29 de março de 2016

Batman vs Superman

Confronto Precoce 

Batman v Superman: Dawn of Justice, Dir: Zack Snider, EUA, 2016, 2h31min
IMDB                 Trailer 


[SEM SPOILERS - O que será contado aqui já era de conhecimento geral pelos trailers que mostraram bem mais do que deviam]

Juntar os dois maiores super-heróis do imaginário popular, Batman e Superman, não poderia dar errado, não? Nas bilheterias e para os fãs de quadrinhos, Batman vs Superman: A Origem da Justiça já é um sucesso. Agora pra quem gosta de cinema, hum...

Escrevo este pitaco como fã de cinema, pois, nada contra, mas não sou fã de quadrinhos. Isso não quer dizer que estarei colocando este filme ao lado de filmes clássicos como O Poderoso Chefão ou filmes cult "estrangeiros" como O Segredo dos Seus Olhos. Sempre analiso filme voltados para o entretenimento dentro de seu contexto: produções feitas para faturar muito dinheiro. No entanto, os milhões de dólares gastos pelo público devem ser respeitados, por isso uma estória bem contada é o mínimo que os realizadores deveriam entregar. Infelizmente, não foi o caso aqui.

Batman vs Superman, apesar do título, é uma continuação do filme de 2013 O Homem de Aço no qual o Superman foi apresentado e em sua luta contra o vilão Zod destruiu metade de Metrópolis. O filme inicia-se aqui, mostrando como foi essa destruição na visão de Bruce Wayne. Tal acontecimento faz ele temer o poder quase infinito do Homem de Aço, e decide que ele tem de acabar com essa ameaça. Como já mostrado no trailer, depois surge uma ameaça maior, Zod transformado em monstro, e aos heróis se junta a mulher maravilha.

Todo o filme se inicia por um roteiro é aqui que estão os maiores problemas de Batman vs Superman. O maior é ter um excesso de tramas para contar e não desenvolver adequadamente nenhuma delas. Há um thriller político, que busca analisar o impacto da existência do Superman para a humanidade, há uma discussão filosófica sobre o mito divino ter se encarnado no personagem, há o romance entre Clark e Lois, há a relação de Clark com seus pais, há a parte de detetive e de pesadelos protagonizada pelo Batman, Lois Lane também realiza uma investigação, há uma pequena trama envolvendo a Mulher Maravilha, há a trama de Lex Luthor buscando ganhar acesso às tecnologias kriptonianas e há, ainda, uma rápida aparição dos demais personagens da futura Liga da Justiça: Flash, Aquaman e Ciborgue. E muda de um para outra trama sem pudores. Parece que o espectador está na TV mudando de canal a cada 5 minutos, vê um pouco de uma trama, depois vê um pouco de outra, e assim vai progredindo.

Assim o filme é raso e complicado, ainda que possa parecer que tais termos são contraditórios. Parece alguém contando um fato comum de forma atrapalhada. Algumas das tramas mal contadas, como a do Superman ser a concretização do mito divino, poderia ter sido melhor desenvolvida, o que proporcionaria um um filme muito melhor. Fica a sensação de que o roteiro desperdiçou boas tramas e desgastou a reputação de dois dos mais icônicos personagens dos quadrinhos e também do cinema.

Há também um problema para o espectador não iniciado no mundo dos quadrinhos com relação às referências aos gibis (neste site há várias delas). Há trechos em que o sentido é um para quem conhece o contexto dos personagens nas HQs e outro para quem só os conhece pelas telas. E o mencionado personagem Ciborgue só soube quem é por conversas com amigos fãs de quadrinhos que o conhecem. Ou seja, não há uma boa apresentação de personagens, fazendo essas aparições parecerem um teaser trailer dos filmes de personagens da DC que virão a seguir. 

