26 de janeiro de 2016

A Grande Aposta

Roleta Russa Financeira

The Big Short, Dir: Adam McKay, EUA, 2015, 2h10min
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A Grande Aposta está na disputa do Oscar em 5 categorias: melhor filme, diretor, ator coadjuvante, roteiro adaptado e edição. Não é favorito, mas pode levar melhor filme, especialmente após ter ficado com o prêmio da PGA (o "sindicato" dos produtores), e tem boas chances com roteiro e edição.

O filme conta três estórias paralelas de sujeitos excêntricos que previram o grande colapso financeiro e econômico que se iniciou nos Estados Unidos em 2008, causado pela negociação de títulos baseados em créditos podres. O tema é um pouco árido para se tratar com leigos, especialmente pelo grande número de operações financeiras e termos técnicos. Sabendo disso, o filme, que quebra a "quarta parede" e faz os atores dialogarem com o público, interrompe a narrativa em 3 momentos e traz celebridades para explicar os conceitos de forma simples e bem humorada, no melhor estilo da série de livros Para Leigos (For Dummies).

Não que as explicações torne os espectadores profundos conhecedores de mercado de ações. Mas permite que o público entenda que as operações que levaram ao colapso global tinham como base títulos podres baseados em dívidas de alto risco e impagáveis, com créditos concedidos a pessoas que não tinham a menor possibilidade de honrá-las no longo prazo. Parece assim, que o sistema todo brincava de roleta russa financeira. E os grandes agentes do sistema, leia-se bancos, corretoras, agências de risco, imprensa e até mesmo o governo sabiam disso, mas ignoravam o risco na esperança que a fase de crescimento econômico nunca terminasse. O que confere um tom profundamente crítico do filme ao sistema capitalista.

O filme é um drama com generosas pitadas de humor negro. Parece até uma versão higienizada do ótimo O Lobo de Wall Street (clique aqui para ler o pitaco), sem drogas, orgias e mau-caratismo. E isso não é demérito, pois se naquele esses excessos eram o elemento central, aqui há uma maior preocupação política e social. Exemplo disso é o fato dos personagens que lucraram com a crise não saírem festejando, mas sentirem-se até mesmo envergonhados, pois sabem que seu sucesso financeiro se deu conjuntamente com um aumento espetacular de desemprego e de pessoas perdendo seus lares por dívidas.

Tal qual seu concorrente no Oscar Spotlight (clique aqui para ler o pitaco), A Grande Aposta reúne um bom elenco em que nenhum personagem assume o protagonismo. A direção de atores é eficiente, mas fica abaixo do citado concorrente. Christian Bale e Steve Carell se destacam, e ambos poderiam ter recebido indicações a melhor coadjuvante, o que ficou com o primeiro. Não deve ser contemplado em razão dos fortes concorrentes e por já ter levado o mesmo prêmio em 2011 com O Vencedor.

O ponto de maior destaque do filme é sua edição extremamente ágil, parecendo videoclipe. Esta também exerce função narrativa, pontuando a cronologia com fotos de momentos importantes da história dos EUA. A fotografia trabalha em conjunto com a edição, com mudanças rápidas de enquadramento, foques e desfoques ágeis, dando um tom documental à obra. E o roteiro assinado pelo diretor Adam McKay e por Charles Randolph, que está indicado ao Oscar na categoria adaptado, também garante o ritmo acelerado, com diálogos ágeis e personagens rapidamente apresentados, sem que sejam superficiais.

Um pouco exagerada foi a indicação de McKay na categoria de direção, pois havia concorrentes que apresentaram trabalho melhores, especialmente Ridley Scott e seu Perdido em Marte (clique aqui para ler o pitaco) e Alex Garland e seu minimalista e subestimado Ex-Machina (clique aqui para ler o pitaco). De qualquer forma, dificilmente será premiado.

A Grande Aposta é uma obra interessante, especialmente em razão de um grande estúdio, a Warner, trazer um tema que ataca fortemente o capitalismo. Corre por fora, mas pode surpreender na premiação de melhor filme. 

Nota: 8

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