7 de outubro de 2015

Perdido em Marte

Marte Ataca!

Dir: Ridley Scott, EUA, 2015, 141min
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Como diz a piada que está correndo a internet, depois de O Resgate do Soldado Ryan, Interestelar e com este Perdido em Marte, Matt Damon comprova que ele dá muito trabalho pra ser resgatado! Neste filme [atualização: que concorre ao Oscar de melhor filme, ator, roteiro adaptado, design de produção, efeitos visuais, edição de som e mixagem de som, sendo diversas dessas indicações sem motivo, como analisado a seguir], Damon é Mark Watney, um astronauta que é dado como morto após um procedimento de abortamento de missão em meio a uma tempestade de areia no Planeta Vermelho e deixado para trás.

Como diria o protagonista em seu vídeo, obviamente, ele não morreu. Ele acorda no sol seguinte (dia marciano, com quase a mesma duração do terrestre) ferido e tem de dar um jeito de sobreviver. E desde o início ele sabe que não será fácil, pois seus suprimentos não irão durar muito e uma missão de resgate levará anos para chegar.

Este é o primeiro ato do filme, com Watney diante de uma morte quase certa tendo de se preparar para evitá-la, através de seus conhecimentos. Uma série de problemas vai surgindo e ele tem de buscar uma solução para cada um deles. No segundo ato, a estória começa a mostrar o que ocorre aqui na Terra, mais especificamente na NASA, quando percebem mudanças nas imagens no local da missão e concluem que Watney está vivo. A parte final é o resgate propriamente dito.

O filme tem como premissa o engrandecimento do ser humano que busca sobreviver frente a dificuldades extremas, usando para isso seu conhecimento e engenhosidade. Seria assim uma mistura de Náufrago, em um ambiente ainda mais hostil e com um protagonista com mais conhecimento da natureza, com Gravidade, mas com mais tempo e recursos para o protagonista sobreviver, e Apollo 13, com seus improvisos com objetos de missão espacial.

A edição é extremamente bem feita, com alternância entre lindas panorâmicas marcianas (vale à pena ver em 3D), com pitadas de humor e os desafios de sobrevivência e planejamento do resgate, e não deixa o espectador cansado em suas 2h20 de projeção. A produção é impecável, com um visual incrível. Assim, ainda é cedo, mas o filme tem chances de figurar entre os indicados ao Oscar em categorias técnicas, como de edição e de design de produção [atualização, o filme ficou de fora em edição mas concorre a design de produção e em efeitos visuais].

Matt Damon faz um bom trabalho em segurar sozinho o filme por um longo tempo [atualização: mas não merecia a recebida indicação ao Oscar]. Jessica Chastain interpreta a comandante da missão em um trabalho ok, mas longe de outras atuações dela, como em A Hora Mais Escura. E o bom Chiwetel Ejiofor está um pouco exagerado como o chefe da missão de Marte.

O roteiro mantém o interesse na estória, mas tem uns buracos e umas soluções um pouco preguiçosas [atualização: e não mereceu a indicação ao Oscar]. O maior buraco é o fato da personagem central nunca ter um momento de loucura, só umas irritações, que certamente seria uma consequência do isolamento. E com relação às soluções simples vemos Watney narrando ao seu diário de bordo todas as suas experiências em detalhes básicos para não iniciados em ciência É interessante para divulgar ciência e explicar ao espectador o que está acontecendo, mas pouco crível que um cientista iria narrar o óbvio para si mesmo.

A parte científica pode não ser a mais acurada possível mas está sendo elogiada pela crítica. Dizem que a futura missão tripulada à Marte terá características muito próximas do retratado no filme.

O problema do filme está em seus clichês típicos do gênero de superproduções. O maior deles é o efeito bomba-relógio. Sempre as coisas tem de ser arranjadas de última hora. Tem cena em que chega a perturbar, pois os arranjos deveriam ter sido feitas quando decidido como seria o resgate, e não quando a missão já estava a caminho. Também tem um certo exagero em como é mostrada a comoção na Terra pelo retorno de Watney, pois parece que o mundo se resume a Nova York e Londres. Mas, enfim, dá pra não levar isso muito a sério.

O veterano diretor Ridley Scott, de clássicos como Blade Runner, Alien e Gladiador recupera parte de sua credibilidade com esta produção, após os fiascos que foram O Conselheiro do Crime (apesar dos ótimos atores) e o horroroso Êxodo: Deuses e Reis.

Perdido em Marte é um bom filme de ficção-científica/sobrevivência, mesmo com seus incômodos clichês de superprodução. Bom para aqueles que gostam de estórias de superação e celebração do ser humano.

Nota: 7

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