22 de fevereiro de 2015

Oscar 2015


And the Oscar goes to...

Todos os indicados no IMDB: clique aqui
Jogo de apostas no site do Oscar: clique aqui


Assim como em 2014, após a análise de cada um dos filmes indicados (caso queira ver algum, procure na barra ao lado direito, ou clique sobre seus nomes na lista de preferências), vamos às apostas de com quem ficarão os prêmios.

Em todas as categorias analisadas irei indicar quem acho que será premiado, para quem eu votaria se fosse membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e uma breve análise. 

No ano passado vimos uma disputa muito previsível, tanto que acertei quase todos os vencedores, e não que eu tenha algum poder de adivinhação, mas porque tava fácil mesmo. Esse ano, várias disputas prometem ser emocionantes, sendo a principal entre os dois peso-pesados, Boyhood e Birdman, dois filmes que são melhores que quaisquer um dos indicados nos últimos 15 anos. 

As principais categorias estão analisadas abaixo:



Melhor filme

Vencedor: Boyhood
Meu voto: Birdman

O mais provável é que a briga fique entre Boyhood e Birdman, os dois grandes filmes do século XXI. Fico até pensando numa cena imaginária na qual os diretores assistem aos filmes juntos e um diz ao outro, "Pô, cara, faz o seguinte, eu lanço o meu esse ano e você no ano que vem. Aí a gente não compete e vamos ganhar tudo!"

Boyhood, por ser um filme mais conservador no enredo, deve agradar mais ao eleitorado da Academia do que o maluco Birdman (que venceu ontem na competição mais descolada do Independent Spirits Award). 

Além desses dois gigantes, os demais concorrentes são bons filmes, exceção feita aos dois últimos da lista, fazendo dessa a melhor disputa em anos.

Mas não me surpreenderá se der um grande zebra: Sniper Americano, com sua patriotada belicista, pode convencer o eleitorado majoritariamente americano da Academia e ser a grande surpresa da noite. 

Como essa é a categoria mais esperada, farei um ranking das minhas preferências:

1. Birdman
2. Boyhood
3. Whiplash
4. O Grande Hotel Budapeste
5. Selma
6. Teoria de Tudo
7. Sniper Americano
8. O Jogo da imitação


Melhor diretor

Vencedor: Alejandro González Iñárritu (Birdman)
Meu voto: Alejandro González Iñárritu

Muitos dizem que é provável que Boyhood vença por direção e Birdman como melhor filme, o que ocorreu na última noite no Spirits, ou vice versa.  Richard Linklater (Boyhood) tem chances e méritos por seus filmes. Mas pela complexidade técnica de Birdman, Iñárritu deve levar o prêmio.


Melhor ator

Vencedor: Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo)
Meu voto: Michael Keaton (Birdman)


Redmayne impressiona como Stephen Hawking e merece o prêmio.  Mas Keaton mostrou uma redenção incrível em um filme que ele conduz e na qual tem de mostrar diversas facetas.


Melhor atriz

Vencedor: Julianne Moore (Para Sempre Alice)
Meu voto: sem voto



Não posso dar pitaco aqui, das concorrentes só vi Felicity Jones, que trabalha bem em A Teoria de Tudo. As previsões apontam vitória fácil de Moore, que é uma grande atriz e está na sua 5ª indicação ao prêmio.


Melhor ator coadjuvante

Vencedor: J. K. Simmons (Whiplash)
Meu voto: Edward Norton (Birdman)

Disputa difícil entre esses dois. Aliás, não vi todos os trabalhos que concorrem mas gosto de todos os atores indicados. Simmons fez um ótimo trabalho, mas votaria em Norton pelo conjunto da obra.


Melhor atriz coadjuvante

Vencedor: Patricia Arquette (Boyhood)
Meu voto: 
Patricia Arquette

Arquette deve levar, por conta de sua ótima atuação em diversas fases da vida da mãe de Boyhood. Emma Stone também fez um belo trabalho em Birdman. Na categoria, acho que Naomi Watts, também de Birdman, deveria ter ficado com a indicação de Keira Knightley (O Jogo da Imitação).


Melhor roteiro original

Vencedor: Birdman
Meu voto: Birdman


Birdman tem um roteiro espetacular, que ao mesmo tempo une ritmo, bons diálogos, humor, reflexão sobre a contemporaneidade e sobre a condição humana envolvida por realismo mágico. Boyhood tem o mérito de ter sido escrito ao longo do tempo, tendo de ser flexível para a estória se adaptar a evolução do mundo.


Melhor roteiro adaptado

Vencedor: A Teoria de Tudo
Meu voto:
Whiplash

A emocionante e bem contada história de Stephen Hawking deve convencer os votantes. Mas Whiplash tem mais pegada e surpresas do roteiro. É um filme no qual há uma cena que parece que vai encerrar o filme. Mas ele continua e encerra de forma ainda melhor. Mas também não será surpresa se Sniper Americano levar, em razão de algum fervor patriótico da Academia.


