12 de março de 2007

Cartas de Iwo Jima

Os inimigos não são selvagens

Iwo Jima, Dir. Clint Eastwood, EUA, 2006, 141min


O outro lado da moeda de A Conquista da Honra, retratando o lado japonês na batalha de Iwo Jima.
Complementando o filme citado, Cartas enfoca a preparação e a ação da batalha, já que em  Conquista o eixo é a repercussão. A história tem como personagem central o General Kuribayachi, comandante da ilha, vivido pelo excelente Ken Watanabe, o líder samurai de O Último Samurai. O general chega à ilha às vésperas da batalha, e desde o princípio causa desconforto dentre os oficiais locais por suas idéias divergentes das comuns entre os japoneses.
Assim, fica nítido que o general terá de enfrentar o descrédito de seus comandados, que ainda o consideram simpatizante dos EUA, devido ao fato dele ter estudado no país inimigo. De cara, Kuribayachi, questiona a preparação que estava sendo feita, com resistência na praia, alegando que esta não seria a melhor forma de defesa, abortando o plano já em execução e criando a estratégia de defesas subterrâneas.
Outra personagem relevante é o soldado Saigo, ex-padeiro que tem a função de mostrar o combate sob a ótica dos combatentes, que em certas situações se vê com problemas com seus oficiais e é salvo pelo general, num lance do acaso.
Iniciada a batalha, o filme retrata as dificuldades japonesas no conflito. A primeira delas é a falta de suprimentos. Os soldados passam dias sem comer e beber nada, já que a ilha é improdutiva, enquanto os bombardeios norte-americanos são incessantes. Além disso, a derrota é dada como certa, restando ao General Kuribayachi convencer seus homens de que vale à pena continuar lutando, pois isso daria um dia a mais de paz ao território japonês, contrariando assim o antigo código de ética dos samurais, que estabelecia que quando a derrota é iminente, o combatente deve se sacrificar em prol de sua honra.
O filme também trata de questões que envolvem a guerra. Uma delas é a demonificação do inimigo. A propaganda de ambos os lados apresenta o outro como covardes, selvagens e atribui outros adjetivos inferiorizadores ao inimigo. A captura de um soldado americano do qual um oficial lê a carta para a mãe comove os soldados japoneses, que percebem que ele não é selvagem como lhes diziam. Outra é que brutalidades são cometidas por ambos os lados, ao mostrar uma rendição de soldados japoneses que são mortos por sentinelas americanos porque esses tinham medo de ficar vigiando-os na escuridão. E por fim, que seus inimigos podem estar a seu lado, como no exemplo do oficial que mata um desertor. No entnato, esses argumentos não são novidade. Outros filmes já bateram nesta tecla, como Além da Linha Vermelha e  Resgate do Soldado Ryan.
Na comparação entre os dois filmes, A Conquista da Honra apresenta um fator mais contestador, pois Clint questiona os valores de seus próprio país, ao questionar se os heróis merecem tal desiganação. Cartas de Iwo Jima, por ser um filme do lado japonês dirigido por um americano, apresenta detalhes que tentam colocar os EUA como nação superior, e merecedores da vitória.
Um deles é o fato do personagem central e um de seus oficiais serem admiradores dos EUA, o que nos mostra que o país deva ser respeitado por seus inimigos. Outro detalhe importante no conjunto dos filmes é que nenhum americano demonstra respeito pelos japoneses, o que neutralizaria o efeito causado pelo respeito americano. Contribui para isso também o fato de nenhum japonês ter tido uma aparição razoável em Conquista, enquanto que em Cartas há vários diálogos no idioma, e alguns personagens americanos.
Assim, Clint apresenta os americanos como superiores e como merecedores da vitória na guerra, apesar de mostrar que os japoneses não são monstros. Para quem quer um filme que analisa melhor os dois lados do confronto entre EUA e Japão a sugestão é Tora! Tora! Tora! disponível em DVD, em que cada lado é produzido por seu país.

Nota: 6
[ 1 comentário]
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