31 de dezembro de 2016

Top 10 2016

Fechando o boteco




Aparentemente, se não rolar aquele Feitiço do Tempo que aprisionou o Bill Murray, daqui a poucas horas 2016 finalmente acaba. Então é hora da retrospectiva do Pitacos Cinematográficos 2016.

Essa lista não é a dos melhores filmes lançados em 2016 mas sim a dos melhores filmes lançados entre 2015 e 2016 e analisados pelo Pitacos em 2016

Lembrando que a lista é extremamente subjetiva, quem não concordar sinta-se à vontade para discordar publicamente. Infelizmente vi poucos filmes não americanos no ano, por isso a lista é quase toda de filmes dos EUA.

E os Top 10 são:
  1. O Regresso
  2. Spotlight
  3. Aquarius
  4. A Chegada
  5. O Quarto de Jack
  6. Anomalisa
  7. Sicario
  8. Mad Max: Estrada da Fúria
  9. A Grande Aposta
  10. X-Men: Apocalipse
2016 apesar de tudo ruim que ocorreu no mundo foi um ano muito produtivo para o blog. 37 filmes foram analisados, além das análises pré e pós Oscar. Infelizmente, fora da temporada de premiações, entre março e novembro não foi um ano tão interessante para o cinema, com poucos títulos interessantes em exibição nos cinemas. Mas está pra começar a enxurrada de bons filmes que são lançados na temporada de premiações.

Agradeço a todos que leram os pitacos. Ter um blog individual é solitário. Ver que tem gente lendo e curtindo o que escrevo me dá ânimo em continuar dando os meus pitacos.

Feliz 2017 com muitos bons filmes para nós!

22 de dezembro de 2016

Sully: O Herói do Rio Hudson

Apertem os Cintos 

Sully, Dir: Clint Eastwood, EUA, 2016, 1h36min
IMDB                 Trailer


Como criar expectativa e manter a platéia entretida com um filme baseado em uma história conhecida por todas e amplamente noticiada mundialmente? Esse é o desafio que Sully: O Herói do Rio Hudson tem de enfrentar. E fez o melhor que pôde nas hábeis mãos de Clint Eastwood.

Como todos sabem, em maiores detalhes ou superficialmente, em 2009 houve um pouso de emergência realizado no Rio Hudson, ao lado da cidade de Nova York, no qual todos a bordo sobreviveram e ninguém sofreu ferimentos graves. Foi um feito surpreendente e único na história da aviação. 

A trama, como indica o título, foca em seu protagonista, o veterano Comandante Chesley Sullenberger (Tom Hanks), que optou pelo pouso forçado após perder seus dois motores logo após a decolagem em um choque com aves. O filme foca então em dois aspectos. O histórico e os sentimentos de Sully e a investigação obrigatória que se segue após o incidente. A questão que se coloca é se seria possível que Sully, ao invés de optar pelo perigosíssimo pouso no rio, poderia ter se dirigido a algum aeroporto e ter feito um pouso convencional. E para isso dois mistérios são guardados para o final: se realmente os dois motores não funcionavam, pois leituras de computador indicavam que um deles estava funcionando, e se assim seria possível dirigir-se a um aeroporto após a colisão com as aves. E isso serve muito bem para manter a atenção dos espectadores.

O filme também busca, para além de Sully, elevar os outros personagens envolvidos. Algumas estórias paralelas dos passageiros são mostrados, é dado um pequeno destaque para a tripulação, especialmente para o copiloto Jeffrey Skiles (Aaron Eckhart) e também para as equipes de resgate que prontamente se dirigiram ao local da queda e evitaram que as pessoas a bordo morressem de hipotermia nas frias águas invernais do Hudson.

Tom Hanks, apesar de sempre apresentar atuações ao menos convincentes, ainda que em filmes questionáveis (como O Código da Vinci), mostra o que pode ser sua melhor atuação nos últimos 10 anos. Ele consegue encenar o drama pessoal de Sully de maneira serena, sem grandes arroubos de emoção, construindo um personagem convincente. Aaron Eckhart completa bem a dupla de pilotos, servindo com um contraponto um pouco mais relaxado a Sully.

Clint Eastwood costuma apresentar trabalhos com elevado nível técnico (aqui vamos deixar de lado os bebês bonecos usados em Sniper Americano). As cenas de desastre são bem pontuadas e ele consegue transmitir emoção até mesmo nas apresentações de simulação de alternativas ao acidente. Não há nada na parte técnica que salte aos olhos, mas tudo é relativamente bem executado. A queda do avião é bem encenada, apesar de alguns aspectos da água criada em CGI serem um tanto artificiais.

