24 de maio de 2016

Ele está de Volta

Heil, Hitler!

Er ist wieder da, Dir: David Wnendt, Alemanha, 2015, 1h56min
IMDB      Netflix


E se por alguma força inexplicável do destino Adolf Hitler, o homem que iniciou a guerra mais mortífera da História e massacrou milhões de não combatentes, voltasse, como se não tivesse morrido em 1945? Como ele seria recebido pelo mundo atual? Esta é a pergunta básica de Ele Está de Volta, baseado no best seller homônimo de Timur Vermes.

No filme, o Führer acorda no mesmo local onde seu corpo teria sido queimado por seus soldados após seu suicídio. Quando ele surge, as pessoas começam a achar que ele é apenas um humorista fazendo graça, o que faz com que, com a ajuda de um cinegrafista tentando se encontrar, ele se torne um sucesso na internet e na televisão.

O que inicialmente parecia uma piada, logo se revela mais que isso. Hitler vai fazendo sua pregação contra a decadência do mundo ocidental, e aos poucos as pessoas vão se dando conta de que ele ão diz só besteiras.

Hitler nunca disse só besteiras. Se fosse médico, ele seria conhecido por fazer bons diagnósticos, porém propor o tratamento usando a eutanásia. Seu maior problema era apelar para a emoção, e não para a razão das pessoas, passando por cima das ideias de tolerância e coexistência, e apelando pelo chamado ao coletivo tribal, a lógica do nós contra eles.

No mundo atual, com um Alemanha recebendo levas de imigrantes de cultura diferente, especialmente islâmicos, não é difícil apelar para a xenofobia que existe dentro de cada um de nós. Muitos só estão esperando ela ser despertada.

Apesar de ter um ótimo tema, o filme falha como cinema.  Seu formato em alguns momentos é o do falso documentário (mockumentary), mostrando a suposta reação de pessoas reais a um Hitler andando pelas ruas. Mas o pior defeito é a narrativa fictícia, com personagens e um trama sem muita graça, exceção feita ao Hitler. Aliás, nem o Hitler é perfeito, pois seu intérprete Oliver Masucci, ao contrário do chanceler alemão que tinha 1,73m, é muito alto, quebrando a possível ilusão de ver Hitler ressurgido.

Ele Está de Volta passa a mensagem que deseja, de que o mundo atual está a espera de um novo líder carismático que diga o que tem que ser feito, apelando as emoções que não passam pela razão. Mas sua trama e seus personagens, essenciais à uma narrativa cinematográfica, não despertam muita graça.

Nota: 5

3 de maio de 2016

Capitão América: Guerra Civil

Confronto Aguardado

Captain America: Civil War
Dir: Anthony Russo/Joe Russo, EUA, 2016, 2h27min
IMDB                 Trailer     


[SEM SPOILERS - O pouco que é revelado aqui já era de conhecimento geral]

Capitão América: Guerra Civil chegou aos cinemas precedido por uma expectativa de ser o melhor filme de super-heróis de todos os tempos. Será mesmo? A resposta você lê na sequência. 

Apesar do título, este filme na cronologia do universo cinematográfico da Marvel é continuação direta de Vingadores: Era de Ultron (clique no título para ler o pitaco). Obviamente ele também continua a estória de Capitão América: O Soldado Invernal, e quem não os viu pouco entenderá da trama. 

No enredo, após diversos danos colaterais com muitas vítimas envolvendo a atuação dos Vingadores, os países da ONU decidem fazer um acordo para controlar as ações do grupo. Curiosamente, o sempre individualista Homem de Ferro decide aceitar o controle, enquanto o antes disciplinado Capitão América se opõe ao projeto temendo que isso representará o fim do grupo.

Um ponto bem abordado no filme é o fato de que a rivalidade entre os grupos de heróis não faz com que eles deixem de ser amigos. Ainda que tenham de resolver seus problemas no braço, eles não passam a se odiar mortalmente. Isso poderia servir de exemplo para nossos tempos em que qualquer discussão se torna objeto de polarização (especialmente quando é política), em que parece que os que estão em um pólo tem que nutrir ódio dos que estão no outro, e ninguém chega a lugar nenhum.

Novos personagens foram introduzidos neste filme: O Pantera Negra e o Homem-Aranha. O primeiro foi bem inserido, estando plenamente envolvido na trama, ainda que pouco se conte sobre sua origem, que ficará para seu filme solo que chega aos cinemas daqui um ano. Já em relação ao carismático Amigo da Vizinhança fica evidente que sua inserção foi de última hora após o acordo com a Sony (detentora de seus direitos cinematográficos) já com o roteiro escrito e as filmagens em andamento (leia a notícia sobre isso aqui), pois sua apresentação é bem mal feita e quebra a narrativa. Sua participação tampouco é muito relevante. A única coisa interessante, além de seus poderes usados em combate, é o fato de desta vez o personagem não ser um adolescente se tornando um adulto, mas um garoto de uns 15 anos, completamente deslumbrado em estar envolvido com todos aqueles personagens, o que rende algumas boas piadas.

Com tantos personagens relevantes, o elenco precisa ser composto por bons atores. Robert Downey Jr. personifica tanto o Homem de Ferro que já se decidiu que depois que ele deixar o papel terão de esperar alguns anos antes que outro ator assuma o personagem. Chris Evans é canastrão, mas parece ter incorporado bem o Capitão América, especialmente com esta mudança profunda em sua personalidade. Assim como em Vingadores: Era de Ultron, todos os personagens recebem um pouco de atenção e tem seu momento. Destaque para o ótimo ator hispano-alemão Daniel Brühl, que vem buscando seu espaço em Hollywood, e dá maior peso dramático ao filme.

Com relação à parte técnica, a ação utiliza-se de muitos takes rápidos, recurso que sempre torna a ação um pouca confusa para o espectador. Os Irmãos Russo, diretores do filme, foram muito mais competentes em seu filme anterior: Capitão América: O Soldado Invernal. Também a indústria hollywoodiana poderia se readequar como um todo e parar com este novo padrão de 2h30 para qualquer filme. Em duas horas esta estória estaria muito bem contada. Há muito o que poderia ter sido cortado sem prejuízo para a narrativa.

