12 de março de 2013

O Som ao Redor

Casa-Grande & Senzala


Idem, Dir. Kleber Mendonça Filho, Brasil, 2012, 131min


Filme que tem recebido excelentes críticas e esteve envolvido em uma polêmica após um comentário maldoso de um diretor da Globo Filmes, O Som ao Redor retrata o cotidiano de pessoas que vivem ou trabalham numa rua em Recife, a poucos metros da praia.

O filme traz diversas tramas paralelas sem interrelação. Estão lá a dona de casa entendiada que não consegue dormir com os latidos do cachorro do vizinho, o velho patriarca de uma família que era dona de terras do passado, os moradores de um edifício de luxo que querem demitir o porteiro que dorme no serviço, os seguranças da rua que chegam para "garantir o sono dos moradores, dentre outros.

O filme tem vários defeitos e poucas qualidades. O primeiro defeito é a duração. O diretor não precisava gastar duas horas para que se entendesse a mensagem que ele quer passar, de que a relação casa-grande e senzala persiste em existir no Brasil contemporâneo, apesar da nova roupagem. Aliás, tal sentido é explicitado logo na primeira cena, em que há a exibição de uma sequência de fotos antigas de grandes propriedades rurais, os senhores e seus dependentes.

Também incomoda a lentidão com que se desenvolve a história. Várias coisas vão acontecendo sem muita conexão. A dona de casa tenta envenenar o cachorro, um menino chuta a bola no prédio de luxo e não consegue pegá-la de volta, um corretor de imóveis vai tomar café da manhã com a empregada após dormir com uma moça que conhecera na noite anterior, etc. Apenas a proximidade física, por tudo acontecer na mesma rua, estabelece um elo entre as cenas.

Além disso, algumas cenas nem se desenvolvem. Ao menos duas cenas mostram um casal de adolescentes em uniformes escolares se beijando em um cantinho. Cenas totalmente perdidas e sem nenhuma ligação com os demais eventos. 

Como qualidade, há cenas interessantes, como a em que os seguranças vão pedir "benção" ao velho patriarca para atuar na área em que ele vive, e este começa a caçoar do mulato caolho, mostrando seu tratamento humilhante para os, no seu ponto de vista, "inferiores". Também há uma interessante cena sobre a reunião de condomínio para discutir a demissão do porteiro que há muitos anos lá trabalha mas só dorme em serviço.

Também se destaca a preocupação do diretor de tratar as personagens como pessoas com defeitos e qualidades, não elegendo heróis e vilões de forma maniqueísta. 

Em síntese, o filme tem bons momentos, mas são muito poucos, sendo na maior parte do tempo, extremamente cansativo. Havia maneiras muito melhores de se mostrar a persistência das formas de tratamento coloniais.

Nota: 4

2 comentários :

  1. Eu gostei do filme, mas concordo que muitas cenas poderiam ser cortadas pq é muito cansativo mesmo.

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    1. Também achei esse o pior defeito do filme. Valeu pelo comentário!

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