E eu gosto de meninos e meninas
La vie d`Adèle, Dir: Abdellatif Kechiche, França/Bélgica/Espanha, 2013, 179 min
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Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes 2013, Azul é a Cor Mais Quente causou muita polêmica por, alem de envolver um amor lésbico, ter cenas de sexo muito pesadas, bem mais fortes que o "polêmico" beijo gay da novela das nove. Obviamente, como sempre, quem é homofóbico e está feliz sendo assim, melhor passar longe, pois vai dizer que é só uma sem-vergonhice, apologia à homossexualidade, "o que vão ser de nossas crianças" e outros argumentos ultraconservadores. Agora, quem acha que tudo isso é besteira, que o desejo é inato e que não será um filme que vai fazer alguém preferir A ou B, pode gostar do que verá.
O filme, em suas 3 horas, vai num ritmo lento, mas não o achei arrastado ou enrolado. Não se vê, contudo, pressa em contar a estória. Muitas cenas são do cotidiano banal de Adele, com a câmera muitas vezes focada em seu rosto, mostrando a sutileza de seu estado de humor enquanto tenta se descobrir no mundo.
A trama acompanha Adele (a naturalmente bela Adele Exarchopoulos) bem de perto, como muitos closes em situações bem íntimas dela, como babando ao dormir, numa busca do diretor em torná-la uma pessoa qualquer, sem nada de especial. A primeira parte do filme mostra Adele na escola descobrindo a vida sexual, com um ficante que não combina nada com ela, mas a trata bem. Após sua primeira relação sexual ela diz que "foi demais", enquanto sua expressão facial mostra um tédio total. Tanto que não demora para encerrar este caso.
Aí surge em sua vida Emma (Léa Seydoux, a assassina de Missão Impossível 4 e a moça do antiquário em Meia Noite em Paris), a garota do cabelo azul, com a qual ela se encanta no primeiro olhar. Ao contrário da tímida e simples colegial Adele, Emma é uma pintora e estudante de artes, intelectualizada, engajada politicamente e já experiente sexualmente. Mas percebe que para conquistar Adele terá de ir aos poucos, pois existe a barreira da homossexualidade, e Adele vive em um ambiente bem conservador, tanto quanto a sua família quanto a seus amigos, bem diferente de Emma, habituada ao mundo de intelectuais e artistas.
A segunda parte do filme já mostra a fase adulta de Adele, após passar a viver junto com Emma e a dificuldade do relacionamento, como qualquer outro, acrescido da dificuldade em ter convívio social normal tentando esconder sua homossexualidade.
O filme não pretende ser uma bandeira para o movimento gay. Adele não está interessada em defender nenhuma causa, como mostra seu desinteresse em uma parada gay e seu esforço para se divertir neste ambiente. Adele somente quer amar.
Não que o filme não trate do preconceito. Uma das melhores cenas é com as "amigas" de escola de Adele, que, ao verem ela caminhando junto a Emma na saída da aula, fazem um interrogatório no dia seguinte, e uma das integrantes da patota questiona se ela não tinha outra intenção quando foi dormir em sua casa. Como se a orientação sexual de alguém impedisse de ter amigos do gênero pelo qual tem desejo.
Muitas coisas não são ditas no filme, o que faz com que seja necessário que se leia as expressões faciais das atrizes, e que se compare situações distintas em diferentes momentos, como a comparação da intensidade de Adele em sua relação sexual com seu ficante da escola e com Emma, ou como se dá a aproximação entre esses e a protagonista.
Nota: 9