Também, principalmente em razão da proximidade do lançamento deste filme com Batman vs Superman (clique no título para ler o pitaco), é inevitável comparar as experiências cinematográficas da Marvel com a da DC Comics. Apesar de a primeira já estar em seu 13º filme enquanto a outra está iniciando agora sua aventura cinematográfica, algumas lições poderiam ser aprendidas por esta, como criar um roteiro que apesar de ter muitos acontecimentos não é confuso, bem como criar empatia com os personagens. Um pouco de leveza também não faria mal para a DC, que fez de Batman vs Superman um filme de entretenimento excessivamente pesado (e fraco). Para ler mais sobre essa comparação, sugiro esta análise do crítico do UOL, Roberto Sadovski.

Impressionante notar como a Marvel se reposicionou no imaginário popular. Nos anos 80 e 90 o Homem de Ferro e o Capitão América eram quase que ignorados pelas crianças (pelo menos no Brasil), sendo que o Hulk e o Homem-Aranha eram os únicos super-heróis relevantes da Marvel. Hoje eles conseguiram a proeza de ter seus outros personagens competindo em igualdade (se já não superaram) os mitológicos Batman e Superman, graças ao sucesso de seus personagens no cinema e nos videogames. 

E agora, respondendo à pergunta lá do início, este não é o melhor filme de super-heróis de todos os tempos, como alguns estão dizendo. Cito facilmente diversos melhores, como Homem-Aranha 2, Batman: O Cavaleiro das Trevas e Capitão América: O Soldado Invernal. O ponto principal é ter alguns problemas de roteiro já apontados, como a má-inclusão do Homem-Aranha no time, sua duração excessiva e não ter uma estória tão cativante quanto a destes citados. 

A Marvel encontrou uma fórmula de sucesso, unindo bom desenvolvimento de personagens, amizade entre os heróis, humor e boas cenas de luta. Isso fez com que ela se acomodasse um pouco e ficasse pouco criativa, o que é normal considerando que aos olhos dos executivos o objetivo maior é ganhar bilhões de dólares. Ao menos, a despeito da falta de ousadia, o filme não desrespeita a inteligência do espectador, nem conta uma estória confusa ou chata.

Capitão América: Guerra Civil é um bom filme de entretenimento e sabe conduzir sua estória. Poderia ser um pouco mais enxuto em sua duração e ter deixado suas sequência de ação com takes mais longos. Mas cumpre o principal para este tipo de filme, que é divertir. 

Nota: 6

28 de abril de 2016

O Homem Duplicado

Espelho, Espelho Meu

Enemy, Dir: Denis Villeneuve, Canadá/Espanha/França, 2013, 1h31min
IMDB                 Trailer                 Roteiro

E se um dia você descobrisse que existe uma outra pessoa exatamente idêntica a você (e que não é seu irmão gêmeo desconhecido)? O Homem Duplicado tenta explicar o que poderia acontecer se algo assim ocorresse.

No filme, conhecemos Adam, um professor de História acanhado e anti-social que vive uma vida bem monótona, resumida a dar aulas, ir pra casa e fazer sexo com sua namorada. Todos os dias. Um dia, um colega querendo puxar conversa lhe recomenda um filme pouco conhecido. Como ele não tinha nada melhor pra fazer, ele o aluga. Eis que neste filme ele se depara com um ator que é exatamente idêntico a ele e então decide ir atrás desse seu outro.

O roteiro baseia-se no livro homônimo do português José Saramago, que gosta de contar estórias estranhas que flertam com o fantasioso, como Ensaio sobre a Cegueira e a Jangada de Pedra. Não li o livro e desconheço seu tom, mas o filme é extremamente perturbador, desde a primeira cena (que traz uma lembrança de De Olhos Bem Fechados do mestre dos mestres Stanley Kubrick). Não é recomendável para quem gosta de tudo explicadinho, pois o filme, assim como o clássico hitchcockiano Os Pássaros, não dá explicação da pergunta mais básica: como? 

Conheci o badalado Denis Villeneuve recentemente com Sicario (clique para ler o pitaco), e posso dizer que ele já está se tornando um dos meus diretores favoritos. Ele sabe como poucos o que é a arte cinematográfica. Não há cenas inúteis, todos os elementos caminham para formar um todo. Mas também não há pressa em contar a estória e muitas vezes vemos cenas que mostram os atores em cena somente refletindo, sem dizer nada. Alguns acham este recurso cansativo, e realmente pode ser quando desnecessário. Mas Villeneuve sabe colocá-lo em razão do objetivo, que é contar sua estória. E faz isso em econômicos 90 minutos, provando que, ao contrário da moda atual, um filme pode ser bom em menos de 2 horas. Como sua filmografia não é extensa, em breve pretendo analisar todos os seus filmes aqui no Pitacos. 

Depois que o Leo DiCaprio ganhou o Oscar e começou a campanha de quem é o próximo que merece ganhar e ainda não ganhou, um dos meus favoritos é o duplo protagonista Jake Gyllenhaal. Ao contrário de DiCaprio, ele às vezes pega uns filmes blockbusters pra engordar a conta bancária, mas quando resolve trabalhar sério tem atuações marcantes. Suas performances em O Segredo de Brokebak Mountain (pelo qual ele recebeu sua única indicação ao prêmio) e Soldado Anônimo são marcantes. Neste filme, ele consegue criar dois personagens que podemos distinguir somente com sua linguagem corporal. Também no elenco Mélanie Laurent (a judia vingadora Shoshanna do tarantinesco Bastardos Inglórios).

Como dito, o filme é perturbador em toda a sua projeção. E para que esse efeito seja produzido no espectador há uma total interação entre roteiro, direção, atuações e trilha sonora. Tudo funciona bem. Não que este filme seja um marco na Sétima Arte, mas é um filme bem pensado em todos os seus aspectos.

O Homem Duplicado, assim, não é um filme agradável. Mas vale à pena para quem quer ver um filme tenso e bem feito.

Nota: 7

12 de abril de 2016

O Ditador

O Pequeno Ditador

The Dictator, Dir: Larry Charles, EUA, 2012, 1h24min
Netflix            IMDB                 Trailer                 Roteiro


Sacha Baron Cohen é famoso por seus personagens exóticos com sotaques estranhos e humor mais que politicamente incorreto. Funcionou na primeira vez com Borat, mas as produções sequentes Brüno e este O Ditador foram uma descida ladeira abaixo, não pelo politicamente incorreto, mas pela absoluta falta de graça com piadas vulgares e escatológicas.

