15 de dezembro de 2015

Star Wars, A Trilogia Clássica

Recapitulando




A poucas horas do lançamento do novo Star Wars: O Despertar da Força, seguem os pitacos para a trilogia clássica.

Episódio IV - Uma Nova Esperança

Filme que revolucionou o cinema e ajudou a desenvolver o conceito da indústria do blockbuster, Uma Nova Esperança (mais conhecido somente como Star Wars, ou antigamente Guerra nas Estrelas) apresenta temas mitológicos clássicos, em especial a jornada do herói. Uma Nova Esperança surpreende desde o início, com os dizeres de que uma estória futurista ocorreu há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante, seguida pela espetacular música tema de John Williams e os caracteres amarelos que sobrem em diagonal até se perder na imensidão. E na sequência surge a clássica tomada do destróier estelar perseguindo a nava da Princesa Leia, filmado em um ângulo em que a nave parece colossal.

A estória tem uma clara inspiração em contos de fada, em que um jovem simples, Luke Skywalker (Mark Hamill) tem que resgatar uma princesa, Leia (Carrie Fisher) das garras de um poderoso vilão, Darth Vader (David Prowse, com voz de James Earl Jones), ensinado por um sábio mestre, Obi Wan Kenobi (Alec Guiness, um dos maiores atores do cinema à época) e com a ajuda de um cínico anti-herói imoral, Han Solo (Harrison Ford) e seu ajudante o peludo Chewbacca (Peter Mayhew) e em companhia de 2 androides que assistem a tudo de perto, o simpático R2-D2 (Kenny Baker) e o resmungão C-3PO (Anthony Daniels). No final, o jovem cumpre toda a tarefa, só não vence o vilão principal, que escapa do ataque final e voltará muito mais forte na sequência.

Aqui são apresentados boa parte dos elementos de Star Wars: a luta entre o bem e o mal, representada pela Aliança Rebelde e pelo Império, a existência de uma velha ordem de cavaleiros, os Jedi, que utilizavam a Força para cumprir sua missão de manter a paz e a ordem na Velha República, e para isso usavam seus icônicos sabres de luz. Star Wars nunca se preocupou com realismo científico, sendo que o maior exemplo é o som no espaço. Mas, vamos ser sinceros, as batalhas entre caças espaciais não seriam tão divertidas sem o som dos tiros e explosões.

No campo dos efeitos visuais e sonoros Star Wars foi absolutamente revolucionário. Muitas das coisas lá presentes nunca haviam sido feitas antes. E, a maior das surpresas, foi ter conseguido fazer isso com um orçamento bastante modesto para superproduções da época, cerca de 10 milhões de dólares.

Ao final, tudo parece caminhar bem para os heróis. Mas, 3 anos depois, surge o novo filme para mostra que não era bem assim.

Nota: 9

Episódio V - O Império Contra-Ataca

Considerado como o melhor filme da saga por 99 entre 100 fãs de Star Wars, O Império Contra-Ataca inicia-se com a busca incansável de Darth Vader por Luke Skywalker. Após a descoberta de sua base no primeiro filme, os rebeldes estão se instalando no gelado planeta de Hoth.

Quebrando os paradigmas dos filmes de aventura, que normalmente deixam a batalha para o final, O Império Contra-Ataca posiciona o confronto entre os exércitos antes da metade do filme. E isso não quebra seu clímax, pois haverá ainda fortes emoções pela frente. Aqui é apresentado o poderoso Mestre Yoda, um pequeno ser verde e grande conhecedor dos mistérios da Força, que tem de continuar o treinamento de Luke nas artes Jedi. Durante esse treinamento, Han Solo, Leia, Chewbaca e C-3PO tem de fugir da perseguição da poderosa frota imperial em meio a um campo de asteroides, resultando na sequência espacial mais bonita de toda a saga. Por fim, fogem para a Cidade das Nuvens, onde caem em uma cilada armada por Vader. Luke, então pressentindo o perigo, parte para salvar seus amigos, e tem de enfrentar Vader. Surge aqui o maior momento da saga, quando Vader revela a Luke que é seu pai.

O filme é o melhor de todos e não há nada que poderia ter feito ele ser melhor. A parte técnica é belíssima. Quanto à trama, a ausência de uma intimidadora Estrela da Morte não faz o Império parecer mais fraco, ao contrário, pois no filme anterior o poder imperial foi mostrado somente com um cruzador, alguns caças e a superbase. Neste, vemos o poder de parte da frota imperial, com um super destróier ocupando a tela em sua apresentação, bem maior que o destróier que parecia gigantesco no primeiro filme. E também é mostrada a primeira batalha terrestre da saga, com os gigantes tanques AT-AT Walkers.

Luke deixa de ser um personagem ingênuo e passa por provações e dúvidas. Vader, ao contrário do filme anterior, que parecia ser só mais um burocrata do Império, aqui se mostra como o Supremo Comandante das Forças Imperiais que é, sendo inclemente com os oficiais que comentem erros. Todos os personagens ganham profundidade, sendo o filme em que suas personalidades melhor são desenvolvidas.

O incrível do filme é que apresenta sua maior revelação, o fato de Luke ser filho de Vader, nos últimos minutos de projeção, deixando a questão em suspenso, com em uma novela ou seriado. A diferença é que nesses a dúvida seria resolvida no dia ou na semana seguinte e na trilogia o público teve de esperar 3 anos para a confirmação da resposta. Alguns questionam o final em aberto, com Luke em dúvida existencial e Han levado congelado em carbonita para o vilão Jabba. Mas essa é a grande força deste filme tão sombrio. E então surge a última parte para encerrar a estória.

Nota: 10

Episódio VI - O Retorno de Jedi

Preguiça. Talvez essa seja a palavra para descrever o roteiro escrito por George Lucas e Lawrence Kasdan para fechar a saga. A começar pela grande ameaça que é, novamente, a Estrela da Morte. George Lucas, nos comentários de Uma Nova Esperança afirma que escreveu originalmente um filme só e que posteriormente, quando percebeu que a estória era muito grande, teve de dividi-la em 3 partes. A Estrela da Morte apareceria somente no ato final, mas para que a primeira parte tivesse um clímax, deslocou-a para esta. A atitude é bastante compreensível, tendo em vista que o primeiro filme deveria se mostrar financeiramente viável, e para isso é necessário um momento de catarse. Mas, sendo assim, custava ter um pouco mais de capricho e criar uma outra ameaça na última parte, já que já usou a Estrela da Morte na primeira? Enfim, só isso já revela a preguiça que se seguirá ao longo do filme.

O filme começa bem. Após mostrar que o Império está projetando a nova Estrela da Morte, a grande batalha entre Império e Rebeldes é deixada em suspenso para que os heróis resolvam seus próprios problemas, com o resgate de Han Solo no palácio de Jabba, the Hut. Aqui temos uma boa sequência que vai expandido o universo de Star Wars, mostrando cada vez mais que a galáxia não vive somente do conflito entre o Império e os Rebeldes. Jabba tem um poder à parte deste conflito, como um poderoso senhor feudal. Luke mostra-se um personagem maduro, já praticamente um cavaleiro Jedi, poderoso e seguro. A luta final contra o vilão, que parece uma lesma gigante, e seus comandados é talvez o maior clímax do filme (e aí surge Leia vestida de escrava odalisca, motivo de sonhos eróticos de toda uma geração).

