30 de junho de 2017

Mulher-Maravilha

Super Mulher 

Wonder Woman, Dir: Pat Jenkins, EUA, 2017


A DC Comics segue tentando fazer com que seu universo cinematográfico rivalize com o da arquirrival Marvel. Após 3 tentativas de médias pra baixo (O Homem de Aço, Batman vs Superman e Esquadrão  Suicida) finalmente o estúdio achou o tom com a mais icônica heroina feminina, a Mulher-Maravilha.

O filme conta a história de origem da Princesa Diana da Ilha de Temiscira, local existente em uma dimensão paralela e habitado somente por bravas guerreiras. A paz do local é quebrada durante a Primeira Guerra Mundial, quando o piloto americano Capitão Steve tem seu avião abatido e acaba atravessando o portal dimensional que leva a Ilha, levando em seu encalço vários marinheiros alemães que o perseguiam.

Após esse encontro Diana fica convencida de que o conflito é causado pelo Deus da Guerra Áries e que somente ela pode impedi-lo e encerrar sangrento conflito. 

Pois bem, lendo assim, a trama, apesar de fantasiosa, é simples. Pois não só parece, mas de fato não há nada de enrolado no desenvolvimento da narrativa, e esse é o maior acerto do filme. Uma história simples, envolvente e bem desenvolvida. 

Isso não isenta o filme de problemas. Um dos mais destacados é a falta de recursos interpretativos da protagonista, Gal Gadot. Não chega a ser um grave problema, pois o filme não precisa de muito mais do que uma protagonista bonita e simpática, mas em alguns momentos percebe-se, em meio a suas caras e bocas para fotos, que ela é uma miss tentando ser atriz.

Outro ponto que é sempre destaque negativo em produções da DC é o confronto final recheado de CGI com fogo e destruição que gera umas catarse visual que nada acrescenta ao drama e polui visualmente a cena.

Mas em muitos outros pontos a produção acerta. Ao contrário dos últimos Batman e Superman, que questionam seu papel de herói, a Mulher-Maravilha jamais reflete sobre seu papel de salvadora. Ela é uma heroína e enfrentará grandes perigos se colocando em risco por puro altruísmo. Ponto. E essa é a força simbólica de um herói. 

Algumas cenas de ação são muito bem elaboradas, com destaque para o confronto das amazonas e para a travessia de Diana pelas trincheiras do Fronte Ocidental. 

E outro detalhe importantíssimo, as cores. A DC gostou do tom sombrio do Batman e o tornou padrão em todos os seus filmes. Mas a paleta escurecida não combina com heróis solares como Superman e Mulher-Maravilha. As cenas na Ilha tem uma belíssima cinematografia. 

Mulher-Maravilha é o primeiro acerto da DC nesse seu universo cinematográfico compartilhado. Tomara que não seja o único. A conferir com a breve estréia da Liga da Justiça. 

Nota: 7

31 de maio de 2017

Cantando na Chuva

I´m Singin´ in the Rain

Singin´ in the Rain, Dir: Gene Kelly/Stanley Donen, EUA, 1952, 1h43min
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Na temporada que antecedeu o Oscar 2017 tivemos uma grande polêmica envolvendo La La Land. Uma das principais críticas era que o filme seria uma imitação ruim do clássico dos clássicos Cantando na Chuva. Então vamos beber na fonte e saber mais sobre o musical mais famoso do cinema e depois voltamos à essa conversa sobre o filme que ganhou o Oscar 2017 (só que não).

Cantando na Chuva foi rodado no longínquo 1952, época em que nomes como Fred Astaire, Frank Sinatra e Gene Kelly arrastavam multidões aos cinemas para vê-los dançando e cantando. E engana-se quem imagina que um filme com quase 70 anos (contando uma história 20 anos mais velha) deve só uma comediazinha inocente. Desde a primeira cena percebe-se a fortíssima ironia do filme com todo o falso glamour e as notícias inventadas que rondam a indústria de celebridades do cinema. 

O filme acompanha a transição da era do cinema mudo para o cinema falado, sob a perspectiva do maior astro hollywoodiano, Don Lockwood (Gene Kelly). Em seu percurso ele terá de lidar com sua irritante parceira de telas Lina Lamont (Jean Hagen) e com seu novo amor Kathy Selden (Debbie Reynolds), sempre ao lado de seu fiel escudeiro Cosmo Brown (Donald O´Connor).

Apesar de hoje parecer algo trivial, a inclusão de som ambiente ao cinema modificou completamente a indústria. A técnica teve de ser modificada pois alguns equipamentos eram tão barulhentos que tiveram de ser retirados de cena. E, especialmente, os atores, que limitavam-se à pantomima, ou seja, gestos, movimentos e expressões faciais (muitas vezes exageradas) tiveram de aprender a decorar textos e usar sua voz. Muitos, como a antagonista do filme, não conseguiram. Sobre o tema do fracasso da adaptação ao cinema falado há filmes como O Artista e Crepúsculos dos Deuses.

Embora a sonorização dos filmes tenha seu lado melancólico, Cantando na Chuva é totalmente alto-astral. A antagonista que não se adapta não é uma personagem carismática de quem o espectador sentirá pena. Ao contrário. É uma mulherzinha sem talento, chata e mesquinha e que todos querem que se dê mal.

Ao contrário do que se possa imaginar, um musical não é somente um somatório de vários números de música e dança. Claro que há várias sequências assim, mas há uma história bem elaborada sendo contada por meios narrativos convencionais.

