23 de maio de 2007

Paradise Now

Quem são os homens-bomba?

Idem, Dir. Hany Abu-Assad, Palestina/ França/ Alemanha/ Holanda/ Israel, 2005, 90min

Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2006, Paradise Now retrata a história de dois palestinos homens-bomba.

Said e Khaled são dois amigos, unidos pela idade, ambos em torno de 25 anos, e pela pobreza que trabalham como mecânicos na cidade de Nablus, na Palestina. Donos de personalidade bastante distintas, Said é bastante introspectivo e já Khaled é muito empolgado e falante. Dada a falta de perspectiva desses, decidem se oferecer como homens-bomba na guerra sem fim entre palestinos e israelenses.

Estão aqui alguns dos elementos que sempre ouvimos falar sobre homens-bomba. A glória a eles oferecida por se tornarem mártires e a recompensa vindoura que encontrarão no paraíso, razão pelo título do filme.

Apesar de tratar de um tema extremamente noticiado, o enfoque é diferente, já que normalmente acompanhamos tais notícias por órgãos de imprensa se não favoráveis pelo menos mais próximos de Israel do que dos Palestinos. No entanto, o filme tampouco é uma ode a coragem dos mártires árabes, muito pelo contrário. Em cima desse tema são discutidos assuntos como o porquê e a eficácia dessa estratégia, mostrando que os palestinos também pensam, e não são um bando de malucos fanáticos religiosos.

Obviamente, que essa questão do fanatismo não poderia deixar de aparecer em um filme com essa temática. Mas as personagens centrais são pessoas comuns e não loucos dispostos a sair matando indiscriminadamente. O que os leva a se tornarem homens-bomba é o mote do filme, e o que chama a atenção é que isso é causado pela falta de perspectivas desses homens, que não tem pouco a perder.

O filme trata também da motivação individual. Durante o filme, parece claro que Khaled é o mais motivado, sentindo-se um herói pelo que irá fazer e com sangue nos olhos, enquanto que Said sempre adota uma postura mais crítica e fria. Contudo, como mostra o filme, não basta essa motivação na base do grito, é necessário razão mais profunda para levar um ser humano acabar com a própria vida, o que Said tem e Khaled não.

Tecnicamente, Paradise também não deixa a desejar, com bons cenários, a maioria ao ar livre, retratando o cotidiano palestino, apresentando-nos a lugares que só vemos quando há bombas explodindo.

As atuações também são dignas de elogios, especialmente para Kais Nashif, sósia de Zidane, que vive Said.

Apesar dessas qualidades, Paradise não é nem uma obra prima, o mérito maior consiste em revelar uma realidade que conhecemos através de fortes doses de ideologia importadas do noticiário televisivo pró Israel.