Após isso, a estória retoma o conflito Império x Rebeldes e nos leva a pequena lua de Endor, de onde é controlado o escudo de defesa da Estrela da Morte, que deve ser capturado para o ataque final ao Império. Aí surgem em cena os nativos do local, os fofinhos ewoks, que só existem para infantilizar a saga, na ideia de que é possível que um bando de ursinhos de 1 metro de altura armados de lanças e pedras vençam o todo poderoso Império Galático. Não só sua existência é um problema, pois consome-se muito tempo na apresentação desses "ursinhos carinhosos", quando poderia-se trabalhar temas bem mais interessantes, como o conflito entre Luke e Vader.

No fim, por conta desse tempo perdido, tudo é contado de maneira apressada: Luke tem seu confronto final com Vader sob os olhos do imperador, que quer trazê-lo para o lado negro da Força, ao mesmo tempo em que Han e Leia estão tentando tomar a usina geradora do escudo da Estrela da Morte e que a frota rebelde lança seu ataque final à base e cai em uma cilada da frota imperial. Até mesmo o confronto de sabres de luz perde a intensidade do que ocorreu em O Império Contra-Ataca. No final, Vader, compadecido com o sofrimento de Luke sob os poderes do Imperador, se redime e lança seu mestre em um fosso. No entanto, fica fragilizado por ter absorvido os poderes do Imperador e pede para que Luke remova sua máscara durante sua agonia. Luke por fim crema o corpo de seu pai (daí resultando na máscara deformada que será mostrada no novo filme) e depois se junta aos rebeldes na celebraçãozinha na vila dos ewoks.

Nota: 6



Esse foi um resumo. Os comentários estão abertos para quem quiser tratar outro tema que não tenha sido abordado. Agora é esperar para saber o que ocorreu após isso, pergunta a ser respondida nos primeiros momentos do novo filme. Sejam legais e não soltem spoilers após ver O Despertar da Força. 

Que a Força esteja com vocês!



P.S: Se tudo der certo, como sou fã e vou na estreia à 0h01 de quinta-feira, lanço o pitaco (sem spoilers) sobre o novo filme no mesmo dia.

24 de novembro de 2015

O Ano Mais Violento

O Caminho do Bem

A Most Violent Year, Dir: J.C. Chandor, EUA/Emirados Árabes, 2014, 125min
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Filme que foi elogiado por parte da crítica e completamente ignorado pelo Oscar 2015, O Ano Mais Violento se passa no inverno de 1981 em Nova York, período mais violento da história da cidade. Apesar do título, o filme não vai fazer uma análise sobre os problemas de violência, mas contar uma estória bem específica, de um empresário que tenta vencer em seu negócio de venda de óleo para aquecimento em meio a este difícil contexto (e pelas estatísticas que li, esse ano mais violento de NY não é muito pior do que tem sido a realidade de todas as cidades médias e grandes do Brasil atual).

Abel Morales (Oscar Isaac) é um imigrante latino que se fez sozinho à base de muito trabalho. Mas no momento em que busca uma grande expansão em seu negócio, se vê pressionado por vários lados: pelos frequentes assaltos a suas cargas e por seus motoristas que querem andar armados, por uma investigação do ministério público a seus negócios, pelo dono do terreno que ele negociou e não aceita a prorrogação de seu pagamento, pelos bancos que lhe negam crédito, pelos seus competidores que ele suspeita que são os responsáveis por roubar suas cargas e até mesmo pela esposa (Jessica Chastain), filha de mafioso que questiona seus métodos.

Esses conflitos que envolvem Abel e seu dilema moral entre seguir tentando ser correto ou de se deixar levar por toda a podridão que o cerca conduzem o filme. O roteiro tem seus problemas, pois há muitos diálogos desinteressantes, parece que o filme vai andando em círculos e que não se sabe bem onde vai chegar. A edição compromete ainda mais isso, fazendo um filme um pouco enfadonho. Há alguns momentos de muita tensão, mas a violência é mais representada pela sua ameaça do que por tiros e sangue jorrando na tela.

A direção de J.C Chandor conduz muito bem seus atores, que são o ponto mais forte do filme. Oscar Isaac e Jessica Chastain são dois dos atores mais talentosos de sua geração. Após muitos elogios da crítica com filmes mais artísticos, ambos agora se lançam em blockbusters, ele terá papéis de destaque em Star Wars e em X-Men e ela fez parte do elenco de Perdido em Marte (clique aqui para ler o pitaco) e estará em O Caçador e a Rainha de Gelo. Ela já foi indicada ao Oscar por sua ótima performance em A Hora Mais Escura, e ele, se seguir com boas atuações como essa e a de Ex-Machina (clique aqui para ler o pitaco), em breve estará disputando o prêmio. Completa o elenco outro bom ator, David Oyelowo, que foi esnobado pelo Oscar 2015 com sua boa interpretação de Martin Luther King em Selma (clique aqui para ler o pitaco). Em cena, todos entregam um ótimo trabalho.

Na parte técnica, há uma bela fotografia e uma ótima produção de época. Também as esparsas cenas de ação são bem conduzidas de forma realista, sem pirotecnias, efeitos especiais ou tiros pra todos os lados.

O Ano Mais Violento é um filme que exige uma certa disposição do espectador que não deve querer ver tudo explicado de forma rápida. Talvez o seu realismo seja tanto que faça o filme se parecer com a vida real, onde as coisas se desenvolvem lentamente, sem muita linearidade e de forma chata. Mas é um bom filme, especialmente pelos ótimos atores.

Nota: 7


17 de novembro de 2015

Aliança do Crime

Bandidos sem Scorsese

Black Mass, Dir: Scott Cooper, EUA/Reino Unido, 2015, 122min
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Está correndo por aí a piada de que Aliança do Crime é um filme de gangsteres sem o talento de Martin Scorsese. Sem deméritos à esforçada produção, mas é por aí. 

O filme conta a história real de James "Whitey" Bulger (Johnny Depp), um dos criminosos mais procurados da história dos EUA, que conseguiu destruir todos os seus rivais e expandir sua organização criminosa graças à aliança que estabeleceu com um amigo de infância que se tornou agente do FBI, John Connolly (Joel Edgerton), pelo qual se tornaria informante do órgão em troca de imunidade.

Esses dois homens são bastante complexos. Bulger é um bom vizinho e um pai atencioso e, simultaneamente, um criminoso ambicioso e matador impiedoso. Connolly quer fazer seu trabalho como policial e destruir a máfia italiana, mas ao mesmo tempo quer ganhar as manchetes de jornal e também provar a seu velho amigo de infância que é um cara que merece respeito (ainda que o respeito que ele almeje seja o de um criminoso frio e sanguinário).

O roteiro e a direção não têm nada de especial, mas são bem feitos. Destaca-se a boa delimitação do recorte temporal, mostrando a ascensão de Bulger até a queda de seu esquema. Após isso, ele passou anos foragido, mas o filme somente cita o fato, já que este período é uma estória à parte. Interessante observar que o filme não mostra nenhum sinal externo de empoderamento de Bulger, que sempre se parece o mesmo. Sabe-se que ele cresceu por conta dos diálogos e nada mais. Isso é válido, na medida em que Bulger, como boa parte dos gangsteres bem sucedidos, controlam um império silencioso. Quem for assistir não deve esperar um filme de ação, pois não é disso que se trata. Há algumas cenas bastante violentas, mas as mais tensas são as que mostram somente ameaças.

O maior problema do filme é a péssima maquiagem de Johnny Depp. A careca é notadamente artificial, com os cabelos laterais parecendo de boneca. As lentes de contato azuis são ainda piores, atrapalhando a atuação, pois os olhos são um dos elementos mais marcantes em atuações cinematográficas. Os produtores poderiam ter relexado mais na caracterização e deixado Depp mais à vontade. Mas talvez Depp já esteja incorporando maquiagens pesadas à sua persona, em vista de suas constantes mudanças de visual.