Melhor fotografia

Vencedor: Birdman
Meu voto: Birdman

A fotografia ajuda a contar a estória em Birdman, além de envolver a complexidade técnica do plano sequência. O Grande Hotel Budapeste tem seus méritos, mas os filmes de Wes Anderson tem sempre o mesmo visual inconfundível, então é um pouco de mais do mesmo, mesmo sendo muito bem feito.


Melhor figurino

Vencedor: O Grande Hotel Budapeste
Meu voto:
O Grande Hotel Budapeste

Os figurinos fazem parte das narrativas de Wes Anderson, e o prêmio é quase certo.


Melhor maquiagem

Vencedor: Foxcatcher
Meu voto: Foxcatcher



Não vi o filme, mas Steven Carrell está irreconhecível.  Também merece destaque O Grande Hotel Budapeste, no qual Tilda Swinton também está irreconhecível, mas que fica em tela por pouco tempo.

 

Melhor direção de arte

Vencedor: O Grande Hotel Budapeste
Meu voto: 
O Grande Hotel Budapeste

Os cenários grandiosos, figurinos elaborados e detalhes caprichosos, comuns nas produções de Anderson, deve levar.


Melhor filme estrangeiro

Vencedor: não sei
Meu voto: não vi nenhum


Infelizmente, não tive tempo para ver os estrangeiros, que muitas vezes são superiores aos concorrentes ao prêmio principal.


É isso. Cerimônia do Oscar hoje à noite, ao vivo, na TNT e na Globo.

Deixem seus pitacos e deem seus palpites.

Boyhood: Da Infância à Juventude


A Arte Imita a Vida

Boyhood, Dir: Richard Linklater, EUA, 2014, 165min
IMDB: clique aquiTrailer legendado: clique aqui


Um dos favoritos na corrida ao Oscar de melhor filme, Boyhood, recebeu ainda outras 5 indicações: diretor, ator coadjuvante (Ethan Hawke), atriz coadjuvante (Patricia Arquette), roteiro original e edição. Tal como Birdman, se ganhar todos os prêmios, o fará com méritos.

O filme realizou uma proeza única na história do cinema por ser rodado durante 12 anos, retratando o amadurecimento de Mason Jr., sempre representado por Ellar Coltrane. Ele é o protagonista, mas outros três atores também estiveram envoltos no processo de filmagens, os dois mencionados que disputam o prêmio e Lorelei Linklater, filha do diretor.

Sou grande fã do diretor, Richard Linklater. Adoro a trilogia do Antes (Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia Noite) com seus grandes e longos diálogos sobre a vida. Aqui ele usa parte dos recursos já usados nos outros, e, exceto pelo primeiro filme da trilogia, os demais ele rodou durante as filmagens de Boyhood.

O filme inicia-se no longínquo 2002, época em que os celulares ainda serviam somente para fazer ligações. Mason Jr. e sua irmã Samantha reencontram seu pai, um cara um tanto perdido na vida mas muito afetuoso, que havia passado mais de um ano distante deles. Enquanto isso, sua mãe, Olivia, está tentando se qualificar para dar maior conforto a seus filhos, enquanto busca arrumar um companheiro para suprir a função de pai na família.

A partir daí se desenvolve a estória. Uma estória ordinária, que poderia ser vivida por qualquer um. Mason vai pra escola, muda de cidade, sua mãe e seu pai arrumam novos companheiros, e a vida vai seguindo, em meio a muitos conselhos que lhe dão. E muitos questionamentos vão surgindo em cada nova fase. Como ocorre em nossas vidas ordinárias, por mais que nos achemos especiais.

Por mais simples que possa parecer a estória, no final estamos nos sentindo parte da família. Sofremos junto com as personagens. Nos divertimos com suas alegrias. Rimos de certas "lições de vida" que tentam dar em Mason, especialmente seu confuso pai. Sentimos vergonha do comportamento dos adolescentes que buscam se afirmar, especialmente por sabermos que um dia já passamos por aquilo.

O roteiro surpreende por ter se adaptado ao longo do tempo. Não havia como ter criado certos diálogos quando o filme foi idealizado, pois certas coisas que hoje redefiniram os relacionamentos humanos, como os smartphones e redes sociais, não existiam em 2002. Seria impossível ter escrito esta estória completa antes de iniciar as filmagens, assim como também seria escrever o roteiro em 2014 com tudo já filmado. Provavelmente havia um rumo a ser seguido, mas muita coisa foi sendo inserida e levando a estória por outras direções. O que engrandece ainda mais o filme. E se destaca a intenção de se priorizar eventos corriqueiros na narrativa, ao invés de dramatizar pontos de clímax, como o primeiro beijo, primeiro porre e etc.