No filme, Cohen interpreta o almirante-general Aladeen, o megalômano ditador de Wadyia, um país norte-africano. A inspiração é claramente no finado Muamar Kadafi, tirano maníaco sexual e playboy que governou a Líbia até a revolução que o derrubou. Na trama Aladeen está sendo pressionado pela ONU e pelas potências mundiais a liberar o acesso de inspetores a seu programa nuclear, e é pressionado a discursar na Assembléia Geral das Nações Unidas para evitar ataques preventivos a seu país. 

No início existe até uma certa graça em retratar os exageros narcisísticos do ditador. Ele chega ao cúmulo de criar a própria Olimpíada para ganhar várias medalhas. E altera o idioma para incluir seu nome como substituo para várias palavras, o que gera uma grande confusão na comunicação. Mas quando ele vai pra Nova York, aí a graça desaparece. Começa a ser uma sucessão de insultos e baixaria sem fim, a maior delas sobre seu par romântico, a esquerdista Zoey. A obsessão com piadas envolvendo sexo e pelos nas axilas da moça não tem fim (e nem graça). O filme acaba se resumindo a essas grosserias, como foi feito em Brüno.

Em Borat, Cohen, apesar das mesmas vulgaridades, criou humor em retratar os preconceitos dos cidadãos comuns dos EUA. Em Brüno e O Ditador sobraram somente as vulgaridades. Lamentável ver um artista que parecia ter um humor característico não conseguir sair do lugar.

O Ditador é um filme extremamente politicamente incorreto, vulgar e grosseiro. Há poucas coisas realmente engraçadas, o que deveria ser o propósito de um filme de humor. Recomendável somente para quem não superou o humor bobo e pesado da adolescência. 

Nota: 2

5 de abril de 2016

Django Livre

A Vingança dos Negros

Django Unchained, Dir: Quentin Tarantino, EUA, 2012, 2h45min
Netflix           IMDB                 Trailer                 Roteiro


Antes do recente Os Oito OdiadosQuentin Tarantino já havia contado uma estória passada no Velho Oeste em Django Livre. E de maneira muito superior ao seu mais novo filme.

No filme, acompanhamos a saga do escravo Django, que é comprado e alforriado pelo caçador de recompensas alemão Dr. Schultz para que o ajude a localizar alguns alvos que antes haviam sido seus feitores. No percurso, Django conta a estória de que foi separado de sua esposa e o assassino profissional decide ajudá-lo a ir buscá-la.

Tarantino aqui está em sua melhor forma tanto como diretor quanto como roteirista (tendo recebido seu segundo Oscar por roteiro original). Seus estilo de diálogos marcantes está muito afiado, com várias frases dignas de citação. A violência escatológica lembra em alguns momentos a de Kill Bill. E o humor é uma constante, especialmente quanto ao estilo culto e refinado do Dr. Schultz. Ao contrário de Os Oito Odiados, Django Livre apresenta uma grande variação de cenários e situações, sendo muito mais dinâmico que aquele. 

Tarantino, o cara esquisito que trabalhava na videolocadora e curtia todo tipo de filme B, sempre mostrou forte influência do subgênero western spaguetti (ou bangue bangue à italiana, como ficou conhecido no Brasil dos anos 70), marcado por produções italianas de baixo orçamento, com atores que tinham que ser dublados por não falar inglês, protagonizadas por anti-heróis, com muitos tiros e forte teor cômico e teatral, servindo como sátira ao heroico gênero americano do Western. Em Kill Bill tal influência já era muito nítida, especialmente dos filmes de Sergio Leone (em especial a "Trilogia do Dólar": Por Um Punhado de Dólares, Por Uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito) que estendia ao máximo a adrenalina que antecedia os conflitos, resolvidos de forma bem rápida. Aqui Tarantino vai pro mesmo cenário de seus mestres do subgênero e consegue parear com eles, se não superá-los.

Tarantino foi muito criticado por usar em seus filmes a palavra "nigger" ("crioulo", mas com muito mais peso e que mal pode ser dita nos EUA dos dias atuais). Curiosamente parece que poucos notam que ele sempre colocou negros em papéis de destaque em seus filmes e que neste a vingança do protagonista contra os brancos representa todo o ódio que séculos de escravidão produziram, claramente sendo favorável ao lado dos negros oprimidos (sem que os transforme em coitadinhos), e não dos brancos opressores do Ku Klux Klan (os quais ele ridiculariza neste filme). Acusar Tarantino de racismo, assim, é coisa de quem precisa compreender melhor o contexto. 

Ainda que quase todos os personagens sejam caricaturais, as atuações são espetaculares. Não é pra menos com o elenco reunido, que conta com a dupla de protagonistas já oscarizados à época, Jamie Foxx e Christoph Waltz (que conquistou sua segunda estatueta com o trabalho), além dos antagonistas, o recém-premiado Leo DiCaprio e o indicado Samuel L. Jackson.  Também no elenco a bela e talentosa Kerry Washington no papel da esposa de Django, e pequenas pontas de atores de renome, como Jonah Hill (que não mereceu mas já contabiliza duas indicações ao Oscar), Bruce Dern, Don Johnson e Franco Nero (protagonista do filme que inspirou o título, Django).

A parte técnica é cheia de caprichos tarantinescos: cenas filmadas por cima, figurinos caricatos, close-ups rápidos e, claro, litros de sangue jorrando pela tela. A fotografia (indicada ao Oscar) é linda, com os belos cenários selvagens da América inexplorada e das plantations de algodão do Sul.

Django Livre é um dos melhores Westerns já produzidos. Violento e divertido sem que por isso seja vulgar. Um prato cheio pra quem gosta de bom cinema e não se incomoda com os exageros tarantinescos.

Nota: 10

29 de março de 2016

Batman vs Superman

Confronto Precoce 

Batman v Superman: Dawn of Justice, Dir: Zack Snider, EUA, 2016, 2h31min
IMDB                 Trailer 


[SEM SPOILERS - O que será contado aqui já era de conhecimento geral pelos trailers que mostraram bem mais do que deviam]

Juntar os dois maiores super-heróis do imaginário popular, Batman e Superman, não poderia dar errado, não? Nas bilheterias e para os fãs de quadrinhos, Batman vs Superman: A Origem da Justiça já é um sucesso. Agora pra quem gosta de cinema, hum...

Escrevo este pitaco como fã de cinema, pois, nada contra, mas não sou fã de quadrinhos. Isso não quer dizer que estarei colocando este filme ao lado de filmes clássicos como O Poderoso Chefão ou filmes cult "estrangeiros" como O Segredo dos Seus Olhos. Sempre analiso filme voltados para o entretenimento dentro de seu contexto: produções feitas para faturar muito dinheiro. No entanto, os milhões de dólares gastos pelo público devem ser respeitados, por isso uma estória bem contada é o mínimo que os realizadores deveriam entregar. Infelizmente, não foi o caso aqui.