Johnny Depp dessa vez pegou um papel menos caricato do que os que vinha fazendo (Jack Sparrow, Chapeleiro Maluco e Willy Wonka), merecendo a atenção da crítica. Ele vai bem no filme, mas não é um trabalho digno de estatueta do Oscar, como está sendo apontado. Apesar de caricato, prefiro sua performance no primeiro Piratas do Caribe (que lhe rendeu uma de suas 3 indicações). O verdadeiro protagonista é Joel Edgerton, que é um ator canastrão, mas aqui seus exageros interpretativos casam bem com seu personagem, que possui uma vaidade ímpar. Os demais atores vão bem, incluindo o ótimo Benedict Cumberbatch, em papel secundário.

Aliança do Crime é um bom filme de criminosos, que, mesmo sem Martin Scorsese, consegue contar bem sua estória, sobretudo em razão das atuações.

Nota: 6

12 de novembro de 2015

007 Contra Spectre

Desfecho Regular para a Fase de Craig como Bond

Spectre, Dir: Sam Mendes, Reino Unido/EUA, 2015, 148min
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007 está de volta após sua melhor aventura, 007 - Operação Skyfall (não fiz o pitaco, mas daria nota 8).  E mais uma vez a estória busca revelar mais sobre a personagem mais constante do cinema, cujo nebuloso passado quase nunca tinha sido mostrado. No entanto, decepciona.

A trama começa com Bond resolvendo pendências deixadas pela falecida M. Aliás, o filme começa com um longo plano sequência muito bem realizado. A trilha que ele segue o leva a uma poderosa organização secreta, a Spectre, entidade que já tinha existido nos velhos tempos de Sean Connery como Bond. E também vai-se mais a fundo no passado de Bond e mostra a conexão havida em todas as estórias da atual fase de Bond, ligando Vesper Lynd, Le Chiffre, Greene e Silva.

No filme anterior vimos o louvável resgate de alguns elementos do universo Bond, como a reintrodução da secretária Moneypenny, do inventor Q, do Aston Martin e do retorno da música tema. Nesse, o resgate continua, mas, infelizmente, parece que quiseram resgatar o que Bond tinha de mais caricato e que foi alvo das ótimas paródias de Austin Powers. Estão de volta o exército de capangas uniformizados, o vilão com paletó de gola reta e Bond enfrentando 15 caras de uma só vez. Uma pena, pois nessa fase com Daniel Craig no papel principal, notou-se uma busca por um certo realismo (na medida do possível para a série, obviamente), em clara inspiração na série concorrente de Jason Bourne. Retoma-se, assim, o que houve de pior em filmes de Bond, especialmente nas fases em que o protagonista foi vivido por Roger Moore e Timothy Dalton.

Como sempre, os cenários e a fotografia do filme são muito bem feitos. Contudo, as cenas de ação tem a edição muito recortada, o que normalmente torna a cena cansativa para o espectador. O ótimo diretor Sam Mendes, aclamado pela obra-prima Beleza Americana e responsável pelo filme antecessor, perdeu um pouco a mão aqui, talvez por conta do roteiro que quis resgatar estes pontos fracos da série Bond.

Daniel Craig, ao que tudo indica, em sua última aparição como Bond, mostra-se completamente à vontade no papel, superando as críticas que fizeram quando foi escolhido por ser loiro, baixo e forte. A talentosa Léa Seidoux mostra sua versatilidade ao encarar uma bond girl muito feminina e sexy, papel diametralmente oposto ao que protagonizou no recente Azul É a Cor Mais Quente (clique aqui para ler o pitaco). E o fenomenal Christoph Waltz encarna o típico vilão sádico característico da série, não mostrando o seu melhor aqui, mas também não faz feio. E há ainda espaço para um capanga fortão e indestrutível, vivido pelo ex-lutador de luta-livre Dave Bautista, seguindo a tradição de Oddjob e Jaws.

E também cabe o destaque da música-tema, uma das piores da série, interpretada por Sam Smith em gritos agudíssimos (link aqui). A comparação com a exuberante Adele cantando o ótimo tema do filme anterior é imediata (link aqui). A propósito, clique nos links para ouvir algumas das melhores músicas da série: GoldfingerViva e Deixe Morrer (do mito Paul McCartney), Os Diamantes são EternosNa Mira dos AssassinosLicença para MatarO Amanhã Nunca Morre e Casino Royale.

007 contra Spectre perde a linha que estava sendo bem construída nessa nova fase. Faz bem em cavar mais a fundo a origem de Bond, mas erra ao incorporar os elementos mais caricatos das tramas anteriores. Uma melancólica provável despedida para Daniel Craig.

Nota: 5

10 de novembro de 2015

Ex Machina

Máquina do Amor

Dir: Alex Garland, Reino Unido, 2015, 108min
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A Inteligência artificial levada à sério. Isso é o que se pode esperar de Ex Machina, filme britânico que, infelizmente, sequer passou pelos cinemas brasileiros, sendo lançado diretamente em DVD, e passando despercebido por boa parte da crítica e do público.

Assim como fiz no pitaco de Vingadores - Era de Ultron (clique aqui para ler), novamente sugiro aqui o ótimo texto do blog Wait But Why que trata dos computadores pensantes (clique aqui), que podem ser a maior revolução na História ou podem ser o caminho mais curto para a completa aniquilação humana.

Na trama, um programador de um grande conglomerado de buscas da internet (qualquer semelhança com o Google não é mera coincidência), Caleb (Domhnall Gleeson), é sorteado para passar um tempo com o dono da empresa, Nathan (Oscar Isaac). Quando chega ao local ele descobre que seu propósito de estar lá seria o de aplicar o Teste de Turing, que consiste em avaliar se uma máquina consegue se passar por humano (aliás, o brilhante Alan Turing ganhou recentemente uma cinebiografia bem meia boca, O Jogo da Imitação, clique aqui para ler o pitaco). No caso, de cara Caleb sabe que estará lidando com uma máquina, e o desafio será de buscar alguma inconsistência que ateste que a máquina não é uma mulher, como parece.

Uma das características mais notáveis na androide Ava (Alicia Vikander) é o fato de ter como uma de suas características o componente sexual. Aliás, qualquer um que queira criar uma máquina que se passe por humano não pode esquecer disso. Começa aí o jogo de sedução e manipulação entre Ava e Caleb, que deixa o protagonista completamente perdido com relação a todos os seus referenciais na vida.

O roteiro é denso e intelectualmente complexo. As discussões envolvem filosofia e semiótica (a ciência que estudo os sistemas de significação), necessárias quando se discute inteligência artificial, tendo em vista que para tentar recriar o pensamento humano temos que entender o que é o pensamento humano. Há também algumas referências culturais relativamente refinadas, como citações ao pintor contemporâneo Jackson Pollock e ao criador da bomba nuclear, Robert Oppenheimer.

O filme tem um cenário bastante simples, se passando quase que por completo na mansão meio subterrânea meio integrada à natureza de Nathan. Os efeitos visuais da criação do corpo de Ava são muito bem feitos. A música discreta casa-se perfeitamente ao tema, gerando um incômodo e uma tensão permanentes.

O elenco também acompanha essa simplicidade, com apenas 4 personagens, com grandes atuações. O protagonista, Domhnall Gleeson, é o que menos se destaca, mas não deixa a desejar. Seu antagonista, Oscar Isaac, surpreende no papel, compondo uma personagem muito enigmática. Vale lembrar que ambos estarão presentes no aguardado Star Wars: O Despertar da Força (que pretendo analisar aqui no dia do seu lançamento). E Alicia Vikander seduz e confunde a todos com seus belos e grandes olhos. Todos eles são estrelas em ascensão em Hollywood e vale guardar seus nomes (Vikander está cotada para uma indicação à atriz coadjuvante pelo futuro lançamento A Garota Dinamarquesa).