O elenco do filme é ótimo. Gene Kelly tem um carisma poucas vezes visto nas telas e mostra porque é considerado um dos melhores dançarinos das telas. Debbie Reynolds (que morreu recentemente dois dias após sua filha Carrie Fisher) dá vida a uma garota comum, simples e cativante. E Donald O´Connor une técnica e humor circense - e a música tema Make ´em Laugh de seu número solo fará com que os mais velhos se lembrem do clássico tema do programa do Bozo, Sempre Rir.

A produção é bastante caprichada, com cenários grandiosos bem construídos e rico figurino. A fotografia abusa das cores vibrantes e tem ótimos movimentos de câmeras para acompanhar as coreografias.

Quanto à comparação com La La Land, o que se deve fazer é analisar cada um a seu tempo. Ambos tem boas histórias, por mais que sejam comuns. E não se pode exigir dos atores do mais recente que sejam referências em canto e dança, pois a formação destes não é a mesma que teve Gene Kelly. E , o principal aqui, La La Land nunca renegou a influência dos musicais clássicos e especialmente de Cantando na Chuva.

Cantando na Chuva é um marco no cinema. Além de sua produção impecável há de se destacar seu ótimo astral e seu humor constante que fazem os espectadores terem um divertimento de excelente qualidade.

Nota: 10

11 de abril de 2017

T2 Trainspotting

Nostalgia careta

Dir: Danny Boyle, Reino Unido, 2017, 1h57min
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Trainspotting é um clássico cult dos anos 90. Filme marcante na vida de muitas pessoas na faixa dos 30 a 40 anos, que viram cenas pesadíssimas de consumo de heroína e das alucinações causadas por ela em sua adolescência - há até quem diga que o impacto do filme as impediu de se aventurarem em drogas pesadas. Se você ainda não viu (tem na Netflix), veja antes de ver este, pois a trama deste é profundamente dependente da primeira parte. Clique aqui para ler o pitaco do primeiro.

T2 Trainspotting continua a história dos quatro personagens principais 20 anos após a traição de Renton ao final do primeiro filme e o reencontro/acerto de contas entre eles.

A trama tomou elementos tanto do livro homônimo em que se baseou o filme original quanto de sua sequência Pornô (que se passa 10 e não 20 anos após os acontecimentos da história original). Isso fica claro na medida em que não há eventos somente ocorridos neste reencontro, mas a origem do relacionamento dos personagens também é mostrada em cenas de suas infâncias e adolescências.

Há primeira coisa que se nota em T2 é  fato de fazer muitas referências ao primeiro filme, seja por meio de flashbacks, cenas passadas nos mesmos lugares e situações semelhantes. Por exemplo, a marcante cena de Renton sendo atropelado da sequência inicial do primeiro filme é mostrada tanto em flashback como reencenada. 

O filme é permeado pelo clima de reencontro de amigos (ou inimigos) que lembrou até mesmo filmes bobos como American Pie: O Reencontro. Por boa parte da narrativa parece até mesmo que o filme não tem uma história própria a contar, o que, felizmente, depois acaba se ajeitando.

Por conta disso, T2 em alguns momentos parece ser somente uma homenagem ao primeiro filme. E esse é seu maior erro. Há ali uma história própria surgida no reencontro entre os personagens. Mas a necessidade de reviver a história anterior parece falar mais alto. Pelo menos há uma autocrítica no próprio filme quando Sick Boy diz a Renton que ele foi fazer turismo em seu passado.

T2 segue seu antecessor ao manter o questionamento à sociedade capitalista ocidental contemporânea e seu consumismo. Aqui atualizado para a era digital, já que o reconhecimento social das redes sociais se tornou mais relevante até do que o conforto material. Mas perde a originalidade parecendo apenas requentar aquela ideia e o famoso discurso do Choose Life.

Um dos pontos altos do filme é a sensação de envelhecimento sentida pelos personagens. Aos 20 e poucos tinham a vida pra viver (ainda que só quisessem se dopar). Aos 40 e muitos mais se ressentem pelos erros do que tem expectativas no futuro. Os personagens também ganharam mais peso dramático. Sick Boy (Johnny Lee Miller) ainda que seguindo com seu cinismo e exibicionismo tornou-se mais ressentido. A violência psicopata de Begbie (Robert Carlyle) subiu de nível motivada pelo ódio vingativo dirigido a Renton (Ewan McGregor), que segue sendo o cara mais normal do grupo e o condutor da trama, agora mais careta. Spud (Ewen Bremner) foi quem mais ganhou na trama, deixando de ser só um coitadinho meio atrapalhado e revelando ser um cara profundamente atento aos acontecimentos que se passam à sua volta e que sofre muito pelos efeitos sociais de seus muitos anos de dependência química.

O diretor Danny Boyle, que na época do lançamento do primeiro filme era visto com um dos mais promissores cineastas britânicos e que veio a ganhar o Oscar por Quem Quer Ser um Milionário?,parece ter perdido sua originalidade com o envelhecimento, apenas reciclando algumas de suas idéias do filme anterior, faltando até mesmo o ritmo frenético da edição que caracterizou o primeiro filme.

Na comparação com o original o filme fica muito distante em qualidade. Trainspotting foi um filme revolucionário, um divisor de águas entre anos 1990 e 2000, era em que a internet era uma novidade que ainda causava pouco impacto à vida cotidiana. Seu tema, sua trama, sua cenas fortes, seus momentos surreais, seus personagens cheios de defeitos, sua edição e sua estética fugiam completamente ao padrão. Desde então é considerado um dos 10 maiores filmes britânicos. T2 é um bom filme, mas assim como O Poderoso Chefão 3, há um abismo de qualidade entre ele e seu original, pois bons filmes não se comparam à obras primas.