Batman vs Superman, apesar do título, é uma continuação do filme de 2013 O Homem de Aço no qual o Superman foi apresentado e em sua luta contra o vilão Zod destruiu metade de Metrópolis. O filme inicia-se aqui, mostrando como foi essa destruição na visão de Bruce Wayne. Tal acontecimento faz ele temer o poder quase infinito do Homem de Aço, e decide que ele tem de acabar com essa ameaça. Como já mostrado no trailer, depois surge uma ameaça maior, Zod transformado em monstro, e aos heróis se junta a mulher maravilha.

Todo o filme se inicia por um roteiro é aqui que estão os maiores problemas de Batman vs Superman. O maior é ter um excesso de tramas para contar e não desenvolver adequadamente nenhuma delas. Há um thriller político, que busca analisar o impacto da existência do Superman para a humanidade, há uma discussão filosófica sobre o mito divino ter se encarnado no personagem, há o romance entre Clark e Lois, há a relação de Clark com seus pais, há a parte de detetive e de pesadelos protagonizada pelo Batman, Lois Lane também realiza uma investigação, há uma pequena trama envolvendo a Mulher Maravilha, há a trama de Lex Luthor buscando ganhar acesso às tecnologias kriptonianas e há, ainda, uma rápida aparição dos demais personagens da futura Liga da Justiça: Flash, Aquaman e Ciborgue. E muda de um para outra trama sem pudores. Parece que o espectador está na TV mudando de canal a cada 5 minutos, vê um pouco de uma trama, depois vê um pouco de outra, e assim vai progredindo.

Assim o filme é raso e complicado, ainda que possa parecer que tais termos são contraditórios. Parece alguém contando um fato comum de forma atrapalhada. Algumas das tramas mal contadas, como a do Superman ser a concretização do mito divino, poderia ter sido melhor desenvolvida, o que proporcionaria um um filme muito melhor. Fica a sensação de que o roteiro desperdiçou boas tramas e desgastou a reputação de dois dos mais icônicos personagens dos quadrinhos e também do cinema.

Há também um problema para o espectador não iniciado no mundo dos quadrinhos com relação às referências aos gibis (neste site há várias delas). Há trechos em que o sentido é um para quem conhece o contexto dos personagens nas HQs e outro para quem só os conhece pelas telas. E o mencionado personagem Ciborgue só soube quem é por conversas com amigos fãs de quadrinhos que o conhecem. Ou seja, não há uma boa apresentação de personagens, fazendo essas aparições parecerem um teaser trailer dos filmes de personagens da DC que virão a seguir. 

Tudo isso revela que a DC percebeu o colosso que sua concorrente Marvel criou nos cinemas com suas estórias de super-heróis e quis correr atrás do prejuízo. De forma bem afobada. Muito melhor seria primeiro fazer um novo filme de cada um dos membros principais da Liga da Justiça para então fazer o confronto entre os maiores super-heróis e a criação do grupo. Da maneira que foi feito, o confronto aparentou ser precoce, não se criou uma expectativa em filmes anteriores, como a Marvel habilmente fez ao ir plantando sementes de discórdia entre o Homem de Ferro e o Capitão América que irá gerar um filme sobre o embate, o futuro lançamento Capitão América: Guerra Civil

Algumas das cenas de ação são interessantes, especialmente o esperado confronto entre os heróis. Ainda que se pensasse que o Batman não seria páreo para o Superman, o confronto é bastante equilibrado (e um pouco de kriptonita ajuda bastante). As cenas do Batman com seus veículos também são interessantes, mas inferiores aos mostrados na última trilogia do homem morcego dirigida por Christopher Nolan (produtor deste filme). De ruim, o confronto com o vilão, extremamente exagerado em pirotecnias, assim como o confronto final de O Homem de Aço ou a luta entre Obi Wan e Anakin em Star Wars: A Vingança dos Sith. Cenas de ação com menos explosões, fogo e cenários de impacto normalmente são superiores.

Com um roteiro tão lotado de tramas e com cenas curtas, as atuações não tem grande espaço. E pior ainda fica a direção de atores de Zack Snider, que deve querer só grandes expressões marcantes e não atuações sutis. Ben AffleckHenry Cavill não fazem feio, mas com esse tipo de direção pouco puderam mostrar além de expressões boas pra fotos, não pra cinema. Destaque para Jesse Eisenberg, que intepreta um Luthor adequado aos tempos de magnatas nerds e descolados do vale do Silício, fugindo da comparação com o estilo de nobre refinado adotado pelos ótimos intérpretes anteriores, Gene Hackman e Kevin Spacey, ainda que alguns critiquem essa transformação no caráter do personagem. 

O diretor tem sido bastante criticado por todos. Famoso por 300, sua composição visual abusa de câmeras lentas e quadros marcantes como nas HQs, como uma tela a ser emoldurada. A fotografia segue o mesmo problema de O Homem de Aço de usar baixa saturação e sombras marcantes. Tudo fica muito escuro e cinzento, como mostra este vídeo. Serve bem pro Batman, cinzento por natureza, mas não pros demais heróis coloridos.

Batman vs Superman: A Origem da Justiça desperdiça o potecial que seria a junção de seus heróis e não é um filme marcante para a Sétima Arte, como foram filmes anteriores de seus heróis, como Superman: O Filme e Batman: O Cavaleiro das Trevas, obras pensadas como filmes para o grande público baseados em personagens de HQs e não como obra mais voltada para o nicho dos fãs de quadrinhos, o chamado fan service. Vai agradar a esse público específico mas muito dificilmente aos leigos em quadrinhos.

Nota: 4

22 de março de 2016

As Sufragistas

As Sofredoras

Suffragette, Dir: Sarah Gravon, Reino Unido, 2015, 1h46min
IMDB         Trailer


Um tema pode ser muito nobre, mas a forma de ser mostrado pode estragar tudo. Esse é o caso de As Sufragistas, filme que conta a história das mulheres que lutaram pelo direito ao voto feminino na Inglaterra do início do século XX. Causa mais do que nobre, mas com todos os elementos cinematográficos fora do lugar. 

A trama acompanha a trajetória de uma empregada de uma lavanderia, Maud Watts, a princípio pouco engajada na luta feminina, mas que aos poucos se envolve na causa e se torna uma das líderes do movimento sufragista. 