Nota: 7

17 de maio de 2007

O Sétimo Selo

Grande Clássico


Det Sjunde Inseglet, Dir. Ingmar Bergman, Suécia, 1956, 95min


Considerado um dos maiores clássicos da sétima arte, o Sétimo Selo é um filme que aborda temas éticos, como religião, existência de deus e a morte na Suécia da Época das Cruzadas assolada pela Peste Negra.
A narrativa tem como protagonista o cavaleiro cruzado Antonius Block (Max Von Sydow, o padre mais velho de O Exorcista) em seu retorno a Suécia após 10 anos de combate na Terra Santa, juntamente com seu escudeiro, Jöns. Ao retornarem, encontram seu país tomado pela Peste Negra, que está ceifando a população. Neste cenário, Antonius vive em confronto com a Morte, representada por um homem com seu manto negro e foice. Antonius desafia a morte para um jogo de xadrez, em cena metafórica muito marcante, numa partida que se estenderá ao longo do filme.
O outro núcleo que logo se juntará ao dessas duas personagens é representado por uma companhia circense itinerante, formados por um casal e seu filho bebê e por outro homem, representando os artistas, que tentam levar alegria à vida das pessoas em um cenário tão sombrio. Este núcleo é o protagonista de uma das melhores cenas do filme, e, provavelmente, da história do cinema, na qual é apresentado um antagonismo entre medo e alegria.
Na cena em questão, enquanto a companhia se apresenta surge uma procissão, na qual são apresentadas as piores formas de fanatismo religioso, com pessoas se auto-flagelando, pagando promessas, padres rezando, algo que ainda encontramos no mundo atual, especialmente nas épocas de páscoa, no Brasil. As mesmas pessoas que estavam vaiando e atirando tomates contra a companhia, ou seja, rechaçando a beleza, ajoelham-se e demonstram devoção à barbárie da procissão.
Ao longo da narrativa, outras personagens se juntarão a esse núcleo principal em uma viagem pela Suécia, no qual são visitados igrejas, vilas, fazendas e florestas, sendo o filme uma espécie de roadie movie mais antigo.
Todos as personagens, sem exceção, são dotadas de profundidade, nenhum deles servindo para somente ter papel de figuração. Antonius e Jons formam um antagonismo entre um homem introspectivo e ligado às grandes questões ético-filosóficas e outro homem mais adepto das coisas mais concretas e mundanas. O casal de atores representam a alegria e esperança do ser humano mesmo em cenários terríveis. Além desses, entram no rol de personagens o ferreiro traído e sua mulher, o ator conquistador, o padre ladrão, a camponesa humilde e a esposa do cavaleiro que o aguarda por anos.
Aliado a isso, a parte técnica do filme é muito bem trabalhada em se tratando de um filme não holywoodiano, antigo e em preto-e-branco. A fotografia, iluminação e cenografia fazem de algumas cenas clássicas, como a representação de Antonius jogando xadrez com a morte.
Com certeza, Sétimo Selo não é um filme de fácil e nem de única interpretação. Bergman criou uma obra profunda, que, com certeza, requer que seja vista algumas vezes para melhor entender suas mensagens. Contudo, não é uma obra como Cidade dos Sonhos, um filme que é um grande quebra-cabeça no qual o espectador tem de juntar os fragmentos para procurar entendê-lo. A narrativa é linear e favorece a compreensão, qualquer um pode entender o básico do filme, mas as grandes e profundas discussões entre Antonius e a Morte exigem atenção especial e uma participação do espectador.
Enfim, Sétimo Selo é considerado um grande clássico e possui os méritos necessários para tanto.
Nota: 10

16 de maio de 2007

Piratas do Caribe – O Baú da Morte

Yo ho, yo ho, efeitos especiais pra mim

Pirates of the Caribbean: Dead Man´s Chest - Dir. Gore Verbinski, EUA, 2006, 150min



Continuação do filme de 2003, Piratas do Caribe “2” mostra uma nova aventura protagonizada pelo trio Elisabeth (Keira Nightley), Will Tuner (Orlando Bloom) e o divertido pirata Capitão Jack Sparrow (na excelente, como sempre, atuação de Johnny Depp).

Nesta aventura, um enredo estranhíssimo, envolvendo mais coisas sobrenaturais que o primeiro e uma rede de personagens complicam a história, que já não é lá das melhores. A confusão é tanta em meio a tantas histórias paralelas que o espectador perde-se em meio a elas.
O filme perde-se muito em suas virtudes técnicas. Realmente, os efeitos especiais impressionam, mas nunca um filme deve tentar se apoiar sobre esses, que devem servir como elemento de criação cinematográfica. Em Piratas, o filme parece um grande laboratório de testes de técnicas cinematográficas. Exemplo é o vilão principal, o Capitão Davy Jones, um ser criado por computador com uma barba de tentáculos e sua tripulação todo formado por seres semelhantes. Exagero que retira o foco de qualquer tentativa de atuação.
Piratas 2 perde até o charme de seu antecessor, que consistia em ser uma historinha simples e divertida, no qual os efeitos especiais não roubavam a cena. Sobra um pouco de diversão, menos que no primeiro, e a atuação de Johnny Depp.

Nota: 4

14 de maio de 2007

Barry Lyndon

Tudo que sobe, desce

Idem, Dir. Stanley Kubrick, Inglaterra, 1975, 183min

Apesar de ser bastante suspeito para falar de filmes do Kubrick, que é meu diretor preferido, dou aqui meu pitaco sobre essa obra-prima (só por esse comentário já dá pra saber a nota), Barry Lyndon.

A história do filme retrata a trajetória de um Zé ninguém que busca um lugar ao sol. A trajetória do anti-herói Redmond Barry, cobre um período de aproximadamente 20 anos, mostrando sua ascensão e decadência.

Redmond é um jovem irlandês que vive com sua mãe em uma casa cedida por favor por um tio. Tal situação o faz ser mal visto pela sociedade, encarnada na figura de sua prima, sua primeira paixão, que, apesar de gostar dele, o despreza por ele não ter onde cair morto. Assim, esta inicia um namoro com um capitão do exército inglês, possuidor de status e dinheiro, que ainda ajudaria sua família com o abatimento de uma dívida.