Sully é um bom filme, especialmente por conseguir tirar o máximo possível de uma história conhecida. E consegue mostrar toda a emoção envolvida no "Milagre do Hudson".

Nota: 6

15 de dezembro de 2016

Rogue One: Uma História Star Wars

Outras estórias 

Rogue One: A Star Wars Story, Dir: Gareth Edwards, EUA, 2016, 2h14min
IMDB                 Trailer


A Disney comprou a Lucasfilm por conta da mina de ouro que havia dentro dela: o Universo Star Wars. Não estava rendendo tanto quanto poderia por não ser bem administrada pelo seu criador, George Lucas. Mas nas mãos corretas poderia dar lucros enormes. A Disney, além de saber produzir lucros exorbitantes, sabe também cativar o coração das audiências, conseguindo, assim, ainda mais lucros. Foi o que fez com a saga Star Wars ao lançar O Despertar da Força.

No ano passado houve um hype gigantesco com o lançamento deste filme. Não dava pra sair nas ruas sem ver várias pessoas usando camisetas do Star Wars. Brinquedos e mais brinquedos surgiram, fazendo com a saga chegasse aos corações das crianças de hoje.  E os resultados financeiros também impressionaram e chegou-se a dizer que o filme bateria Avatar como a maior bilheteria mundial da história. Não foi o caso, ficando em terceiro neste ranking, mas com mais de 2 bilhões de dólares de faturamento nas bilheterias bateu vários recordes, como maior bilheteria nos EUA e maior bilheteria em fim de semana de estréia.

Além da estória principal, envolvendo a família Skywalker, a Disney quis trabalhar subtramas do universo Star Wars. A primeira delas é esta de Rogue One: Uma História Star Wars (péssima gramática pra tradução, que deveria ser "Uma Estória de Star Wars"). A trama para este filme já estava pronta desde o primeiro filme da saga, de 1977. Veja o que diz o letreiro inicial:

"É um período de guerra civil. Partindo de uma base secreta, naves rebeldes atacam e conquistam sua primeira vitória contra o perverso Império Galático.
Durante a batalha, espiões rebeldes conseguem capturar os planos secretos da arma decisiva do império, a Estrela da Morte, uma estação espacial blindada com poder suficiente para destruir um planeta inteiro".
Pois bem, estas linhas que serviam para situar o espectador no ambiente do primeiro filme agora são a estória a ser mostrada nas telas. Infelizmente, não fizeram um bom serviço com o material.

A trama anunciada necessitava do enredo de como ocorreu a captura dos planos e de personagens novos nunca citados. Entram aí a protagonista Jyn Erso, menina indisciplinada filha do engenheiro chefe pelo projeto da Estrela da Morte e o co-protagonista Capitão Cassian Andor, espião rebelde. Ao grupo se juntam o andróide K-2SO, o religioso cego Chirrut, seu amigo Baze e o ex-piloto imperial Bodhi.

Mas essa parte que precisava ser criada do zero não foi bem feita. E isso comprometeu todo o filme.

O desenvolvimento da estória não tem muita graça ou muita emoção, algo sempre presente em Star Wars. Há uma tentativa válida de se buscar contar uma estória do universo Star Wars dentro de uma perspectiva completamente nova, junto a pessoas comuns que não possuem poderes especiais e que não se tornarão os heróis da galáxia que é bastante válida. Também é interessante fazer um filme mais sujo, em que não há a clara distinção entre o bem e o mal. Aqui, Império e Rebelião são quase que dois lados da mesma moeda, com personagens em ambos os times capazes de atos monstruosos por sua causa.

Até mesmo na parte estética há um claro rompimento com os filmes anteriores no intuito de mostrar esta outra perspectiva. Objetos familiares como a Estrela da Morte são mostrados sob novos ângulos. Pela primeira vez há legendas dizendo onde estão os personagens e também h à espaços de tempo distintos distintos, ao contrário dos filmes anteriores em que toda a estória se desenvolvia em poucos dias.

O maior problema são os personagens, especialmente a protagonista. Alguns deles tem até seu encanto, como o homem cego de fé inabalável na força, Chirrut, mas não conquistam o coração do espectador, ao contrário de Han, Luke e Leia, e mais recentemente Rey, Finn e Poe. A protagonista é completamente sem graça, não conseguindo levar o espectador a se comover com seu drama particular.