Essa escolha pelo foco em uma só personagem de trajetória (mega) sofrida já indica o dramalhão que será apresentado na tela. Desnecessário esse foco no drama pessoal, que chega até a despolitizar o filme na medida em que mais importante é o sofrimento imposto à personagem do que a discussão sobre a causa pela qual ela luta. Fica parecendo as toscas novelas da Gloria Perez, sempre com temas ótimos a serem explorados mas que preferem focar na choradeira da mocinha. 

Há doses cavalares de maniqueísmo ao criar uma série de homens sádicos e desumanos. O chefe da heroína é um monstro perfeito: só quer que as funcionárias lhe deem lucro e saciem suas taras. A polícia também exerce papel de vilã ao ser apresentada como um grupo "que quer acabar com essas folgadas" (Muahahaha!).  O marido da mocinha é um banana sem muita opinião que quer somente obedecer as convenções sociais. Só há um personagem bem construído na estória que é o chefe da inteligência da polícia, que não age por ódio e mostra respeito pelas sufragistas, e só as persegue porque é seu trabalho. Obviamente existia e ainda existe opressão contra as mulheres, mas o filme chega a quase generalizar tal opressão.

A crítica que faço aqui é a mesma que fiz a filmes como Sniper Americano ou Ponte dos Espiões, pois também não acho que todos os combatentes iraquianos ou que todos os burocratas soviéticos eram sádicos. As Sufragistas segue essa mesma linha ao contar a história de uma heroína contra monstros, não uma luta entre humanos. Em oposição a esses filmes temos boas obras como 12 anos de Escravidão, em que não foi desnecessário se desumanizar o "sinhô", pelo contrário, ele é mostrado como um homem complexo mas extremamente passional, cujo sistema podre me que estava inserido permitiu que extravasasse sua fúria sobre outros. O mesmo se pode dizer do vencedor do Oscar Spotlight em que a culpa dos crimes da igreja é dividida com toda a sociedade bostoniana, sem demonizar os personagens.

Com um roteiro desses não se pode esperar muito das atuações. Carey Mulligan é boa atriz, mas nesse papel de heroína sofredora não poderia esperar ser lembrada em premiações relevantes. A situação é tão complicada que até Meryl Streep pareceu forçada na sua minúscula participação como a líder maior das sufragistas e em sua fuga da polícia ela arruma tempo para dar um conselho a heroína ainda novata na causa. Cena lamentável. Somente Brendan Gleeson merece elogios por seu trabalho como o chefe da inteligência, até por ser o único personagem mais complexo. 

Como dito, tecnicamente o filme também é um fracasso. A fotografia peca não pela escolha da paleta de cores escura ou pela iluminação fraca, mas pelos planos fechados em excesso e pelas câmeras tremidas sem qualquer função narrativa. A edição ainda piora isso e as cenas de ação são muito ruins, tão recortadas que mal dá pra acompanhar o que está acontecendo com quem. A música também é muito exagerada, caindo nos mesmos clichês narrativos que critiquei no mencionado Ponte dos Espiões.

Não conheço nada do trabalho anterior da diretora Sarah Gavon, mas a roteirista Abi Morgan assinou Shame, um filme bom e ousado, sobre um cara viciado em sexo. Impressionante como ela pode apresentar trabalhos com qualidade tão diversas.

As Sufragistas é filme péssimo porque ele usa os típicos clichês de heroísmo dos grandes filmes de estúdio hollywoodianos e é fraco tecnicamente. Melhores são os filmes mais cinzentos (desde que não os limitem a 50 tons!).

Nota: 2

15 de março de 2016

O Barco - Inferno no Mar

Tédio e Tensão

Das Boot, Dir: Wolfgang Peterson, Alemanha Ocidental, 1981, 3h28min
IMDB                 Trailer
Netflix


Lutar a segunda guerra mundial a bordo de um submarino alemão deve ter sido muito excitante, não? Mais ou menos... O Barco - Inferno no Mar, leva seus espectadores para dentro de um sujo, claustrofóbico e lotado U-Boat alemão, e nos mostra que, apesar de alguns momentos muito tensos em que se vivia no limite entre a vida e a morte, a rotina dentro de um destes barcos era extremamente entediante. 

A estória nos mostra toda a missão de um submarino durante a campanha alemã contra os navios mercantes britânicos na Batalha do Atlântico, cujo objetivo alemão era privar a Grã-Bretanha de recursos vitais para sua sobrevivência, como combustível e alimentos. Um dos aspetos mais interessantes aqui é desprezar o aspecto ético ou político. Os marinheiros não são retratados como heróis ou como vilões, mas como homens com uma missão a cumprir, da mesma forma que Hitler não foi retratado como monstro no ótimo A Queda - As Últimas Horas de Hitler. Tanto que se vê eles fazerem várias críticas ao governo nazista, ainda que junto a eles estivesse embarcado um "jornalista" a serviço do poderoso Ministério da Propaganda de Goebbels.

Alguns personagens são bem interessantes, a começar por seu capitão, um homem endurecido pelas batalhas, bem cínico sobre sua missão e sobre o regime que defende, mas que leva seus homens ao limite no cumprimento do dever. Também presentes um jovem oficial exemplo do patriotismo defendido pelos nazistas, um garoto inexperiente que comprou toda a propaganda de nacionalismo e sacrifícios feita pelo governo e repete bordões. O filme não deixa de mostrar os dramas pessoais dos marujos, que tem de lidar com o pavor de enfrentarem a morte passivamente pois, ao contrário de soldados de infantaria, em muitos momentos eles são meros passageiros do submarino.

O filme até hoje é a mais cara produção do cinema alemão, e seus aspectos técnicos são impecáveis. Foram criadas câmeras exclusivamente para sua realização, tendo em vista que o diretor optou por realizar diversas tomadas com câmera na mão no apertado set que simulava o interior do submarino. Os sons de explosões e de efeitos da pressão no casco do submarino também se destacam. Não foi à toa que recebeu 6 indicações ao Oscar.

Um porém, no Netflix está disponível a versão do diretor, em que ele acrescentou mais 50 minutos em relação a versão do cinema e deixou o filme com 3 horas e meia de duração. É bem cansativo de se ver e recomendo fazer em 2 partes.