Sentindo-se traído, Barry desafia o capitão para um duelo, o qual, surpreendentemente, vence. Com isso, Redmond tem que fugir das autoridades inglesas, e inicia sua grande jornada, que passa pelo exército inglês e pelo prussiano, torna-se servo de um espião disfarçado de nobre, golpista profissional e casa-se com uma jovem viúva aristocrata.

Nessa trajetória, Kubrick coloca alguns elementos característicos de sua filmografia, como diálogos estranhos para certas situações, como no assalto em que os ladrões conversam com Barry como se fosse um encontro de cavalheiros, desilusão com as forças armadas, corrupção do mundo, hipocrisia humana e outros elementos de sua visão pessimista do mundo.

Associado a isso, um rigor técnico apurado, com ambientações, figurino e fotografia invejáveis, servindo como excelente retrato da Europa pré-revolução Francesa. As 3 horas de filme valem à pena para quem está disposto a acompanhar uma história extremamente bem contada.

Barry Lyndon é uma grande alegoria que mostra a que pode levar a ambição humana, apresentando certa lição moralista, de que as conquistas são efêmeras, e tudo que sobe, inevitavelmente, desce.

Nota: 10

11 de maio de 2007

Homem-Aranha 3

Mosaico Aranha

Spider-Man 3, Dir. Sam Raimi, EUA, 2007, 140min


Continuação desta trilogia cinematográfica do herói de HQs e desenhos animados, que devido aos sucessos de bilheteria é bem provável que gere novos filmes.

Nesta aventura, Peter Parker (Tobey Maguire) começa a finalmente a desfrutar do sucesso como Homem-Aranha, na velha questão da fama subir à cabeça, já que é festejado, poderíamos dizer, por público e crítica. Ao mesmo tempo, sua namorada, Mary Jane (Kirsten Dunst), encontra-se em situação oposta em sua carreira como atriz da Broadway. Colocar o lado humano juntamente à ação não é novidade na série, pois todos os filmes sempre apresentaram algum conflito humano da personagem central, o que vem sendo a tônica nas superproduções de super heróis, como X-Men e Hulk.

O primeiro confronto de Homem-Aranha é com seu antigo amigo Harry Osbourne (James Franco), filho do vilão do primeiro filme, o Duende Verde, que busca vingar à morte de seu pai que acredita ele que foi assassinado por Peter. Munido de uma prancha voadora, ele enfrenta Peter e é derrotado por ele, sofrendo amnésia e retomando a amizade. Cabe aqui um elogio à atuação de Franco, que consegue mudar completamente sua expressão de vilão para bom moço após a amnésia.

Outro novo vilão é Homem-Areia (Thomas Haden Church, do brilhante Sideways) o verdadeiro assassino de Ben Parker, tio e pai de criação de Peter, um bom ladrão que ganha seus poderes em um experimento científico, como as demais personagens da série.

Também pode ser considerada como vilã a substância misteriosa que, logo no início do filme, vinda de um meteoro, entra em contato com Peter. Tal substância torna o uniforme de Aranha negro, dando mais poderes à Peter e estimulando sua agressividade. Por conta disso, surge uma das melhores cenas do filme, no momentoem que Peter, sentindo-se muito confiante, começa a paquerar todas as mulheres com que cruza na rua, inclusive dançando sozinho nas ruas de Manhattan.

Somados todos esses eventos, Peter começa a perder Mary Jane, que não se sente especial junto ao namorado, iniciando um relacionamento com Harry.

Por fim, quando Peter se livra da substância, ela cai em seu rival, o fotógrafo Eddie, que se torna Venom, que tem por objetivo único destruir o Aranha, e une-se ao Areia para tanto.

Analisando o filme em relação aos seus antecessores, a nova aventura inclui muitos vilões, o que retira a força desses, pois, desta maneira, não pode aprofundar as personagens, como fez melhor com Duende Verde no primeiro filme e Dr. Octopus no segundo. Por exemplo, o fato de Homem-Areia pedir desculpas ao Homem-Aranha surge do nada, sem grandes explicações. Venom, de seu surgimento ao seu fim, dura menos de uma hora em tela. Harry é o melhor tratado desses, que une-se ao Aranha no final para salvar Mary Jane.

Mesmo o lado humano, o que era a grande força dos dois primeiros filmes, aqui tratou de algo menos emotivo do que nos anteriores, que versavam sobre o crescimento de uma pessoa comum e sobre o conflito entre viver uma vida ordinária e uma de herói.

