23 de outubro de 2007

Tropa de Elite

Osso duro de roer

Tropa de Elite
Dir. José Padilha, Brasil, 2007, 118min


O filme do ano, como vem sendo anunciado pela mídia, dispensa muitos comentários sobre sua história, já que provavelmente todos os leitores desse blog já o viram. Então, posso fazer uma análise do filme sem necessidade de contar a história.

A estrutura narrativa é simples. Apresenta na primeira cena uma situação tensa que, linearmente, ocorre na metade do filme, retorna dois anos ao passado para explicar os fatos que levaram a ela, e prossegue com a história.

Como dito, a primeira metade do filme, mostra como se chegou ao ponto do primeiro clímax. Tal parte tem um andamento mais lento, para permitir ao espectador conhecer as personagens envolvidas. Nessa parte, são apresentados o Bope em ação, a esposa do Capitão Nascimento, a corrupção da PM, os estudantes de direito que participam de uma ONG no morro e os traficantes.

Dificilmente, seria possível retratar tais grupos sem tintas fortes, já que não há tempo suficiente em um filme para mostrar o outro lado. Assim, o Bope é apresentado como a tropa incorruptível, ao passo que o restante da PM é mostrado como um agrupamento do qual só corruptos fazem parte. Da mesma maneira que os estudantes são retratados como um grupo de maconheiros filhinhos de papai que só discutem e pouco fazem. Paciência para quem se sentiu mal retratado, se o filme fosse mostrar que há policiais honestos na PM e corruptos no Bope, e que há estudantes que tem idéias diferentes, o filme não andaria.

A junção de todas essas partes é feita pelo Aspirante André Matias, estudante de direito e melhor amigo do também aspirante Neto, um oficial que sonha em ser um Rambo, mas vê seu sonho distante no dia a dia da PM. Matias é a personagem mais complexa do filme, por ser tanto um ser pensante quanto um ser atuante, servindo assim de olhos da platéia para o que acontece em cena.

Após a primeira parte, Matias e Neto conhecem o Bope, ao serem salvo por este. Em seguida, alistam-se para o treinamento do Bope. Essa é a melhor parte do filme. Apesar de já explorado em diversos filmes do cinema americano, como Nascido para Matar e No Limite da Honra, o filme tem o mérito de apresentar um treinamento militar brasileiro, coisa que filme nenhum jamais havia mostrado, especialmente pelos ideais esquerdistas dos cineastas brasileiros de apresentar a polícia como inimigo. Outro mérito, segundo várias fontes ouvidas por jornais, é que o treinamento é bem fiel a realidade, sendo até mais manso do que é na realidade, já que já foi registrada morte de um homem em treinamento após ficar horas nas águas de uma represa.

O filme, que está dando muito pano para manga nos jornais e nas conversas pelo Brasil, foi considerado fascista por muitos. Isso me lembra o pessoal de esquerda da faculdade, para quem qualquer um que não tenha as mesmas idéias que eles são assim rotulados. Tropa de Elite não toma partido, apenas mostra uma realidade nua e crua. Há quem considere o Capitão Nascimento um herói (51% da população, segundo a Veja). Não se pode culpar um filme pela visão das pessoas, isso só se deve a crise de valores em nossa sociedade, que, assustada pela violência, não se importa com quem use métodos ilegais, como tortura e assassinato, para combater a criminalidade.

Apesar de ser, de fato, o filme do ano, Tropa de Elite não pode ser considerado o melhor filme brasileiro de todos os tempo, longe disso. Considero, inclusive, que foi acertada a decisão de colocar como representante para o Oscar O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, não só por ser mais ao gosto da Academia, mas por ser uma história mais bem contada e rever um período tão retratado no cinema nacional de uma maneira bastante diferente.

Nota: 8

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