Tudo isso revela que a DC percebeu o colosso que sua concorrente Marvel criou nos cinemas com suas estórias de super-heróis e quis correr atrás do prejuízo. De forma bem afobada. Muito melhor seria primeiro fazer um novo filme de cada um dos membros principais da Liga da Justiça para então fazer o confronto entre os maiores super-heróis e a criação do grupo. Da maneira que foi feito, o confronto aparentou ser precoce, não se criou uma expectativa em filmes anteriores, como a Marvel habilmente fez ao ir plantando sementes de discórdia entre o Homem de Ferro e o Capitão América que irá gerar um filme sobre o embate, o futuro lançamento Capitão América: Guerra Civil

Algumas das cenas de ação são interessantes, especialmente o esperado confronto entre os heróis. Ainda que se pensasse que o Batman não seria páreo para o Superman, o confronto é bastante equilibrado (e um pouco de kriptonita ajuda bastante). As cenas do Batman com seus veículos também são interessantes, mas inferiores aos mostrados na última trilogia do homem morcego dirigida por Christopher Nolan (produtor deste filme). De ruim, o confronto com o vilão, extremamente exagerado em pirotecnias, assim como o confronto final de O Homem de Aço ou a luta entre Obi Wan e Anakin em Star Wars: A Vingança dos Sith. Cenas de ação com menos explosões, fogo e cenários de impacto normalmente são superiores.

Com um roteiro tão lotado de tramas e com cenas curtas, as atuações não tem grande espaço. E pior ainda fica a direção de atores de Zack Snider, que deve querer só grandes expressões marcantes e não atuações sutis. Ben AffleckHenry Cavill não fazem feio, mas com esse tipo de direção pouco puderam mostrar além de expressões boas pra fotos, não pra cinema. Destaque para Jesse Eisenberg, que intepreta um Luthor adequado aos tempos de magnatas nerds e descolados do vale do Silício, fugindo da comparação com o estilo de nobre refinado adotado pelos ótimos intérpretes anteriores, Gene Hackman e Kevin Spacey, ainda que alguns critiquem essa transformação no caráter do personagem. 

O diretor tem sido bastante criticado por todos. Famoso por 300, sua composição visual abusa de câmeras lentas e quadros marcantes como nas HQs, como uma tela a ser emoldurada. A fotografia segue o mesmo problema de O Homem de Aço de usar baixa saturação e sombras marcantes. Tudo fica muito escuro e cinzento, como mostra este vídeo. Serve bem pro Batman, cinzento por natureza, mas não pros demais heróis coloridos.

Batman vs Superman: A Origem da Justiça desperdiça o potecial que seria a junção de seus heróis e não é um filme marcante para a Sétima Arte, como foram filmes anteriores de seus heróis, como Superman: O Filme e Batman: O Cavaleiro das Trevas, obras pensadas como filmes para o grande público baseados em personagens de HQs e não como obra mais voltada para o nicho dos fãs de quadrinhos, o chamado fan service. Vai agradar a esse público específico mas muito dificilmente aos leigos em quadrinhos.

Nota: 4

22 de março de 2016

As Sufragistas

As Sofredoras

Suffragette, Dir: Sarah Gravon, Reino Unido, 2015, 1h46min
IMDB         Trailer


Um tema pode ser muito nobre, mas a forma de ser mostrado pode estragar tudo. Esse é o caso de As Sufragistas, filme que conta a história das mulheres que lutaram pelo direito ao voto feminino na Inglaterra do início do século XX. Causa mais do que nobre, mas com todos os elementos cinematográficos fora do lugar. 

A trama acompanha a trajetória de uma empregada de uma lavanderia, Maud Watts, a princípio pouco engajada na luta feminina, mas que aos poucos se envolve na causa e se torna uma das líderes do movimento sufragista. 

Essa escolha pelo foco em uma só personagem de trajetória (mega) sofrida já indica o dramalhão que será apresentado na tela. Desnecessário esse foco no drama pessoal, que chega até a despolitizar o filme na medida em que mais importante é o sofrimento imposto à personagem do que a discussão sobre a causa pela qual ela luta. Fica parecendo as toscas novelas da Gloria Perez, sempre com temas ótimos a serem explorados mas que preferem focar na choradeira da mocinha. 

Há doses cavalares de maniqueísmo ao criar uma série de homens sádicos e desumanos. O chefe da heroína é um monstro perfeito: só quer que as funcionárias lhe deem lucro e saciem suas taras. A polícia também exerce papel de vilã ao ser apresentada como um grupo "que quer acabar com essas folgadas" (Muahahaha!).  O marido da mocinha é um banana sem muita opinião que quer somente obedecer as convenções sociais. Só há um personagem bem construído na estória que é o chefe da inteligência da polícia, que não age por ódio e mostra respeito pelas sufragistas, e só as persegue porque é seu trabalho. Obviamente existia e ainda existe opressão contra as mulheres, mas o filme chega a quase generalizar tal opressão.

