16 de janeiro de 2014

Pais e Filhos

A difícil arte de ser pai

Soshite chichi ni naru, Dir: Hirokazu Kore-eda, Japão, 2013, 121 min
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt2331143/


Vencedor do último Prêmio do Juri do Festival de Cannes, Pais e Filhos, trata, em tese, do raro e complicado tema da troca de bebês. As famílias de Ryota e Midori Nonomiya e de Yukari e Yudai Saiki descobrem que seus filhos, com 6 anos de idade, Keita e Ryusei, foram trocados na maternidade. 

Disse que esse é o assunto "em tese" porque a história, apesar de tratar bem da questão dos meninos trocados, gira em torno da dificuldade de Ryota em ser um bom pai, pois, acima de tudo, quer que seu filho seja forte e independente, como ele, um arquiteto workaholic bem sucedido. Por isso, acho que mais adequado seria se o título adotasse uma tradução literal do título em inglês, "Tal Pai, Tal Filho".

Desde o começo nota-se toda a pressão que Ryota impõe a Keita, e não compreende como seu filho pode ser tão diferente de si, um fruto que caiu longe da árvore. Tanto que a primeira coisa que diz ao descobrir a troca é a abominável frase "Isso explica muita coisa", demonstrando que, de cara, já preferiria que seu filho fosse diferente e melhor saber que Keita não é seu filho. A família que ficou com Ryusei, o filho biológico de Ryota, corresponde ao oposto de sua maneira de se portar e viver a vida. Pobres (para um padrão japonês, obviamente), ele é dono de uma pequena loja de produtos elétricos e ela garçonete, são afetuosos e desleixados na criação de seus três filhos. 

Nem é preciso muitos diálogos para se estabelecer tal padrão, pois no primeiro encontro entre os casais Kiudari já chega despenteado e com o terno mal ajustado, ao contrário de Ryota, sempre impecavelmente vestido, além da linguagem corporal diversa, pois um é atrapalhado, sendo o outro marcado por gestos milimetricamente planejados. Tal contraste acentua as diferenças entre os núcleos familiares e torna ainda mais marcante a frieza de Ryota. 

O filme é muito bom desde a primeira cena. O talento do diretor e roteirista Kore-Eda é notável, exemplificado pelo fato de não haver cenas ou diálogos desnecessários. A sensibilidade com que trata de um tema tão complicado também é admirável. Fico pensando que se tal tema fosse tratado por uma Glória Perez da vida, que sempre trata de tema complexos de maneira patética. Seria uma novela inteira com a Deborah Secco chorando rios por isso. Kore-Eda coloca somente os choros necessários, e nos faz chorar com a dureza da situação. 

Pais e Filhos lida com o problema contemporâneo dos pais que não tem tempo para os filhos, e que cobram desempenho destes, nos levando a pensar em como devemos agir como pais para ter filhos felizes. 

Nota: 10

Um comentário :

Dê o seu pitaco