T2 Trainspotting é nostálgico, saudosista e autorreferencial além do que deveria ser e não se compara ao original. Um filme para velhos lembrarem seus tempos gloriosos e perceberem que o tempo passou. Mas ainda assim é uma boa experiência cinematográfica aos fãs da velha turma de junkies. 

Nota: 7

28 de março de 2017

Logan

O peso dos anos 

Dir: James Mangold, EUA, 2017, 2h17min
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Após duas história muito abaixo do que o personagem merece, Wolverine está de volta na história que leva o nome que ele adotou pela vida Logan.

Na trama, passada em 2029, os mutantes foram praticamente exterminados e os poucos remanescentes vivem no anonimato, dentre eles Wolverine e o Professor Xavier, sofrendo de doenças mentais. Logan tenta viver uma vida ordinária como motorista de limusine na fronteira do México com os EUA, quando uma mulher chega até ele pedindo para ele salvar uma criança mutante, Laura (X-23), que tem os mesmos poderes de Wolverine e está sendo perseguida por um exército de mercenários.

No filme vemos um Wolverine envelhecido, cansado e amargurado por seus anos de violência e amores frustrados. Por conta disso está relutante em se envolver em qualquer jornada heroica ou desenvolver qualquer relação afetiva. Mas vários fatos vão mudando suas ideias e vão despertando o herói adormecido.

O roteiro é bom e foge do padrão de filmes de super-heróis de primeiro se pensar em várias cenas de ação e depois se colocar um roteiro para dar coesão. Aqui o roteiro e o desenvolvimento dos personagens são mais importantes. É uma história bastante introspectiva, incomum para o gênero. E a tristeza, a dor e o sofrimento darão o tom em toda a projeção.

Hugh Jackman tem um grande filme para se despedir do personagem que defendeu por 17 anos. O trabalho de ator aqui é de longe o mais exigente já enfrentado por ele como Logan. Wolverine sempre sofreu, mas aqui a intensidade é ainda maior e o peso dos anos fez com que ele estivesse conformado e tentando se manter alheio ao sofrimento. Patrick Stewart também tem um novo relacionamento com o Professor Xavier, pois aqui ele deixou de ser o líder super centrado de sempre, se tornando um velho gagá resmungão. E a menina Dafne Keen encanta com seu olhar expressivo ainda que quase não fale no filme.

A produção é caprichada, imprimindo um tom sujo ao filme. Não é um típico filme de herói colorido, mas um filme meio western meio road movie, áspero e seco, especialmente considerando o cenário do Oeste dos Estados Unidos, de El Paso até a fronteira norte com o Canadá. As cenas de ação são bem conduzidas e finalmente um personagem que tem 6 garras afiadas como espadas tira sangue de seus inimigos. Muito sangue.

Logan é um bom filme de herói e uma merecida despedida de Hugh Jackman do papel. Os fãs agradecem.

Nota: 8

14 de março de 2017

Silêncio

Homens de Fé

Silence, Dir: Martin Scorsese, EUA/Taiwan/Mexico, 2016, 2h41min
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Até onde uma pessoa pode resistir a castigos físicos e psicológicos em nome de um ideal? Este é o tema central do novo filme de Martin Scorsese, Silêncio.

Na trama, dois padres jesuítas portugueses partem para o Japão feudal do século XVII em busca de seu mentor que há anos está desaparecido no país. Lá irão encontrar uma nação completamente fechada à influência estrangeira e em processo de inquisição budista contra o cristianismo, torturando sistematicamente seus seguidores. Os poucos cristãos tem que professar sua crença no mais absoluto sigilo, lembrando o cristianismo dos primeiros dias das catacumbas romanas. Os padres terão de viver nas sombras para não serem pegos pelo poderoso inquisidor local.

A primeira coisa a se saber antes de assistir ao filme é que se precisa estar bem acordado. O filme é extremamente escuro e lento, com um demorado desenvolvimento da trama, um convite ao sono. Scorsese tem filmes muito dinâmicos, como Os Bons Companheiros e O Lobo de Wall Street, mas também tem filmes desse tipo lento. Infelizmente este não segue o exemplo do ótimo Touro Indomável, mas fica mais para o monótono O Aviador.

Além do tema da resiliência (aqui como a resistência ao sofrimento em meio a muitas torturas), há também questionamentos sobre a fé (existe mesmo Deus ou se está rezando para o Silêncio?) e sobre como se deve viver, se aceitando as regras do mundo e traindo seus ideias ou se mantendo-se fiéis a suas crenças e vivendo em conflito com o sistema. Há muito de espiritual aqui mas Scorsese não quis fazer uma ode ao cristianismo, mas sim uma análise da disposição de um homem em defender seus valores frente a gigantes obstáculos.

O elenco é competente, com Andrew Garfield, Liam Neeson e Adam Driver nos papéis principais. Garfield tem um papel cujas linhas mestras lembram muito as de seu outro trabalho recente, Até o Último Homem, o de um sujeito que leva sua defesa da fé até as últimas consequências. E Neeson, após muitos anos fazendo filmes de ação, voltou a ter um papel decente que poderia até ter sido lembrado no Oscar.

A direção de Scorsese é bem cuidada, como sempre. Como dito, o maior problemas técnico é sua edição que abusa de tomadas muito alongadas e monótonas. A fotografia é bem acinzentada, representando tanto a ambiguidade do local como seu lado sombrio. Apesar de sua qualidade, não merecia a indicação ao Oscar recebida, que deveria ter ficado com Animais Noturnos.

