8 de fevereiro de 2017

Manchester à Beira-Mar

Fria solidão 

Manchester by the Sea, Dir: Kenneth Lonergan, EUA, 2016, 2h16min
IMDB                 Trailer   


Se você está passando por um momento difícil, triste e deprimido, é melhor passar bem longe de Manchester à Beira Mar. Um suicida então vai levar a cabo seu desejo se vir ao filme. Esta é provavelmente a obra mais melancólica na disputa do Oscar 2017. 

A trama conta a história de Lee, um zelador de Boston que retorna à sua pequena cidade natal de Manchester após a morte de seu irmão e descobre que ele deixou um testamento nomeando-o tutor de seu sobrinho.

Lendo assim parece ser um história não tão interessante. Mas há muito a ser revelado sobre o passado do protagonista e mostrando que ele é bem mais do que parecia ser. Logo de início percebemos que algo de muito errado ocorreu que fez Lee se afastar de Manchester, onde todos o olham com desconfiança, para ser um solitário em meio a multidão de Boston. 

Enquanto se desenrola a narrativa principal, vários flashbacks são inseridos como que peças de um quebra-cabeças a ser montado pelo espectador. Ao final nem todas as peças são fornecidas, mas todas são ao menos mencionadas, permitindo que tudo seja compreendido. As duas narrativas fluem bem, ainda que de forma bem lenta, captando a atenção do espectador ao longo de mais de 2 horas.

Obviamente o filme trata de luto. Mas também é uma grande análise sobre arrependimento e superação. E há um embate constante entre a alegria do sobrinho com vida social agitada e seu tio antissocial, agressivo e melancólico.

Casey Affleck vai muito bem, deixando claro que por baixo de toda a aparência de indiferença e isolamento há muita tristeza escondida. Ele é o favorito ao prêmio de melhor ator e se ganhar será com mérito. Já os coadjuvantes não justificam suas indicações. Michelle Wiliams tem uma atuação forte, mas tem muito pouco tempo no filme, provavelmente menos de 10 minutos. Talvez tenha sido indicada por, em sua 4ª indicação, ter entrado na categoria de queridinhas da Academia (da qual Meryl Streep é a presidente hors-concours). Lucas Hedges não vai mal mas não apresenta uma atuação boa o suficiente para ser premiada. Até mesmo o aqui criticado no pitaco de Animais Noturnos Aaron Taylor-Johnson, vencedor do Globo de Ouro, merecia mais a indicação

A direção é discreta, se concentrando essencialmente nas atuações. Há algo de teatral aqui, uma forma de fazer cenas fortes para seus atores se destacarem. A fotografia casa bem com o tom do filme, optando por cores frias em meio ao rigoroso inverno de Massachussets, realçando a melancolia da história.  

No Oscar 2017, além das mencionadas indicações a melhor filme e atuações, também foi indicado a melhor roteiro original e direção. Esta última é questionável, pois Kenneth Lonergan faz um filme forte porém no qual seu trabalho é bem discreto. Provavelmente outros diretores tinham mais méritos aqui. Em breve isso será melhor analisado quando sair a lista de Indicados do Pitacos.

Manchester à Beira Mar traz uma história muito amarga, a qual o espectador tem de estar disposto a consumir. Não é um filme feliz, que ofereça esperança ou nada parecido. É um estudo sobre a dor e como encará-la. Seu mérito é construir inteligentemente seus dramas e somente aos poucos ir revelando o passado do protagonista.

Nota: 7

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