11 de junho de 2007

Um Crime de Mestre

Bom thriller

Fracture - Dir. Gregory Hoblit, EUA, 2007, 112min


Thriller policial que, como sugere o título, mostra a astúcia de um criminoso genial, o milionário empresário Ted Crawford (Anthony Hopkins).

A história já inicia-se com o crime em questão. Após ir verificar pessoalmente a informação, Crawford descobre que está sendo traído por sua esposa, um tanto mais nova que ele. Ao chegar em casa, ela recebe um tiro de seu marido. Assustados, os empregados fogem e chama a polícia. O negociador responsável, ao deparar-se com a vítima, descobre que esta é sua amante e parte para agressão contra Crawford, que acaba sendo preso.
Este crime aparentemente simples vem a envolver um jovem promotor de justiça, William Beachum (Ryan Gosling), conhecido por ganhar quase todas as causas que disputa, lembrando assim a personagem de Keanu Reeves em Advogado do Diabo. Em vias de mudar-se para um grande escritório, no qual ganhará muito dinheiro e dará uma guinada em sua vida, Beachum tem seu caminho cruzado pelo crime de Crawford, cuja causa decide pegar por considerá-la ganha.
Mas por mais simples que pareça, o crime envolve um problema de prova, pois a arma que é encontrada na cena do crime não é a mesma que atingiu a vítima, não havendo assim como provar que Crawford deu o tiro que mandou sua esposa para o hospital. Pelo pouco que sei de direito penal, acredito que esse é um típico problema do direito norte americano, já que no Brasil existe a livre convicção do juiz com base nas provas, não sendo necessária a presença da arma que efetuou o disparo, pois existem indícios suficientes de autoria do crime.
Neste ínterim, Beachum arrisca sua carreira pelo desejo de condenar Crawford, tornando um embate pessoal entre esses dois homens.
Apesar de ser um thriller típico, pouco inovando no gênero e apresentando um herói copiado das histórias de John Grisham, Um Crime de Mestre é uma produção que prende nossa atenção tentando entender qual foi o grande truque do criminoso.
Nota: 6

6 de junho de 2007

Fahrenheit 451

Ignorância é felicidade

Idem - Dir. François Truffaut, Inglaterra, 1966, 112min


Filme rodado na Inglaterra e falado em inglês dirigido pelo célebre diretor francês, François Truffaut, que sequer falava inglês. Aliás, para quem não sabe, o título doFahrenheit 11/09 de Michael Moore foi copiado deste filme.
Com relação à história, Fahrenheit 451 (lê-se farenrait), é uma ficção futurista, em um futuro próximo no qual as pessoas vivem em um mundo no qual os livros foram todos banidos, e possui-los tornou-se crime. Tal como é retratado, o “futuro”, analisado 40 anos depois de produzido o filme, parece-se, para nós que vivemos no século XXI, mais com o passado, já que nota-se que é uma produção com recursos escassos, dada a pequena variação de cenários, que não passam de casas com uma tecnologia pouco avançada, mesmo para os padrões dos anos 60, como paisagens no campo, por onde passa um simples monotrilho.
Percebe-se claramente uma influência do grande clássico literário 1984 de George Orwell, mas, enquanto este mostra o panorama geral de um governo autoritário, o filme de Truffaut foca, acertadamente, em um único assunto, a proibição da leitura e a conseqüente alienação que esta causa.
O foco da ação é um grupo de bombeiros, o tal Fahrenheit 451, responsável por queimar os livros encontrados na temperatura de 451 graus Fahrenheit (233º Celsius), daí o porquê de tal número. A alienação é tamanha que existem somente boatos de que um dia os bombeiros combatiam incêndios, e não livros.
O protagonista é Guy Montag (Oskar Werner) oficial dos bombeiros em vias de ser promovido, homem de grande importância na companhia, pois tem a “honra” de comandar o lança chamas de incineração dos livros. Alguns acontecimentos, especialmente um diálogo com sua vizinha sobre seu trabalho, fazem-no questionar-se sobre o porquê dos livros serem proibidos. Daí decide secretamente pegar um livro e ler, tornando-se assim um viciado em leitura, e tornando-se um homem mais crítico e racional.
O contraponto de Montag na história é sua bela esposa, Linda (Julie Christie), uma dona de casa completamente alienada pela TV, na qual somente são exibidos programas que tratam de beleza, comportamento, histórias banais, e telejornais com o objetivo de mostrar que os inimigos do governo são perseguidos e vencidos. Ou seja, nenhum programa faz ninguém ter de pensar, o pensamento já vem pronto de fábrica, não muito diferente do que ocorre com a televisão atual.
Outra conseqüência de tal alienação é a perda da capacidade de memória das pessoas. Todos confundem datas e pouco se lembram de acontecimentos passados, parecendo pessoas que vivem como animais, somente vivendo o dia a dia.
No melhor diálogo do filme, o chefe de Montag explica o porquê da proibição. Em síntese, os livros fazem pensar e isso causa infelicidade. Um exemplo ótimo é o dado pelo livro que mostra câncer de pulmão: para quê fazer os fumantes saberem do risco que correm, melhor com que fumem e não se preocupem com o que isso pode causar.
Como era de se esperar, Montag passa de perseguidor a perseguido, tendo sua casa destruída, com toda sua agora vasta biblioteca destruída, mas consegue escapar com um livro, e encontra abrigo em uma comunidade que vive escondida no campo, na qual cada pessoa decora seu livro favorito inteiro para não o portar e assim escaparem da ilegalidade. Uma grande bobeira, na verdade, já que acreditar que alguém é capaz de decorar todas as palavras de um livro completo é praticamente humanamente impossível, sendo uma utopia das maiores já mostradas. Mas releva-se isso pela bela idéia. E até, sabe-se lá, em um mundo no qual ninguém nunca leu faz com que as pessoas tenham o hard disk limpo, e talvez sobre espaço pra decoreba.
Apesar da produção pobre para quem se acostumou a ver superproduções de ficção científica e alguns exageros utópicos, Fahrenheit 451 é um filme que conta uma história que nos faz valorizar a leitura.
Nota: 9