31 de maio de 2017

Cantando na Chuva

I´m Singin´ in the Rain

Singin´ in the Rain, Dir: Gene Kelly/Stanley Donen, EUA, 1952, 1h43min
IMDB                 Trailer


Na temporada que antecedeu o Oscar 2017 tivemos uma grande polêmica envolvendo La La Land. Uma das principais críticas era que o filme seria uma imitação ruim do clássico dos clássicos Cantando na Chuva. Então vamos beber na fonte e saber mais sobre o musical mais famoso do cinema e depois voltamos à essa conversa sobre o filme que ganhou o Oscar 2017 (só que não).

Cantando na Chuva foi rodado no longínquo 1952, época em que nomes como Fred Astaire, Frank Sinatra e Gene Kelly arrastavam multidões aos cinemas para vê-los dançando e cantando. E engana-se quem imagina que um filme com quase 70 anos (contando uma história 20 anos mais velha) deve só uma comediazinha inocente. Desde a primeira cena percebe-se a fortíssima ironia do filme com todo o falso glamour e as notícias inventadas que rondam a indústria de celebridades do cinema. 

O filme acompanha a transição da era do cinema mudo para o cinema falado, sob a perspectiva do maior astro hollywoodiano, Don Lockwood (Gene Kelly). Em seu percurso ele terá de lidar com sua irritante parceira de telas Lina Lamont (Jean Hagen) e com seu novo amor Kathy Selden (Debbie Reynolds), sempre ao lado de seu fiel escudeiro Cosmo Brown (Donald O´Connor).

Apesar de hoje parecer algo trivial, a inclusão de som ambiente ao cinema modificou completamente a indústria. A técnica teve de ser modificada pois alguns equipamentos eram tão barulhentos que tiveram de ser retirados de cena. E, especialmente, os atores, que limitavam-se à pantomima, ou seja, gestos, movimentos e expressões faciais (muitas vezes exageradas) tiveram de aprender a decorar textos e usar sua voz. Muitos, como a antagonista do filme, não conseguiram. Sobre o tema do fracasso da adaptação ao cinema falado há filmes como O Artista e Crepúsculos dos Deuses.

Embora a sonorização dos filmes tenha seu lado melancólico, Cantando na Chuva é totalmente alto-astral. A antagonista que não se adapta não é uma personagem carismática de quem o espectador sentirá pena. Ao contrário. É uma mulherzinha sem talento, chata e mesquinha e que todos querem que se dê mal.

Ao contrário do que se possa imaginar, um musical não é somente um somatório de vários números de música e dança. Claro que há várias sequências assim, mas há uma história bem elaborada sendo contada por meios narrativos convencionais.

O elenco do filme é ótimo. Gene Kelly tem um carisma poucas vezes visto nas telas e mostra porque é considerado um dos melhores dançarinos das telas. Debbie Reynolds (que morreu recentemente dois dias após sua filha Carrie Fisher) dá vida a uma garota comum, simples e cativante. E Donald O´Connor une técnica e humor circense - e a música tema Make ´em Laugh de seu número solo fará com que os mais velhos se lembrem do clássico tema do programa do Bozo, Sempre Rir.

A produção é bastante caprichada, com cenários grandiosos bem construídos e rico figurino. A fotografia abusa das cores vibrantes e tem ótimos movimentos de câmeras para acompanhar as coreografias.

Quanto à comparação com La La Land, o que se deve fazer é analisar cada um a seu tempo. Ambos tem boas histórias, por mais que sejam comuns. E não se pode exigir dos atores do mais recente que sejam referências em canto e dança, pois a formação destes não é a mesma que teve Gene Kelly. E , o principal aqui, La La Land nunca renegou a influência dos musicais clássicos e especialmente de Cantando na Chuva.

Cantando na Chuva é um marco no cinema. Além de sua produção impecável há de se destacar seu ótimo astral e seu humor constante que fazem os espectadores terem um divertimento de excelente qualidade.

Nota: 10