Quase da Família
Dir: Anna Muylaert, Brasil, 2015, 112minIMDB: clique aqui
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Muito elogiado pela crítica e pelo público e indicado brasileiro para entrar na lista dos concorrentes ao Oscar 2016, Que Horas Ela Volta? conta a estória de Val (Regina Cazé), uma migrante nordestina que trabalha como empregada doméstica em uma mansão paulistana.
Após 10 anos sem se encontrar com sua filha adolescente que deixou no Nordeste, Jéssica (Camila Márdila), a garota decide ir a São Paulo para prestar o concorrido vestibular para arquitetura na USP. Sua chegada irá perturbar todo o ambiente da casa onde Val trabalha, conduzindo a trama.
O filme trata sutilmente de problemas da sociedade brasileira, como a desigualdade social e a desintegração familiar, focando na complicada relação entre patrões e empregados. Ao mesmo tempo em que há submissão há um estranho afeto, o popular "ela é quase da família". A análise não se restringe só aos problemas criados pelos patrões, mas tambem nos criados pelos empregados que, como Val, defendem fielmente sua condição de subalternos. E surgem problemas como a substituição do afeto: o carinho que Val não pôde dar à sua filha deu em doses cavalares ao filho da patroa, o mimado e infantilizado Fabinho (Michael Joelsas).
Mas o filme não é uma chatice sociológica, como o badalado pela crítica O Som ao Redor. Há humor na medida certa no filme, mas nada que se assemelhe a comédias nacionais grotescas, como S.O.S. Mulheres ao Mar 2, que me embrulhou o estômago só de ver o trailer. Como dito, as críticas são sutis, mas estão bem presentes e bem construídas. A delicadeza com que Anna Muylaert conduz seu filme lembra muito a forma adotada pelos ótimos cineastas argentinos. Ela não quer dar um soco no espectador, mas um tapa com luva de pelica.
Responsável tanto por roteiro como por direção, Muylaert não cria nenhuma cena desnecessária. Todas elas são relevantes e bem pensadas, como na apresentação de Jéssica aos patrões, em que a menina chega segurando uma pilha de pratos para servir a sobremesa, denotando sua posição social naquele ambiente. Também é muito bem feito o sutil contraponto de Val em pé no ônibus enquanto em suas janelas está refletido um outdoor com a imagem de Neymar, comparando os sonhos dos pobres com sua dura realidade.
Os diálogos são bem escritos, soando como atuais e reais. A edição garante um ritmo perfeito ao filme, sem ser enrolado e sem querer contar a estória de forma apressada. A fotografia é discreta, mas inteligente, com destaque para o enquadramento que frequentemente mostra Val na cozinha com uma pequena fresta na porta para ver a sala de jantar.
Após 10 anos sem se encontrar com sua filha adolescente que deixou no Nordeste, Jéssica (Camila Márdila), a garota decide ir a São Paulo para prestar o concorrido vestibular para arquitetura na USP. Sua chegada irá perturbar todo o ambiente da casa onde Val trabalha, conduzindo a trama.
O filme trata sutilmente de problemas da sociedade brasileira, como a desigualdade social e a desintegração familiar, focando na complicada relação entre patrões e empregados. Ao mesmo tempo em que há submissão há um estranho afeto, o popular "ela é quase da família". A análise não se restringe só aos problemas criados pelos patrões, mas tambem nos criados pelos empregados que, como Val, defendem fielmente sua condição de subalternos. E surgem problemas como a substituição do afeto: o carinho que Val não pôde dar à sua filha deu em doses cavalares ao filho da patroa, o mimado e infantilizado Fabinho (Michael Joelsas).
Mas o filme não é uma chatice sociológica, como o badalado pela crítica O Som ao Redor. Há humor na medida certa no filme, mas nada que se assemelhe a comédias nacionais grotescas, como S.O.S. Mulheres ao Mar 2, que me embrulhou o estômago só de ver o trailer. Como dito, as críticas são sutis, mas estão bem presentes e bem construídas. A delicadeza com que Anna Muylaert conduz seu filme lembra muito a forma adotada pelos ótimos cineastas argentinos. Ela não quer dar um soco no espectador, mas um tapa com luva de pelica.
Responsável tanto por roteiro como por direção, Muylaert não cria nenhuma cena desnecessária. Todas elas são relevantes e bem pensadas, como na apresentação de Jéssica aos patrões, em que a menina chega segurando uma pilha de pratos para servir a sobremesa, denotando sua posição social naquele ambiente. Também é muito bem feito o sutil contraponto de Val em pé no ônibus enquanto em suas janelas está refletido um outdoor com a imagem de Neymar, comparando os sonhos dos pobres com sua dura realidade.
Os diálogos são bem escritos, soando como atuais e reais. A edição garante um ritmo perfeito ao filme, sem ser enrolado e sem querer contar a estória de forma apressada. A fotografia é discreta, mas inteligente, com destaque para o enquadramento que frequentemente mostra Val na cozinha com uma pequena fresta na porta para ver a sala de jantar.
No elenco, a única conhecida é Regina Cazé, sendo que seu trabalho como atriz não é o mais conhecido de sua carreira. Sua atuação é ótima, sabendo alternar entre drama e humor de forma magistral. Os demais atores também defendem bem suas personagens, com destaque para a já citada Camila Márdila. Ambas foram merecidamente contempladas com o prêmio do júri para filmes dramáticos estrangeiros no badalado festival americano de Sundance. Prova de que um bom filme não necessita de atores renomados. Aliás, o tal S.O.S. Mulheres ao Mar 2 tá cheio de globais toscos, como Giovanna Antonelli, que me horroriza com sua interpretação exagerada com caras e bocas só de ver propaganda da novela.
Que Horas Ela Volta? é um ótimo filme, um dos melhores brasileiros nos últimos anos, e prova de que os cineastas brasileiros podem fazer bons filmes, sem necessitar de recorrer nem aos pastelões globais idiotizantes nem aos chatos filmes exploradores da miséria. Tem minha torcida pro Oscar 2016.
Nota: 9
P.S: Crítica no YouTube do Tiago Belotti: https://www.youtube.com/watch?v=FB4WCTQG7AI