Os dois "pais", Arquette e Hawke, fazem um belo trabalho. Nunca achei Hawke um ator espetacular, mas admiro sua capacidade de conseguir se mostrar como o cara comum, gente como a gente, fazendo nos sentirmos em sua pele. Arquette faz trabalho similar, sendo a mãe que, em meio a seus erros e acertos, vai conduzindo a vida da família. O protagonista Ellar Coltrane consegue com seu jeito de "cara na dele" nos trazer para seu universo, e relembrarmos o que passamos em nossa infância e adolescência.

O fato das filmagens durarem 12 anos não é algo somente para os críticos ficarem elogiando a qualidade técnica e ressaltando o mérito de superar tal dificuldade. Os 12 anos passam por nossos olhos em 2 horas e 40 minutos. Vemos as 4 personagens centrais envelhecendo sob nossas vistas e o que o tempo causa em nossas feições (Patricia Arquette, favorita ao Oscar, parece ter sentido mais que os outros). O peso do tempo está lá, exposto, mostrando que nossa caminhada por esse planeta é curta.

Já no final do filme, há uma emocionante reflexão de Olivia, quando seu filho está deixando a casa para ir a faculdade. Ela diz que aquele evento fez ela ver que sua vida iria acabar em breve, pois temos certos marcos, como a formatura, o casamento, ter filhos, conseguir o trabalho que queremos, ver os filhos nos deixando. E o próximo marco seria seu funeral. Um tanto quanto antecipada, mas ainda assim, uma dolorida e real conclusão.

Um filme que nos mostra, como nenhum outro, que a arte imita a vida.

Nota: 10

21 de fevereiro de 2015

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Santa Coincidência, Batman!

Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Dir: Alejandro González Iñárritu, EUA/Canadá, 2014, 119min
Ficha no IMDB: clique aqui
Trailer legendado: clique aqui


Birdman, ao lado de O Grande Hotel Budapeste, é o campeão de indicações ao Oscar 2015, disputando 9 categorias. E concorre em quase todas as categorias nobres: filme, diretor, roteiro original, ator (Michael Keaton), ator coadjuvante (Edward Norton) e atriz coadjuvante (Emma Stone). Merece ganhar tudo.

Antes mesmo de ver o filme, impressionou-me a genialidade metalinguística de fazer um filme sobre um ator em decadência que anos antes foi marcado por ter feito um super-herói de destaque no cinema. Qualquer um com mais de 30 anos certamente quando olha para Michael Keaton imediatamente se lembra de Batman em sua primeira versão cinematográfica. Mas aqui ele é... Birdman! Ou seja, Michael Keaton interpreta um personagem inspirado em... Michael Keaton! Uma sacada genial!

Se você não gosta de filmes que tem um quê de maluquice, como O Clube da Luta, já lhe adianto que não vai gostar do filme e xingar este pitaqueiro pelos elogios à produção.  Confirmando isso, na primeira cena Keaton está flutuando. Não faltaram avisos!

O enredo como já adiantado é sobre o tal ator, Riggan Thomson, que 20 anos antes era o famoso Birdman. No presente ele investiu tudo o que tinha para produzir, roteirizar, dirigir e atuar em uma peça da Broadway, buscando ver seu talento reconhecido e sua carreira reconstruída. Ou seja, mais metalinguagem, pois Keaton estrelando o filme é o mesmo que Riggan querendo se reerguer na Broadway.

Devido a problemas com o ator coadjuvante, odiado por Riggan, entra em seu lugar Mike Shiner (Edward Norton), renomado ator de teatro que trata com desdém as celebridades do cinema. O conflito entre esses dois opostos conduzirá boa parte do restante do filme. Além disso, Riggan tem de lidar ao mesmo tempo com a estreia da peça, com sua namorada que é atriz da peça e que pode estar grávida, Laura (Andrea Riseborough), com a outra atriz cheia de expectativas em sua primeira peça na Broadway, Lesley (Naomi Watts), com sua filha recém saída da clínica de reabilitação, Sam (Emma Stone), enquanto é assessorado por seu melhor amigo Jake (Zach Galifianakis). E pairando sobre tudo está Birdman, a voz que Riggan ouve constantemente e quer que ele retome os dias de grandeza. Enfim, Riggan está envolvido em problemas.

O filme aborda muitos temas atuais e atemporais. Nossa sociedade que dá mais atenção a factoides publicados em tabloides do que ao talento dos artistas está constantemente em debate. O imediatismo da internet e das curtidas das redes sociais também. E, por trás de tudo isso, a eterna necessidade de reconhecimento do ser humano diante do seu medo da falta de significado da vida. Todos esses elementos estão muito bem inseridos no filme.

O roteiro é excelente, recheado de humor (com tiradas de celebridades reais) e com diálogos muito bem construídos. Obviamente, nem mesmo o melhor diálogo já escrito funcionaria sem ter atores competentes para dar-lhe vida. Mas isso não é problema para Birdman. Todos os atores, até mesmo o medíocre gordinho da série Se Beber Não Case, estão ótimos. Keaton e Norton conduzem com muito talento o filme, merecendo os prêmios a que concorrem, assim como Emma Stone.