A crítica que faço aqui é a mesma que fiz a filmes como Sniper Americano ou Ponte dos Espiões, pois também não acho que todos os combatentes iraquianos ou que todos os burocratas soviéticos eram sádicos. As Sufragistas segue essa mesma linha ao contar a história de uma heroína contra monstros, não uma luta entre humanos. Em oposição a esses filmes temos boas obras como 12 anos de Escravidão, em que não foi desnecessário se desumanizar o "sinhô", pelo contrário, ele é mostrado como um homem complexo mas extremamente passional, cujo sistema podre me que estava inserido permitiu que extravasasse sua fúria sobre outros. O mesmo se pode dizer do vencedor do Oscar Spotlight em que a culpa dos crimes da igreja é dividida com toda a sociedade bostoniana, sem demonizar os personagens.

Com um roteiro desses não se pode esperar muito das atuações. Carey Mulligan é boa atriz, mas nesse papel de heroína sofredora não poderia esperar ser lembrada em premiações relevantes. A situação é tão complicada que até Meryl Streep pareceu forçada na sua minúscula participação como a líder maior das sufragistas e em sua fuga da polícia ela arruma tempo para dar um conselho a heroína ainda novata na causa. Cena lamentável. Somente Brendan Gleeson merece elogios por seu trabalho como o chefe da inteligência, até por ser o único personagem mais complexo. 

Como dito, tecnicamente o filme também é um fracasso. A fotografia peca não pela escolha da paleta de cores escura ou pela iluminação fraca, mas pelos planos fechados em excesso e pelas câmeras tremidas sem qualquer função narrativa. A edição ainda piora isso e as cenas de ação são muito ruins, tão recortadas que mal dá pra acompanhar o que está acontecendo com quem. A música também é muito exagerada, caindo nos mesmos clichês narrativos que critiquei no mencionado Ponte dos Espiões.

Não conheço nada do trabalho anterior da diretora Sarah Gavon, mas a roteirista Abi Morgan assinou Shame, um filme bom e ousado, sobre um cara viciado em sexo. Impressionante como ela pode apresentar trabalhos com qualidade tão diversas.

As Sufragistas é filme péssimo porque ele usa os típicos clichês de heroísmo dos grandes filmes de estúdio hollywoodianos e é fraco tecnicamente. Melhores são os filmes mais cinzentos (desde que não os limitem a 50 tons!).

Nota: 2

15 de março de 2016

O Barco - Inferno no Mar

Tédio e Tensão

Das Boot, Dir: Wolfgang Peterson, Alemanha Ocidental, 1981, 3h28min
IMDB                 Trailer
Netflix


Lutar a segunda guerra mundial a bordo de um submarino alemão deve ter sido muito excitante, não? Mais ou menos... O Barco - Inferno no Mar, leva seus espectadores para dentro de um sujo, claustrofóbico e lotado U-Boat alemão, e nos mostra que, apesar de alguns momentos muito tensos em que se vivia no limite entre a vida e a morte, a rotina dentro de um destes barcos era extremamente entediante. 

A estória nos mostra toda a missão de um submarino durante a campanha alemã contra os navios mercantes britânicos na Batalha do Atlântico, cujo objetivo alemão era privar a Grã-Bretanha de recursos vitais para sua sobrevivência, como combustível e alimentos. Um dos aspetos mais interessantes aqui é desprezar o aspecto ético ou político. Os marinheiros não são retratados como heróis ou como vilões, mas como homens com uma missão a cumprir, da mesma forma que Hitler não foi retratado como monstro no ótimo A Queda - As Últimas Horas de Hitler. Tanto que se vê eles fazerem várias críticas ao governo nazista, ainda que junto a eles estivesse embarcado um "jornalista" a serviço do poderoso Ministério da Propaganda de Goebbels.

Alguns personagens são bem interessantes, a começar por seu capitão, um homem endurecido pelas batalhas, bem cínico sobre sua missão e sobre o regime que defende, mas que leva seus homens ao limite no cumprimento do dever. Também presentes um jovem oficial exemplo do patriotismo defendido pelos nazistas, um garoto inexperiente que comprou toda a propaganda de nacionalismo e sacrifícios feita pelo governo e repete bordões. O filme não deixa de mostrar os dramas pessoais dos marujos, que tem de lidar com o pavor de enfrentarem a morte passivamente pois, ao contrário de soldados de infantaria, em muitos momentos eles são meros passageiros do submarino.

