16 de março de 2015

O Poderoso Chefão

Família êh, família ah, família!

The Godfather, Dir. Francis Ford Coppola, EUA, 1972, 175 min
IMDB: clique aqui
Trailer: clique aqui


Filme que costuma figurar entre os primeiros em 99 de 100 listas dos melhores de todos os tempos, liderando em diversas delas, O Poderoso Chefão retrata a saga da família Corleone (na tradução, coração de leão). Nesta primeira parte é apresentado o envelhecido patriarca Vito (Marlon Brando) buscando manter seu poder em meio a concorrência com as outras 4 famílias mafiosas sicilianas, enquanto prepara sua sucessão que deveria passar a seu filho mais velho, Santino (James Caan), enquanto sonha que seu caçula e filho preferido, Michael (Al Pacino), torne-se um homem de prestígio.

A sequência de abertura do filme é majestosa (clique aqui para vê-la). A primeira frase do filme é "Eu acredito na América", dita por um imigrante italiano, enquanto seu rosto é mostrado em um plano bem fechado. A partir daí ele narra o trágico episódio ocorrido com sua filha, enquanto o plano vai se abrindo e mostrando o ombro do homem com quem ele fala, que é o Padrinho Vito Corleone, a quem o imigrante foi clamar por justiça. Em poucas frases se mostra o poder do "Don", cuja primeira fala é "Por que foi a polícia? Porque não veio a mim primeiro?", que sintetiza todo seu poder.

Apesar do Don ser a figura central, o protagonista da estória é Michael. Ele é quem mostra a trágica trajetória de um homem que quis fugir do destino criminosos de sua família, cujos métodos abominava, mas que no final consegue se tornar ainda pior do que tudo que rejeitava. Sua lenta mudança ao longo do filme é espetacular e nos faz ver o quanto às circunstâncias podem mudar o caráter de um homem bom.

Marlon Brando foi merecidamente contemplado com o Oscar de Melhor Ator pelo trabalho. No entanto, ao contrário do que foi feito, ele deveria ter sido indicado como coadjuvante e Al Pacino como protagonista. Certamente não o fizeram pelo prestígio de Brando frente a um novato à época como Pacino. De qualquer forma, prova das atuações fenomenais é o fato de quatro atores do filme foram indicados ao prêmio, três na categoria de coadjuvante (Al Pacino, James Caan e Robert Duvall).

O mais estranho foi a fantástica atuação de Pacino não ter levado o prêmio de coadjuvante de 1973, prêmio que ficou para Joel Grey (quem?). Por isso, como costumam fazer na Academia, após diversas derrotas deram o prêmio a ele em 1993 por Perfume de Mulher, atuação inferior a dos dois primeiros O Poderoso Chefão, e também inferior a de seus concorrentes daquele ano, como Clint Eastwood (Os Imperdoáveis) e Robert Downey Jr. (Chaplin).

O Poderoso Chefão é um filme praticamente sem defeitos. O enredo, os diálogos, as atuações, a fotografia, a edição e a direção funcionam extremamente bem. E, o mais importante de tudo, a estória prende o espectador desde o início, que quer conhecer de perto o mundo secreto da Máfia e viver a intimidade da família Corleone.

E, caso raríssimo, uma obra-prima desta envergadura teve uma continuação tão boa quanto o original dois anos depois em O Poderoso Chefão II, obra na qual a consolidação do poder de Michael é narrada em paralelo com a trajetória de chegada nos EUA e ascensão ao poder de seu pai, Vito (vivido na juventude por Robert DeNiro).

Depois de quase vinte anos veio O Poderoso Chefão III, que é um bom filme, mas que fica distante dos dois primeiros. O diretor Francis Ford Coppola assumidamente fez o filme para resolver dívidas pessoais e não ficou satisfeito com o resultado final. E escalou sua filha, Sofia Coppola, que teve péssima interpretação, devidamente contemplada com duas Framboesas de Ouro (pior atriz coadjuvante e pior nova estrela). Pelo menos ela aprendeu a lição e migrou para trás das câmeras, se tornando uma ótima diretora.

Quem gosta de cinema não pode deixar de assistir a essa grande obra, a melhor saga familiar da história do cinema, e justamente apontado por muitos como o melhor filme de todos os tempos.

Nota: 10

9 de março de 2015

A Fotografia Oculta de Vivian Maier

Uma mulher misteriosa


Finding Vivian Maier, Dir: John Maloof/Charlie Siskel, EUA, 2013, 83 min
IMDB: clique aqui
Trailer: clique aqui


Filme indicado ao Oscar 2015 e primeiro documentário pitacado neste blog, A Fotografia Oculta de Vivian Maier nos apresenta a intrigante personagem do título, fotógrafa e babá. Como assim? Pois bem, é essa pergunta que o filme busca responder.

Sem querer contar toda a estória (eu nem conseguiria, por mais que haja spoilers aqui o filme revela muito mais detalhes da vida da personagem título), o trabalho de Vivian Maier só foi visto após ela morrer em total anonimato em 2009, quando um cara que havia comprado em um leilão negativos de filmes dela os publicou na internet alcançando imenso sucesso. 

