27 de janeiro de 2015

Whiplash

Ao mestre com carinho

Idem, Dir: Damien Chazelle, EUA, 2014, 107min
IMDB: clique aquiTrailer: clique aqui



Whiplash inicia a maratona de análises aos indicados ao Oscar do Pitacos Cinematográficos. O longa concorre a 5 categorias: melhor filme, melhor ator coadjuvante (J.K. Simmons) e roteiro adaptado, além de 2 categorias técnicas, edição e mixagem sonora.

No filme, Andrew (Miles Teller), um jovem baterista estudante de música sonha em ser o maior músico de jazz de todos os tempos, e encontra um rígido professor, Fletcher (J.K. Simmons) que pressiona seus alunos a ultrapassarem seus limites em busca da perfeição.

Rígido professor, aliás, é um eufemismo. Fletcher por vezes parece ser a e
ssência do mal, abusando de seus alunos com ofensas, grosserias e humilhações. No entanto, o roteirista/diretor se esforça em não estereotipar sua personagem, mostrando, em alguns momentos, Fletcher sendo simpático e afetuoso, numa clara mensagem de que ele não é o capeta encarnado, mas apenas um ser humano comum, com seus defeitos e qualidades.

Andrew, por seu lado, é um jovem bastante introvertido e antissocial. Não se preocupa em ter amigos ou namorada, seu único objetivo é ser o maior baterista de todos os tempos, e está disposto a tudo para conseguir isso. Até mesmo aguentar toda a dor física necessária nas longas horas de treino com as baquetas e a dor psicológica da constante pressão exercida por Fletcher. Tal obsessão fica muito próxima ao fanatismo.

O clima de tensão percorre todo o filme. O espectador se sente incomodado com a situação por que passa Andrew. Certamente todos ser perguntarão o porquê dele não jogar tudo pro alto. Mas é justamente a sua obstinação que conduz o filme. Seu sonho de ser lembrado o faz enfrentar todos os desafios. Não que isso seja considerado louvável ou execrável. Em uma excelente cena do filme Andrew está em um jantar de família e quem é tido em mais alta estima são seus primos, um que é jogador de futebol americano em um time de 3ª divisão universitária e outro que conseguiu um emprego na ONU, sendo que ele, mesmo se destacando na melhor escola de música do mundo, é desprezado.

Enfim, o tal sonho de grandeza de Andrew, mesmo que bem sucedido, não o fará ser um herói aclamado por multidões, mas somente admirado pelos poucos entendidos em jazz.

Os atores principais entregam atuações muito intensas e conseguem fugir do estereótipo. Fletcher não é somente maldade e Andrew não é somente obstinação. Além disso, é surpreendente saber que Miles Teller realmente tocou a bateria em altíssimo nível em todas as cenas, apesar de ter um dublê. Em algumas das cenas o sangue que ele espirra na bateria é real. Tom Cruise se pendurando nos prédios parece brincadeira perto disso. E em breve eles será o protagonista na nova versão do Quarteto Fantástico. Podemos estar vendo o nascimento de um futuro astro. E o veterano J.K. Simmons merece com louvor sua indicação ao prêmio de melhor ator coadjuvante.

A direção também é bem conduzida, tirando o máximo da simplicidade dos cenários, em um filme cujo orçamento ficou em modestos 3 milhões de dólares (para comparação, Êxodo custou 140 milhões). E a edição contribui para manter o ritmo na métrica adequada durante todo o tempo, estabelecendo uma ótima ligação com a trilha sonora.

Assim, o filme que tira o espectador de seu lugar de conforto, traz uma boa história em que cada um pode buscar suas lições, é bem dirigido e apresenta grandes atuações. Mais digno de Oscar do que várias produções medianas que levaram o prêmio nos últimos anos, como O Discurso do Rei.

Nota: 9


P.S: Achei esta crítica no YouTube que vai ao encontro da minha opinião em vários pontos: clique aqui

26 de janeiro de 2015

Êxodo: Deuses e Reis

Afundando no Mar Vermelho

Exodus: Gods and Kings, Dir: Ridley Scott, EUA/Reino Unido/Espanha, 2014, 150 min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1528100/



Alerta de spoilers! O filme é ruim, então vou contar partes da estória.

Na atual onda de produções bíblicas, Ridley Scott, diretor aclamado por filmes como Alien, Blade Runner e Gladiador, apresenta Êxodo: Deuses e Reis, contando a mítica (sim, é só um mito de criação, nenhuma evidência científica atesta que os hebreus tenham vivido no Egito) história da fuga dos hebreus do cativeiro do Egito, liderados pelo patriarca Moisés, vivido por Christian Bale (o último Batman).

Nesta nova versão da história nas telas, procurou-se, conforme a atual moda de filmes bíblicos, dar um caráter mais "realista" a estória. Assim, Moisés é mostrado como um respeitado general e príncipe egípcio, guerreiro sanguinário que resolve as coisas na ponta da espada quando necessário. Qualquer semelhança com o Gladiador não parece ser mera coincidência, ao contrário, parece que a ideia foi a de usar o mesmo passado de Maximus, revelando total falta de criatividade na caracterização da personagem central.

Quando se descobre que ele é na verdade um hebreu adotado pela princesa do Egito, Moisés é exilado por seu primo de criação, o Faraó Ramsés (Joel Edgerton). Antes disso, no entanto, a caracterização física de Moisés já é um tanto estranha, pois seus traços físicos e vestimentas destoam na corte egípcia, já ficando um tanto quanto claro que ele não pertencia àquele meio, sendo que os diálogos tentam mostrá-lo como completamente integrado ao meio, gerando uma certa incoerência.Em seu exílio, onde inicia uma nova vida em uma aldeia, formando família, Moisés começa a ter visões sobrenaturais, nas quais um menino que seria deus lhe diz que ele deve voltar ao Egito para libertar seu povo.

Moisés retorna e ameaça o Faraó a libertar seu povo. Não atendido, surgem as famosas pragas do Egito. Aí o tal "realismo" se torna ainda pior, com uma tentativa frustrada de inscrever as pragas em um contexto de dano ambiental causado pela ação humana. Talvez seria melhor deixar a estória da maneira que era contada, em que tudo era simples intervenção divina.

E da mesma maneira é a famosa abertura do Mar Vermelho. Uma simples questão de mudança de maré, na qual no final a água sobe rápida e misteriosamente, Moisés e o Faraó saem praticamente ilesos, apesar de todos os outros que lá estavam serem mortos pelo tsunami. O Moisés de Charlton Heston, abrindo o Mar Vermelho com um cajado era melhor e talvez até mais realista!

Enfim, uma superprodução com um enredo bem fraco e mesmo os efeitos especiais (que deveriam ser primorosos) são um pouco mal feitos, sendo perceptível sua artificialidade. Ridley Scott envelheceu e perdeu a mão. Felizmente a Academia não deu nenhuma indicação a esse desastre.

Nota: 3