21 de fevereiro de 2015

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Santa Coincidência, Batman!

Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Dir: Alejandro González Iñárritu, EUA/Canadá, 2014, 119min
Ficha no IMDB: clique aqui
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Birdman, ao lado de O Grande Hotel Budapeste, é o campeão de indicações ao Oscar 2015, disputando 9 categorias. E concorre em quase todas as categorias nobres: filme, diretor, roteiro original, ator (Michael Keaton), ator coadjuvante (Edward Norton) e atriz coadjuvante (Emma Stone). Merece ganhar tudo.

Antes mesmo de ver o filme, impressionou-me a genialidade metalinguística de fazer um filme sobre um ator em decadência que anos antes foi marcado por ter feito um super-herói de destaque no cinema. Qualquer um com mais de 30 anos certamente quando olha para Michael Keaton imediatamente se lembra de Batman em sua primeira versão cinematográfica. Mas aqui ele é... Birdman! Ou seja, Michael Keaton interpreta um personagem inspirado em... Michael Keaton! Uma sacada genial!

Se você não gosta de filmes que tem um quê de maluquice, como O Clube da Luta, já lhe adianto que não vai gostar do filme e xingar este pitaqueiro pelos elogios à produção.  Confirmando isso, na primeira cena Keaton está flutuando. Não faltaram avisos!

O enredo como já adiantado é sobre o tal ator, Riggan Thomson, que 20 anos antes era o famoso Birdman. No presente ele investiu tudo o que tinha para produzir, roteirizar, dirigir e atuar em uma peça da Broadway, buscando ver seu talento reconhecido e sua carreira reconstruída. Ou seja, mais metalinguagem, pois Keaton estrelando o filme é o mesmo que Riggan querendo se reerguer na Broadway.

Devido a problemas com o ator coadjuvante, odiado por Riggan, entra em seu lugar Mike Shiner (Edward Norton), renomado ator de teatro que trata com desdém as celebridades do cinema. O conflito entre esses dois opostos conduzirá boa parte do restante do filme. Além disso, Riggan tem de lidar ao mesmo tempo com a estreia da peça, com sua namorada que é atriz da peça e que pode estar grávida, Laura (Andrea Riseborough), com a outra atriz cheia de expectativas em sua primeira peça na Broadway, Lesley (Naomi Watts), com sua filha recém saída da clínica de reabilitação, Sam (Emma Stone), enquanto é assessorado por seu melhor amigo Jake (Zach Galifianakis). E pairando sobre tudo está Birdman, a voz que Riggan ouve constantemente e quer que ele retome os dias de grandeza. Enfim, Riggan está envolvido em problemas.

O filme aborda muitos temas atuais e atemporais. Nossa sociedade que dá mais atenção a factoides publicados em tabloides do que ao talento dos artistas está constantemente em debate. O imediatismo da internet e das curtidas das redes sociais também. E, por trás de tudo isso, a eterna necessidade de reconhecimento do ser humano diante do seu medo da falta de significado da vida. Todos esses elementos estão muito bem inseridos no filme.

O roteiro é excelente, recheado de humor (com tiradas de celebridades reais) e com diálogos muito bem construídos. Obviamente, nem mesmo o melhor diálogo já escrito funcionaria sem ter atores competentes para dar-lhe vida. Mas isso não é problema para Birdman. Todos os atores, até mesmo o medíocre gordinho da série Se Beber Não Case, estão ótimos. Keaton e Norton conduzem com muito talento o filme, merecendo os prêmios a que concorrem, assim como Emma Stone.

Ainda que não vençam, Keaton já está recebendo o tão sonhado reconhecimento como ator e Norton retomando o rumo de sua carreira, que surgiu como promissora após As Duas Faces de Um Crime, foi crescendo com A Outra História Americana e Clube da Luta e que vinha oscilando desde A Última Noite, tendo realizado papéis medíocres no período, como em O Ilusionista.

A condução técnica surpreende. O filme todo é construído como um plano-sequência, ou seja, como se não houvesse cortes de câmeras. A dificuldade técnica para conseguir fazer isso é imensa. Já relatei antes meu espanto com o grande plano-sequência de O Segredo de Seus Olhos. Não há palavras para descrever um filme inteiro feito com essa técnica. E mesmo diante dessa dificuldade técnica, a fotografia é ótima, alternando espaços, luzes e cores constantemente.

Birdman, assim, está na minha lista dos melhores filmes do século XXI. Dos últimos 15 vencedores do Oscar, o único filme que considero no mesmo nível é Beleza Americana. A nota, claro, não poderia ser outra.

Nota: 10

Um comentário :

  1. Excelente resenha! Desfrutei muito deste filme pelo bom enredo e narrativa. Realmente vale a pena todo o trabalho que o elenco fez, cada detalhe faz que seja um grande filme. É um dos filmes de drama mais interessantes de Michael Keaton além do filme sobre o Mc Donalds que ele estrenou no ano passado . Vale muito à pena, é um dos melhores do seu gênero. Além, tem pontos extras por ser uma historia criativa. Se vocês são amantes do trabalho desse ator este é um filme que não devem deixar de ver.

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