Parte da culpa certamente recai sobre a atuação desajustada de Felicity Jones. Ela não conseguiu dar o tom da persoangem, de uma menina rebelde e independente, mas de grande coração. Faltou tudo aqui dela. Ela aparenta somente estar de corpo presente. Uma tristeza, pois ela mostrou um belo trabalho em A Teoria de Tudo, que lhe valeu uma merecida indicação ao Oscar. Dois grandes atores como Mads Mikkelsen e Forest Whitaker estão muito mal aproveitados em seus papéis sem profundidade. O único que se destaca é Diego Luna, como o espião rebelde que carrega uma grande culpa.

A direção pesada de Gareth Edwards aparentemente se preocupou mais em espetáculos visuais do que com enredo e personagens. Ao menos na parte técnica Rogue One merece alguns elogios. As batalhas espaciais estão entre as melhores da saga, e os efeitos computadorizados atingem um nível assustador, não vou detalhar para não dar spoiler, mas os fãs me entenderão quando virem. A busca por uma direção de arte semelhante ao filme de 1977 também é digna de elogios, com cenários e figurinos muito bem caracterizados, ainda que sejam cópia do primeiro filme.

Rogue One mal foi lançado e já houve quem elogiasse muito o filme. Já outros, como eu, não gostaram. Aparentemente esta divisão de opiniões será a percepção do público em geral, ao contrário de O Despertar da Força que foi quase que unanimemente elogiado. Se se confirmar isso, a Disney terá seriamente que repensar o plano de lançar um filme de Star Wars por ano, sob pena de cansar o público.

Rogue One era um filme com pinta de caça-níquel. Poderia não ser se a estória fosse boa. Infelizmente, o que é muito dolorido para um fã como eu, acabou sendo um filme sem vida. Um grande desperdício de um universo tão amado por muitos, especialmente para este pitaqueiro apaixonado pela saga. E é com pesar que dou uma nota tão ruim a um filme de Star Wars. 

Nota: 3

12 de dezembro de 2016

Critic´s Choice Movie Awards 2017

Termômetros do Oscar - Parte 1 

Ontem foi realizada a cerimônia de premiação Critic´s Choice, que como indica o nome, é o prêmio dado pelo voto dos críticos de cinema.

O prêmio é um dos principais "termômetros" do Oscar. É um dos que mais se aproximam dos resultados do prêmio da Academia. Para exemplificar, em 8 vezes nos últimos 10 anos o prêmio de melhor filme foi o mesmo em ambas as premiações. Além de diversos acertos em outras categorias.

Considerações:
  • La La Land é o filme a ser batido no ano. Levou melhor filme, melhor diretor (Damien Chazelle do ótimo Whiplash) roteiro original e vários prêmios técnicos, somando 8 conquistas.
  • La La Land, Moonlight e Manchester à Beira Mar são os pesos pesados da temporada. 
  • A Chegada vai ser o filme de diversas indicações e poucas estatuetas.
  • Ator principal: Casey Affleck, o irmão mais novo de Ben Affleck, ganhou melhor ator por Manchester à Beira Mar.
  • Atriz principal: categoria muito disputada. Natalie Portman venceu por Jackie. Mas a briga segue aberta.
  • Ator coadjuvante: Mahershala Ali (mais conhecido por XXX em House of Cards) venceu como ator coadjuvante.
  • Atriz coadjuvante: Viola Davis venceu por Fences (prêmio que também ganhou pela versão teatral da obra) confirmando seu favoritismo na categoria.
  • Elle venceu como melhor filme estrangeiro e mostrou sua força na categoria.

8 de dezembro de 2016

A Chegada

Um Novo Mundo 

Arrival, Dir: Denis Villeneuve, EUA, 2016, 1h56min
IMDB                 Trailer 


Como nos últimos dois anos a Maratona do Oscar deste blog foi uma corrida insana com pitacos sendo publicados às vezes diariamente, desta vez a análise dos filmes começará mais cedo. Os indicados ao prêmio só serão divulgados no final de janeiro e a cerimônia de premiação é no final de fevereiro (em meio ao nosso Carnaval). Mas alguns filmes já estão se destacando com indicações em premiações que antecedem o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. A Chegada é um deles.