Silêncio é um bom filme com seus questionamentos sobre a disposição humana, mas bastante difícil. Violento, espiritual e reflexivo. Não tem valor nenhum como entretenimento pois não agrada nem um pouco a quem quer "se divertir". E seu pior defeito é ser bastante cansativo.

Nota: 7

26 de fevereiro de 2017

Oscar 2017: Apostas

And the Oscar Goes To...

Após finalizada a Maratona do Oscar 2017, vamos às apostas e ao votos do Pitacos nas principais categorias de longas.

Melhor Filme

Vencedor: La La Land
Pitacos escolhe: A Chegada

Desde antes da temporada de premiações La La Land era apontado como o filme a ser batido. E após ganhar todas as premiações já tem um Oscar quase certo. Será merecido, pois é um filmaço, por mais que digam que musical é ruim, que é filme de brancos, que é filme de menina ou que é só uma cópia de grandes musicais do passado. O único filme que parece que teria forças para batê-lo é o elogiado Moonlight.
No entanto, A Chegada é um filme que mexe com nossa própria noção de entendimento do mundo. Um filme que nos deixa atordoado ao final e que é muito bem executado.
Como esta é a categoria principal, segue a lista de preferências (os dois últimos filmes sequer deveriam estar na disputa): 

Diretor

Vencedor: Damien Chazelle - La La Land
Pitacos escolhe: Idem

Chazelle e Vileneuve (A Chegada) são dois monstros. Seria legal se dividissem o prêmio. Mas o jovem Chazelle irá levar e merece pelo virtuosismo que é La La Land.


Atriz Principal

Vencedora: Emma Stone - La La Land
Pitacos escolhe: Isabelle Hupert - Elle

Categoria disputada entre Stone, Huppert e Portman. Apesar de ser fã de Natalie Portman, não gostei muito dela como Jackie. Huppert se sobressai fazendo uma mulher cheia 


Ator Principal

Vencedor: Denzel Washington - Um Limite Entre Nós
Pitacos escolhe: Casey Affleck - Manchester à Beira-Mar

O irmão mais novo do Ben Affleck, que era prêmio quase certo, perdeu força por conta da acusação de assédio sexual de 7 anos atrás. Seria o merecedor, mas Denzel Washington fez um ótimo trabalho ficou muito forte após ganhar o SAG Awards e pode entrar na seleta lista de vencedores do Oscar por 3 vezes.


Atriz Coadjuvante

Vencedora: Viola Davis - Um Limite Entre Nós
Pitacos escolhe: Naomie Harris - Moonlight

Davis está ótima em Fences e vai ganhar o prêmio. Mas Naomie Harris também fez um trabalho cheia de nuances em Moonlight e ganha meu voto.


Ator Coadjuvante

Vencedor: Mahershala Ali - Moonlight
Pitacos escolhe: Michael Shannon - Animais Noturnos

Mesmo com pouco tempo de tela, Ali fez um belo trabalho e é prêmio certo. Shannon foi mais um que deu show no elenco do subestimado Animais Noturnos.


Roteiro Original

Pitacos escolhe: O Lagosta

Manchester disputa o prêmio com La La Land. A originalidade de O Lagosta merecia levar.


Roteiro Adaptado

Vencedor: Moonlight
Pitacos escolhe: A Chegada
O roteiro cheio de drama e instrospecção de Moonlight é franco favorito. Mas o roteiro espetacular de A Chegada merecia. 


Edição

Vencedor: La La Land
Pitacos escolhe: Idem

A edição de La La Land é essencial para dar seu ritmo alegre e deve levar. Mas quem deveria estar nesta lista e ganhar seria a brilhante edição de Animais Noturnos, que mantém a tensão do espectador no filme todo.


Fotografia

Vencedor: La La Land
Pitacos escolhe: Idem

Um show, com seus planos sequência, cores vivas e câmera flutuando pelos cenários. Se não ganhar é zebra. 


Canção Original

Vencedora: "City of Stars" - La La Land
Pitacos escolhe: Idem
Uma canção memorável, que se sai do cinema querendo cantá-la. Prêmio garantido e uma canção que será lembrada por muitos anos.


Figurino

Vencedor: La La Land
Pitacos escolhe: Idem
As roupas de Mia e Sebastian fazem parte da história. O único concorrente com chances é Jackie.


Mixagem de Som

Vencedor: La La Land
Pitacos escolhe: Idem

Impossível um musical bem feito perder aqui.


Edição de Som

Pitacos escolhe: A Chegada

Filmes de guerra necessitam de criação de sons mais do que qualquer tipo. Mas os sons diferentes dos ETs mereciam mais.


Efeitos Visuais

Vencedor: Mogli - O Menino Lobo
Pitacos escolhe: sem voto

A disputa é entre Mogli e Rogue One. Como este é o único indicado que vi, não voto.


Design de Produção

Vencedor: La La Land
Pitacos escolhe: Idem

Uma aula de cenografia. Prêmio certo. 


Trilha Sonora

Vencedor: Justin Hurwitz - La La Land
Pitacos escolhe: Idem

Precisa discutir?


Longa Estrangeiro

Vencedor: O Apartamento
Pitacos escolhe: sem voto
Disputa entre Toni Erdmann e O Apartamento. Se o último ganhar é pelo voto político. Não voto porque só vi este, é um bom filme, mas nada fora do comum.


Animação

Vencedor: Zootopia
Pitacos escolhe: sem voto

Zootopia está com o prêmio quase garantido. Não vi nenhum e não voto.