Ainda que não vençam, Keaton já está recebendo o tão sonhado reconhecimento como ator e Norton retomando o rumo de sua carreira, que surgiu como promissora após As Duas Faces de Um Crime, foi crescendo com A Outra História Americana e Clube da Luta e que vinha oscilando desde A Última Noite, tendo realizado papéis medíocres no período, como em O Ilusionista.

A condução técnica surpreende. O filme todo é construído como um plano-sequência, ou seja, como se não houvesse cortes de câmeras. A dificuldade técnica para conseguir fazer isso é imensa. Já relatei antes meu espanto com o grande plano-sequência de O Segredo de Seus Olhos. Não há palavras para descrever um filme inteiro feito com essa técnica. E mesmo diante dessa dificuldade técnica, a fotografia é ótima, alternando espaços, luzes e cores constantemente.

Birdman, assim, está na minha lista dos melhores filmes do século XXI. Dos últimos 15 vencedores do Oscar, o único filme que considero no mesmo nível é Beleza Americana. A nota, claro, não poderia ser outra.

Nota: 10

20 de fevereiro de 2015

O Grande Hotel Budapeste

O Fabuloso Wes Anderson

The Grand Budapest Hotel, Dir: Wes Anderson, Reino Unido/Alemanha/EUA, 2014, 100min
IMDB: clique aquiTrailer legendado: clique aqui


O Grande Hotel Budapeste, empatado com Birdman, lidera em número de indicações aos prêmios da Academia disputando 9 estatuetas. Nas principais concorre a melhor filme, diretor e roteiro original, com boas chances de levar o prêmio em todas estas.

Seu diretor é Wes Anderson, um dos poucos artistas do cinema atual com assinatura inconfundível. Seu estilo é tão marcante, com diversas marcas registradas, que qualquer um que já tenha visto seus filmes não gasta mais do que alguns segundos vendo uma cena de qualquer destes para perceber quem é o pai da criança, com cores fortes, luz fraca, cenários que parecem feitos para uma peça infantil, figurino exagerado, closes em pequenos objetos, e uma obsessão com a simetria. Para ilustrar o que estou falando, clique neste link. No YouTube há algumas paródias envolvendo seu estilo, como a abertura de Forrest Gump (clique aqui), e até mesmo como seria um pornô dirigido por Anderson (clique aqui).

Além da estética peculiar, Anderson também tem uma forma muito própria de contar suas histórias, nas quais ele sempre é, além de diretor, roteirista. Suas personagens sempre são estereotipadas, sempre há um narrador da estória, que conta de forma simples, beirando o infantil, e há muita ironia em quase todas as cenas, na qual até a movimentação da câmera contribui no humor.

Apresentado este peculiar diretor, passamos ao enredo. O Grande Hotel Budapeste é um decadente estabelecimento que era considerado auge do luxo nos anos 1930, na fictícia república de Zubrowka ("na fronteira mais oriental da Europa"). Em 1968, um escritor que vive no local (Jude Law) um dia conhece seu dono, Mr. Moustafa (F. Murray Abraham), que passa a contar como herdou o local.

A trama então retorna aos gloriosos anos 1930, na qual Mr. Moustafa ainda é o garoto do lobby, chamado somente por seu primeiro nome, Zero (Tony Revolori), seguindo militarmente as ordens do concierge do hotel, M. Gustav (Ralph Fiennes), protagonista do filme. Este é um sujeito ultrametódico, disciplinado e com ares refinados, que tem uma estranha queda passional por septuagenárias. Em razão desta preferência amorosa, Gustav herda de uma de suas amantes idosas (Tilda Swinton, irreconhecível com a maquiagem) um quadro de "valor inestimável", "O Menino e a Maçã", e passa a ser alvo da fúria da família da morta, sendo esse o ponto central do desenvolvimento do enredo.

Como já dito, os personagens são extremamente estereotipados. Sempre faço críticas aos estereótipos, mas não aqui, pois Anderson gosta de contar fábulas, e não histórias reais. Sua estética já faz o possível para que o tempo todo o espectador perceba que o que vê na tela não é real. Daí os estereótipos ficam perfeitos nessas narrativas quase fantásticas.

Assim, os filmes de Anderson não são filmes para atores mostrarem diversas facetas. Mas são provavelmente uma grande diversão para seus intérpretes, haja vista a constelação no elenco deste filme (confira no poster acima para ver), que tem a possibilidade de brincar com os estereótipos e os exageros. Atores de renome aceitam fazer papéis pequenos, em que não aparecem muito mais que um minuto na tela, como Bill Murray e Owen Wilson. Além disso, os que trabalharam com Anderson costumam ser fiéis a ele e são recorrentes em suas produções, caso dos dois citados.

Os filmes de Anderson são quase que uma matinê. Preferi seu filme anterior, Moonrise Kingdom, no qual os protagonistas pré-adolescentes combinam melhor com a estética do diretor. Mas O Grande Hotel Budapeste também é um ótimo filme, digna de todos os prêmios a que concorre.