A direção do novato Alex Garland (que tem em seu currículo alguns roteiros, incluindo o deste filme) é bastante eficiente e extrai o máximo desse minimalismo de cenários e personagens. A edição também é bastante competente em manter a tensão permanente.

Ex Machina é um filme muito bom e merece ser visto por quem gosta de uma estória focando tema atual, uma boa trama e boas atuações. Até o momento, é a melhor produção em língua inglesa de 2015.


Nota: 8

3 de novembro de 2015

Ponte dos Espiões

Ponte dos Clichês Americanos

Bridge of Spies, Dir: Steven Spielberg, EUA, 2015, 141min
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Em mais um filme da sua linha séria, o celebrado diretor Steven Spielberg conduz os espectadores ao conturbado período da Guerra Fria, e traz com ele, pela quarta vez, Tom Hanks como protagonista. O filme é baseado em uma história real muito interessante e é bem conduzido em boa parte. Contudo, o acúmulo dos exageros patrióticos do filme põe tudo a perder no final.

[Atualização: Na corrida do Oscar 2016 recebeu 6 indicações: filme, ator coadjuvante, roteiro original, design de produção trilha sonora e mixagem de som. Só tem chances em ator coadjuvante e design de produção (que são merecedoras de elogios), mas possivelmente não vai ganhar nada.]

No primeiro ato da trama, o advogado Jim Donovan (Tom Hanks) é requisitado para defender um espião soviético que agia em solo americano, Rudolf Abel (Mark Rylance). No segundo ato, após o processo em que ele consegue salvar seu cliente da pena de morte, ele é requisitado pela CIA para trocá-lo por um prisioneiro americano, um piloto abatido na URSS, Francis Powers (Austin Stowell), que estava em poder dos soviéticos.

De início já temos de relevar algumas patriotadas do filme. Como costuma ocorrer, há uma quase profissão de fé em torno do "american way of life" e do sistema legal do país (com direito a cena com as crianças prestando juramento patriótico em sala de aula, bastante desnecessária ao andamento da trama). Como a estória é boa e bem contada (até certa parte, que discutiremos em breve), dá pra aceitar tais exageros, já que não tomam tanto espaço.

A primeira cena é bastante interessante, parecendo se tratar de um filme europeu, pois faz uma longa tomada do espião russo, sem diálogos, só focando em pequenos gestos de sua rotina e o monitoramento que o FBI realiza sobre ele. A espionagem aqui passa longe dos delírios cinematográficos da linha James Bond/Ethan Hunt. 

A primeira parte tem diversos méritos, especialmente por discutir o papel do advogado de defesa no exercício da Justiça. Donovan passa a ser visto com desdém por boa parte da sociedade e sua posterior insistência em recorrer a Suprema Corte após já estar afastada a possiblidade de pena de morte passa a incomodar até mesmo seus sócios e sua família, que não entendem porque ir tão longe com esse caso. Tal construção é muito interessante, pois seria necessário que todos pudessem diferenciar o advogado do cliente que ele defende. Defender bandido não é ser bandido. Depois que vimos no Brasil advogados de réus célebres sendo agredidos na rua (leia a notícia aqui) é bom reforçar isso.

Na segunda parte, Donovan tem de fazer a troca de prisioneiros à margem dos contatos oficiais dos países, e aí os problemas do roteiro do filme começam a se agravar (provavelmente os brilhantes irmãos Joel e Ethan Cohen, que são corroteiristas, pararam por aí). Berlin Oriental provavelmente não era o melhor lugar do mundo para se viver no início dos anos 60, mas as cores são extremamente carregadas por Spielberg. Os soldados alemães orientais são retratados como um bando de trogloditas loucos para bater nos traidores do socialismo. E o maniqueísmo spielbergiano torna-se ainda mais evidente. Enquanto mostra o piloto americano sendo submetido a tortura psicológica pelos soviéticos, com privação de sono e água fria na cara, para revelar seus segredos, o soviético preso nos EUA é sempre mostrado com tratamento de primeiro mundo. Depois do que o mundo viu o que ocorreu em Guantánamo e Abu Ghraib, é quase impossível que o espectador bem informado acredite em tamanha benevolência dos americanos.

E no clímax do filme parece que estaciona na ponte da troca dos espiões um caminhão de clichês e despeja todo seu conteúdo. Os diálogos, as tomadas, o cenário, a música e as atuações, ou seja, todos os elementos, servem para compor o heroísmo de Donovan, servindo como metáfora dos EUA.

E o que já estava ruim fica ainda pior, pois Spielberg, em sua obsessão patológica por finais felizes, parece se ver obrigado a contar como é o retorno de Donovan para casa, o que poderia ser suprimido do filme e melhorado a obra. Tal final lembrou-me muito de A.I.: Inteligência Artificial, em cujo fim há uma cena linda, em que o pequeno andróide fica vivendo em uma esperança vã eterna. Se o filme terminasse ali seria uma grande obra. Mas Spielberg estraga a ideia original que tinha trabalhado com o genial Stanley Kubrick e inventa uma estória sem pé nem cabeça, em que tem que trazer aliens para a Terra (é isso mesmo!) e fazer a alegria do robozinho. [Errata: como fui corrigido por dois comentários, não eram ETs, mas robôs mais avançados. Peço desculpas pelo erro, mas não muda minha opinião sobre o final].

Apesar dos defeitos do cinema de Spielberg, é inegável a grande qualidade técnica de todos os filmes em que ele se envolve. A fotografia é discreta em muitos momentos, utilizando-se de muitos cenários escuros iluminados somente por luz que vem de uma janela. Nos momentos com maior ação sempre há câmeras em movimento. O design de produção é bem feito, com apuro nos detalhes. E a edição não cansa o espectador, especialmente com as pitadas de humor inseridas nos momentos corretos.


O filme conta com somente dois atores em papéis realmente importantes, os mencionados Hanks e Rylance [atualização: indicado ao Oscar de coadjuvante]. Hanks está em sua melhor atuação dramática desde Náufrago (e lá se vão 15 anos), e é quase certo que só seu nome já basta para lhe garantir uma indicação ao Oscar, já que ganhou a indicação até mesmo com sua atuação razoável em Capitão Philips (clique aqui para ler o pitaco). A produção até comete um erro de escalação ao colocar um ator de renome como Alan Alda em um papel quase que figurante e que nada acrescenta. Uma boa surpresa é ter o bom ator alemão Sebastian Koch, protagonista do ótimo A Vida dos Outros (clique aqui para ler o pitaco), no papel de um agente da Alemanha Oriental.


Tenho um profundo respeito por Spielberg, que revolucionou o cinema na virada entre os anos 70 e 80. Mas desde os anos 90, em que fez em sequência os celebrados Jurassic Park e A Lista de Schindler, não apresenta nenhum filme memorável. Aliás, revi recentemente esse último, e apesar de haver um herói relutante e um vilão nazista monstruoso, Spielberg conduz o filme de maneira muito mais séria e com a mão muito mais calibrada.

Apesar disso tudo, a chance da Academia ignorar toda essa patriotada (ou não só ignorar, como vibrar com todos esses exageros de endeusamento da nação) e incluir o filme em diversas categorias no próximo Oscar é quase certa, haja vista que outra patriotada maniqueísta como Sniper Americano (clique aqui para ler o pitaco) estava na lista de melhores filmes na última premiação [atualização: previsão confirmada].