É isso. Cerimônia ao vivo na TNT, pra quem não for pra farra e nem ficar de vouyeur vendo desfiles de carnaval. Pelo menos dá pra ficar acordado até as 3 e pouco e dormir até mais tarde.

Vou postar uns pitacos ao vivo no Twitter.  https://twitter.com/PitacosCine

24 de fevereiro de 2017

Oscar 2017: Indicados do Pitacos

Os Esnobados

E mais uma vez temos a lista dos Indicados do Pitacos Cinematográficos. Não vi tudo que o cinema produziu em 2016. Portanto, esta lista não é exaustiva. No entanto, considerando que vi a maioria dos filmes discutidos na temporada de premiações e apontados como bons pela crítica, creio que posso fazer algumas alterações.

Como já previa desde antes da lista de Indicados ao Oscar Animais Noturnos, um filmaço que merecia concorrer a quase tudo, foi esnobado enquanto um filme com roteiro bobo como Estrelas Além do Tempo recebeu 3 indicações incluindo melhor filme e roteiro(!).

Não foram feitas alterações nas categorias de curtas, animações, documentários e em algumas das técnicas. As principais estão aqui representadas, algumas com muitas alterações.

Concorda? Deixei algo de fora? Tirei um filme que você ama? Deixe seus pitacos.

Em poucas horas sairá a lista das Apostas do Oscar 2016 com os votos do Pitacos em cada categoria.
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Melhor filme
Estrelas Além do Tempo, apesar de seu tema importante, é um filme feito para crianças, o pior indicado da década. Até o Último Homem é apenas ok e Mulheres do Século XX é melhor. Animais Noturnos é um filmaço que deveria estar brigando pra vencer melhor filme.
Diretor
Ford fez um filmaço! E David Mackenzie mostrou bem mais competência na direção que Mel Gibson.
Ator
Os excluídos foram bem, mas os incluídos foram melhor. Gyllenhaal é sempre esnobado, mesmo após uma atuação monumental como esta. E Farrell está ótimo.
Atriz
  • Emma Stone - La La Land 
  • Natalie Portman - Jackie
  • Isabelle Huppert - Elle 
  • Ruth Negga - Loving
  • Meryl Streep - Florence: Quem é Essa Mulher?
  • Amy Adams - A Chegada
  • Sonia Braga - Aquarius
  • Annette Bening - Mulheres do Século XX
A categoria mais difícil de ser mudada. Todas as indicadas estão bem, até mesmo Meryl Streep não entrou só pela sua cota de sempre, mas por seu mais divertido trabalho. Deixei na lista as que achei melhor e incluí as demais que fizeram trabalhos melhores que os das indicadas.
    Ator Coadjuvante
    Hedges vai bem, mas nada de excepcional. Rhodes consegue passar uma imagem enquanto em seu interior é outra pessoa. 

    Atriz Coadjuvante

    Spencer não fez nada de mais no filme. Gerwig fez um ótimo trabalho .
    Roteiro Original 
    Aquarius é um filmaço e até mesmo críticos estrangeiros estão apontando que poderia ter sido indicado aqui.
    Roteiro Adaptado
    Aqui parece piada terem incluído o roteiro juvenil de Estrelas Além do Tempo na disputa. Animais Noturnos tem um roteiro fantástico. 
    Fotografia
    Aqui é difícil mexer. Tirei Silêncio sem vê-lo porque os demais são muito bons. E Animais Noturnos é ótimo.
    Design de Produção
    Já falei que Animais Noturnos é um filmaço e que foi esnobado? Seus cenários contrastantes são marcantes.
    Edição
    Então, né... Animais Noturnos é um filmaço! E a edição mescla perfeitamente 3 histórias correndo paralelamente.
    Trilha Sonora
    A trilha sonora de A Chegada é discreta mas excelente. Foi surpresa ter ficado de fora. 
    Filme estrangeiro
    • Land of Mine (Dinamarca)
    • Um Homem Chamado Ove (Suécia)
    • O Apartamento (Irã)
    • Tanna (Australia)
    • Toni Erdmann (Alemanha)
    • Aquarius
    Aquarius, não fosse uma patética comissão de análise brasileira que preferiu recomendar um filme água com açúcar, poderia estar na disputa.

    Um Limite Entre Nós

    Em Nome do Pai 

    Fences, Dir: Denzel Washington, EUA, 2016, 2h19min
    IMDB                 Trailer


    Qual é o papel do pai dentro de uma família e o que ele deixa de legado a seus filhos? Esse é o tema de Um Limite Entre Nós.

    Na trama, Troy Mason é o pai provedor clássico, um homem cujo maior orgulho é pagar as contas de seu lar. Ele é uma figura extremamente expansiva, que fala muito e ocupa quase todo o espaço de seu lar, deixando sua mulher e seu filho sufocados.

    Troy é um homem muito complexo. É generoso e afetuoso, mas também ameaçador e controlador. Por cumprir seu papel social de trabalhador, marido e pai sente que tem o direito de fazer o que bem entender em seu tempo livre e que não deve satisfações a ninguém. Essa figura, assim como ocupa todo o espaço em sua casa, também ocupará todo o espaço do filme, mesmo em cenas sem sua presença física. Apesar da trama tratar de uma família negra da classe trabalhadora (Troy é um lixeiro) e de Troy revelar um grande ressentimento contra os brancos, a trama é universal, por tratar de um tema familiar que vale em qualquer lugar e em qualquer classe social.

