14 de março de 2017

Silêncio

Homens de Fé

Silence, Dir: Martin Scorsese, EUA/Taiwan/Mexico, 2016, 2h41min
IMDB                 Trailer


Até onde uma pessoa pode resistir a castigos físicos e psicológicos em nome de um ideal? Este é o tema central do novo filme de Martin Scorsese, Silêncio.

Na trama, dois padres jesuítas portugueses partem para o Japão feudal do século XVII em busca de seu mentor que há anos está desaparecido no país. Lá irão encontrar uma nação completamente fechada à influência estrangeira e em processo de inquisição budista contra o cristianismo, torturando sistematicamente seus seguidores. Os poucos cristãos tem que professar sua crença no mais absoluto sigilo, lembrando o cristianismo dos primeiros dias das catacumbas romanas. Os padres terão de viver nas sombras para não serem pegos pelo poderoso inquisidor local.

A primeira coisa a se saber antes de assistir ao filme é que se precisa estar bem acordado. O filme é extremamente escuro e lento, com um demorado desenvolvimento da trama, um convite ao sono. Scorsese tem filmes muito dinâmicos, como Os Bons Companheiros e O Lobo de Wall Street, mas também tem filmes desse tipo lento. Infelizmente este não segue o exemplo do ótimo Touro Indomável, mas fica mais para o monótono O Aviador.

Além do tema da resiliência (aqui como a resistência ao sofrimento em meio a muitas torturas), há também questionamentos sobre a fé (existe mesmo Deus ou se está rezando para o Silêncio?) e sobre como se deve viver, se aceitando as regras do mundo e traindo seus ideias ou se mantendo-se fiéis a suas crenças e vivendo em conflito com o sistema. Há muito de espiritual aqui mas Scorsese não quis fazer uma ode ao cristianismo, mas sim uma análise da disposição de um homem em defender seus valores frente a gigantes obstáculos.

O elenco é competente, com Andrew Garfield, Liam Neeson e Adam Driver nos papéis principais. Garfield tem um papel cujas linhas mestras lembram muito as de seu outro trabalho recente, Até o Último Homem, o de um sujeito que leva sua defesa da fé até as últimas consequências. E Neeson, após muitos anos fazendo filmes de ação, voltou a ter um papel decente que poderia até ter sido lembrado no Oscar.

A direção de Scorsese é bem cuidada, como sempre. Como dito, o maior problemas técnico é sua edição que abusa de tomadas muito alongadas e monótonas. A fotografia é bem acinzentada, representando tanto a ambiguidade do local como seu lado sombrio. Apesar de sua qualidade, não merecia a indicação ao Oscar recebida, que deveria ter ficado com Animais Noturnos.

Silêncio é um bom filme com seus questionamentos sobre a disposição humana, mas bastante difícil. Violento, espiritual e reflexivo. Não tem valor nenhum como entretenimento pois não agrada nem um pouco a quem quer "se divertir". E seu pior defeito é ser bastante cansativo.

Nota: 7

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