Com isso, ele buscou mais peças de Vivian Maier em outros leilões e conseguiu a imensa quantia de mais de 100 mil fotos, a maioria nem sequer revelada, e alguns filmes, feitos a partir de 1950. Junto aos negativos, havia vários outros itens, como peças de roupas, cartas, jornais e até recibos de compras (Maier era uma acumuladora compulsiva). Essas pequenas peças permitiram que ele começasse a seguir seus rastros e, surpreendentemente, descobriu que a talentosa fotógrafa era na verdade uma modesta babá. Esse cara que reconstitui a história de Maier e permitiu que o mundo conhecesse seu trabalho é também codiretor e apresentador do documentário, John Maloof.

Só esse mistério já basta para despertar curiosidade. Mas, claro, tal estória não seria interessante de ser contada se as fotos não fossem excepcionais. E elas são! Com poucos minutos do filme as imagens de Maier começam a ser mostradas na tela e certamente deixarão os observadores de queixo caído. São fotos surpreendentes, feitas sobretudo em situações do cotidiano (street photography), com uma qualidade artística única, com ótimo enquadramento, focagem e momento certo de disparo, que poucos fotógrafos renomados conseguiram. Acesse o site com as fotos clicando neste link: http://www.vivianmaier.com/

As exposições de seu trabalho foram absoluto sucesso de público e de crítica. Certos especialistas em fotografia conseguem ver em seu trabalho semelhanças com os de grandes mestres da arte, como o mais renomado de todos os fotógrafos, Henri Cartier-Bresson.

Para aumentar o interesse na estória, Vivian Maier era uma mulher extremamente reservada e misteriosa. Das pessoas que a conheceram e que foram entrevistadas no filme nenhuma sabia sequer a nacionalidade de Vivian, que, apesar de nova-iorquina, falava com sotaque francês. E, por vezes, alguns entrevistados dizem algo que outro entrevistado diz exatamente o oposto, como uma das pessoas das quais ela cuidou quando criança que diz que a chamava de Viv, e outra que diz que ela exigia ser chamada de Miss Maier. A mulher era uma esfinge.


A Fotografia Oculta de Vivian Maier é um bom documentário, que revela o trabalho de uma grande artista desconhecida. E nos faz pensar em quantos artistas anônimos não morrem com grandes trabalhos que nunca serão conhecidos abandonados em caixas, gavetas ou HDs.

Nota: 7



2 de março de 2015

O Circo

Respeitável Público


The Circus, Dir: Charles Chaplin, EUA, 1928, 71 min
IMDB: clique aqui
Trailer: clique aqui


Analisarei um filme de um dos maiores gênios da história do cinema: o imortal Charles Chaplin. Chaplin, de fato é um mito, o que pode fazer muitas pessoas já irem assisti-lo com uma certa reverência. Mas no caso, a mística é justificada, pois seus filmes, que foram feitos há quase 100 anos, ainda se mostram atuais, tendo em vista sua universalidade e sua atemporalidade. Além disso, seus múltiplos talentos faziam com que ele conduzisse totalmente seus filmes, escrevendo a estória, dirigindo, atuando, produzindo e até mesmo compondo as trilhas sonoras. Na atualidade, creio que somente Woody Allen chega perto deste controle criativo.

O Circo, apresenta a clássica personagem de Chaplin, Carlitos (ou O Vagabundo), conseguindo emprego no picadeiro após fugir de uma confusão com a polícia. No ambiente também se apaixona pela bela acrobata e filha do dono do circo.

Como é costume nas comédias de Chaplin, a questão social está envolvida no sempre pobre e faminto Carlitos. Após a injusta perseguição policial, Carlitos surge acidentalmente no palco e causa furor na plateia que até então estava entediada. A partir daí é contratado como ajudante de palco e torna-se a principal atração do local. Mas ingênuo como é Carlitos, não percebe seu papel, pois, em razão das trapalhadas que sempre causa, seu humor é involuntário, e recebe um salário de fome.

Claro que se o filme se prendesse somente na questão social seria bem chato (e Chaplin já teria sido esquecido). Mas há sempre muito humor, de ótima qualidade. As piadas físicas de Carlitos são universais e atemporais, tanto que até hoje Chaplin é modelo para diversos humoristas, como Rowan "Mr. Bean" Atkinson e o recém falecido Roberto "Cháves" Bolanos. Para ver um prévia, assista ao trailer (clique aqui).

Tecnicamente o filme também causa espanto até hoje. Chaplin contracena com um leão dentro da jaula. E realizou, sem dublês, cenas sobre a corda bamba a metros de altura do chão. Como Chaplin não revelava suas técnicas por entender que seria o mesmo que um mágico revelar seus truques, parte de seu arsenal cinematografico ainda permanece um mistério.

Um belo filme, de um dos maiores gênio dos cinema, que foi prenúncio de suas obras primas da parte final de sua carreira, as obras primas Luzes da Cidade, Tempos Modernos, O Grande Ditador e Luzes da Ribalta.

Nota: 9