A Origem
Lion, Dir: Garth Davis, Austrália/EUA/Reino Unido, 2016, 1h58minIMDB Trailer
De onde viemos? Essa é a questão mais importante feita pela humanidade ao longo dos tempos. Todas as culturas tem sua tentativa de resposta, ainda que não tenhamos até hoje uma resposta definitiva. Normalmente a pergunta é feita num sentido mais amplo, na tentativa de entender como e porquê existimos. Mas, num sentimo mais restrito, e se você não sabe exatamente sua origem, quem é você e quem é sua família? Essa é a história real contada em Lion: Uma Jornada para Casa.
Na trama conhecemos Saroo, um pobre menino indiano de 5 anos que se perde de seu irmão mais velho em uma estação de trem na Índia e vai parar em Calcutá, a 1600 quilômetros de sua casa, cidade em que até mesmo o idioma mais comum, bengali, é diferente do que ele fala, hindi. Após uma difícil jornada pelas ruas, ele é adotado por uma família australiana.
Vinte anos depois, o jovem Saroo está perfeitamente assimilado na cultura australiana. Porém, pouco sabe de sua origem. E acaba por se sentir um estrangeiro em qualquer lugar. É um indiano na Austrália sem quase qualquer conexão com sua Índia natal e é um australiano na Índia que apenas lhe traz sensações de uma passado distante e quase esquecido. Atormentado por resgatar suas origens passa obsessivamente a tentar recuperar seus fragmentos de memória aliado a tecnologias modernas, em especial o então revolucionário Google Earth, para conseguir descobrir a cidade em que vivia.
Um spoiler óbvio: ele vai encontrar sua família. Claro! Se assim não fosse, essa história não teria sido escrita no livro Uma Longa Jornada para Casa e nem ganhado as telas dos cinemas. E aí, com um final mais do que previsível baseado em um livro em que na maior parte do tempo relata a investigação de Saroo, como fazer uma história que funcione nas telas? Primeiro, metade do filme será usada para mostrar as desventuras do pequeno Saroo no cenário pobre da Índia. E na segunda parte o filme focará bastante na questão da redescoberta da identidade e em quanto sua busca afetou sua relações com seu entorno. É um roteiro bem feito que não precisa depender de grandes revelações e que emociona.
O elenco trabalha bem. Dev Patel é o Saroo adulto e faz um bom trabalho, indicado a melhor coadjuvante no Oscar, claramente por dividir o protagonista com o encantador menino Sunny Pawar. A questão de indicar alguém a protagonista ou coadjuvante sempre gera polêmica (no ano passado Alicia Vikander venceu como coadjuvante sendo que era claramente coprotagonista de A Garota Dinamarquesa), e aqui seria melhor se Patel disputasse o prêmio principal. Nicole Kidman interpreta sua mãe adotiva em um trabalho muito delicado, dando voz aos adotantes. Também no elenco está Rooney Mara como a namorada de Saroo.
A direção é bem feita. Muito do filme, especialmente na fase em que o pequeno Saroo está perdido é feito sem diálogos, o que exige que a história seja bem contada. A fotografia é bonita, explorando tanto a paisagem vasta da Índia quanto sua multidões multi coloridas. Também destaca-se um contraponto entre as cores quentes usadas nas sequências da Índia com as cores mais frias usadas para a Austrália.
Suas 6 indicações ao Oscar (filme, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, fotografia e trilha sonora) são todas merecidas. O diretor estreante no cinema Garth Davis e a boa edição também poderiam ter sido incluídos na lista.
Lion é um filme comovente, que não precisa de usar muitos dos clichês do gênero de dramas pessoais, e que toca no nosso desejo de saber quem somos. Um filme bonito que agrada a diversos públicos.
Nota: 7
P.S: Eu havia dito que não usaria mais os subtítulos bobos nos títulos das postagens. Pois bem, aqui o subtítulo não é uma invenção do distribuidor brasileiro para explicar a história. O subtítulo é praticamente o mesmo do título da biografia de Saroo e foi utilizado também em diversos outros países. Portanto, justificado.
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