24 de fevereiro de 2017

Um Limite Entre Nós

Em Nome do Pai 

Fences, Dir: Denzel Washington, EUA, 2016, 2h19min
IMDB                 Trailer


Qual é o papel do pai dentro de uma família e o que ele deixa de legado a seus filhos? Esse é o tema de Um Limite Entre Nós.

Na trama, Troy Mason é o pai provedor clássico, um homem cujo maior orgulho é pagar as contas de seu lar. Ele é uma figura extremamente expansiva, que fala muito e ocupa quase todo o espaço de seu lar, deixando sua mulher e seu filho sufocados.

Troy é um homem muito complexo. É generoso e afetuoso, mas também ameaçador e controlador. Por cumprir seu papel social de trabalhador, marido e pai sente que tem o direito de fazer o que bem entender em seu tempo livre e que não deve satisfações a ninguém. Essa figura, assim como ocupa todo o espaço em sua casa, também ocupará todo o espaço do filme, mesmo em cenas sem sua presença física. Apesar da trama tratar de uma família negra da classe trabalhadora (Troy é um lixeiro) e de Troy revelar um grande ressentimento contra os brancos, a trama é universal, por tratar de um tema familiar que vale em qualquer lugar e em qualquer classe social.

O roteiro de August Wilson é baseado em uma premiada peça teatral de sua autoria, também protagonizada por Denzel Washington e Viola Davis. A história é interessante e marcante, porém o roteiro não soube adaptá-la adequadamente para a linguagem cinematográfica, ficando em alguns momentos nítido que estamos vendo uma peça de teatro, com longas cenas em um mesmo cenário e um vaivém de personagens neles. Talvez teria sido melhor contratar um roteirista que entendesse melhor de cinema em vez de pedir para um autor de teatro adaptar sua peça às telas. Também cansa um pouco a verborragia de Troy na primeira parte do filme. O homem fala rápido e não para, emendando uma frase à outra. Constrói adequadamente seu personagem, porém esta parte poderia ter sido um pouco mais concisa. No entanto, a história é boa o suficiente para compensar essas falhas.

O que melhor funciona no filme é seu elenco. Viola Davis já está com o Oscar na mão com todos os méritos. Na primeira parte sua personagem fica bem reduzida dado o espaço ocupado pelo personagem de Troy, mas depois ela aparece com muita força e numa atuação visceral. Denzel Washington também tem uma atuação cheia de nuances, de um homem que tenta transparecer ter tudo sob controle mas que vive atormentado por fantasmas de seu passado e inseguranças do presente. Também vão bem Jovan Adepo e Russell Hornsby como os filhos de Troy.

A direção de Denzel Washington chegou a ser cotada para indicação ao Oscar mas ficou de fora dando lugar à de Mel Gibson por Até o Último Homem. Realmente Denzel não merecia. Ainda que ele dirija bem a si mesmo e a seu elenco, faltou uma produção mais elaborada cinematograficamente. Os cenários são muito repetitivos e não há uma fotografia muito interessante. E como ele tinha poder de influenciar no roteiro, poderia ter pedido ao autor para tirar um pouco a cara de peça.

No Oscar recebeu 4 indicações: filme, ator principal, atriz coadjuvante e roteiro adaptado. Não merecia esta última indicação pela adaptação não adequada às telas, e também não deve levar. Vai ganhar atriz coadjuvante e tem chances em ator principal.

Um Limite Entre Nós é um profundo estudo sobre a figura paterna clássica e sobre o impacto que ela exerce nas pessoas ao seu redor. Um bom filme, ainda que com cara de teatro filmado, em que se destacam às atuações.

Nota: 7

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