Quem são os homens-bomba?
Idem, Dir. Hany Abu-Assad, Palestina/ França/ Alemanha/ Holanda/ Israel, 2005, 90min
Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2006, Paradise Now retrata a história de dois palestinos homens-bomba.
Said e Khaled são dois amigos, unidos pela idade, ambos em torno de 25 anos, e pela pobreza que trabalham como mecânicos na cidade de Nablus, na Palestina. Donos de personalidade bastante distintas, Said é bastante introspectivo e já Khaled é muito empolgado e falante. Dada a falta de perspectiva desses, decidem se oferecer como homens-bomba na guerra sem fim entre palestinos e israelenses.
Estão aqui alguns dos elementos que sempre ouvimos falar sobre homens-bomba. A glória a eles oferecida por se tornarem mártires e a recompensa vindoura que encontrarão no paraíso, razão pelo título do filme.
Apesar de tratar de um tema extremamente noticiado, o enfoque é diferente, já que normalmente acompanhamos tais notícias por órgãos de imprensa se não favoráveis pelo menos mais próximos de Israel do que dos Palestinos. No entanto, o filme tampouco é uma ode a coragem dos mártires árabes, muito pelo contrário. Em cima desse tema são discutidos assuntos como o porquê e a eficácia dessa estratégia, mostrando que os palestinos também pensam, e não são um bando de malucos fanáticos religiosos.
Obviamente, que essa questão do fanatismo não poderia deixar de aparecer em um filme com essa temática. Mas as personagens centrais são pessoas comuns e não loucos dispostos a sair matando indiscriminadamente. O que os leva a se tornarem homens-bomba é o mote do filme, e o que chama a atenção é que isso é causado pela falta de perspectivas desses homens, que não tem pouco a perder.
O filme trata também da motivação individual. Durante o filme, parece claro que Khaled é o mais motivado, sentindo-se um herói pelo que irá fazer e com sangue nos olhos, enquanto que Said sempre adota uma postura mais crítica e fria. Contudo, como mostra o filme, não basta essa motivação na base do grito, é necessário razão mais profunda para levar um ser humano acabar com a própria vida, o que Said tem e Khaled não.
Tecnicamente, Paradise também não deixa a desejar, com bons cenários, a maioria ao ar livre, retratando o cotidiano palestino, apresentando-nos a lugares que só vemos quando há bombas explodindo.
As atuações também são dignas de elogios, especialmente para Kais Nashif, sósia de Zidane, que vive Said.
Apesar dessas qualidades, Paradise não é nem uma obra prima, o mérito maior consiste em revelar uma realidade que conhecemos através de fortes doses de ideologia importadas do noticiário televisivo pró Israel.
Nota: 7