Bandidos sem Scorsese
Black Mass, Dir: Scott Cooper, EUA/Reino Unido, 2015, 122min
Está correndo por aí a piada de que Aliança do Crime é um filme de gangsteres sem o talento de Martin Scorsese. Sem deméritos à esforçada produção, mas é por aí.
O filme conta a história real de James "Whitey" Bulger (Johnny Depp), um dos criminosos mais procurados da história dos EUA, que conseguiu destruir todos os seus rivais e expandir sua organização criminosa graças à aliança que estabeleceu com um amigo de infância que se tornou agente do FBI, John Connolly (Joel Edgerton), pelo qual se tornaria informante do órgão em troca de imunidade.
Esses dois homens são bastante complexos. Bulger é um bom vizinho e um pai atencioso e, simultaneamente, um criminoso ambicioso e matador impiedoso. Connolly quer fazer seu trabalho como policial e destruir a máfia italiana, mas ao mesmo tempo quer ganhar as manchetes de jornal e também provar a seu velho amigo de infância que é um cara que merece respeito (ainda que o respeito que ele almeje seja o de um criminoso frio e sanguinário).
O roteiro e a direção não têm nada de especial, mas são bem feitos. Destaca-se a boa delimitação do recorte temporal, mostrando a ascensão de Bulger até a queda de seu esquema. Após isso, ele passou anos foragido, mas o filme somente cita o fato, já que este período é uma estória à parte. Interessante observar que o filme não mostra nenhum sinal externo de empoderamento de Bulger, que sempre se parece o mesmo. Sabe-se que ele cresceu por conta dos diálogos e nada mais. Isso é válido, na medida em que Bulger, como boa parte dos gangsteres bem sucedidos, controlam um império silencioso. Quem for assistir não deve esperar um filme de ação, pois não é disso que se trata. Há algumas cenas bastante violentas, mas as mais tensas são as que mostram somente ameaças.
O maior problema do filme é a péssima maquiagem de Johnny Depp. A careca é notadamente artificial, com os cabelos laterais parecendo de boneca. As lentes de contato azuis são ainda piores, atrapalhando a atuação, pois os olhos são um dos elementos mais marcantes em atuações cinematográficas. Os produtores poderiam ter relexado mais na caracterização e deixado Depp mais à vontade. Mas talvez Depp já esteja incorporando maquiagens pesadas à sua persona, em vista de suas constantes mudanças de visual.
Johnny Depp dessa vez pegou um papel menos caricato do que os que vinha fazendo (Jack Sparrow, Chapeleiro Maluco e Willy Wonka), merecendo a atenção da crítica. Ele vai bem no filme, mas não é um trabalho digno de estatueta do Oscar, como está sendo apontado. Apesar de caricato, prefiro sua performance no primeiro Piratas do Caribe (que lhe rendeu uma de suas 3 indicações). O verdadeiro protagonista é Joel Edgerton, que é um ator canastrão, mas aqui seus exageros interpretativos casam bem com seu personagem, que possui uma vaidade ímpar. Os demais atores vão bem, incluindo o ótimo Benedict Cumberbatch, em papel secundário.
Aliança do Crime é um bom filme de criminosos, que, mesmo sem Martin Scorsese, consegue contar bem sua estória, sobretudo em razão das atuações.
Nota: 6