O caminho do sucesso
Idem, Dir. Bill Condon, EUA, 2006, 131min
Baseado em peça homônima da Broadway, Dreamgirls, mostra a trajetória de um grupo de cantoras negras, desde seu início até seu término. O filme ganhou destaque por ter vencido o Globo de ouro de melhor filme na categoria musical/comédia.
Iniciando-se no início da década de 1960, o filme usa como pano de fundo o crescimento da cultura negra (ou afro-americana, para os politicamente corretos) nos EUA. Na época, a cultura negra era restrita a seu grupo étnico marginalizado, sendo que haviam rádios para negros, jornais para negros e shows para negros, num típico exemplo de cultura de gueto.
Neste cenário, um homem inescrupuloso e ganancioso, Curtis Taylor Jr., interpretado pelo oscarizado Jamie Foxx, busca ganhar dinheiro com o crescimento da música negra. Para isso, vai a shows para a comunidade negra em busca de uma banda que possa servir aos seus interesses. Na busca, ele encontra as Dreamettes, grupo iniciante em busca do sucesso musical, liderado pelo impressionante vocal de Effie White (Jennifer Hudson, vencedora do Oscar de Atriz Coadjuvante pelo filme), acompanhada por Deena Jones (Beyoncé Knowles) e Lorrel Robinson (Anika Noni Rose).
Curtis convida o grupo para excursionar como backing vocals do astro negro James "Thunder" Early, vivido por Eddie Murphy, em ótima atuação, apesar de não deixar o caráter de malandro que sempre o caracterizou, mas colocando um aspecto dramático no personagem, nunca antes demonstrado por ele. Esta parte do início do filme é contagiante, com músicas muito animadas e editado em forma de clip musical, o que não torna o filme chato, como costumam ser os musicais.
Com a turnê, as meninas adquirem luz própria e deixam James Early, mudando o nome para The Dreams. Nesse momento, Effie está namorando com o produtor, Curtis. Curtis tinha visão de longo prazo, e decide que para a banda atingir o estrelato a virtude mais importante não será a qualidade da voz de Effie, mas a beleza estonteante de Deena. Mesmo contrariada, Effie aceita a mudança. Mas a inveja dela muda esta situação com o tempo, não aceitando ser simplesmente a backing vocal do grupo por saber que seu talento é maior que o da parceira, além de corretamente suspeitar que seu namorado, Curtis, está tendo um caso com ela.
Assim, Effie deixa o grupo. Esta parte do filme é seu ponto fraco, pois utiliza o péssimo hábito de musicais de usar músicas para fazer diálogos, recurso que somente quem é muito fã deste gênero aprecia. Um filme que a princípio estava casando a música muito bem com a história torna-se maçante nesta parte.
Como exemplo de como um musical pode estragar uma boa história, tomo o exemplo de Primavera para Hitler, comédia de Mel Brooks dos anos 60 que relata a história de uma tentativa de criar um fracasso de bilheteria na Broadway, que foi transformado em peça da Broadway nos anos 90, com o nome de Os Produtores e retornou ao cinema em 2005 com este título, tornando uma das melhores comédias da história do cinema em um filme detestável, no qual deve-se usar o fast forward nas canções sem graça.
Na seqüência, Dreamgirls mostra o sucesso absoluto atingido pelas Dreams, agora rebatizado como Deena Jones and The Dreams, com sua líder se tornando uma estrela de primeira grandeza no mundo todo, rompendo as barreiras que antes existiam para cantoras negras.
A parte final, como não poderia deixar de ser em um filme hollywoodiano, caminha para a busca do final feliz, com a reaproximação entre Deena e Effie, o fim do relacionamento entre Deena e Curtis e o reconhecimento de que Effie foi o grande talento que o grupo teve e foi abandonada.
Apesar da questão da música substituir diálogos e da historinha comum de decadência e superação, Dreamgirls ainda assim é um bom filme de entretenimento, com momentos de grande energia e beleza visual.
Nota: 6
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