Nota: 8

19 de fevereiro de 2015

Vencedores e melhores

E o Oscar deveria ter ido para...



Aproveitando a Maratona do Oscar, uma breve análise sobre a justiça da premiação, na visão deste pitaqueiro. Neste pitaco serão analisados os filmes que venceram o Oscar nos últimos 15 anos, de 2000 a 2014.

Será mostrada a lista dos indicados:

- os vencedores estarão em negrito, em primeiro na lista
- em itálico, em segundo lugar, os filmes que eu julgo que deveriam ter ganhado
- em negrito e itálico, ganharam e eu julgo que deveriam ter ganhado

Dos 15 filmes, premiados, concordo com a premiação de 7. Alguns ganharam e eu acho justificados, apesar de ter gostado de outro concorrente, caso de 12 Anos de Escravidão. Outros eu acho absurdo terem ganhado, tendo em vista os concorrentes, como O Discurso do Rei. E, sempre lembrando, ganhar o Oscar não confere ao filme o rótulo de obra-prima, pois há muitos filmes excelentes que nem cogitaram ser indicados.

Concorda? Discorda? Está com ódio deste pitaqueiro que não ama o mesmo filme que você? Deixe seus comentários! 

2000

Beleza Americana
Regras da Vida
À Espera de um Milagre
O Informante
O Sexto Sentido

2001

Gladiador
Chocolate
O Tigre e o Dragão
Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento
Traffic

2002

Uma Mente Brilhante
Assassinato em Gosford Park
Entre Quatro Paredes
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel
Moulin Rouge - Amor em Vermelho

2003

Chicago
O Pianista
Gangues de Nova York
As Horas
O Senhor dos Anéis: As Duas Torres

2004

O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei
Sobre Meninos e Lobos
Encontros e Desencontros
Mestre dos Mares - O Lado Mais Distante do Mundo
Seabiscuit - Alma de Herói

2005

Menina de Ouro
Sideways - Entre Umas e Outras
O Aviador
Em Busca da Terra do Nunca
Ray


2006

Crash - No Limite
O Segredo de Brokeback Mountain
Capote
Boa Noite, e Boa Sorte
Munique

2007

Os Infiltrados
Pequena Miss Sunshine
Babel
Cartas de Iwo Jima
A Rainha

2008

Onde os Fracos Não Têm Vez
Desejo e Reparação
Juno
Conduta de Risco
Sangue Negro


2009

Quem Quer Ser Um Milionário?
O Leitor
Frost/Nixon
O Curioso Caso de Benjamin Button
Milk - A Voz da Igualdade

2010

Guerra ao Terror
Bastardos Inglórios
Avatar
Um Sonho Possível
Distrito 9
Educação
Um Homem Sério
Preciosa: Uma História de Esperança
Up – Altas Aventuras
Amor Sem Escalas

2011

O Discurso do Rei
Cisne Negro
127 Horas
A Origem
O Vencedor
Minhas Mães e Meu Pai
A Rede Social
Toy Story 3
Bravura Indômita
Inverno da Alma

2012

O Artista
Cavalo de Guerra
O Homem que Mudou o Jogo
Tão Forte e tão Perto
Histórias Cruzadas
A Invenção de Hugo Cabret
Meia-Noite em Paris
Os Descendentes
A Árvore da Vida

2013

Argo
Amor
Indomável Sonhadora
Django Livre
Os Miseráveis
As Aventuras de Pi
Lincoln
O Lado Bom da Vida
A Hora Mais Escura

2014

12 Anos de Escravidão
Ela
Trapaça
Gravidade
O Lobo de Wall Street
Clube de Compras Dallas
Capitão Phillips
Nebraska
Philomena

18 de fevereiro de 2015

A Teoria de Tudo

Doutor Fantástico

The Theory of Everything, Dir: James Marsh, Reino Unido, 2014, 123min
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A Teoria de Tudo concorre a 5 prêmios no Oscar: filme, roteiro adaptado, canção, ator (Eddie Redmayne) e atriz (Felicity Jones). Não deve levar o prêmio máximo, mas tem seus méritos, sobretudo nas atuações.

O enredo baseia-se na história da vida de Stephen Hawking, notoriamente conhecido como o maior cientista vivo. E, como é de conhecimento geral, ele sofre de uma séria doença degenerativa, a esclerose natural amiotrófica (a mesma doença que motivou o desafio do balde de gelo, que muita gente deve ter feito só pela farra, sem ter dado a doação para as pesquisas direcionadas à cura), que o mantém quase que inteiramente paralisado, sem que seu raciocínio sofra qualquer dano.

O filme trata superficialmente da ciência e se foca nos desafios pessoais de Hawking, desde pouco antes do diagnóstico, em 1963, que afirmava que ele viveria no máximo por mais dois anos, até sua condecoração como cavaleiro pela rainha Elisabeth II, quase 30 anos depois. Um bom recorte, tendo em vista que atualmente a doença atingiu quase que por completo os músculos da face de Hawking, e ele não consegue mais expressar emoções.