O filme, como entrega o título e a divulgação, tem em seu tema o primeiro encontro da humanidade com seres alienígenas, que apareceram com 12 naves aleatoriamente pela Terra. Mas aqui o foco não será o impacto que isso causará na humanidade, cenas de destruição, combate ou qualquer coisa do gênero. Contrariando tudo isso, o filme foca na jornada pessoal da renomada linguista Louise Banks, escalada para estabelecer a comunicação com os alienígenas que pousaram nos EUA, sempre envolta às lembranças de sua filha que morreu na adolescência. 

Acreditem ou não, num filme de extraterrestres os temas principais do roteiro de Eric Heisserer  baseado no conto História da Sua Vida de Ted Chiang serão as escolhas que fazemos em nossas vidas, a dor da perda e como podemos nos conectar uns aos outros. Os extraterrestres funcionam somente como um catalisador para essas mudanças.

Pode parecer que os alienígenas não tenham nada a ver com isso. Mas às vezes precisamos de um fato extraordinário para fazermos coisas simples. Exemplo: no último domingo pela primeira vez vimos as quatro torcidas organizadas dos grandes times do Estado de São Paulo fazendo um confraternização conjunta após a tragédia com o time da Chapecoense. A pergunta que fica é: eles não poderiam ter feito isso antes? É óbvio que sim, mas nosso cotidiano raso de paixões mesquinhas nos impede de buscar este contato. Nos definimos mais pelas nossas diferenças do que por nossas semelhanças. Às vezes só este fato novo para quebrar um padrão que repetimos por inércia.

Todo o impacto da chegada dos aliens ao nosso planeta é apresentado indiretamente, da mesma forma que a protagonista acompanha a estória. As consequências para a população mundial, como o caos que se segue ao encontro, sempre são mostradas pela televisão, assim como as decisões políticas das nações. Tal recurso narrativo faz a trama centrar-se ainda mais na jornada interna da protagonista.

O filme a princípio tem um ritmo muito lento, que para alguns espectadores mais acostumados ao ritmo de ação constante dos filmes de estúdios atuais pode soar enfadonho. É bastante lento o desenvolvimento do progresso das comunicações com os alienígenas, como acontece em quase tudo no mundo real. Mas no terceiro ato há uma mudança brusca no filme que nos faz repensar tudo que havia sido mostrado até então. Uma espécie de efeito semelhante ao da revelação final de O Sexto Sentido. E aí as fronteiras se expandem vertiginosamente. Nosso conceito de cronologia linear é completamente posto em questão. Não é mais o passado e o presente que dirão o que será o futuro, mas todos estes tempos andam juntos, tal qual a linguagem não-linear dos ETs. Estas frases podem parecer um completo delírio, mas no contexto do filme farão todo o sentido. 

O diretor canadense Denis Villeneuve é um craque, provavelmente o melhor diretor a aparecer no mainstream na última década. Aqui no Pitacos já foram analisados dois de seus filmes, os ótimos O Homem Duplicado e Sicario. Seus filmes são inquietantes, mantendo o espectador confuso junto ao protagonista. Um de seus recursos visuais favoritos é o uso de muitas tomadas a partir da visão dos personagens. Com esse trabalho, consegue caminhar magistralmente na tênue linha que separa os filmes de arte das produções de grande orçamento. A Chegada pode ser considerado tanto um filme de arte pelo foco inusitado da trama, por seu ritmo lento e pelas escolhas técnicas pouco convencionais, como um filme grande de estúdio, por conta de sua grande divulgação e sua boa bilheteria, bem como o fato do diretor procurar tornar a obra acessível ao grande público. 

O trio de atores principal vai bem. Jeremy Renner e Forest Whitaker fazem um bom trabalho mas a trama não lhes permite maior destaque. O holofote fica mesmo sob a ótima Amy Adams, excelente em uma atuação muito contida. Sua indicação ao prêmio de melhor atriz é quase certa, ao lado de concorrentes fortíssimas como Isabelle Huppert e Natalie Portman

Como já dito, o clima de tensão e de incerteza é constante. Para criá-lo, na parte técnica há um bom uso dos elementos cinematográficos. A fotografia minimalista de Bradford Young, característica de outros de seus filmes como Selma e O Ano Mais Violento, é bonita. Há uma alternância inteligente entre planos abertos e fechados e bom uso de contraluzes. Sua paleta é bem cinzenta, subexposta (escura) com cores pouco saturadas, conduzindo o espectador para a zona de penumbra e de melancolia da estória. Os cenários são extremamente econômicos, com quase nada de deslumbre visual que costuma caracterizar obras de ficção científica. Da mesma forma, os efeitos visuais são bem cuidados e criam bem o ambiente mas não se sobressaem.  A trilha sonora do islandês Jóhann Jóhannsson também segue nessa linha discreta, como em seus trabalhos anteriores indicados ao Oscar nos últimos dois anos, A Teoria de TudoSicario. O filme deve receber indicações em algumas destas categorias técnicas assim como de melhor filme, roteiro adaptado, direção e atriz principal, o que pode colocá-lo na liderança no número de indicações.