Ponte dos Espiões tem todos os méritos técnicos dominados por Hollywood mas que desperdiça uma boa estória em meio a seu maniqueísmo e patriotismo exagerados. O que faz o espectador mais culto querer fugir cada vez mais de filmes de estúdio, já que parece que em todas as estórias contadas por eles é necessária a presença de um herói, e não de pessoas reais. A seriedade e o realismo passam longe.

Nota: 4

20 de outubro de 2015

Que Horas Ela Volta?

Quase da Família

Dir: Anna Muylaert, Brasil, 2015, 112min
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Muito elogiado pela crítica e pelo público e indicado brasileiro para entrar na lista dos concorrentes ao Oscar 2016, Que Horas Ela Volta? conta a estória de Val (Regina Cazé), uma migrante nordestina que trabalha como empregada doméstica em uma mansão paulistana.

Após 10 anos sem se encontrar com sua filha adolescente que deixou no Nordeste, Jéssica (Camila Márdila), a garota decide ir a São Paulo para prestar o concorrido vestibular para arquitetura na USP. Sua chegada irá perturbar todo o ambiente da casa onde Val trabalha,  conduzindo a trama.

O filme trata sutilmente de problemas da sociedade brasileira, como a desigualdade social e a desintegração familiar, focando na complicada relação entre patrões e empregados. Ao mesmo tempo em que há submissão há um estranho afeto, o popular "ela é quase da família". A análise não se restringe só aos problemas criados pelos patrões, mas tambem nos criados pelos empregados que, como Val, defendem fielmente sua condição de subalternos. E surgem problemas como a substituição do afeto: o carinho que Val não pôde dar à sua filha deu em doses cavalares ao filho da patroa, o mimado e infantilizado Fabinho (Michael Joelsas).

Mas o filme não é uma chatice sociológica, como o badalado pela crítica O Som ao Redor. Há humor na medida certa no filme, mas nada que se assemelhe a comédias nacionais grotescas, como S.O.S. Mulheres ao Mar 2, que me embrulhou o estômago só de ver o trailer. Como dito, as críticas são sutis, mas estão bem presentes e bem construídas. A delicadeza com que Anna Muylaert conduz seu filme lembra muito a forma adotada pelos ótimos cineastas argentinos. Ela não quer dar um soco no espectador, mas um tapa com luva de pelica.

Responsável tanto por roteiro como por direção, Muylaert não cria nenhuma cena desnecessária. Todas elas são relevantes e bem pensadas, como na apresentação de Jéssica aos patrões, em que a menina chega segurando uma pilha de pratos para servir a sobremesa, denotando sua posição social naquele ambiente. Também é muito bem feito o sutil contraponto de Val em pé no ônibus enquanto em suas janelas está refletido um outdoor com a imagem de Neymar, comparando os sonhos dos pobres com sua dura realidade.

Os diálogos são bem escritos, soando como atuais e reais. A edição garante um ritmo perfeito ao filme, sem ser enrolado e sem querer contar a estória de forma apressada. A fotografia é discreta, mas inteligente, com destaque para o enquadramento que frequentemente mostra Val na cozinha com uma pequena fresta na porta para ver a sala de jantar.

No elenco, a única conhecida é Regina Cazé, sendo que seu trabalho como atriz não é o mais conhecido de sua carreira. Sua atuação é ótima, sabendo alternar entre drama e humor de forma magistral. Os demais atores também defendem bem suas personagens, com destaque para a já citada Camila Márdila. Ambas foram merecidamente contempladas com o prêmio do júri para filmes dramáticos estrangeiros no badalado festival americano de Sundance. Prova de que um bom filme não necessita de atores renomados. Aliás, o tal S.O.S. Mulheres ao Mar 2 tá cheio de globais toscos, como Giovanna Antonelli, que me horroriza com sua interpretação exagerada com caras e bocas só de ver propaganda da novela.

Que Horas Ela Volta? é um ótimo filme, um dos melhores brasileiros nos últimos anos, e prova de que os cineastas brasileiros podem fazer bons filmes, sem necessitar de recorrer nem aos pastelões globais idiotizantes nem aos chatos filmes exploradores da miséria. Tem minha torcida pro Oscar 2016.

Nota: 9

P.S: Crítica no YouTube do Tiago Belotti: https://www.youtube.com/watch?v=FB4WCTQG7AI

7 de outubro de 2015

Perdido em Marte

Marte Ataca!

Dir: Ridley Scott, EUA, 2015, 141min
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Como diz a piada que está correndo a internet, depois de O Resgate do Soldado Ryan, Interestelar e com este Perdido em Marte, Matt Damon comprova que ele dá muito trabalho pra ser resgatado! Neste filme [atualização: que concorre ao Oscar de melhor filme, ator, roteiro adaptado, design de produção, efeitos visuais, edição de som e mixagem de som, sendo diversas dessas indicações sem motivo, como analisado a seguir], Damon é Mark Watney, um astronauta que é dado como morto após um procedimento de abortamento de missão em meio a uma tempestade de areia no Planeta Vermelho e deixado para trás.

Como diria o protagonista em seu vídeo, obviamente, ele não morreu. Ele acorda no sol seguinte (dia marciano, com quase a mesma duração do terrestre) ferido e tem de dar um jeito de sobreviver. E desde o início ele sabe que não será fácil, pois seus suprimentos não irão durar muito e uma missão de resgate levará anos para chegar.

Este é o primeiro ato do filme, com Watney diante de uma morte quase certa tendo de se preparar para evitá-la, através de seus conhecimentos. Uma série de problemas vai surgindo e ele tem de buscar uma solução para cada um deles. No segundo ato, a estória começa a mostrar o que ocorre aqui na Terra, mais especificamente na NASA, quando percebem mudanças nas imagens no local da missão e concluem que Watney está vivo. A parte final é o resgate propriamente dito.

O filme tem como premissa o engrandecimento do ser humano que busca sobreviver frente a dificuldades extremas, usando para isso seu conhecimento e engenhosidade. Seria assim uma mistura de Náufrago, em um ambiente ainda mais hostil e com um protagonista com mais conhecimento da natureza, com Gravidade, mas com mais tempo e recursos para o protagonista sobreviver, e Apollo 13, com seus improvisos com objetos de missão espacial.

A edição é extremamente bem feita, com alternância entre lindas panorâmicas marcianas (vale à pena ver em 3D), com pitadas de humor e os desafios de sobrevivência e planejamento do resgate, e não deixa o espectador cansado em suas 2h20 de projeção. A produção é impecável, com um visual incrível. Assim, ainda é cedo, mas o filme tem chances de figurar entre os indicados ao Oscar em categorias técnicas, como de edição e de design de produção [atualização, o filme ficou de fora em edição mas concorre a design de produção e em efeitos visuais].

Matt Damon faz um bom trabalho em segurar sozinho o filme por um longo tempo [atualização: mas não merecia a recebida indicação ao Oscar]. Jessica Chastain interpreta a comandante da missão em um trabalho ok, mas longe de outras atuações dela, como em A Hora Mais Escura. E o bom Chiwetel Ejiofor está um pouco exagerado como o chefe da missão de Marte.

O roteiro mantém o interesse na estória, mas tem uns buracos e umas soluções um pouco preguiçosas [atualização: e não mereceu a indicação ao Oscar]. O maior buraco é o fato da personagem central nunca ter um momento de loucura, só umas irritações, que certamente seria uma consequência do isolamento. E com relação às soluções simples vemos Watney narrando ao seu diário de bordo todas as suas experiências em detalhes básicos para não iniciados em ciência É interessante para divulgar ciência e explicar ao espectador o que está acontecendo, mas pouco crível que um cientista iria narrar o óbvio para si mesmo.