O Barco - Inferno no Mar é um ótimo filme de guerra, que nos leva para dentro de um submarino alemão na Batalha do Atlântico. Em alguns momentos é cansativo, mas este efeito é propositalmente criado pelo diretor, para que possamos sentir aquilo que os marinheiros sentiam.

Nota: 8

8 de março de 2016

Deadpool

Dead Safadão  

Dir: Tim Miller, EUA, 2016, 1h48min
IMDB                 Trailer


Uma comédia de humor negro da Marvel? Por aí... Deadpool é o mais recente filme de super herói na praça. Uma produção relativamente modesta para esse tipo de filme, que custou 58 milhões de dólares quando o normal é gastar uns 200, o filme busca um personagem da Marvel pouco conhecido pelo grande público e faz muitas piadas com tudo, desde o gênero, passando pelo filme e até com o ator principal. Piadas até demais...

A trama mostra o mercenário malandrão Wade Wilson, que após um tratamento para se livrar de um câncer terminal adquire poderes que o tornam indestrutível, de maneira semelhante ao Wolverine. Mas o tratamento não era só para seu benefício. Além de extremamente duro, o objetivo final era vender os poderes mutantes que ele iria adquirir a quem pudesse pagar. E também levou o personagem a ficar desfigurado. Surge então uma estória de vingança em que Wade, transformado em Deadpool, resolve matar o homem que conduziu a experiência.

A sinopse, como se pode ver, é bem simples: uma estória de vingança e que depois se torna uma estória de resgate da mocinha aprisionada. Este não é o problema do filme, pois como mostrou o recente O Regresso, uma trama simples pode render uma boa estória. Mas o problema, como quase sempre em cinema, é como contar a estória.

Deadpool busca fazer isso por meio de violência extrema (tanto que no Brasil é proibido para menores de 16 anos), muito humor, quebra da quarta parede (quando o personagem conversa com o público) e diversas referências a outros filmes. No começo é divertido, a começar pelos créditos. Mas depois de uns 20 minutos, parece que é a mesma piada sendo repetida e repetida. Dá vontade de falar: "Tá bom, já entendi que você é bocudo e faz graça com tudo! Já deu!". Lembrou-me de quando assisti a Minha Mãe é Uma Peça, que desisti de ver na metade, por conta da afetação da personagem do Paulo Gustavo. Lembra um pouco também as paródias besteirol do tipo Todo Mundo em Pânico, por conta do amontoado de referências.

Ryan Reynolds, ao menos, se encaixa melhor neste papel do que no que ele sempre faz nas 5000 comédias românticas em que já "atuou". Ele realmente parece ser um tagarela chato. Mas também ele tem a malandragem e a entonação necessária para o estilo do personagem. Também no elenco a brasileira Morena Baccarin, interpretando a namorada de Deadpool.

Na parte técnica nada de muito inovador no cenário de super-heróis. O mais interessante são algumas cenas de ação com as acrobacias de Deadpool. Mas fica bem claro que é um filme de herói de pequeno orçamento (o que o próprio filme satiriza).

Deadpool é um filme que vai agradar além dos fanáticos por quadrinhos a um público muito específico: o dos filmes de ação, que gostam de comédias de humor negro e que não ligam muito pra roteiros sem muito a oferecer Quem gosta de somente um desses estilos não vai aproveitar muito. Como a parte de ação não é muito minha praia, não é o meu filme.

Nota: 4


P.S.: Em breve mais pitacos de filmes de super heróis que estrearão em breve: Batman vs Superman e Capitão América: Guerra Civil.

29 de fevereiro de 2016

Oscar 2016: Pós Cerimônia

Considerações

Alguns pitacos sobre a cerimônia de ontem:

- Não adiantou fazerem 5000 piadas envolvendo racismo e colocar negros para entregar boa parte dos prêmios. Conseguiram ainda piorar o que já estava ruim, tipo dizer "tenho amigos negros". O que é necessário é a indústria oferecer bons papéis aos negros (e outras minorias), fato bem lembrado pelo Chris Rock.

- Algumas zebras, como eu previa. Só acertei uma que foi a do Stallone perdendo pro Rylance. Ex Machina ganhando efeitos visuais foi a maior surpresa da noite. No total, errei 4 apostas das 20 categorias em que pitaquei: animação, canção, efeitos visuais e filme.

- A canção lixo do último 007 ganhou. E isso pouco depois da Lady Gaga ter emocionado a todos interpretando a canção tema de documentário sobre a violência sexual. O prêmio mais corta-clima da festa.

- O Chile já tem um Oscar (curta de animação) e o Brasil ainda não.

- Teve uma galera que foi mesmo pra Paulista comemorar o Oscar do Leo! 

- Spotlight é um grande filme. Ganhou só 2 prêmios porque o ótimo roteiro premiado se destaca com ótimas atuações, em que ninguém é protagonista.

- A Gloria Pires podia ter pedido pra ir ao banheiro no meio da cerimônia que seria menos feio.

- Aliás, qualquer um que veja os filmes cotados pra levar prêmios e leia um pouco sobre as notícias da premiação consegue estar melhor informado do que os apresentadores e comentaristas da TV.


E agora uma pausa para descanso após a Maratona do Oscar. Pitacos volta na semana que vem. 

26 de fevereiro de 2016

Oscar 2016: Apostas

And the Oscar Goes To...



Nos últimos dois meses foram publicados pitacos de quase todos os filmes que disputam os prêmios para longa-metragens de ficção. Na postagem sobre os Indicados do Pitacos foi discutida a justiça das indicações. Faltaram apenas análises de Joy e 45 Anos (atrizes principais), Straight Outta Compton (roteiro original), Cinderella (figurino) e O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu (maquiagem). 

Para quem quer entender melhor as categorias técnicas clique aqui pra ver um vídeo esclarecedor do Tiago Belotti.

Esta edição promete ter um pouco mais de surpresas que as duas anteriores (em que dava pra gabaritar a lista), pois existem algumas categorias com disputas acirradas e algumas que podem surpreender.

Como nas duas últimas edições (2015 e 2014), vou fazer a aposta do vencedor de cada categoria, votar no escolhido do Pitacos e fazer uma breve consideração. Não vou comentar as categorias de curtas e documentários, pois não vi nenhum dos concorrentes. Muitas das apostas são baseadas nas cotações das casas de jogo online, clique aqui para ver.

Criarei um post na conta do Facebook do Pitacos Cinematográficos e farei alguns comentários ao vivo durante a premiação. No dia seguinte à premiação terá pitaco com a análise dos premiados. No final deste post tem meus agradecimentos, algumas considerações e planos para o futuro do blog.