Assim, Homem-Aranha 3 torna-se uma vítima do sucesso da série, perdendo um pouco do tom de aprofundamento que marcaram seus antecessores e apenas repetindo seu sucesso com um grande mosaico para atrair maiores bilheterias.

Nota: 4


7 de maio de 2007

Sexo, Mentiras e Videotape

Sexo verbal

Sex, Lies and Videotape, Dir. Steven Soderbergh, EUA, 1989, 103min


Filme cult dos anos 80, especialmente por ter sido indicado ao Oscar de Melhor Roteiro. Apesar do nome, o filme não tem nada de pornográfico ou erótico, sendo que o sexo é somente discutido e a história gira em torno de somente quatro personagens, dois homens e duas mulheres, lembrando o recente e excelente Closer.

John (Peter Gallagher, hoje em dia o tiozão no O.C.) é um advogado bem sucedido casado com Ann (Andie MacDowell), que abandonou a profissão para viver cuidando do marido. A falta do que fazer faz com que ela se submeta à terapia para falar de suas neuras decorrentes de seu quase isolamento como dona de casa. Enquanto isso, John mantém um caso com sua irmã mais nova, Cynthia (Laura San Giacomo), com personalidade muito distinta de Ann, de quem sente profundo ciúme por ser a queridinha de todos. Nesse cenário de mentiras, John ainda faz o papel do senhor certinho, revelando uma profunda hipocrisia.

Com este cenário estabelecido, surge na história Graham (James Spader) amigo de faculdade de John que não o via desde a formatura. Ambos tomaram caminhos muito distintos, e Graham é praticamente um nômade que não trabalha, apenas tem um carro e sai passeando pelo mundo.

No encontro com John, estabelece-se o clima de discordância entre esses. Graham se mostra um cara que não suporta a hipocrisia do mundo, ao mesmo tempo que se revela um desajustado social, não muito habituado as regras de etiqueta do mundo “civilizado”. Esse comportamento diferente intriga Ann, que se sente atraída por essa pessoa diferente, como ela mesma se sente.

Graham revela-se um homem mais estranho do que parece. Apesar de extremamente sincero e simpático, esconde uma mania pouco comum: colecionar depoimentos por ele gravados em vídeo sobre mulheres relatando suas vidas sexuais. Mais interessante ainda é o fato de ele revelar a Ann que é impotente, sendo esses depoimentos sua fonte de prazer.

Como esperado, as máscaras caem no final, sendo que Ann descobre a traição de John com Cynthia e John vê a fita com o depoimento sexual de Ann.

Assim, Sexo, Mentiras e Videotape é um filme com poucos personagens com certa profundidade que busca mostrar a verdade que existe por trás das convenções sociais.

Nota: 7

A Comilança

Comer comer.... é o melhor para poder morrer

La Grande Bouffe, Dir. Marco Ferreri, França/Itália, 1973, 130min


Filme que passou recentemente na sessão cinéfilo do HSBC. O enredo consiste em um grupo de quatro amigos que decide se reunir para comer até morrer. Todos as personagens recebem o nome de seus intérpretes.

Marcello (Mastroianni) é um piloto de aviões machão à moda antiga. Ugo (Tognazzi) é o chef que por motivos óbvios assume a função de carrasco. Michel (Piccoli) é coreógrafo e dono da mansão onde ocorre a cerimônia. E Philippe (Noiret) é o juiz controlado por sua ama de leite. Todos senhores de meia idade e respeitados pelo que fazem.

Logo no início do isolamento, Marcello diz que não pode ficar sem transar e decide chamar algumas prostitutas à casa. Pouco depois, o grupo convida uma professora primária para juntar-se a eles. Dado seu cargo, todos julgavam ser ela uma pessoa muito pudica, temendo pela reação dela juntamente as prostitutas, mas ela releva-se mais devassa que as profissionais do sexo.

Assim, o filme segue esse caminho da comparação entre os prazeres sexuais e degustativos, apresentando-nos uma idéia de que são muito próximos um do outro, senão iguais.

Como todo filme que procura abordar a loucura humana, Comilança é também um filme que nos leva a esse mundo louco, fazendo-nos questionar se o louco são eles ou se os loucos somos nós, ou se ambos.

No entanto, o filme, apesar dos personagens bem construídos e das excelentes interpretações, tem um ritmo lento demais, e caminha para um final esperado em seu final. Algumas cenas poderiam ser mais curtas, para o filme ter menos que duas horas.

Como é um filme que gera a dúvida se é brilhante ou estúpido, mas é interessante, aqui vai sua nota

Nota: 6