Criança não mente
Jagten, Dir: Thomas Vinterberg, Dinamarca/Suécia, 2012, 115 minIMDB: http://www.imdb.com/title/tt2106476/?ref_=nm_knf_i1
Concorrente do Oscar de melhor filme estrangeiro, A Caça retrata a estória de um professor do jardim de infância, que, repentinamente, é acusado por uma de suas alunas de ter cometido abuso sexual.
Desde o princípio, sabemos que o protagonista Lucas (o excelente Mads Mikkelsen, que interpretou o vilão LeChifre em Casino Royale) é inocente, que a menina que o acusa, Klara, simplesmente ficou bravinha por ter tomado uma bronca dele por tê-lo beijado na boca. Como tinha visto um filme pornô mostrado pelo amigo de seu irmão adolescente, fingiu ter usado a imagem que vira, de um pênis ereto, como se tivesse sido Lucas que mostrara para ela.
Curioso é que ninguém contesta o testemunho de uma criança, mesmo com todos sabendo que Klara, tem uma imaginação muito fértil. E a partir daí, a suspeita se torna certeza.
Vivesse Lucas em uma metrópole e suas complicações teriam sido mais simples, pois em cidades assim a impessoalidade permite que nos escondamos na multidão. Mas Lucas vive em uma cidadezinha bem pequena, onde todos se conhecem. Uma acusação dessas leva o fim de sua vida social, sendo hostilizado até mesmo para fazer comprar no supermercado. Passamos o filme inteiro comovidos com o drama pessoal de Lucas, com um sentimento de incômodo e de injustiça.
As consequências: um inocente é seriamente punido em meio a isso ou, trazendo a discussão para nosso cotidiano, um rapaz suspeito de assalto é espancado, desnudado e amarrado a um poste.
A Caça vem em boa hora nesses tempos de polarização de posições políticas, em que as pessoas nem precisam saber direito o que aconteceu para decidir seu lado. Ou seja, se uma menina disse que seu professor lhe molestou, é verdade inquestionável!
Qualquer um que acredite minimamente em Justiça deve saber que Justiça, tal qual a figura estampada em tribunais, é uma senhora cega, que somente usará a espada após ter feito a pesagem dos fatos. Só que em nossos tempos, poucos querem se dar o tempo de pesar os fatos, quase todos já querem sair sacando a espada e ir resolvendo as coisas.
A pedofilia é um tema que está na pauta em todo o mundo, especialmente em meio aos casos vergonhosamente encobertos pelo Vaticano. Mas é claro, qualquer caso deve ser cuidadosamente analisado. Não é porque vários padres foram acusados de pedofilia que todos esses são culpados. E pior ainda, achar que todo e qualquer padre é um pedófilo. Generalizações são sempre perigosas, e quase sempre injustas.
Esses tempos de paranoia com relação a segurança são terríveis. Dá até medo de brincar com crianças, pois seus pais podem interpretar qualquer atitude, especialmente um toque, algo praticamente essencial ao brincar, como abuso. E com isso vamos criando um mundo mais frio e assustado.
E acreditar, como as personagens do filme, que criança não mente, é uma enorme bobagem. Pesquisas científicas e a experiência prática demonstram que desde bebês aprendemos a mentir em benefício próprio.
Triste constatar que vivemos em um mundo tão injusto, em que uma acusação absolutamente infundada pode prejudicar uma vida para sempre.
Nota: 9
Nota: 9
O filme é muito bom, concordo com a nota. Nos faz refletir acerca da justiça, ou melhor, da injustiça que podemos cometer em diferentes situações.
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