A parte científica pode não ser a mais acurada possível mas está sendo elogiada pela crítica. Dizem que a futura missão tripulada à Marte terá características muito próximas do retratado no filme.

O problema do filme está em seus clichês típicos do gênero de superproduções. O maior deles é o efeito bomba-relógio. Sempre as coisas tem de ser arranjadas de última hora. Tem cena em que chega a perturbar, pois os arranjos deveriam ter sido feitas quando decidido como seria o resgate, e não quando a missão já estava a caminho. Também tem um certo exagero em como é mostrada a comoção na Terra pelo retorno de Watney, pois parece que o mundo se resume a Nova York e Londres. Mas, enfim, dá pra não levar isso muito a sério.

O veterano diretor Ridley Scott, de clássicos como Blade Runner, Alien e Gladiador recupera parte de sua credibilidade com esta produção, após os fiascos que foram O Conselheiro do Crime (apesar dos ótimos atores) e o horroroso Êxodo: Deuses e Reis.

Perdido em Marte é um bom filme de ficção-científica/sobrevivência, mesmo com seus incômodos clichês de superprodução. Bom para aqueles que gostam de estórias de superação e celebração do ser humano.

Nota: 7

17 de agosto de 2015

Metallica: Some Kind of Monster

Terapia Heavy Metal


Dir: Joe Berlinger/Bruce Sinofsky, EUA, 2004, 141min
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Antes que aqueles que olhem para este filme pense, "ah, mas isso é só para os fãs de metal...", esqueçam. Este filme não é uma ode ao Metallica, mas uma profunda terapia coletiva na qual muitos sentimentos irão aflorar e com os quais é impossível que qualquer ser humano mantenha-se indiferente.

Em 2001, durante a gravação de seu mais recente álbum em estúdio, St. Anger, a banda decidiu registrar em documentário os bastidores do trabalho. Não imaginavam eles o quanto aquilo iria durar, e nem o tanto de feridas que iria expor.

Durante o processo, muitas coisas acontecem. Primeiro, um dos integrantes, o baixista Jason Newsted, decide abandonar a banda por considerar que eles não davam liberdade para que ele tocasse seus projetos pessoais. Pouco depois, o vocalista e guitarrista James Hetfield, após uma série de problemas com os demais integrantes, decide ir para uma clínica de reabilitação, para se recuperar do alcoolismo. Nos vários meses em que ele passa internado, há sérias dúvidas até mesmo sobre a continuidade da banda.

Assim que Hetfield volta, seus problemas com o outro fundador, o baterista Lars Ulrich, tornam-se ainda maiores. A disputa pelo controle entre eles é feroz. E uma amizade forjada na adolescência é seriamente questionada, com um dizendo que nunca gostou do outro. Fazendo o papel de mediadores estão o produtor Bob Rock e o guitarrista Kirk Hammett. E há um terapeuta tentando administrar todo o conflito presente. Por fim, um novo integrante, o baixista Robert Trujillo, é selecionado para integrar a banda.

Alguns fatos curiosos são mostrados, quebrando o estereótipo de metaleiros: Kirk é mostrado andando de cavalo em seu rancho, James é visto acompanhando sua filha na aula de balé e Lars é exibido analisando seu acervo de pinturas.

A direção consegue passar uma aura quase que de Big Brother, com os documentados sentindo-se bem à vontade para interagir livremente. A edição do filme é muito bem feita, especialmente considerando que as gravações duraram mais de um ano, e havia mais de 1200 horas de gravação, que foram muito bem condensadas em pouco mais de 2 horas na tela.

Prova de que o filme é bem mais que um produção voltada aos fãs é o fato de ter vencido o prêmio de melhor documentário no renomado festival de Sundance.

Metallica: Some Kind of Monster, é um excelente documentário, recomendado para qualquer um que queria entender os conflitos que movem os relacionamentos humanos. E. para a felicidade dos fãs, nos quais me incluo, é bom saber que o Metallica venceu toda a turbulência e segue firme arrastando multidões para seus incríveis shows!

Nota: 9 

3 de agosto de 2015

Enquanto Somos Jovens

É, tamo véio


Dir: , EUA, 2014, 97min
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Alguns, só de ver o cartaz deste filme, pensarão: "Filme do Ben Stiller? Putz!". Outros irão dizer: "Filme do Ben Stiller? Legal!". Aviso que ambos os perfis podem ter de rever seus conceitos. Pois é, aquele cara de comédias escatológicas (Quem Vai Ficar com Mary) e filmes infantis (Uma Noite no Museu) é o protagonista, mas o filme é bem diferente do tipo de produção pelo qual ele é conhecido. Depois voltamos a falar do protagonista, vamos ao filme.

Na trama, um casal quarentão, Josh (Stiller) e Cornelia (Naomi Watts), está numa fase bem morna do casamento, sem conflitos mas sem curtição. É quando eles conhecem um casal descolado de vinte e poucos anos, Jamie (Adam Driver) e Darby (Amanda Seyfried), que muda completamente sua enfadonha rotina.

O quarteto principal é todo de documentaristas de cinema. Josh vê em Jamie uma visão de si mesmo quando jovem, um documentarista promissor, enquanto que na atualidade ele está há quase 10 anos tentando finalizar seu último filme (sabemos que o Guilherme Fontes consegue fazer pior!). Para piorar, o sogro de Josh é um documentarista de renome e o pressiona o tempo todo com sua figura bem sucedida.

Das interações entre as personagens principais cria-se o pano de fundo para se analisar as relações sociais de nosso tempo. O casal mais velho está ainda na fase de se dar conta que deixaram de ser jovens mas passam a querer a reviver sua mocidade. Um ponto interessante é o de que os jovens aqui são descolados e desconectados, com um monte de velharias em casa, como máquina de escrever e LPs, enquanto os quarentões são totalmente conectados e modernos.

Outra questão bem abordada, ainda que superficialmente, é o distanciamento que se forma entre os casais de amigos com filhos e os sem filhos. Em uma cena exemplar, é mostrada a mulher sem filhos acompanhando sua amiga que é mãe com seu bebê em uma atividade infantil. Ela não aguenta o comportamento infantil de todos ao redor e decide sair. Já vi coisas parecidas ocorrendo na vida real.

O roteiro e a direção são assinados por Noah Baumbach. Ele tem alguns filmes de renome em seu currículo, como A Lula e a Baleia, mas eu ainda não tinha visto nenhuma de suas obras. O desenvolvimento do enredo, com direito a reviravoltas, os diálogos e a direção são muito bem conduzidos.

Voltemos a falar do Ben Stiller. Sua atuação no filme não é digna de Oscar, mas ele faz um bom trabalho, e não estraga o filme, como poderia fazer se ficasse só com palhaçadas. E ainda usa bem seu humor físico em alguns momentos pontuais, que se encaixam bem no roteiro. Ainda não vi seu filme anterior, A Vida Secreta de Walter Mitty, mas me disseram que surpreendia por ele fugir de seu papel padrão.

Os demais atores são muito bons. As duas atrizes principais são competentes e mostram muita sensibilidade, especialmente Watts cuja personagem tem um histórico triste. Adam Driver conduz bem sua ambígua personagem. Também não o conhecia e gostei bastante de seu trabalho. Tive especial atenção porque ele será Kylo Ren, o vilão principal no novo Star Wars.

Enquanto Somos Jovens é um ótimo filme, e aconselho tanto aos que gostam de filmes autorais, mas acham o Ben Stiller um idiota, quanto aos que gostam do Ben Stiller, mas acham filme autoral coisa de intelectual chato. Todos irão se surpreender.