A trama foi baseada na autobiografia de Jane Hawking, ex-mulher de Stephen, que no Brasil recebeu o mesmo título do filme. Portanto, o relacionamento entre eles é o eixo condutor do filme. Por conta disso, muitos podem imaginar que será uma história romântica melodramática. Mas não é o que ocorre. Jane não é mostrada como a guerreira que por conta do amor superou tudo para cuidar de seu amado, mas uma mulher comum, que tentou seguir essa vida de entrega, mas que fraquejava e vacilava, como qualquer pessoa. Humana, demasiado humana.

A vida de Stephen Hawking certamente merece destaque. Já bastaria ser o cientista que ele é para tanto. Ou bastaria ter superado todas as limitações impostas pela doença. E, extraordinariamente, ele une ambas as coisas. Uma vida singular, sem dúvida.

Muito interessante é a abordagem da questão religiosa no filme. Stephen é ateu e Jane cristã fervorosa. Mas isso não impede seu relacionamento, pois ambos sabem que não adianta ficarem tentando converter um ao outro, basta o respeito para que o convívio seja feliz. Bela lição de vida em tempos de tamanho fanatismo e sectarismo.

As atuações são o grande destaque. Eddie Redmayne incorpora Hawking, em uma atuação espantosa. Certamente ele é favorito ao Oscar, considerando que papéis baseados em personagens reais dão prêmios (Ben Kingsley venceu por Gandhi e Meryl Streep como Margaret Thatcher em A Dama de Ferro), assim como interpretar deficientes (Dustin Hoffman por Rain Man e Tom Hanks por Forrest Gump). Felicity Jones, que no começo parece ser somente uma boa samaritana, aos poucos vai mostrando a complexidade dos sentimentos de Jane por Stephen. Não deve ganhar o prêmio, mas mostrou um ótimo trabalho.

O filme também deveria ter sido indicado ao prêmio de melhor direção, pois, como dito, os atores estão espetaculares, e certamente é necessário ter um bom diretor para isso. O roteiro foi muito bem adaptado para as telas e tem boas chances de levar o prêmio. Sua maior qualidade é buscar ser bem humorado com as adversidades, como Hawking, que já fez pontas em Os Simpsons e The Big Bang Theory, costuma ser.

Em síntese, uma história real sensacional, muito bem roteirizada e conduzida na tela e estrelada por uma dupla de atores extremamente inspirados.

Nota:8

17 de fevereiro de 2015

Selma: Uma Luta pela Igualdade

Contra o Sistema

Idem, Dir: Ava DuVernay, Reino Unido/EUA, 2014, 128min
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Selma: Uma Luta pela Igualdade corre por fora na disputa do Oscar, tendo sido indicado somente a melhor filme e melhor canção original. É favorito a levar o prêmio de canção, mas é quase nula a chance de conquistar o maior prêmio. No entanto, sua indicação é merecida, bem como merecia mais indicações. E não somente para contemplar a onda do politicamente correto, e incluir negros na premiação, o que foi criticado por muitos ativistas, mas por seus méritos.

A trama envolve um período específico na luta pelos direitos civis nos EUA, durante os anos 60. Martin Luther King Jr. (David Oyelowo) acaba de ganhar o Prêmio Nobel da Paz e se envolve nos preparativos para liderar uma marcha de 80 km pelo Alabama, protestando pelo direito dos negros votarem.

No período, os negros já haviam conquistado o direito ao voto. No entanto, os registradores criavam empecilhos que na prática impossibilitavam o direito da cidadania. Na cidade de Selma, somente 2% dos negros estavam habilitados ao voto.

A trama política é bastante interessante. O Presidente Lyndon Johnson (o sempre competente Tom Wilkinson) busca manter as coisas como estão. Já o governador de Alabama George Wallace (Tim Roth), representa o eleitorado racista de seu estado. Apesar de várias tentativas de King, Johnson mostra-se irredutível, por não querer interferir em uma questão local, já que nos EUA os estados detém grandes poderes legislativos.

Diante do impasse, King e seus companheiros de luta política decidem iniciar a marcha na cidade de Selma, onde o segregacionismo é marcante, rumo à capital do Alabama, Montgomery. Mas a legislação proibia "reuniões não autorizadas", um contrassenso em se tratando do país símbolo da liberdade.

Para a marcha pacífica prosseguir, os manifestantes terão de enfrentar a polícia, que está empenhada em "manter a ordem", espancando a todos (e com prazer). Válido para se fazer uma comparação com as violentas repressões policiais nos protestos recentes no Brasil. A questão que se coloca não é o fato de se concordar ou não com a manifestação, mas que se permita que cada um exerça seu direito de liberdade de expressão.