    O roteiro de August Wilson é baseado em uma premiada peça teatral de sua autoria, também protagonizada por Denzel Washington e Viola Davis. A história é interessante e marcante, porém o roteiro não soube adaptá-la adequadamente para a linguagem cinematográfica, ficando em alguns momentos nítido que estamos vendo uma peça de teatro, com longas cenas em um mesmo cenário e um vaivém de personagens neles. Talvez teria sido melhor contratar um roteirista que entendesse melhor de cinema em vez de pedir para um autor de teatro adaptar sua peça às telas. Também cansa um pouco a verborragia de Troy na primeira parte do filme. O homem fala rápido e não para, emendando uma frase à outra. Constrói adequadamente seu personagem, porém esta parte poderia ter sido um pouco mais concisa. No entanto, a história é boa o suficiente para compensar essas falhas.

    O que melhor funciona no filme é seu elenco. Viola Davis já está com o Oscar na mão com todos os méritos. Na primeira parte sua personagem fica bem reduzida dado o espaço ocupado pelo personagem de Troy, mas depois ela aparece com muita força e numa atuação visceral. Denzel Washington também tem uma atuação cheia de nuances, de um homem que tenta transparecer ter tudo sob controle mas que vive atormentado por fantasmas de seu passado e inseguranças do presente. Também vão bem Jovan Adepo e Russell Hornsby como os filhos de Troy.

    A direção de Denzel Washington chegou a ser cotada para indicação ao Oscar mas ficou de fora dando lugar à de Mel Gibson por Até o Último Homem. Realmente Denzel não merecia. Ainda que ele dirija bem a si mesmo e a seu elenco, faltou uma produção mais elaborada cinematograficamente. Os cenários são muito repetitivos e não há uma fotografia muito interessante. E como ele tinha poder de influenciar no roteiro, poderia ter pedido ao autor para tirar um pouco a cara de peça.

    No Oscar recebeu 4 indicações: filme, ator principal, atriz coadjuvante e roteiro adaptado. Não merecia esta última indicação pela adaptação não adequada às telas, e também não deve levar. Vai ganhar atriz coadjuvante e tem chances em ator principal.

    Um Limite Entre Nós é um profundo estudo sobre a figura paterna clássica e sobre o impacto que ela exerce nas pessoas ao seu redor. Um bom filme, ainda que com cara de teatro filmado, em que se destacam às atuações.

    Nota: 7

    22 de fevereiro de 2017

    Lion: Uma Jornada para Casa

    A Origem

    Lion, Dir: Garth Davis, Austrália/EUA/Reino Unido, 2016, 1h58min
    IMDB                 Trailer


    De onde viemos? Essa é a questão mais importante feita pela humanidade ao longo dos tempos. Todas as culturas tem sua tentativa de resposta, ainda que não tenhamos até hoje uma resposta definitiva. Normalmente a pergunta é feita num sentido mais amplo, na tentativa de entender como e porquê existimos. Mas, num sentimo mais restrito, e se você não sabe exatamente sua origem, quem é você e quem é sua família? Essa é a história real contada em Lion: Uma Jornada para Casa.

    Na trama conhecemos Saroo, um pobre menino indiano de 5 anos que se perde de seu irmão mais velho em uma estação de trem na Índia e vai parar em Calcutá, a 1600 quilômetros de sua casa, cidade em que até mesmo o idioma mais comum, bengali, é diferente do que ele fala, hindi. Após uma difícil jornada pelas ruas, ele é adotado por uma família australiana. 

    Vinte anos depois, o jovem Saroo está perfeitamente assimilado na cultura australiana. Porém, pouco sabe de sua origem. E acaba por se sentir um estrangeiro em qualquer lugar. É um indiano na Austrália sem quase qualquer conexão com sua Índia natal e é um australiano na Índia que apenas lhe traz sensações de uma passado distante e quase esquecido. Atormentado por resgatar suas origens passa obsessivamente a tentar recuperar seus fragmentos de memória aliado a tecnologias modernas, em especial o então revolucionário Google Earth, para conseguir descobrir a cidade em que vivia.

    Um spoiler óbvio: ele vai encontrar sua família. Claro! Se assim não fosse, essa história não teria sido escrita no livro Uma Longa Jornada para Casa e nem ganhado as telas dos cinemas. E aí, com um final mais do que previsível baseado em um livro em que na maior parte do tempo relata a investigação de Saroo, como fazer uma história que funcione nas telas? Primeiro, metade do filme será usada para mostrar as desventuras do pequeno Saroo no cenário pobre da Índia. E na segunda parte o filme focará bastante na questão da redescoberta da identidade e em quanto sua busca afetou sua relações com seu entorno. É um roteiro bem feito que não precisa depender de grandes revelações e que emociona.

    O elenco trabalha bem. Dev Patel é o Saroo adulto e faz um bom trabalho, indicado a melhor coadjuvante no Oscar, claramente por dividir o protagonista com o encantador menino Sunny Pawar. A questão de indicar alguém a protagonista ou coadjuvante sempre gera polêmica (no ano passado Alicia Vikander venceu como coadjuvante sendo que era claramente coprotagonista de A Garota Dinamarquesa), e aqui seria melhor se Patel disputasse o prêmio principal. Nicole Kidman interpreta sua mãe adotiva em um trabalho muito delicado, dando voz aos adotantes. Também no elenco está Rooney Mara como a namorada de Saroo.

    A direção é bem feita. Muito do filme, especialmente na fase em que o pequeno Saroo está perdido é feito sem diálogos, o que exige que a história seja bem contada. A fotografia é bonita, explorando tanto a paisagem vasta da Índia quanto sua multidões multi coloridas. Também destaca-se um contraponto entre as cores quentes usadas nas sequências da Índia com as cores mais frias usadas para a Austrália.