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Vamos então às Apostas do Pitacos (clique nos títulos para ler os pitacos sobre eles):


Melhor Filme

Vencedor: O Regresso
Pitacos escolhe: Idem

2016 chegou a ter uma batalha equilibrada entre 3 filmes: O Regresso, Spotlight e A Grande Aposta, pois os 3 ganharam prêmios importantes. O Regresso parece caminhar para a vitória, mas não será surpresa se algum dos outros dois vencerem. Também não será nenhum espanto se Mad Max: Estrada da Fúria vencer, em uma tentativa da Academia de sinalizar que não tem preconceitos contra blockbusters de ação.
Spotlight e O Regresso são grandes obras, o primeiro pela cinematografia excepcional e o segundo pelo ótimo roteiro e elenco. A Grande Aposta tem recebido um reconhecimento até um pouco exagerado para uma obra que se destaca mais pelo tema e pela edição espertinha. Mad Max é um espetáculo visual, mas sua ação em excesso faz perder alguns pontos. O Quarto de Jack é um grande filme e merecia ter mais chances.
Como esta é a categoria principal, segue a lista de preferências (os três últimos filmes sequer deveriam estar na disputa): 

Diretor

Vencedor: Alejandro G. IñárrituO Regresso
Pitacos escolhe: Idem

Iñárritu está se consagrando. O único que o ameaça é George Miller (Mad Max - Estrada da Fúria), pelo espetáculo visual criado - que seus detratores dizem ser um Circo de Soleil sobre rodas.


Atriz Principal

Pitacos escolhe: Idem

Performance espetacular de Brie Larson, uma das maiores interpretações recentes do cinema. Ganhou os 4 grandes prêmios que antecedem o Oscar (BAFTA, Globo de Ouro, Critics´ Choice e SAG) e diversos outros prêmios menores, e só não ganha o Oscar se um meteoro cair na Terra antes da premiação.


Ator Principal

Pitacos escolhe: Idem

Esse ano o prêmio é do Leo, que como Brie Larson ganhou tudo que podia até o momento. E o povo vai ter que criar novas piadas. 


Atriz Coadjuvante

Pitacos escolhe: Idem

A moça que encantou em Ex Machina mostrou sua competência em A Garota Dinamarquesa. Vai levar seu primeiro prêmio, pois seguindo assim, em breve virão outros.


Ator Coadjuvante

Pitacos escolhe: Mark Ruffalo - Spotlight

Aposta de zebra. O favorito é Stallone, mas como ele sequer foi indicado no SAG Awards (prêmio do sindicato dos atores), acho que nem com todo seu carisma ele ganha. Dos indicados meu favorito foi Ruffalo que criou um personagem afobado e combativo, sem exagerar. Mas quem merecia vencer sequer foi indicado, Idris Elba (Beasts of No Nation).


Roteiro Original

Vencedor: Spotlight
Pitacos escolhe: Ex Machina

Spotlight tem um roteiro excelente, que prende a atenção mesmo com os espectadores já sabendo o desfecho. Divertida Mente tem chances. Pelo texto reflexivo e existencialista, meu voto vai para Ex Machina.


Roteiro Adaptado

Vencedor: A Grande Aposta
Pitacos escolhe: O Quarto de Jack
A Grande Aposta vai levar por conta de sua forte crítica ao sistema financeiro e por sua forma bem humorada de tornar termos financeiros acessíveis ao público leigo. O Quarto de Jack merecia, pois conseguiu criar uma estória profundamente forte e dolorosa sem cair no melodrama.


Edição

Pitacos escolhe: Idem

A boa edição é fundamental em qualquer filme de ação. Neste ela dá um tom especial ao filme. A Grande Aposta tem uma edição engraçadinha e pode surpreender.


Fotografia

Vencedor: O Regresso
Pitacos escolhe: Idem

Cinco filmes muito bonitos e merecidamente indicados. Emmanuel Lubezki irá levar seu terceiro prêmio consecutivo com méritos (trinca que não ocorre em qualquer categoria desde 1953). Mad Max: Estrada da Fúria e Sicario são fortes concorrentes e merecedores do prêmio, mas dificilmente levam.


Canção Original

Vencedor: "Til It Happens To You", Lady Gaga - The Hunting Ground
Pitacos escolhe: Idem
Lady Gaga impressionou à Academia e ao público com a interpretação de canções de A Noviça Rebelde há dois anos no Oscar. Desta vez ela vai cantar e ganhar o prêmio por uma música forte criada para um documentário sobre violência sexual nas universidades americanas. Reencontro com o Leo à vista!


Figurino

Pitacos escolhe: Idem
A caracterização do universo distópico e de suas gangues malucas depende de seu excelente figurino. Cinderella tem chances.


Maquiagem e Cabelo

Pitacos escolhe: Idem

A maquiagem dos ferimentos do Leo em O Regresso impressiona, mas Mad Max depende visualmente da maquiagem na criação de seu universo distópico e merecidamente vai levar o prêmio. E só pelo título seria muito engraçado se o vencedor fosse O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu


Mixagem de Som

Pitacos escolhe: Idem

Prêmio garantido, com todos os méritos. A sequência dos tambores e da guitarra que aparecem em cena sincronizando com a trilha surpreende.


Edição de Som

Pitacos escolhe: Idem

Todo filme de ação exige um bom trabalho de captação e criação de efeitos sonoros. Mad Max o faz com perfeição.


Efeitos Visuais

Pitacos escolhe: Idem

Combinação perfeita entre efeitos visuais e práticos. Star Wars: O Despertar da Força também tem essa qualidade e é favorito, mas Mad Max surpreende pelas perseguições de carro e aposto no mais fraco.


Design de Produção

Pitacos escolhe: Idem

Prêmio garantido pelos cenários espetaculares e os veículos estilosos deste road movie. 


Trilha Sonora

Pitacos escolhe: Idem

Disputa de gigantes, os mestres John Williams e Ennio Morricone. O americano compôs uma linda música para a personagem central da nova trilogia de Star Wars (clique para ouvir), mas o italiano, criador das trilhas da ótima "Trilogia do Dólar", compôs uma música forte, sinistra e sombria que combina perfeitamente com o clima do filme onde ninguém é bom (clique para ouvir)


Longa Estrangeiro

Vencedor: Filho de Saul
Pitacos escolhe: sem voto
Não tive tempo de ver os estrangeiros, então não voto. O Filho de Saul venceu vários prêmios e deve levar o Oscar por tratar um tema que sempre chama a atenção da Academia, o Holocausto, e sob uma perspectiva diferente da convencional. 