Muito interessante o papel de Lyndon Johnson. Como dito, ele preferia manter as coisas como estavam, mas não por ter algum preconceito contra os negros, mas era movido pelo cálculo político, e preferia manter as coisas como estavam para não contrariar o eleitorado sulista majoritariamente branco. Mas ao final, percebeu que se seguisse mantendo as coisas em seu lugar perderia o bonde da História, razão pela qual cedeu e determinou o fim de qualquer critério subjetivo para a inscrição eleitoral.

O carisma de Luther King também é bem retratado. Seus discursos com um toque messiânico faz com que as pessoas se sintam parte de algo maior, arriscando sua integridade física em prol do bem maior. Lembra Winston Churchill, outro líder messiânico, que conclamou o povo inglês a não se render aos nazistas.

Também merece destaque a postura do roteiro de fugir de um maniqueísmo infantil do tipo negros bonzinhos x brancos malvados. Claro que há personagens feitas para mostrar o estereótipo, como o rude xerife de Selma, mas o filme mostra que vários brancos se engajaram na luta a favor dos direitos dos negros. E Luther King não é mostrado como um semi-deus, mas como um homem comum, com problemas familiares e falhas de caráter.

A opção do enredo em abordar somente um período específico de um personagem histórico mostra-se acertada. Aliás, quase sempre esta opção é a mais adequada, pois em um filme de duas horas é difícil querer contar toda a vida de uma pessoa, do nascimento à morte. Retratar um momento específico é mais interessante e dinâmico, tal qual feito nos recentes Lincoln e Hannah Arendt.

A fotografia é muito interessante, especialmente nos momentos de conflito entre policiais e manifestantes, assim como nas cenas em que os políticos são mostrados, sempre em cenários com contraluz, com grandes janelas ao fundo, conferindo a eles uma atmosfera mais cinzenta, e, consequentemente, mais ambígua.

A direção é certamente melhor do que a O Jogo da Imitação, o que faria com quem a diretora Ava DuVernay merecesse mais a indicação ao Oscar, indicações que recebeu no Globo de Ouro quanto no Independent Spirit Award. Mas como sempre, há outros interesses que levam às indicações ao Oscar, não somente o mérito.

E o elenco também é bem competente, sendo que o protagonista, David Oyelowo, merecia uma indicação ao prêmio de melhor ator por conta se sua representação de King. Tal qual a diretora, o ator também foi indicado nas outras premiações supramencionadas. E há até pontas de celebridades, como Cuba Gooding Jr. e Oprah Winfrey.

Em síntese, um bom filme, retratando um período relativamente recente cujo eco se manifesta até hoje, tendo em vista as recentes manifestações contra a violência policial sobre negros nos EUA bem como, indiretamente, as violentas repressões policiais à manifestações pelo Brasil (até mesmo no Carnaval!).

Nota: 7

15 de fevereiro de 2015

Sniper Americano

Metralhadora descalibrada

American Sniper, Dir: Clint Eastwood, EUA, 2014, 132min
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Sniper Americano está na lista dos filmes com mais indicações aos prêmios da Academia, concorrendo a 6 estatuetas. Nas mais nobres concorre a filme, diretor, roteiro adaptado e ator (Bradley Cooper, em sua 3ª indicação consecutiva). Dificilmente leva algum desses prêmios, e também não merece.

A trama é baseada na história real de Chris Kyle, o sniper (atirador de elite) que mais matou inimigos na história das forças armadas dos EUA, com um total de 160 abatidos. Não à toa, era conhecido como "Lenda", mesmo antes de chegar ao número 30.

A cronologia é linear, mostrando momentos de sua infância, incluindo sua decisão de se tornar militar aos 30 anos após ver os ataques terroristas às embaixadas americanas em 1998. Há um pouco de história sobre treinamento militar da tropa de Elite da Marinha, os SEALs. Um tanto quanto clichê, tendo em vista que diversos filmes já mostraram a dureza do treinamento militar, como Nascido para Matar, Tropa de Elite e Até o Limite da Honra (péssimo título nacional para G.I. Jane), famoso filme em que a Demi Moore interpreta a primeira mulher a tentar entrar para a mesma tropa de elite.

Posteriormente, há os questionamentos morais de Kyle, como ter de matar mulheres e crianças insurgentes no Iraque. E depois surge um conflito de gato e rato entre Kyle e o melhor atirador de elite dos insurgentes iraquianos, um antigo campeão olímpico de tiro conhecido como Mustafá. Aliás, esse personagem é mostrado de forma muito estereotipada. Enquanto Kyle é retratado em todos os seus conflitos e questionamentos, Mustafá parece um robô frio e calculista programado para matar. Mostrar rapidamente uma cena em que ele deixa sua esposa e seu filho para ir para o combate não ameniza muito a situação. E na parte final mostra a readaptação de Kyle à vida civil, tema recorrente em filmes como Nascido em 4 de Julho e até mesmo Rambo (somente o primeiro).