Nota: 8

27 de julho de 2015

Jurassic World

Passeio no Parque


Dir: Colin Trevorrow, EUA/China, 2015, 124min
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Terceira continuação da série iniciada por Jurassic Park, Jurassic World retorna a ilha Nublar onde se passou a ação do primeiro filme, mostrando o parque já aberto. Não é tão ruim quanto as duas continuações anteriores, mas também não traz nada de novo.

Na trama, o parque está prestes a apresentar sua nova atração, um dinossauro carnívoro criado em laboratório e maior que o tiranossauro rex, o indominus rex. No entanto, como era de se esperar, as coisas fogem de controle. Esse é o enredo.

O início do filme até parece ser contestador, ao dizer que os limites éticos na geração de um novo dino foram ignorados para agradar ao público que queria algo maior e mais emocionante. Mas o filme cai em sua própria armadilha, pois nada mais é do que uma versão com mais ação e com um dinossauro maior do que os anteriores.

Tal como no filme original, neste o protagonista (Chris Pratt) é novamente um homem rústico que preza pela vida em meio à natureza. E também estão lá dois irmãos (o mais velho, Nick Robinson, parece o clone de Sean Astin em Os Goonies), que terão de enfrentar os perigos do parque. Por fim tem a bela mocinha sem sal (Bryce Dallas Howard), a controladora e workaholic gerente do parque e tia dos meninos. Ou seja, um bando de personagens sem graça.

Algumas sequências de ação são até interessantes, como a corrida dos velociraptores pela mata. Mas nada que crie um novo padrão para efeitos visuais, como foi o Jurrasic Park. Como eu já disse e também é dito neste vídeo, a computação gráfica está tornando os realizadores de filmes preguiçosos.

Por fim, vale lembrar que o filme foi uma decepção para a comunidade científica. Ao contrário do primeiro, que criou os dinossauros baseados nos mais recentes consensos científicos (como o fato de o tiranossauro mover-se com as costas inclinadas para frente, e não eretas, como sempre era mostrado). Para atualizar, deveriam ter mostrado dinossauros com penas e plumas, como hoje se sabe que diversas espécies eram, mas o diretor, mostrando total falta de ousadia e criatividade, recusou-se a isso, preferindo ser fiel ao primeiro filme do que ser atualizado com as mais recentes evidências paleontológicas.

Como dito, Jurassic World cumpre sua profecia de ser somente uma versão maior, com mais efeitos e mais acelerada que o original, este sim um grande filme, que mexeu com a imaginação de toda uma geração.

Nota: 4

P.S.: Para assistir a uma crítica com vários pontos em comum com a minha, veja o Tiago Belotti (clique aqui).

20 de julho de 2015

O Exterminador do Futuro: Gênesis

De Volta para o (Exterminador do) Futuro


Terminator Genisys, Dir: Alan Taylor, EUA, 2015, 126min
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O Exterminador do Futuro teve seu primeiro filme em 1984 e uma sequência mais bem sucedida que o original em 1992. Ambos os filmes se tornaram marcos da cultura pop (quem nunca falou "Hasta la vista, baby" que atire o primeiro T-800). Depois, vieram duas continuações, sendo o terceiro filme um fiasco completo e o quarto um pouco diferente por focar somente na guerra entre humanos e máquinas no futuro, não contando nem com Arnold Schwarzenegger no papel principal. Neste novo Exterminador, a estória retrocede ao primeiro filme, para mostrar uma linha do tempo alternativa.

Assim, o filme inicia-se no momento em que o Exterminador original e o protetor de Sarah Connor, Kyle Reese, são enviados a 1984. As cenas são, inclusive, reproduções quase que fiéis do primeiro filme (veja aqui). Mas tão logo as duas personagens chegam à Los Angeles do passado, suas trajetórias se alteram, com o exterminador original enfrentando sua versão mais velha e com Reese enfrentando o T-1000 e sendo resgatado por Sarah Connor.

Sim, é isso mesmo. Uma profunda alteração na linha do tempo vai ocorrer e todos os eventos dos filmes originais serão mudados. Pode até parecer confuso mas não é tão difícil assim de entender. Aliás, já no primeiro Exterminador existia o paradoxo do filho que manda seu pai de volta ao passado para concebê-lo. Ou seja, cronologias paradoxais não são  novidade na série.

O enredo é razoável, e equilibra bem cenas de ação e momentos em que a estória deve ser contada. Por mais que haja idas e vindas no tempo, como dito, não é difícil de acompanhar.  E até o envelhecimento do Exterminador é bem explicado.

As atuações variam, mas não comprometem o filme.
Schwarzenegger nunca foi um bom ator mas o Exterminador é dele e de mais ninguém. Emilia Clarke (Sarah Connor) é uma ótima atriz, muito elogiada por Game of Thrones, Jason Clarke (John Connor) é competente, e há o apoio de luxo do recém-oscarizado J.K.Simmons (O´Brien), em papel menor. O ponto negativo é Jay Courtney (Kyle Reese), ator de filmes de ação que não consegue passar emoção nenhuma, parecendo mais robô do que o Exterminador.

O Exterminador do Futuro: Gênesis segue a nova moda hollywoodiana de fazer reboots (voltar no tempo com uma série de cinema para contar uma nova estória), o que já foi feito com Star Trek e Homem-Aranha. Essa moda revela a falta de novas ideias e de ousadia dos grandes estúdios. Não vou questionar o fato de que o objetivo final deles é o de buscar lucros milionários, mas parece que agora só fazem investimentos conservadores, e dá-lhes sequências, prequels (os antecedentes de uma estória já contada) e spin-offs (aprofundar em um detalhe de uma obra já mostrada, como contar a estória de um personagem secundário). 

E o público aplaude isso, gostando de reviver suas emoções passadas nas telas, chorando sempre a mesma lágrima, diagnóstico que Lima Duarte fez há quase dez anos sobre as novelas da Globo. Neste ano teremos um novo Star Wars, e, por mais que eu espere ansiosamente pelo filme, receio que simplesmente façam um roteiro que seja somente uma cópia atualizada da trilogia original, feito com base na nostalgia das personagens clássicas e da trilha sonora do John Williams, sem nada a acrescentar (clique aqui para ver que até o Hitler do meme ficou preocupado com o trailer).

Mas, retornando ao filme, O Exterminador do Futuro: Gênesis, em um cenário de filmes de estúdio ruins, como a série Velozes e Furiosos, é até um filme de ação/ficção-científica razoável para quem ignorar sua falta de originalidade.

Nota: 5

13 de julho de 2015

Minions

Os Três Patetas Amarelos


Dir: Kyle Balda/Pierre Coffin, EUA, 2015, 91min
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Famosos e cultuados após suas aparições nos dois episódios de Meu Malvado Favorito, os ajudantes do vilão Gru retornam em aventura solo em Minions.

Na trama é mostrada a origem dos pequenos seres amarelos desde os primórdios, inserindo-os na evolução das espécies. Seu propósito: servir ao vilão mais malvado do mundo. Assim eles iniciam sendo servos de um tiranossauro rex, passam a servos do Faraó, de Drácula e de Napoleão. Mas, por serem muito atrapalhados, sempre matam seus mestres. Sem mestre ficam deprimidos e isolados do mundo. É quando os três minions principais, Kevin, Stuart e Bob, saem em uma jornada pelo mundo em busca de um novo mestre (quem não gosta de spoilers não precisa se preocupar, essa é só a introdução do filme).