Animação

Vencedor: Anomalisa
Pitacos escolhe: Idem

Aposta em zebra. Divertida Mente é amplo favorito, mas apesar das boas ideias o roteiro envolve uma jornada meio sem graça e a Pixar está se repetindo em seus enredos. Anomalisa é animação pra gente grande e extremamente bem feita. O representante brasileiro O Menino e o Mundo peca pelo roteiro maniqueísta.

Apostas feitas, agora é só aguardar a premiação.

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Agradeço a todos os que acompanharam a Maratona do Oscar no Pitacos, desde os raros que já liam as análises quando iniciei em 2007 até os queridos desconhecidos da internet que foram descobrindo o blog. Amo cinema e aqui compartilho minha opinião sobre o assunto, no desejo de contribuir com dicas de bons (e maus) filmes e também ajudar a refletir sobre as mensagens que as obras nos passam. 

Adoro quando comentam os pitacos e quando questionam meu ponto de vista, pois apenas expresso minha opinião e não escrevo verdades incontestáveis. A divergência é ótima para a reflexão.

Analisei muito mais filmes desta vez, não só os candidatos a melhor filme. A audiência triplicou. Nas duas últimas edições foram cerca de 500 visualizações em cada e nesta o número passou das 1500. Meus sinceros agradecimentos a todos que incentivam meu trabalho!

Desde o fim do ano passado aumentei a frequência e a regularidade dos pitacos e o rigor com a qualidade do texto e das informações (com links para quase tudo). Agora a ideia é lançar ao menos um pitaco semanal, às terças, e eventualmente outro às quintas, fazendo em média uns 5 ou 6 pitacos por mês. Também pretendo comentar mensalmente um grande lançamento, um filme antigo e um título disponível na Netflix

Aguardo suas futuras visitas à página!

Abraços,
Cristiano Fontes

25 de fevereiro de 2016

A Garota Dinamarquesa

Mudança Não Só de Hábito

The Danish Girl, Dir: Tom Hooper, Reino Unido/EUA/Bélgica, 2015, 1h59min
IMDB                 Trailer           


Quem somos nós em nosso íntimo? Por meio da trajetória de descoberta de uma transexual A Garota Dinamarquesa busca responder a essa questão. Recebeu 4 indicações no Oscar 2016: ator principal, atriz coadjuvante, figurino e design de produção.

O filme se baseia na história real de Lili Elbe, uma das primeiras transsexuais conhecidas do mundo. No início da trama a personagem ainda se apresenta como homem, o renomado pintor dinamarquês Einar Wegener. Sua esposa, a também pintora Gerda, um dia precisa finalizar um retrato e solicita que seu marido pose vestido de mulher. A partir daí inicia-se a lenta e delicada identificação de Einar com seu lado feminino.

Como não poderia deixar de ser, o filme ataca as convenções sociais sobre gênero. Einar nunca é mostrado como um degenerado, mas como uma pessoa que quer conhecer a si mesmo e que passa a se sentir profundamente incomodado com o gênero com que nasceu. 

O filme está sendo pouco exibido no Brasil e provavelmente por bons motivos. Em um país em que discussões acaloradas tiveram origem pela má interpretação de um texto dos anos 1960 de Simone de Beauvoir incluído em exame do ENEM - que afirmava, em sentido figurado, que ninguém nasce mulher - aceitar a discussão sobre a transgenia é visto pelos conservadores reacionários, como alguns vereadores de Campinas, como ato de depravados, ateus, comunistas e etc. 

Há relatos de sessões de cinema em que diversas pessoas começaram a gargalhar enquanto Einar ia aos poucos descobrindo sua feminilidade. As pessoas tem todo o direito de ir ao cinema pra rir, mas certamente na sala ao lado tinha uma comédia pastelão passando feita pra gargalhar mesmo acompanhada de muita pipoca e refrigerante. Agora, se entrou em uma sala com um filme cujo propósito não é humorístico, não custa respeitar os que lá estão para apreciar a obra. Talvez os que gargalharam não sabem, mas esse ódio extravasado em forma de risos apenas serve como defesa contra sua própria psiquê do sexo oposto - que não é gay, como gostam de dizer os heteronormativos. Triste notar tamanha imaturidade na população e prova de que a luta pela igualdade LGBTT ainda se faz muito necessária.

O roteiro do filme, apesar de lidar bem com o conflito do gênero, é um pouco linear demais. Sabe-se desde o início como a estória começa, os desafios que os personagens enfrentarão e como terminará (e o trailer, como tem sido comum atualmente, já entrega tudo). E há algumas explicações simplistas, como o mencionado fato de se vestir de mulher que funciona com gatilho para o processo de descoberta do protagonista.

Mas as limitações do roteiro não são obstáculo para o casal de protagonistas. Eddie Redmayne interpreta quase que dois personagens, pois as personalidades de seu eu masculino e de seu eu feminino são muito diversas. Ele consegue um desempenho comparável - se não melhor - à atuação que lhe rendeu o Oscar de 2015 na pele de Stephen Hawking por A Teoria de Tudo. Só não ganha porque este ano o prêmio já está certo na mão de Leonardo DiCaprio em O Regresso

Alicia Vikander encantou no surpreendente Ex Machina e aqui novamente se mostra como a maior revelação de 2015. Sua personagem consegue mostrar sua confusão em relação a um marido que repentinamente deixa de ser seu amante mas segue sendo seu melhor amigo (ou amiga). Fato que não é novo no Oscar mas que ainda assim causa estranhamento é sua indicação como coadjuvante, pois ela é em verdade coprotagonista. Ainda assim, é merecedora do prêmio.

O diretor Tom Hooper depende mais dos bons atores com quem trabalha do que de seu desempenho. Ele não atrapalha a estória mas também não ousa. Um diretor bastante mediano, mas já premiado em 2011 pelo também mediano O Discurso do Rei, em um ano em que todos os concorrentes tinham apresentado trabalhos melhores. O figurino do início do século XX é caprichado, mas a indicação a design de produção soa excessiva, pois os cenários são bem feitos mas não exuberantes como se espera de um indicado.

A Garota Dinamarquesa é um bom filme, especialmente pelas atuações da dupla principal. Não é recomendado para preconceituosos que não querem que suas profundas convicções infundadas sejam abaladas.

Nota: 7