Enfim, parece que não se soube qual ponto destacar da história e ficou essa trama com muitos pontos abordados e com pouca profundidade. Curiosamente, um filme sobre um atirador de elite, que necessita de muito foco em seu trabalho, não tem um foco claro, parecendo uma metralhadora que atira para todo lado.

Clint Eastwood é um grande diretor, mas esse é um de seus filmes menores, que não chega aos pés de obras primas como Gran Torino Os Imperdoáveis. 

Bradley Cooper está bem no papel, mas não realiza nenhum trabalho excepcional. Ele foi muito melhor em O Lado Bom da Vida. Outros atores mereciam mais a indicação, como Miles Teller, protagonista de Whiplash. Cooper deve ter um ótimo lobista para conseguir essa sequência incrível de indicações ao prêmio, como se ele fosse um Al Pacino ou Daniel Day Lewis, o que, definitivamente, ele não é.

De qualquer forma, não é um filme ruim. Repete muitos lugares comum, mas é bem conduzido. Nisso se parece com O Jogo da Imitação. Mas ao contrário deste, Sniper Americano tem um ritmo um pouco mais dinâmico, portanto, merece nota melhor.

Nota: 6

4 de fevereiro de 2015

O Jogo da Imitação

Imitando os clichês

The Imitation Game, Dir: Morten Tyldum, Reino Unido/EUA, 2014, 114min
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O Jogo da Imitação, concorrendo a 8 categorias na premiação do Oscar 2015, é um dos filmes com maior número de indicações, ficando somente atrás de O Grande Hotel Budapeste e Birdman, com 9. E se destaca nas principais categorias, tendo sido indicado aos prêmios de filme, diretor, roteiro adaptado, ator principal e atriz coadjuvante. Excetuando a de ator principal, não deveria ser indicado a nenhuma outra categoria.

O filme conta a história real do brilhante matemático Alan Turing, pai de um equipamento que já foi chamado de "máquina de Turing", o qual hoje chamamos de computador. Porém, não é diretamente sobre o desenvolvimento da máquina que trata o filme, mas de sua contribuição na quebra do código criptográfico usado pelos alemães na Segunda Guerra Mundial, com as famosas máquinas Enigma.

O enredo é contado através de três narrativas paralelas. Uma que se passa na adolescência de Turing, outra durante a Segunda Guerra e a última alguns anos após a guerra, quando o protagonista é preso suspeito de traição.

Percebe-se assim que a história de Turing é interessante e que merece ser contada. Mas faltaram pessoas competentes para escrevê-la e para dirigi-la.

O roteiro parece ter sido tirado de um exercício de curso de roteiristas. Extremamente previsível, cheio de clichês e com piadinhas manjadas. A frase que diz que às vezes uma pessoa improvável se torna a pessoa a fazer a diferença foi repetida por 3 vezes no filme, inclusive no final, forçando um didatismo irritante. Do mesmo modo a tentativa da construção heróica da figura de Turing, uma pessoa extremamente arrogante e desagradável, que muito lembra a personagem Sheldon da série The Big Bang Theory. Também incomoda um pieguismo exagerado ao mostrar que as decisões tomadas para decifrar os códigos nazistas irão matar pessoas.

Outro destaque negativo é a tentativa de tornar Turing um suposto ativista da luta gay, tendo em vista que ele foi preso sob a acusação de "imoralidade", ou seja, por ter tido relações sexuais com outro homem. Obviamente um processo criminal por conta da orientação sexual de um sujeito é uma aberração, não só hoje, como em qualquer época. Turing foi apenas mais um entre muitos presos por conta dessa legislação vergonhosa. Não se questiona o interesse de tal história, mas a maneira como é inserida no roteiro a faz parecer uma nota de rodapé inserida de última hora por um ativista anti-homofobia que quis destacar o papel do protagonista na luta pela liberdade.

A direção, tal como o roteiro, é bem quadrada, sem nada de criativo em relação à fotografia, efeitos especiais ou direção de atores. Falta ainda alguma tensão que prenda o espectador na poltrona, querendo ver o filme. E a direção conta ainda com mais um amontado de clichês, como as mais que batidas cenas de Londres sendo bombardeada pelos alemães, as ruas destruídas e as pessoas se abrigando nas estações de metrô durante à noite, lugar comum em qualquer produção sobre a cidade durante a Segunda Guerra Mundial.

A atuação do protagonista, Benedict Cumberbatch talvez seja a única coisa digna de registro. Ele está muito bem no papel, tentando mostrar alguma complexidade de sentimentos através de um homem que sempre tinha a mesma expressão de fixação. Keira Knightley é uma grande atriz, mas neste filme entrega um trabalho apenas razoável, inferior a outros anteriores, como Orgulho e Preconceito ou Desejo e Reparação.

De todo modo, não é um filme ruim. Não é bom, mas também não é ruim. O que incomoda é a profunda falta de criatividade. Não que todos os filmes que já concorreram ao Oscar sejam obras primas, mas os indicados deveriam ser produções acima da média, o que, definitivamente, não é o caso de O Jogo da Imitação.

Nota: 5