precisar". Adams conseguiu a maior coleção de decotes já vista no cinema não "adulto" e está excelente no papel de amante ressentida por não ser a titular. Lawrence é a esposa desocupada e manipuladora de Rosenfeld que sempre diz o que não deve. E Cooper, como já mencionado, é o enérgico e não muito esperto agente do FBI.

Trapaça segue a linha dos filmes de golpes, como Um Golpe de Mestre e Nove Rainhas, em que os espectadores sempre têm de ficar atentos para não serem enganados também. Mas só pela trama, porque a qualidade do filme é uma das poucas coisas genuínas.

Nota: 8