A Chegada é um filme que fica na linha tênue que divide cinema de arte de cinema pipoca. Não é para todos os públicos, pois é um filme que exige um comprometimento do espectador. Mas também não é um filme hermético feito para pseudo-intelectuais e supostos entendidos em arte se fingirem superiores. É um grande obra, certamente o melhor da safra Hollywood 2016 até o momento.

Nota: 9


P.S: Domingo ocorre a primeira grande premiação que antecede o Oscar, o Critic´s Choice Movie Awards, o prêmio dado pelos críticos. Segunda-feira sai um pitaco com algumas breves análises sobre a premiação. 

6 de dezembro de 2016

Dois Caras Legais

Parças 

The Nice Guys, Dir: Shane Black, EUA, 2016, 1h56min
IMDB                 Trailer                 Roteiro


Ao ver o cartaz deste filme normalmente há dois tipos de reação do espectador. Aquele que curte mais a pipoca que o filme vai pensar: legal, uma comédia pra não pensar muito com dois bons atores. E o segundo, aquele que gosta de "filmes-cabeça" pensa: olha aí mais um filme bobo feito só pra ganhar dinheiro. E nenhum estará completamente certo, e nem completamente errado. 

Dois Caras Legais é escrito e dirigido por Shane Black, roteirista do clássico Máquina Mortífera. Assim como em seu grande sucesso, aqui também há a reunião de dois tipos opostos. Healy (Russell Crowe) é o durão, um cara que bate nos outros quando pago. March (Ryan Gosling) é um detetive particular picareta, que só age por dinheiro e aceita casos até de idosas senis que estão em busca do marido já morto. O caminho dos dois irá se cruzar por conta de uma garota que fez um filme pornô e está sendo perseguida. Ela paga a Healy para protegê-la enquanto outra investigação paralela de March o leva a investigar a moça. Há de cara um confronto entre eles (na verdade uma surra dada pelo primeiro no segundo), mas depois se unem quando percebem que estão envolvidos em um caso misterioso que pode esconder uma grande conspiração.

A trama envolve uma certa complexidade e em certos momentos várias coisas parecem não ter sentido, mas ao final tudo é entregue mastigado ao espectador, lembrando o velho recurso dos desenhos do Scooby-Doo.

O filme é uma comédia e não faltam momentos divertidos, indo desde sutilezas de estranhamento de época, deboche de certas condutas pessoais, personagens caricatos a cenas pastelão, em momentos em que Gosling apanha muito e não sofre maiores consequências. O que poderia fazê-lo parecer o Bruce Willis em Duro de Matar, aqui é só farra e o filme deixa isto explícito, fazendo que ele lembre mais o memorável Coyote do desenho do Papa-Léguas.

Em um filme tão centrado em seus personagens a dupla principal tem que funcionar. E os dois bons atores que carregam o filme fazem isso bem. Curiosamente há até ecos do primeiro filme de sucesso de Russell Crowe, Los Angeles: Cidade Proibida (pitaco aqui), uma estória policial ambientada na mesma cidade em tempos passados e com Crowe sendo um cara rústico. Até a oscarizada (?!) Kim Basinger está presente, escondida atrás de infinitas plásticas. No elenco de apoio, destaca-se a jovem Angourie Rice no papel de filha adolescente de March.

O filme é bom tecnicamente. A ambientação dos anos 70 é ótima, numa Los Angeles em transição da era hippie para a era disco. A fotografia bastante colorida é muito bonita. A trilha sonora é um pouco clichê setentista, mas, sendo esta uma época de ótimas músicas, agrada ao longo de todo o filme.

Pelo cartaz Dois Caras Legais parecia somente um filme caça-níquel juntando dois astros hollywoodianos. Não deixa de ser, mas não é vazio como se poderia esperar. Há uma boa estória sendo contada, fazendo dele um filme pipoca de qualidade. 

Nota: 7


P.S: Nesta quinta-feira será dado início à Maratona do Oscar 2017 com o pitaco de A Chegada.