    Suas 6 indicações ao Oscar (filme, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, fotografia e trilha sonora) são todas merecidas. O diretor estreante no cinema Garth Davis e a boa edição também poderiam ter sido incluídos na lista. 

    Lion é um filme comovente, que não precisa de usar muitos dos clichês do gênero de dramas pessoais, e que toca no nosso desejo de saber quem somos. Um filme bonito que agrada a diversos públicos.

    Nota: 7


    P.S: Eu havia dito que não usaria mais os subtítulos bobos nos títulos das postagens. Pois bem, aqui o subtítulo não é uma invenção do distribuidor brasileiro para explicar a história. O subtítulo é praticamente o mesmo do título da biografia de Saroo e foi utilizado também em diversos outros países. Portanto, justificado.

    21 de fevereiro de 2017

    Moonlight

    Quem é você?

    Dir: Barry Jenkins, EUA, 2016, 1h51min
    IMDB                 Trailer


    O que nos define, nossa personalidade ou nosso entorno e nossos relacionamentos? Essa é a questão que acompanha Moonlight

    A trama mostra uma jornada de autodescoberta de Chiron, mostrando três momentos de sua vida: infância, adolescência e idade adulta. Ao longo desse processo iremos acompanhar como sua personalidade extremamente introvertida e tímida foi se moldando com sua realidade dura dos guetos negros de Miami.

    O filme é um estudo de personagem que escolhe alguns temas principais, como confiança, sexualidade, carinho e afeto. As relações de Chiron com as pessoas ao seu redor, como sua mãe drogada, seu melhor amigo e com um traficante que acaba por assumir uma figura paterna são o eixo que conduz o filme.

    O roteiro, tal qual o personagem principal é bastante econômico em palavras. Muito mais do que as palavras é dito na linguagem corporal dos atores. A ambiguidade de sentimentos e de ações sempre está presente. Assim como em O Lagosta, o personagem principal é muito fechado em si mas demonstra um desejo profundo de encontrar alguém para se conectar.

    O elenco faz um trabalho excepcional e mereceria um prêmio caso o Oscar premiasse um elenco reunido, como o faz o SAG Awards (prêmio do sindicato dos atores que inexplicavelmente neste ano foi para o fraquíssimo Estrelas Além do Tempo). Tanto Mahershala Ali quanto Naomie Harris fazem jus às suas indicações ao Oscar de coadjuvante, criando personagens moralmente ambíguos. Também merecem destaque os garotos que interpretam Chiron e especialmente Trevante Rhodes como Chiron adulto.

    A direção é bem focada em seus personagens, com muitas tomadas fechadas e poucas tomadas abertas. O que vale aqui é acompanhar as figuras retratadas, e não destacar o ambiente físico. A fotografia tem um brilho intenso, dando resplendor às peles negras dos atores, e é bastante saturada, fazendo um bom uso da luz natural abundante do sul da Flórida. 

    Recebeu 8 indicações ao Oscar 2017 (filme, diretor, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, fotografia, edição e trilha sonora), todas com seus méritos. Deve ficar com as estatuetas de ator coadjuvante e de roteiro adaptado.

    Moonlight é um filme sobre autodescoberta e identidade. Um bom filme em que se destaca a qualidade do elenco e um roteiro que preza mais pelos silêncios do que pelos discursos.

    Nota: 7

    16 de fevereiro de 2017

    O Lagosta

    Casa quando?

    The Lobster, Dir: Yorgos Lanthimos, Grécia/Irlanda/Reino Unido/Países Baixos/FRA, 2015, 1h59min
    IMDB                 Trailer


    "Nossa, e quando que você vai arrumar um namorado? E casar? E ter filhos?"

    Muitos e muitas já devem ter ouvido essas perguntas. E se além da tia inconveniente toda a sociedade começasse a se preocupar com isso. E mais, não somente se preocupasse, como tornasse crime o fato de uma pessoa ser solteira? Esse é o futuro próximo distópico apresentado em O Lagosta.

    A trama é ainda mais louca. Aqueles que estão solteiros são obrigados a irem para um hotel onde devem arrumar um par em 45 dias. E quem não consegue é transformado em um animal (e o título do filme se deve ao fato do protagonista desejar se tornar uma lagosta). Sim, o filme trata de um exemplo absurdo.

    Mas em meio a esse absurdo alegórico temas sérios são discutidos. Fica claro que o controle social é o tema mais destacado. E um desdobramento dele é o totalitarismo desta sociedade antisolteirice. E mais, depois seremos apresentados ao grupo marginal que vive na floresta de solteiros convictos, para os quais qualquer relacionamento afetivo é punido com penas corporais. Pois é, numa análise sociológica de boteco, seria o que Hannah Arendt definiria como dois grupos totalitários, faces da mesma moeda, tal como os liderados Hitler e Stálin.

    O roteiro é muito inteligente. A estranha sociedade futurista não é explicada com títulos iniciais ou diálogos expositivos, formas bem comuns porém bem preguiçosas de inserir o espectador em um novo universo. Aqui, aos poucos vão sendo dados elementos que permitem que o espectador entenda como funciona essa maluquice - para muitas mulheres talvez a maior maluquice (e pesadelo) seria o fato de que no hotel todas tem de usar na festa para se aproximar de pretendentes o mesmo vestido.

    O filme pode ser considerado uma comédia, mas não esperem sessões de muitas risadas. Seu humor é bem britânico, carregado de sarcasmo. E há momento em que ele força ainda mais a estranheza presente ao longo de todo o filme, como em conversas em tom bastante frio e formal as pessoas passam a falar de sexo. Lembra um pouco a quebra de tom que Wes Anderson empregou em O Grande Hotel Budapeste. Muitas reviravoltas irão acontecer constantemente na história. Apesar de sua qualidade, a história começa a ficar cansativa na segunda metade, e faltou um final coeso.