O filme até hoje é a mais cara produção do cinema alemão, e seus aspectos técnicos são impecáveis. Foram criadas câmeras exclusivamente para sua realização, tendo em vista que o diretor optou por realizar diversas tomadas com câmera na mão no apertado set que simulava o interior do submarino. Os sons de explosões e de efeitos da pressão no casco do submarino também se destacam. Não foi à toa que recebeu 6 indicações ao Oscar.

Um porém, no Netflix está disponível a versão do diretor, em que ele acrescentou mais 50 minutos em relação a versão do cinema e deixou o filme com 3 horas e meia de duração. É bem cansativo de se ver e recomendo fazer em 2 partes.

O Barco - Inferno no Mar é um ótimo filme de guerra, que nos leva para dentro de um submarino alemão na Batalha do Atlântico. Em alguns momentos é cansativo, mas este efeito é propositalmente criado pelo diretor, para que possamos sentir aquilo que os marinheiros sentiam.

Nota: 8

8 de março de 2016

Deadpool

Dead Safadão  

Dir: Tim Miller, EUA, 2016, 1h48min
IMDB                 Trailer


Uma comédia de humor negro da Marvel? Por aí... Deadpool é o mais recente filme de super herói na praça. Uma produção relativamente modesta para esse tipo de filme, que custou 58 milhões de dólares quando o normal é gastar uns 200, o filme busca um personagem da Marvel pouco conhecido pelo grande público e faz muitas piadas com tudo, desde o gênero, passando pelo filme e até com o ator principal. Piadas até demais...

A trama mostra o mercenário malandrão Wade Wilson, que após um tratamento para se livrar de um câncer terminal adquire poderes que o tornam indestrutível, de maneira semelhante ao Wolverine. Mas o tratamento não era só para seu benefício. Além de extremamente duro, o objetivo final era vender os poderes mutantes que ele iria adquirir a quem pudesse pagar. E também levou o personagem a ficar desfigurado. Surge então uma estória de vingança em que Wade, transformado em Deadpool, resolve matar o homem que conduziu a experiência.

A sinopse, como se pode ver, é bem simples: uma estória de vingança e que depois se torna uma estória de resgate da mocinha aprisionada. Este não é o problema do filme, pois como mostrou o recente O Regresso, uma trama simples pode render uma boa estória. Mas o problema, como quase sempre em cinema, é como contar a estória.

Deadpool busca fazer isso por meio de violência extrema (tanto que no Brasil é proibido para menores de 16 anos), muito humor, quebra da quarta parede (quando o personagem conversa com o público) e diversas referências a outros filmes. No começo é divertido, a começar pelos créditos. Mas depois de uns 20 minutos, parece que é a mesma piada sendo repetida e repetida. Dá vontade de falar: "Tá bom, já entendi que você é bocudo e faz graça com tudo! Já deu!". Lembrou-me de quando assisti a Minha Mãe é Uma Peça, que desisti de ver na metade, por conta da afetação da personagem do Paulo Gustavo. Lembra um pouco também as paródias besteirol do tipo Todo Mundo em Pânico, por conta do amontoado de referências.

Ryan Reynolds, ao menos, se encaixa melhor neste papel do que no que ele sempre faz nas 5000 comédias românticas em que já "atuou". Ele realmente parece ser um tagarela chato. Mas também ele tem a malandragem e a entonação necessária para o estilo do personagem. Também no elenco a brasileira Morena Baccarin, interpretando a namorada de Deadpool.

Na parte técnica nada de muito inovador no cenário de super-heróis. O mais interessante são algumas cenas de ação com as acrobacias de Deadpool. Mas fica bem claro que é um filme de herói de pequeno orçamento (o que o próprio filme satiriza).

Deadpool é um filme que vai agradar além dos fanáticos por quadrinhos a um público muito específico: o dos filmes de ação, que gostam de comédias de humor negro e que não ligam muito pra roteiros sem muito a oferecer Quem gosta de somente um desses estilos não vai aproveitar muito. Como a parte de ação não é muito minha praia, não é o meu filme.

Nota: 4


P.S.: Em breve mais pitacos de filmes de super heróis que estrearão em breve: Batman vs Superman e Capitão América: Guerra Civil.