Em Nome do Pai
Fences, Dir: Denzel Washington, EUA, 2016, 2h19minIMDB Trailer
Qual é o papel do pai dentro de uma família e o que ele
deixa de legado a seus filhos? Esse é o tema de Um Limite Entre Nós.
Na trama, Troy Mason é o pai provedor
clássico, um homem cujo maior orgulho é pagar as contas de seu lar. Ele é uma
figura extremamente expansiva, que fala muito e ocupa quase todo o espaço de
seu lar, deixando sua mulher e seu filho sufocados.
Troy é um homem muito complexo. É
generoso e afetuoso, mas também ameaçador e controlador. Por cumprir seu papel
social de trabalhador, marido e pai sente que tem o direito de fazer o que bem
entender em seu tempo livre e que não deve satisfações a ninguém. Essa figura,
assim como ocupa todo o espaço em sua casa, também ocupará todo o espaço do filme,
mesmo em cenas sem sua presença física. Apesar da trama tratar de uma família negra
da classe trabalhadora (Troy é um lixeiro) e de Troy revelar um grande
ressentimento contra os brancos, a trama é universal, por tratar de um tema
familiar que vale em qualquer lugar e em qualquer classe social.
O roteiro de August Wilson é baseado em
uma premiada peça teatral de sua autoria, também protagonizada por Denzel Washington e Viola Davis. A história é interessante e marcante, porém o roteiro
não soube adaptá-la adequadamente para a linguagem cinematográfica, ficando em
alguns momentos nítido que estamos vendo uma peça de teatro, com longas cenas em
um mesmo cenário e um vaivém de personagens neles. Talvez teria sido melhor
contratar um roteirista que entendesse melhor de cinema em vez de pedir para um
autor de teatro adaptar sua peça às telas. Também cansa um pouco a verborragia
de Troy na primeira parte do filme. O homem fala rápido e não para, emendando
uma frase à outra. Constrói adequadamente seu personagem, porém esta parte poderia ter sido
um pouco mais concisa. No entanto, a história é boa o suficiente para compensar essas
falhas.
O que melhor funciona no filme é
seu elenco. Viola Davis já está com o Oscar na mão com todos os méritos. Na
primeira parte sua personagem fica bem reduzida dado o espaço ocupado pelo personagem de
Troy, mas depois ela aparece com muita força e numa atuação
visceral. Denzel Washington também tem uma atuação cheia de nuances, de um
homem que tenta transparecer ter tudo sob controle mas que vive atormentado por
fantasmas de seu passado e inseguranças do presente. Também vão bem Jovan Adepo e Russell Hornsby como os filhos de Troy.
A direção de Denzel Washington
chegou a ser cotada para indicação ao Oscar mas ficou de fora dando lugar à de
Mel Gibson por Até o Último Homem. Realmente Denzel não merecia. Ainda que ele
dirija bem a si mesmo e a seu elenco, faltou uma produção mais elaborada
cinematograficamente. Os cenários são muito repetitivos e não há uma fotografia
muito interessante. E como ele tinha poder de influenciar no roteiro, poderia ter pedido ao autor para tirar um pouco a cara de peça.
No Oscar recebeu 4 indicações: filme, ator principal, atriz coadjuvante e roteiro adaptado. Não merecia esta última indicação pela adaptação não adequada às telas, e também não deve levar. Vai ganhar atriz coadjuvante e tem chances em ator principal.
Um Limite Entre Nós é um profundo estudo sobre a figura paterna
clássica e sobre o impacto que ela exerce nas pessoas ao seu redor. Um bom
filme, ainda que com cara de teatro filmado, em que se destacam às atuações.
Nota: 7
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