Eis então que esse trio de desbravadores chega a Nova York em 1968, em plena era do rock n´roll e da contracultura. E a partir daí seguirão sua jornada que os levará à Flórida e à "swinging London", onde até a rainha da Inglaterra tomará parte na estória.

Já faz um bom tempo que os roteiros das animações voltadas para as crianças demonstram a preocupação em agradar aos adultos que veem os filmes com elas. Em Minions isso é acentuado, pois há pequenas piadas que os pequenos não vão entender por falta de referências culturais, como quando os minions saem por um bueiro em Abbey Road enquanto quatro rapazes estão cruzando a faixa de pedestres.

A qualidade da animação também surpreende. Excetuando as personagens bastante estilizadas, como não poderia deixar de ser, em diversas cenas o cenário parece real, com todos os elementos bem cuidados, incluindo sombras e diferenças de luminosidade. O apuro estético merece aplausos.

E, é claro, os minions são muito engraçados com suas trapalhadas e com seu idioma confuso, que faz lembrar a lendária primeira vez que Carlitos emitiu som no cinema, em Tempos Modernos, cantando em um idioma inexistente (clique aqui para ver).

Minions é um bom filme, que vai agradar tanto crianças quanto adultos, mesmo aqueles que queiram assistir ao filme sem companhias infantis.

Nota: 8

7 de julho de 2015

Um Conto Chinês

Vacas me caiam


Un Cuento Chino, Dir: Sebastián Borensztein, Argentina/Espanha, 2011, 93min
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Certas estórias bizarras são tão, mas tão inverossímeis, que só podem ter acontecido de verdade. É dessa premissa que parte Um Conto Chinês, filme argentino em que na cena de abertura uma vaca cai do céu sobre uma moça chinesa em um barco no momento em que seu namorado iria pedi-la em casamento. Acreditem ou não, fato semelhante já ocorreu, deixando à deriva alguns homens em um barco pesqueiro japonês (leia a notícia aqui). Magnólia, de Paul Thomas Anderson, é outro filme que trata de coincidências improváveis.

Após essa curta abertura, o filme vai para o outro lado do mundo, mais precisamente a Buenos Aires, onde o amargo dono de uma pequena loja de ferragens, Roberto (o onipresente Ricardo Darín), leva uma vida simples, reclusa e metódica, evitando o máximo possível de contato com outras pessoas. 

Passada a apresentação do protagonista, eis que surge em sua vida o chinês cuja namorada foi assassinada por uma vaca, após ser atirado para fora de um táxi, completamente perdido, cuja única pista sobre seu destino é uma tatuagem com o endereço para onde deve ir.

Desse encontro entre homens de culturas tão diferentes e que não compreendem uma só palavra do que o outro diz se desenvolverá o enredo do filme, baseado na dificuldade de comunicação e na interação entre tais personagens.

É incrível como os cineastas argentinos consigam contar tão bem estórias de pessoas ordinárias. Já fiz tal observação ao tratar de Medianeras. Todas as peças estão bem encaixadas: a fotografia, as atuações, os diálogos, a edição e a direção, provando que ninguém precisa de uma superprodução para fazer um bom filme.

E, como não poderia deixar de ser, o espectador fica preso a esse improvável encontro causado por uma vaca que caiu do céu.

Nota: 8

29 de junho de 2015

Corações de Ferro

Vida no Tanque


Fury, Dir: David Ayer, EUA/China /Reino Unido, 2014, 134min
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Corações de Ferro é mais um filme que trata de um tema recorrente no cinema americano, a II Guerra Mundial. Alguns filmes sobre o confronto são memoráveis, como O Resgate do Soldado Ryan; outros são um completo desastre, como Pearl Harbor (aliás, não é só um filme de guerra ruim, é um dos piores filmes de todos os tempos em qualquer gênero). Corações de Ferro fica num meio termo.

A estória traz um tema pouco explorado no cinema, os últimos dias da II Guerra Mundial, com as tropas americanas lutando em território alemão. A derrota alemã já é uma realidade inevitável, mas os nazistas insistem em lutar até o último homem. Brad Pitt é o Sargento Don Collier, comandante de um tanque de guerra, com quatro homens sob seu comando. Logo no início, um novo membro é designado para a tripulação de homens rudes, o recruta datilógrafo Norman (Logan Lerman) que servirá como contraponto a estes guerreiros.

Um dos pontos altos do filme é a fotografia, que se destaca desde a primeira cena, alternando momentos de tensão com cores fortes com cenas de rotina com cores esmaecidas. No entanto, os tiros no filme parecem muitos os tiros de Star Wars, parecendo feixes de lazer coloridos trocados entre americanos e alemães. Pode tornar mais didático e simples para o espectador entender quem atira em quem e onde o tiro acerta e tem até um efeito artístico interessante, mas, por outro lado, reduz o realismo.

Outro ponto interessante é mostrar a rotina de uma tanque, mostrando como era travada uma batalha motorizada, como estes veículos se posicionavam no campo de batalha e como a tripulação lutava em um ambiente escuro e apertado. Ainda destacando os pontos positivos, os atores são bons e conseguem inserir alguns dramas em suas personagens.

Mas o ponto fraco é o roteiro que se perde no decorrer do filme, escrito por David Ayer (conhecido pelo bom Dia de Treinamento), que também dirige o filme. No começo parecia promissor, um filme que questionava os heroísmos e mostrava que não há homem que cumpra seu dever sem sofrer. Mas já na metade cai numa falta de ideias que culmina em seu final heroico forçado, do sacrifício pela pátria, inserindo o filme em uma série imensas de filmes clichês do cinema americano. O mencionado O Resgate do Soldado Ryan também tem desses clichês, mas a batalha a que se propõe o capitão de Tom Hanks é difícil, mas possível, ao contrário da que quer o sargento de Brad Pitt.

Assim, o filme tem um tema interessante a tratar, boa direção, bons atores, mas um roteiro sem força, que se perde, fatores que somados tornam o filme mediano.

Nota: 5

22 de junho de 2015

Clube dos Cinco

Adolescência anos 80


The Breakfast Club, Dir: John Hughes, EUA, 1985, 97min
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Recentemente saiu na Folha de SP resenha da biografia de John Hughes (clique aqui para ler a matéria) diretor que tem como marca vários filmes dos anos 80 envolvendo adolescentes. O mais conhecido no Brasil é certamente Curtindo a Vida Adoidado. Clube dos Cinco é outro de seus filmes com status de cult.

No filme encontramos as clássicas personagens de colégio americanos, o nerd, a rainha do baile, o atleta, o marginal e a menina problemática isolada. Todos eles se juntam em uma manhã de sábado para cumprir a chamada detenção, punição padrão da educação dos EUA. Como esperado, essas personagens tão diferentes, que sequer se cumprimentariam no dia a dia, descobrem semelhanças em meio a esse convívio forçado.

A estória então caminha num lento processo de desconstrução dos estereótipos em que os garotos se inserem, como mostrar que o atleta não assedia os mais fracos somente por uma perversão secreta, mas que há uma pressão social para que tal comportamento seja demonstrado. E muitas discussões profundas acerca da busca da identidade, característica marcante da adolescência que acompanha as pessoas ao longo de suas vidas.

O estilo do filme é um aula de estética dos anos 80, especialmente nas roupas dos adolescentes. A trilha sonora de rocks oitentistas segue na mesma linha, com músicas de ritmo agitado e com muitos teclados, com destaque para a música que abre e fecha o filme, Don´t You (Forget About Me), do Simple Minds (clique aqui para ver o clipe).

De negativo, o final do filme que parece ser feito de forma apressada e previsível. Mas o saldo final é bastante positivo, e Clube dos Cinco merece ser tratado com um símbolo dos anos 80.

Nota: 8