27 de fevereiro de 2014

Nebraska

O pote de ouro no final do arco-íris

Idem, Dir: Alexander Paine, EUA, 2013, 115 min
IMDB: clique aqui



Último dos indicados ao Oscar 2014 a ser analisado neste espaço, Nebraska trata da estória que pode até soar bobinha, a de um velho que recebe uma carta de uma editora de revistas dizendo que ganhou 1 milhão de dólares. Desde o princípio, é nítido que isso é só uma brincadeira de peça publicitária. No entanto, Woody (Bruce Dern), acredita que tal dinheiro está à sua espera no escritório da empresa no Estado de Nebraska, fazendo com que ele tenha como missão sair de sua casa em Montana e ir resgatar seu prêmio a centenas de quilômetros, nem que precise ir a pé.

Como dito, a estória parece bobinha porque é muito claro, no caso, que o prêmio não existe. Mas, pergunto, quantos de nós não gastamos muito tempo indo atrás de seu pote de ouro no final do arco-íris? Sonhamos que se conseguirmos determinado emprego, se ganharmos certa quantia de dinheiro ou se nos relacionarmos com as pessoas que desejamos nossas vidas mudarão para sempre, e todos os nosso problemas irão se acabar.

Woody é mais um dos que acreditam nisso. Desde o começo ele revela que quer ganhar um milhão para comprar uma caminhonete, que sempre sonhou ter, e um compressor de ar, que diz ter sido roubado por seu ex-sócio. Ou seja, já em seus últimos dias, o protagonista quer compensar suas frustrações do passado, algo que ocorre com a maioria de nós. Lembrei-me de Cidadão Kane, no qual o protagonista após ter conquistado quase tudo na vida, morre com saudades de seu brinquedo de infância.

Nesta jornada, um de seus filhos, David (Will Forte) decide acompanhá-lo para tentar fazer com que ele desista de sua obstinação com o prêmio. No caminho, que passa pelos estados menos importantes e mais rurais dos EUA, que incluem Montana, Wyoming, Dakota do Sul e Nebraka, Woody irá passar pela sua cidade natal, onde terá algumas contas a ajustar com seu passado.

O diretor Alexander Paine tem um excelente currículo que inclui As Confissões de Schimidt (em que conseguiu uma das melhores atuações da carreira de Jack Nicholson) e, Sideways: Entre umas e Outras, filme que eu adoro, sendo indicado ao Oscar de diretor por este e também pelo mais recente Os Descendentes, indicação que vem novamente com Nebraska.

Bruce Dern e June Squibb (como Kate, a esposa de Woody) também estão indicados aos prêmios por suas atuações. Ambos conduzem bem seus papéis, ele como o velho quase gagá, alcoólatra, rude e que pouco fala (ou pouco quer falar) e ela como a velha desbocada e moralista que fala mal de todo mundo, incluindo seu marido e seus filhos. Dois personagens comuns na classe média baixa dos EUA.

A fotografia deste filme em preto e branco é belíssima, com o diretor explorando bem os contrastes, criando muitos cenas com claridade e escuridão. Aliás, não me recordo de ver um filme recente que utilizasse a técnica do preto e branco para contar uma estória atual, pois filmes como O Artista, A Lista de Schindler e O Homem que Não Estava Lá contam estórias do passado. Não acho que a escolha pelo monocromático se deva somente para o diretor se gabar de fazer bons filmes de qualquer forma, pois a falta de cores combina com a falta de emoção na vida simplória de Woody na das pessoas ao seu redor. Também serve para nos lembrar que, com o tempo, tudo vai ficando mais opaco.

Nebraska é um belo filme, bem lento e sem grandes emoções, que nos faz refletir sobre nossas buscas inglórias e nossa necessidade de procurar sentido em tudo.

Nota: 8

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Dê o seu pitaco