    As atuações todas são ótimas. Liderando o elenco está Colin Farrell, interpretando um homem tímido e introspectivo. Ao mesmo tempo em que ele tem dificuldades em lidar com outros seres humanos devido a uma certa antissociabilidade e que se sente oprimido pelo ambiente controlador ele também tem um desejo muito intenso de se conectar afetivamente. Sua interpretação é fria e distante com um tom de voz maquinal, e ele tem de passar muito de seus sentimentos somente com sua expressão facial. Merecia ter sido lembrado pelo Oscar. No elenco também estão Rachel Weisz, Léa Seydoux, John C. Reilly e Ben Winshaw.

    O filme claramente não tem um orçamento muito grande e o futurismo fica só nas situações, pois os objetos de cena e o figurino são os mesmos dos dias atuais. Mas essa ótima história não precisava de shows pirotécnicos hollywoodianos. A fotografia é discreta, bastante acinzentada, combinando com o formalismo distante da sociedade retratada. A direção do grego Yorgos Lanthimos (que também é corroteirista do filme), especialmente em seu trabalho com o elenco, é ótima. Sua trilha sonora com um toque de violino repetitivo soa ao mesmo tempo formal, dramática e ridícula, bem ao estilo de todo o filme.

    O Lagosta é um bom filme, seria ótimo se tivesse mantido o ritmo em seu final e se tivesse se encerrado de forma mais coesa. Não é pra todos os públicos já que seu humor é bem peculiar, cínico, violento e negro. Recebeu somente indicação a melhor roteiro original no Oscar mas poderia ser lembrado em outras categorias, especialmente de ator principal.

    Nota: 7

    10 de fevereiro de 2017

    Até o Último Homem

    O Salvador

    Hacksaw Ridge, Dir: Mel Gibson, EUA, 2016, 2h19min
    IMDB                 Trailer


    Muitas pessoas tremem de medo (com razão) só de pensarem na possibilidade de ir para uma guerra. E se fosse para uma unidade de combate? E além de ir você fosse desarmado? E voluntariamente? Essa foi a proeza do herói de guerra americano Desmond Doss, em que se baseia o filme Até o Último Homem.

    Doss era um socorrista militar que se recusava a usar armas em combate por princípios religiosos e mesmo assim salvou dezenas de colegas na Batalha de Okinawa da 2ª Guerra Mundial, recebendo a maior condecoração militar dos EUA, a Medalha de Honra (leia mais sobre ele na Wikipedia).

    Filmes de guerra americanos facilmente caem numa patriotada exagerada. Aqui Mel Gibson consegue escapar desse exagero, focando mais no aspecto da camaradagem e solidariedade dos homens da tropa em meio aos horrores da guerra, lembrando a ótima série Band of Brothers. Mas isso não o impede de cair em alguns excessos típicos do cinema holywoodiano, como retratar os soldados japoneses como selvagens, filmando-os correndo desenfreadamete em direção aos inimigos parecendo zumbis. Também consegue não tornar seu filme uma pregação religiosa, pois a fé do personagem não é analisada a fundo, é apenas um traço dele que deve ser respeitada. 

    Mel Gibson gosta de sangue, mas aqui está até bem contido, já que não se demora a mostrar o sofrimento causado pelos ferimentos. Apesar de mostrar muita violência, na maioria das cenas os estragos causados por granadas e balas de fuzil são mostrados de forma rápida, não esticando demais o sofrimento visual aos espectadores, ao contrário das cenas agonizantes que produziu em A Paixão de Cristo.

    Tecnicamente o filme falha bastante em alguns aspectos. Os efeitos visuais são muito ruins, com um CGI que faz certas sequências parecerem jogo de Playstation 2, estando uns 15 anos atrás em termos tecnológicos. A cenografia e a fotografia são fracas, visivelmente o filme foi feito com baixo orçamento, tendo de repetir constantemente o mesmo cenário e fazer muitas cenas externas em estúdio. Mas há algumas boas cenas de batalha, em que é possível compreender tudo que ocorre e Mel Gibson consegue imprimir o tom dramático correto em quase todo o filme.

    Andrew Garfield tem uma atuação irregular. Em muitos momentos vai bem, criando empatia com o público, mas em outros parece não ter achado o tom, alternando entre o homem muito bonzinho ou até meio bobo que não para de sorrir em situações sérias. Hugo Weaving, o eterno agente Smith, interpreta bem o pai de Desmond Doss, um veterano da primeira Guerra, alcóolatra, agressivo e amargurado. Também estão no elenco Sam Worthington, um tanto esquecido após Avatar, e Vince Vaughn, mais conhecido por comédias bobas aqui fazendo um bom trabalho em um papel sério.

    Foi indicado em 6 categorias no Oscar: filme, direção, ator principal, edição, edição de som, mixagem de som. É o favorito em edição de som (os efeitos de som criados para o filme, como som de tiros), categoria tradicionalmente vencida por filmes de guerra, e pode ter algum chance em mixagem de som (a combinação de todos os elementos sonoros) mas está praticamente fora do páreo nas demais categorias.

    Até o Último Homem é um bom filme de guerra. Não é muito acima da média, como deveriam ser os filmes disputando o Oscar, e nem um clássico do gênero, mas consegue ser mais do que um amontoado de clichês do estilo.

    Nota: 6